– As chaves da sua casa. Acho que concordamos que não preciso mais delas – por incrível que pareça, minha voz se mantém estável.
Fixo meu olhar no seu rosto, mas Biel não diz nada. Confesso que tenho vontade de provocá-lo sobre a garota da noite passada, contudo o bom senso me faz segurar a língua.Ao abrir o portão da casa, Gabriel olha para mim, enquanto o motor realiza seu trabalho de abrir o portão.Esse motor nunca foi tão devagar.Quando ele finalmente desliga o carro, abro a porta sem que tenha dito nada.– Obrigada – agradeço a carona e por ter me ajudado com Junia. – Se você não tivesse me ajudado, eu provavelmente teria entrado em desespero e atrapalhado tudo.– Não foi nada – ele sorri de canto. – Ainda bem que ela e o bebê estão bem.– É... – mordo o l&aacPor alguma razão, o término entre minha irmã e Guilherme acabou doendo mais em mim do que achei que doeria. Talvez seja o fato de que agora não exista mais esperança.Junia disse que terminou com o Guilherme por minha causa. Talvez seja essa a questão do problema.A culpa é minha. Eu deveria ajudá-la, não causar preocupação. Isso dói fisicamente: perdi meu noivo, minha liberdade e estou perdendo minha irmã aos poucos.O vestido branco cai perfeitamente em meu corpo, feito só para mim. Fico apenas olhando para meu reflexo no espelho, mas não vejo nada além de uma garota triste com um vestido lindo.Não me lembro da última vez que sorri.Deixei de comparar minha situação com a justiça, pois não há nada justo aqui. Não consigo nem me imaginar assinando a folha do casamento ao lado de Guilherme. Q
– Indo. O César parece bem, eu não e não sei sobre o Guilherme – limpa a garganta.– Vocês não estão se falando mais? – quero saber. Sei muito bem como é deixar de conversar com a pessoa que você mais quer falar, no entanto sei também que Junia não tem raiva de Guilherme e vice-versa, o que é um ponto positivo.– Não – ela morde o lábio. – Eu não ligo para ele, ele não liga para mim. Acho que vai ser mais fácil assim.Dessa vez, quem respira fundo sou eu.– Junia – ela estremece ao me ouvir chamá-la pelo nome. – Por que você terminou com o Guilherme?Sei que a resposta é óbvia, mas não consigo aceitar que ela se entregou assim. Tínhamos uma chance.– Por você – ela responde. Fixo meu olhar no seu opaco. – Não posso
– Por que o primeiro não contou?– Por uma junção de fatores, como: primeiro, eu devia ter uns quinze anos, coisa de criança. Segundo, foi escondido, porque meu pai não acha que uma pessoa com quinze anos seja responsável o suficiente para namorar sério. Terceiro, durou três semanas. Quarto, eu nem estava tão apaixonada assim e, quinto, ele se assumiu gay dois meses depois – dou de ombros, mas o loiro gargalha. – É sério. E nós ainda nos víamos muito na academia. Constrangedor. Não contou. Gabriel foi meu único namorado.– Tudo bem. Acho que tenho uma história parecida na minha conta.Não percebo o tempo passar nem fico contando a quantidade de bebidas que tomo. Nesse período, descubro coisas das quais eu nem imaginava sobre Guilherme, como: ele adora uísque, viajar e quer conhecer o Japão um dia. S&oa
Espirro um pouco do perfume na folha, a fim de ficar com o meu cheiro. Bato a caneta na mesa, pensando no que escrever, então divido a folha ao meio, frustrada por não conseguir pensar em nada. Acabo escrevendo nas duas partes:“Desculpe por tudo. Espero que um dia você possa me perdoar.– M”O primeiro bilhete passo por baixo da porta do quarto de Junia. O outro precisarei ir um pouco mais longe para entregá-lo.Eu poderia ter escrito tantas coisas, tentar me justificar, fingir que está tudo bem, mas pedir perdão é a única coisa que vale a pena escrever.Perdão.É tudo o que eu preciso....Puxo o freio de mão em frente à imponente casa. É muito difícil ver qualquer coisa lá dentro por conta do grande portão e dos muros. Preciso tomar coragem pela milioné
Deixo o vagão assim que para na próxima estação e sinto mais pessoas me observarem. Não é algo muito comum ver uma mulher vestida de noiva com o rosto inchado de tanto chorar andando de trem. Eu também olharia.Com calma, saio do terminal e o sol primaveril me toca. A leve brisa faz meu vestido dançar e enche não só meus pulmões, mas meu corpo inteiro de esperança. Ver todas aquelas pessoas caminhando, sozinhas ou acompanhadas, sorrindo tranquilamente ou com pressa, faz meu peito se encher de emoção novamente.Apenas sigo pelas ruas, sem rumo definido, andando devagar para os saltos não me machucarem mais meus dedos.Pressa para quê? Não vou me casar.Esse pensamento me faz rir um pouco.É estranho pensar que, a essa hora, eu já estaria casada, presa a alguém contra a minha vontade. Mais estranho ainda é pensar
“Há muito tempo atrás, alguém me disse que há uma calmaria antes da tempestade. Eu não me importo com o que digam. Com você, qualquer tempestade se acalma. Sinto sua falta, preciso de você aqui comigo. Parecíamos ser feitos um para o outro, mas tivemos que nos separar. Eu espero que não se esqueça de mim, porque a chuva continua caindo lá fora.”SetembroOlho para o meu próprio reflexo pelo espelho. Max coloca alguns alfinetes nas costas do meu vestido e mordo o lábio. O vermelho escarlate contrasta com a minha pele branca e meus cabelos escuros e não consigo conter o grande sorriso que se forma em meus lábios.Minhas mãos tremem de entusiasmo e as junto numa tentativa de disfarçar a ansiedade.— Como você se sente? — ele me pergunta, segurando a minha mão, e dou uma volta em torno
Lembro-me de que papai disse que minha irmã era um grande presente de aniversário para mim e, a partir de então, todas as festas foram compartilhadas.Gen responde com a maior boa vontade todos os seus planos e eu apenas digo que não tenho muitos planos por enquanto — apenas passar um tempo com eles e Gabriel. Fixo minha atenção no grande lustre de cristal, mas minha mãe continua olhando para mim. Acho impressionante como parece que mamãe é contra a minha felicidade. Quero dizer, eu e Gabriel somos aceitos por milhares de fãs ao redor do mundo, mas renegados pela minha própria mãe. Chega a ser ridículo.Eu amo meu namorado. Qual o problema nisso?— Angel — Cristina, agora ao meu lado, sussurra. — Quando o Biel vai voltar? Estou com saudade dele — ela faz beicinho. Cris aprendeu logo que o nome do meu namorado não deve ser pronunciado em voz a
Paris — Quatro anos antes.Caminho pelo Jardim do Luxemburgo com meu livro em mãos e aproveito o calor dos raios solares em meu rosto. O clima agradável do verão permitiu que muita gente saísse de casa e enchesse as ruas de cores e vida.Sorrio ao ver todas as pessoas felizes, desde senhoras a bebês, e me sinto bem por estar de volta aessaminha casa. O ar parisiense repõe minhas energias há algum tempo esgotadas pela rotina um tanto quanto agitada da majestosa Londres.— Angel? — ouço uma voz masculina e procuro pelo dono.Quando o vejo, sou tomada por surpresa. Não esperava mesmo encontrá-lo aqui.— Gabriel? — sorrio ao me aproximar dele. Só depois que o cumprimento com dois beijos na bochecha, o que o deixa sem graça, lembro-me de que nós dois somos ingleses e me afundo em vergonha — Descu