Devo ter falhado miseravelmente na tentativa de disfarçar a vontade de chorar, pois, quando mamãe para ao meu lado – bloqueando o sol de chegar até mim –, ela me encara com ar de piedade.
– Oh, Angel... – mamãe me abraça, ainda de pé, e me agarro a ela. Antes que perceba, já estou chorando de soluçar e recebo carinho na cabeça.– Eu só estou cansada, mamãe – tento explicar, mas ela sabe o que estou passando. Não preciso dizer nada.– Tudo bem. Não tem problema. Você quer ir embora?Assinto e ela seca minhas lágrimas.– Vamos então.Assim que me levanto, abraço a mulher ruiva com toda a minha força. De primeiro instante, ela se surpreende, mas me aceita em seus braços, envolvendo-me com ternura.– Você abraçava a vovó assim antes de ser obrigada aChegamos a casa e Gen, eu e Guilherme nos ocupamos em levar os novos acessórios para o quarto de Junia, enquanto mamãe prepara um chá para Leonora.– Aconteceu alguma coisa, Angel? – Guilherme pergunta, o que leva minha irmã a parar de apreciar as compras e olhar para mim.– Por quê? – balanço a cabeça negativamente.– Você parece agitada, sei lá – ele dá de ombros.Junia morde o lábio ao me analisar da cabeça aos pés. Ela sabe que já não estou conseguindo lidar com Gabriel indo e vindo na hora que bem entende e, talvez pela forma que aperto meu celular e vejo se há novas mensagens a cada dois minutos, minha irmã me aconselha:– É melhor você ir logo. Ele não vai esperar por muito tempo.Intercalo meu olhar entre os dois por um segundo e saio correndo. Onde está a chav
– Não acredito!– Você pode mudar de frase, por favor? – peço para minha irmã, que toma sua xícara de chá de café da manhã.– Desculpe. Eu só... Não acredito – Gen joga o cabelo para um lado só.– É melhor acreditar. Não é como se não tivéssemos terminado. Ele fez isso logo que descobriu e está tentando seguir a vida dele – reviro os olhos e termino o cookie que eu nem queria.– Mas... A mulher era bonita? – Gen pergunta com certa medida de timidez.Fico olhando para ela. Não sei qual a relevância dessa pergunta, exceto que é mesmo relevante. Se for para me trocar, que ela pelo menos seja bonita.– Maravilhosa – respondo. – Tipo modelo com as pernas longas e alta.O fato de ela ser alta mexe com meu psicológico. Isso é praticame
– As chaves da sua casa. Acho que concordamos que não preciso mais delas – por incrível que pareça, minha voz se mantém estável.Fixo meu olhar no seu rosto, mas Biel não diz nada. Confesso que tenho vontade de provocá-lo sobre a garota da noite passada, contudo o bom senso me faz segurar a língua.Ao abrir o portão da casa, Gabriel olha para mim, enquanto o motor realiza seu trabalho de abrir o portão.Esse motor nunca foi tão devagar.Quando ele finalmente desliga o carro, abro a porta sem que tenha dito nada.– Obrigada – agradeço a carona e por ter me ajudado com Junia. – Se você não tivesse me ajudado, eu provavelmente teria entrado em desespero e atrapalhado tudo.– Não foi nada – ele sorri de canto. – Ainda bem que ela e o bebê estão bem.– É... – mordo o l&aac
Por alguma razão, o término entre minha irmã e Guilherme acabou doendo mais em mim do que achei que doeria. Talvez seja o fato de que agora não exista mais esperança.Junia disse que terminou com o Guilherme por minha causa. Talvez seja essa a questão do problema.A culpa é minha. Eu deveria ajudá-la, não causar preocupação. Isso dói fisicamente: perdi meu noivo, minha liberdade e estou perdendo minha irmã aos poucos.O vestido branco cai perfeitamente em meu corpo, feito só para mim. Fico apenas olhando para meu reflexo no espelho, mas não vejo nada além de uma garota triste com um vestido lindo.Não me lembro da última vez que sorri.Deixei de comparar minha situação com a justiça, pois não há nada justo aqui. Não consigo nem me imaginar assinando a folha do casamento ao lado de Guilherme. Q
– Indo. O César parece bem, eu não e não sei sobre o Guilherme – limpa a garganta.– Vocês não estão se falando mais? – quero saber. Sei muito bem como é deixar de conversar com a pessoa que você mais quer falar, no entanto sei também que Junia não tem raiva de Guilherme e vice-versa, o que é um ponto positivo.– Não – ela morde o lábio. – Eu não ligo para ele, ele não liga para mim. Acho que vai ser mais fácil assim.Dessa vez, quem respira fundo sou eu.– Junia – ela estremece ao me ouvir chamá-la pelo nome. – Por que você terminou com o Guilherme?Sei que a resposta é óbvia, mas não consigo aceitar que ela se entregou assim. Tínhamos uma chance.– Por você – ela responde. Fixo meu olhar no seu opaco. – Não posso
– Por que o primeiro não contou?– Por uma junção de fatores, como: primeiro, eu devia ter uns quinze anos, coisa de criança. Segundo, foi escondido, porque meu pai não acha que uma pessoa com quinze anos seja responsável o suficiente para namorar sério. Terceiro, durou três semanas. Quarto, eu nem estava tão apaixonada assim e, quinto, ele se assumiu gay dois meses depois – dou de ombros, mas o loiro gargalha. – É sério. E nós ainda nos víamos muito na academia. Constrangedor. Não contou. Gabriel foi meu único namorado.– Tudo bem. Acho que tenho uma história parecida na minha conta.Não percebo o tempo passar nem fico contando a quantidade de bebidas que tomo. Nesse período, descubro coisas das quais eu nem imaginava sobre Guilherme, como: ele adora uísque, viajar e quer conhecer o Japão um dia. S&oa
Espirro um pouco do perfume na folha, a fim de ficar com o meu cheiro. Bato a caneta na mesa, pensando no que escrever, então divido a folha ao meio, frustrada por não conseguir pensar em nada. Acabo escrevendo nas duas partes:“Desculpe por tudo. Espero que um dia você possa me perdoar.– M”O primeiro bilhete passo por baixo da porta do quarto de Junia. O outro precisarei ir um pouco mais longe para entregá-lo.Eu poderia ter escrito tantas coisas, tentar me justificar, fingir que está tudo bem, mas pedir perdão é a única coisa que vale a pena escrever.Perdão.É tudo o que eu preciso....Puxo o freio de mão em frente à imponente casa. É muito difícil ver qualquer coisa lá dentro por conta do grande portão e dos muros. Preciso tomar coragem pela milioné
Deixo o vagão assim que para na próxima estação e sinto mais pessoas me observarem. Não é algo muito comum ver uma mulher vestida de noiva com o rosto inchado de tanto chorar andando de trem. Eu também olharia.Com calma, saio do terminal e o sol primaveril me toca. A leve brisa faz meu vestido dançar e enche não só meus pulmões, mas meu corpo inteiro de esperança. Ver todas aquelas pessoas caminhando, sozinhas ou acompanhadas, sorrindo tranquilamente ou com pressa, faz meu peito se encher de emoção novamente.Apenas sigo pelas ruas, sem rumo definido, andando devagar para os saltos não me machucarem mais meus dedos.Pressa para quê? Não vou me casar.Esse pensamento me faz rir um pouco.É estranho pensar que, a essa hora, eu já estaria casada, presa a alguém contra a minha vontade. Mais estranho ainda é pensar