O clima fica um pouco tenso depois dessa pequena troca de farpas. Meu pai quase precisou de um milagre para que as pessoas voltassem a conversar naturalmente. No final, acho graça de tudo isso. Guilherme não tem com quem competir, Leonora não precisa fazer uma propaganda tão exagerada sobre o filho, não há a necessidade de mamãe jogar na cara que acha que esse seja uma melhor opção que meu namorado, mas força meu pai tornar a situação menos vergonhosa. Contudo aproveito a primeira deixa — Viviana indo colocar Cristina na cama quando a pequena começa a bocejar sem parar — para pedir licença e sair da mesa com Gabriel.
Gen e Guilherme nos acompanham discretamente à medida que nos levantamos das cadeiras. Minha irmã segura meu braço antes de eu alcançar a escada para o segundo andar da casa:— Achei que a mamãe enfiaria o garfo na sua cabeça, Angel!— E quando ela não quer fazer isso, Junia? – reviro os olhos. Apesar disso, tenho um sorriso divertido no rosto. Por alguma razão, é bom ser tão teimosa com mamãe quanto ela é comigo. — Sinto muito por aquilo. Às vezes minha mãe esquece o limite do bom senso – digo, olhando para Guilherme no primeiro momento, mas depois encaro Gabriel.Ele deve me amar muito mesmo ou ser masoquista para suportar esse tipo de comentário o tempo todo. Prefiro a primeira alternativa.Meu namorado me abraça de lado e Guilherme balança a cabeça ao responder:— Lido com gente bem pior o tempo todo. Não ouviu a minha mãe? – ele dá de ombros.Eu poderia dizer que passei a ignorar cada palavra dela depois de tantos comentários desnecessariamente exagerados e que não ouvi quase nada, mas acredito que não seja uma coisa muito educada de se dizer. Pelo menos a mãe dele o elogia, em vez de encontrar defeito onde não existe.— Bom, uma ótima noite a vocês – desejo, mas então fixo meu olhar sobre Junia. — Juízo e cuidado – sorrio quando suas bochechas coram e Guilherme acha graça. Irmãs mais velhas têm a obrigação de serem inconvenientes de vez em quando...Passo o resto da noite trancada com Biel no quarto exatamente como sempre ficamos: sentados em minha cama. Eu sentada entre suas pernas, fazendo seu peito de encosto, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo e rindo pelos motivos mais idiotas possíveis.Quando ficamos em silêncio, seguro a sua mão e fico comparando o tamanho dela com a minha. É simplesmente uma das coisas que mais gosto de fazer, não sei por quê. Minha mão é tão pequena em comparação com a sua que a ponta do meu dedo médio só alcança a metade do seu dedo inteiro. Às vezes, ele fecha seus dedos sobre os meus por pura brincadeira e eu gosto. Parece que Biel tem tudo sob controle em suas mãos e, ainda assim, não precisa me soltar para fazer tudo ficar bem.Ele realmente é meu mundo, faz de tudo para me ver sorrir e só quero poder retribuir o que faz por mim.Gabriel não merece a sogra que tem.— Mas agora eu fiquei preocupada, Tess — confesso, escolhendo uma das blusinha dispostas nos cabides da loja.
Eu e minha melhor amiga combinamos de vir para o shopping, visto que ela tem “algo importante para me contar”, e já aproveitei para atualizá-la sobre o novo ficante da minha irmã.Para a minha surpresa, ou talvez decepção, Tess não parece nem um pouco indignada, sequer impressionada!— Pense pelo lado bom, Angel — ela sugere. — Vai que essa atração pelo Guilherme passa logo. Quem sabe ela só esteja se divertindo um pouco? Se ele for mesmo esse cachorro, a Gen não sustentaria nada por muito tempo. Sua irmã não é burra.— Sei que não...Ainda assim, fico pensativa. Não gostaria que Junia se evolvesse com um cara que não fosse se entregar também, mesmo que seja só por diversão. Para que isso, Gen? Não tinha outro disponível? Ela poderia ter quem quisesse. Sempre achei que minha irmã preferia os caras românticos aos cafajestes. Então por que Guilherme? Ele é só uma distração?— Angel de Oliveira, você não pode proibir sua irmã de ficar com um cara, mesmo que ele não seja confiável — Tess consta. — A Gen já é grandinha, não acha?— Acho, mas ela ainda é minha irmã e não quero que quebre a cara depois.— Vamos comprar, vai?! Qualquer coisa, batemos nesse Guilherme.— De acordo.Compramos, rimos muito e tomamos sorvete. A companhia de Tess é simplesmente uma bênção na minha vida. Ela é do tipo de pessoa que me faz rir por absolutamente nada e que consegue arrancar sorrisos de qualquer um à sua volta. Ela sempre estará disposta a escutar o que tenho a dizer e só depois de entender meu lado dá sua opinião — que sempre tem um tom divertido, diga-se de passagem.— Eu amo esse negócio! — Tess revira os olhos de prazer para seu frappuccino de caramelo.Sinto o gosto do chocolate com avelã e sorvete invadir minha boca e suspiro. Isso é bom demais.Percebo que Tess não para de girar seu anel de noivado no dedo. Esse simples gesto me faz ter certeza de que está nervosa.— O que você está escondendo de mim, Tessalia? — cruzo os braços e arqueio a sobrancelha.— Eu?! — sua voz soa bem mais aguda do que o normal. Rio pela sua autodenúncia, mas ela bufa, dando-se por vencida. — Ok. Eu tenho que lhe contar uma coisa muito importante.— Eu sei. Estou esperando por isso desde que saí de casa — sorrio.— Então, já faz um tempo que eu e o Jeff temos conversado sobre morarmos juntos. Acho que seria legal darmos esse passo.— Sério?! — minha incredulidade é perceptível. — Vocês já sabem onde vão morar? Tem data de mudança? Quero ajudar a arrumar sua casa. Você está grávida? — disparo a falar, fazendo minha amiga revirar os olhos com um sorriso jogado pelos cantos dos lábios.— Pelo amor de Deus, Angel! Não estou grávida! — ela ri. — Vai me deixar falar?Assinto, completamente ansiosa.— Bem, você sabe como meus pais são com essas coisas de namorar e morar juntos, então... Eu e o Jeff vamos finalmente nos casar — o sorriso de Tess quase não cabe no rosto e eu quase engasgo com o frappuccino.— Ai... Meu... Deus! — arregalo os olhos. Eles vão se casar! Casar! Solto um gritinho abafado, tentando conter minha felicidade. Ainda assim, consigo chamar a atenção das pessoas ao nosso redor. Ah, dane-se. Minha melhor amiga vai casar! — Mas já tem data marcada? Como vai ser a cerimônia? Tess, isso é demais! — ponho a mão no peito como se gesto pudesse me acalmar.A loira ri com meu entusiasmo. Ela sempre foi mais tranquila que eu na questão namoro/casamento e, embora eu e Biel não tenhamos pressa para casar, eu já planejei muitas coisas. Talvez muito mais do que o próprio Gabriel saiba.— Já está quase tudo certo: local, cerimônia, festa, vestido... — ela sorri mais ainda nessa última parte. — E, principalmente, escolhemos os padrinhos.Tess olha para mim com um sorriso sugestivo e eu entendo o que ela quer dizer. Eu vou ser madrinha.— Ai, meu Jesus Cristo, Tessalia! Eu vou enfartar! — bato palmas. O moço da mesa ao lado me olha como se eu tivesse algum tipo de problema e continua a usar seu celular. Não acabe com a minha alegria, moço. — Parabéns, garota! Eu não acredito nisso! Obrigada!Minha amiga gargalha.— Era para ser surpresa, mas eu tive que lhe contar. Pretendíamos falar com vocês semana que vem.— Amiga, tenho que ver meu vestido. Tem preferência por alguma cor?— Olhe, eu e o Jeff vamos aparecer na casa do Biel daqui uns dias. Ok? Vamos entregar o convite e tudo mais. Não se preocupe. Até parece que está mais ansiosa que eu — ela revira os olhos, rindo.— Eu vou ser sua madrinha! Combinamos isso desde sempre! O que você queria?
Tess balança a cabeça para mim, sem deixar de sorrir. Estou muito orgulhosa dela....Começo a gritar e rir como uma hiena quando tudo ao meu redor se transforma em um borrão pela velocidade com que Henrique me gira no ar. Ele é a única coisa na qual consigo focar e percebo que acha graça do meu desespero. Suas mãos seguram firme os meus pulsos, o que torna suas veias saltadas à medida que rodo ao seu redor.
— Henrique, desacelere! Madelinne, dê uma volta em si mesma quando cair no chão — Rachel ordena.— Preparada? — Thom pergunta.— Sempre — minha barriga gela enquanto sinto a velocidade diminuir.Por um momento, parece que vou sair voando, mas apoio minhas mãos no chão para amparar a queda, dando uma volta e meia, e paro sentada. Henrique segura minha mão, ajuda-me a levantar, afasta e aproxima nossos corpos para me embrulhar em seu braço depois e, finalmente, paro aconchegada em seu abraço com uma bochecha encostada ao seu ombro. Seu coração bate rápido pela adrenalina e vejo seu pescoço úmido. Ao passo que tentamos regularizar a respiração, nossos tórax se encostam.— Adorei. Só tem que controlar os gritos, Angel — Rachel brinca, fazendo-me rir.Solto as mãos de Henrique para me distanciar um pouco e me abano.— Ai, ainda estou um pouco zonza — consto ao fazer uma careta.— É o efeito do coração partido... — Henrique provoca.— Vou esfregar na sua cara que, mesmo sofrendo, vou sair maravilhosa dessa situação — jogo meu cabelo completamente úmido de suor e ele dá risada. Henrique é meu parceiro há um bom tempo. Sempre temos alguma piadinha para provocar o outro.— Cuidado, hein, Madelinne... — Rachel avisa, mas tem um sorriso nos lábios. — Vamos. De novo! — ela volta a ordenar depois de espirrar água em nós dois....— Amor da minha vida, o que aconteceu com você? — pergunto, olhando diretamente para seus olhos castanhos. Gabriel não olha para mim.Cruzo os braços e solto uma p
Fico paralisada ao mesmo tempo em que agarro os pulsos de Gabriel com toda a minha força. A sensação de pânico me faz querer chorar. Por isso me agarro ao meu namorado.— Calma. Respire — ele diz calmamente, ao me aconchega em seu peito. Ouço seus batimentos cardíacos tranquilos e agarro sua cintura. Dou um grunhido ao escutar mais um estrondoso trovão. — Shh... — Biel acaricia minha cabeça.Tento me concentrar no som do coração do meu namorado e ignorar a chuva que bate forte contra o telhado.Não tenho medo de chuva, até porque Londres e Paris devem ser os lugares mais chuvosos da face da Terra. O problema é que aceito uma inofensiva garoa fina numa boa, ao passo que odeio ter que ouvir trovões e olhar os raios iluminando o quarto escuro. Já perdi as contas de quantas vezes corri para a cama dos meus pais, desde pequena, quando os trov&otil
Não como nada no café da manhã. Só minha vitamina já consegue embrulhar meu estômago. Gen também não fala muito e decide me ignorar completamente, enquanto conversa com a mamãe. Cris é a única que sorri o tempo todo, principalmente porque Peyton assou fornadas de cookies por causa do aniversário de Junia e a garotinha não parou de comer até agora.– Ok, o que aconteceu com vocês duas? – mamãe pergunta diretamente para mim depois que Gen sai da mesa.Penso muito bem no que responder antes de abrir a boca e encaro a ruiva à minha frente. Não cabe a mim contar o motivo da briga.– A gente só discutiu. Vai ficar tudo bem.Saio da sala de jantar e subo para o meu quarto, pronta para pegar minha bolsa e ir para a Academia dar aula de dança para crianças....Passo p
– Angel de Oliveira – ele vai fazer. Biel tira uma caixinha do bolso. Ele vai. Meu coração quase explode no peito de tão acelerado. Senhor, ajude-me! – Eu sei que você prefere que nossos melhores momentos aconteçam quando estamos só nós dois. Por isso achei que agora seria o melhor momento – calor. Estou com muito calor. – Desculpe não poder ajoelhar, mas... Você aceita ser a futura senhora O'Connor?Incrédula, fico olhando para aqueles olhos castanhos boquiaberta, procurando algum sinal de brincadeira ou qualquer coisa do gênero. O anel dentro da caixinha preta é lindo, todo cravejado. Sinto a maçã-do-amor revirar na minha barriga, então minha ficha cai. Preciso responder alguma coisa. Em vez disso, começo a rir de desespero.– Claro que quero, Gabriel! Não me assuste mais, pelo amor de Deus! – percebo que estou trem
— Angel, eu estou tentando ajudar — ela tenta tocar meu ombro, mas recuo novamente por pura raiva.— Pare! — grito. — Não preciso da sua ajuda. Eu sei o que estou fazendo!— Quando você estiver chorando por não ter alternativas, me agradecerá por ter avisado.— Eu não vou deixar o Gabriel! Vamos nos casar e ninguém vai impedir — as lágrimas que tentei segurar escorrem quentes pela minha bochecha. — Qual o problema em ficar feliz por mim uma única vez?— Nenhum! Mas eu sei do que estou falando, Angel! Eu não vou poder protegê-la da verdade para sempre! — minha mãe continua dura, mas sei que está tentando se conter para não desabar aqui mesmo. — O que você decidir agora vai mudar a minha vida também.Essas palavras chegam aos meus ouvidos como se fossem um tapa da realidade. Eu nunca ouvi
Enquanto passo pelo corredor para chegar ao meu quarto, ouço a voz de minha mãe atravessando a porta:— E você acha que eu quero que minhas filhas passem por isso?!— Fale baixo, Viviana! — papai a repreende e não ouço mais nada.Tenho vontade de invadir o quarto e mandá-los ficar quietos. Gostaria de saber que raio de segredo é esse que eles estão escondendo, mas, nesse momento, não posso fazer dessa briga minha prioridade.Entro de uma vez no meu quarto e já ligo para Gabriel.— Você não está bem, né, princesa? — ele questiona depois que eu o cumprimento.— As coisas aqui em casa não estão bem desde... — solto todo o ar preso em meus pulmões e agarro meu travesseiro.— Desde que noivamos — Biel completa. Prendo a respiração.Sei que ele sabe que essa é
— Justo — ela põe a mão sobre a barriga bem saliente e toma seu suco natural.— Cuidado, Biel — o guitarrista de topetinho avisa. — Você ainda tem tempo para fugir. Só não vale largar no altar.— Está doido? Só com uma explicação muito boa para me deixar depois desses anos todos — retruco.— Ah, é? — Gabriel enrosca seus dedos nos meus.— Sim. Se você começasse com graça, eu o faria engolir esse anel.— Que violência. Meu filho não pode ouvir isso — Alicia brinca, fazendo-me rir....Destranco a porta de casa e o aroma de café da manhã chega aqui.— Ele não pode fazer isso comigo! — a voz de Junia está alterada de uma forma que nunca ouvi antes, mas sem dúvida é ela. A raiva é mi
– De novo! – Rachel grita e volta alguns segundos da música.Respiro fundo ao me afastar novamente de Henrique. Não estou com muita paciência para fazer trezentas vezes a mesma coisa, porém é exatamente o que minha professora quer que façamos.Suor escorre pela minha cabeça até a nuca e reforço o meu rabo de cavalo, prendendo bem cada fio de cabelo. Tenho certeza de que estou vermelha e que Henrique percebeu que há algo errado.Para ajudar a lidar com todo o estresse, a voz de Leona Lewis me faz ter mais raiva ainda. Não sei ao certo como me sentir. Só sei que é algo como fúria, descontentamento, tristeza e medo. Estou com muita vontade de gritar.Movo o meu corpo, marcando bem cada movimento, da mesma forma que vi Viviana fazer noites atrás. Movimento-me em perfeita sincronia com meu parceiro até que a letra da música me faz paralisar