Início / Romántica / Paris, paixões e crepes! / Paris, paixões e crepes 2
Paris, paixões e crepes 2

Reviro os olhos para a verdade: não importa o que Gabriel faça, minha mãe nunca será capaz de gostar dele por um motivo ridículo.

— Meu pai está aqui? — pergunto, sentando-me em um dos balcões.

— Não. Hoje ele foi para o escritório, mas, pelo horário, já deve estar voltando — mamãe verifica o relógio. — Não demore para se arrumar. Ok? O sócio do seu pai e a família dele estarão aqui hoje e você precisa passar uma boa impressão. Acho que você conhece o filho dele, Guilherme Leto.

— Posso dizer que a Junia conhece melhor que eu... — dou de ombro e seguro a mão do meu namorado.

— Imaginei — ela pega uma forma no armário. — De qualquer forma, é importante. Não tente fazer nada que vá envergonhar seu pai, por favor, e desça daí! — mamãe dá leves tapas na minha coxa e sou obrigada a sair de cima do balcão.

— Eu só fiz isso uma vez e foi sem querer! — respondo, referindo-me ao dia em que minha mãe quis me matar por ter derrubado a taça de champanhe em cima de um dos sócios do meu pai. Desde então, minha mãe não confia que posso estar em um jantar importante sem passar vergonha nela. Reprimo a vontade de rir.

— Não importa. Seja mais atenta — ela avisa e volta a mexer o molho. — Vá se arrumar.

Bufo e sigo para o meu quarto, a fim de procurar uma roupa adequada.

Não demoro a me arrumar — pelo menos não tanto quanto Junia. Quando chego ao seu quarto para descobrir seu estado emocional ao saber que Guilherme vem, eu e Biel vemos que ela se preocupa em transformar cada mecha de cabelo em cachos perfeitos com o babyliss.

— Ele vai vir! — Gen pula de alegria enquanto ajeita o cabelo.

— Eu estou sabendo — rio, apoiando-me ao batente da porta de seu banheiro.

— Parece que alguém está apaixonada — Gabriel zomba da felicidade da minha irmã.

— Não é  o fato de eu estar apaixonada — ela nos encara pelo espelho. — Tem noção do quanto ele é lindo, cheiroso, maravilhoso e interessante? Eu não seria a única a passar doze horas seguidas me arrumando só para vê-lo.

— Não sei se tenho mais dó dele ou dela — Biel brinca, apontando para minha irmã.

— Engraçadinho — Gen sorri cinicamente. — Não se preocupe, querido cunhado. Não vai precisar ter dó de ninguém depois que eu e o Guilherme sumirmos da vista de todos vocês.

— Eu não admito uma coisa dessas! — banco a irmã mais velha mandona. — Nem pensar!

— Desculpe, mas não precisei pedir a sua autorização na primeira vez. Quanto mais agora! — Gen ri ao ver minha cara de brava.

— Depois eu que sou a ovelha negra. Mamãe deveria saber das coisas que você faz, irmãzinha — provoco e ela sorri.

— Fique à vontade para contar, irmãzinha — Junia pisca.

Balanço a cabeça, mas rio em seguida. Deixo que ela termine de se arrumar e fico esperando os convidados na sala, conversando com Gabriel e Cris. Minha irmã mais nova parece uma bonequinha em seu vestido rodado com um laço enorme atrás e o cabelo preso num rabo de cavalo, deixando sua franja solta. Quando meu pai chega, ele me abraça e cumprimenta Biel com um sorriso simpático, porém precisa correr para se arrumar e não pode conversar conosco por muito mais tempo.

Às sete em ponto, a família Leto chega e, quando vejo o filho do casal, recordo-me exatamente quem é Guilherme Leto.

A casa se enche de conversas paralelas e diferentes tons de voz por todos os lados. Leonora Leto não demora em arranjar assuntos em comum com mamãe. Talvez seja esse aspecto expansivo da sua personalidade combinado com sua elegância que a faça parecer mais jovem do que realmente é. Mark, seu marido, parece animado ao conversar com papai. Mas, se eu o visse na rua, juraria que era alguém frio e um velho um tanto rabugento, não sei se por causa do seu rosto redondo e com o cenho constantemente franzido ou pela gordura extra que o faz parecer mais velho. Ele não pode ser tão mais velho que meu pai.

Então meus olhos ignoram totalmente Cristina no colo de Gabriel e deixo de ouvir o que conversam, mesmo com a risada da garotinha sendo quase impossível de ser ignorada. Foco exclusivamente em como Guilherme sorri ao conversar com o meu e o seu pai, mas discretamente olha para Junia, como se seu sorriso — muito bonito, por sinal — fosse oferecido só a ela, e em como ela retribui com um sorriso envergonhado, embora realmente queira que o loiro continue olhando apenas para ela.

Junia não estava exagerando quanto à beleza do garoto. O tom bem claro de sua pele torna o verde de seus olhos muito vivo, o que se harmoniza perfeitamente com o seu topetinho baixo. Ele é aquele tipo de cara que usa skinny e camisa social e isso combina muito com sua postura descontraída e misteriosa ao mesmo tempo.

Esse é o problema.

Eu sei o que esconde. Será que minha irmã sabe? Claro que deve saber. Eles se conheceram num pub. Mas e se não souber? Não posso deixar um cara aleatório e bonito partir o coração da minha ruiva. A forma como se olham torna nítido que já aconteceu alguma coisa entre eles antes e continua acontecendo aqui.

Recordo-me perfeita e detalhadamente da noite em que eu e Biel decidimos ir a um pub novo e vi Guilherme com o copo sempre cheio e inúmeras garotas lindas ao seu redor o tempo todo. Lembro que me assustei ao vê-lo lá daquele jeito, uma vez que em todos os jantares de negócios ou festas de final de ano Guilherme parecia tão certinho e quieto que chegava a ser entediante. Mark, certa vez, se vangloriou por seu querido filho ter ajudado em um projeto em prol de crianças carentes na África. Até achei a causa muito nobre e uma atitude louvável, mas, depois da noite que o vi com as garotas, não consegui parar de pensar que ele deve esconder tantas coisas...

Quero dizer, cada um sabe do que faz. Eu não tenho o direito de me intrometer na vida de ninguém. Guilherme já tem idade suficiente para responder por suas ações e distinguir o certo do errado. Só não consigo aceitar que possa parecer algo que não é. Com certeza aquelas garotas não estavam necessitando de nada, a não ser de sorte para ser escolhida para passar a noite com Guilherme. Juro que só não disse nada a Mark pela mais pura educação. Ele, sim, deveria saber que o que o filho faz não é só ajudar crianças necessitadas. Contudo isso não é um problema que cabe a mim solucionar.

— Você deveria tentar melhorar sua arte de disfarçar – meu namorado me cutuca.

— Sinto muito. Não confio nesse cara com a minha irmã – levo a taça de vinho aos lábios. Sigo com o olhar Gen sair da sala para a cozinha e, quase um minuto depois, Guilherme fazer o mesmo.

Cris corre atrás dos dois com um largo sorriso, segurando seu copo personalizado de um dos contos de fadas da Disney cheio de suco de uva.

— Relaxe, Angel. Eles não são idiotas de fazer qualquer coisa aqui. Você precisa deixar de se preocupar tanto, até porque sua irmã já é grandinha, não acha?

Reviro os olhos, mas me permito relaxar ao lado do meu namorado com o vinho correndo pelas veias.

Achava que não poderia ficar pior, mas ficou. Durante o jantar, Leonora fala com tanto entusiasmo sobre os planos de Guilherme e as ideias para movimentar a empresa que parece que ela quer entrar em algum tipo de competição sobre quem é o cara mais prestativo do mundo. Isso quando não fez questão de enfatizar que a garota que ficasse com seu filho seria a pessoa mais feliz do mundo.

Guilherme não parece muito à vontade com a situação em que foi colocado. Ao contrário dele, minha mãe se derrete por completo.

— E você tem quantos anos mesmo, Guilherme? – ela sorri.

— Vinte e dois, senhoraOliveira – o loiro responde sem a metade do entusiasmo da mãe.

— Tão novo! – mamãe diz com orgulho. — Quisera eu ter um genro desses...

— Estava demorando – murmuro, revirando os olhos, mas Gabriel aperta a minha mão com mais força por baixo da mesa como se pedisse para eu me controlar. Esse tipo de comentário não deveria me abalar nem um pouco.

— O que disse, Madelinne? – papai, que está na ponta da mesa, questiona.

— Que estou adorando! Uau, você tem uma criatividade incrível, Guilherme. Jamais sequer pensaria numa ideia dessas. Mas eu não sou a pessoa mais indicada para conversar sobre negócios, certo? – sorrio para o garoto do outro lado da mesa, então olho para mamãe. — Não precisa se preocupar, mãe. Aposto que não vai demorar a acontecer.

— Você nem imagina... – ela me responde e depois toma o resto do seu vinho com os olhos cravados em mim. Sustento essa pequena guerra silenciosa entre nós com o mesmo gesto.

Junia enrubesce e abaixa a cabeça. Ela odeia esses comentários e situações tanto quanto eu, porém não é o namorado dela que mamãe agride sem explicação. Não paro de balançar o pé embaixo da mesa por conta da raiva e nervosismo que correm por todo meu corpo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo