– De novo! – Rachel grita e volta alguns segundos da música.
Respiro fundo ao me afastar novamente de Henrique. Não estou com muita paciência para fazer trezentas vezes a mesma coisa, porém é exatamente o que minha professora quer que façamos.Suor escorre pela minha cabeça até a nuca e reforço o meu rabo de cavalo, prendendo bem cada fio de cabelo. Tenho certeza de que estou vermelha e que Henrique percebeu que há algo errado.Para ajudar a lidar com todo o estresse, a voz de Leona Lewis me faz ter mais raiva ainda. Não sei ao certo como me sentir. Só sei que é algo como fúria, descontentamento, tristeza e medo. Estou com muita vontade de gritar.Movo o meu corpo, marcando bem cada movimento, da mesma forma que vi Viviana fazer noites atrás. Movimento-me em perfeita sincronia com meu parceiro até que a letra da música me faz paralisarPor isso desabafo:– Só que, se ele acha, e ele nos acompanha de perto, por que outras pessoas não pensariam? Por que você não pensaria, se nem ao meu pai eu consigo convencer?– Porque, se eu pensasse isso de você, nós não estaríamos aqui agora tendo essa conversa. Se eu pensasse isso de você, a gente não teria essas alianças no dedo – ele alcança minha mão para apertá-la suavemente. – Angel, se eu sequer suspeitasse de uma coisa dessas, não existiria um “nós”.– Acho bom. Porque eu te amo mesmo e, se você não acreditasse, eu iria ficar extremamente chateada. E sabe o quanto eu odeio ficar chatead. – seu riso nasalado toca minha bochecha. Apesar de todas as suas palavras de consolo, ainda sinto que preciso de mais.Preciso de mais não porque não acredito nele. Preciso de mais porqu
Como é que duas crianças se conhecem e são condicionadas a pensar: “Ah, vou passar minha vida toda com você”?! Isso é ridículo.– E você queria isso? – indago, intrigada demais para pensar em qualquer outra coisa.– Não posso dizer que queria, porque ninguém com nove anos de idade entende o que se casar realmente quer dizer, mas eu não tinha opção. Eu não via isso como algo ruim. Olhe, seu pai sempre me tratou muito bem, não importa o que acontecesse. Quando a gente era mais jovem, eu gostava de passar tempo com ele. Sentia que ele ia para a França só para me ver, o que não era verdade, mas na nossa imaginação era. Seu avô ia para a França a cada seis meses. Eu marcava no calendário quando iria ver seu pai de novo – ela sorri com a lembrança, olhando para nada em especial. Até
Não a encaro. Só fico olhando minhas mãos. Meu maxilar está tão tenso que mal respiro e só permito encher meus olhos d'água quando ouço a madeira da porta contra o batente....Não volto a falar com Guilherme durante essa semana que se arrasta para passar, tampouco me atrevo a mencionar para Gabriel o que descobri. Apesar disso, ele reparou que há algo errado. Por isso me deu uma série de sugestões do que fazer para me animar. Ele até disse para eu passar umas semanas na França sozinha para pensar sobre tudo!Ironicamente, eu não quero pensar em nada. A reviravolta que minha vida deu num período de uma manhã é inacreditável. Mas mais inacreditável ainda é o fato do meu próprio pai ter organizado a pior bagunça em minha cabeça e na vida há tempos.Acabei cons
– Junia, como isso foi acontecer?! – disparo sem pensar ao que ela responde com a voz carregada de ironia, enquanto seca as lágrimas.– Da forma tradicional, Angel!– Ai, calma! – peço mais para mim mesma do que para minha irmã. – O Guilherme já sabe, né?Gen assente e empurra a porta para fechá-la, o que me leva à segunda pergunta:– E quando você pretende contar para os nossos pais?– Eu não sei! Estou desesperada, Angel. Eles vão me matar! – a ruiva se levanta e me empurra para conseguir chegar até a pia, a fim de lavar o rosto. Analiso atentamente minha irmã, sem saber o que dizer ou que conselho dar. Só sei que um bebê é um assunto muito sério para ser deixado de lado.– Gen, isso é sério. Você precisa contar. Independente do que vocês decidirem fazer, o p
Se o casamento arranjado em si já estava complicado, com um bebê na história piorou. Se Mark só preza a aparência, ele vai querer se livrar da criança a todo custo. Como Guilherme se casaria comigo tendo um filho com a minha irmã?Serei tia e madrasta? Guilherme vai ser pai e tio? Se até eu fico confusa, imagine uma criança!– Mais do que ter engravidado, seria irresponsabilidade não cuidar da criança – Biel aponta e eu concordo sem duvidar.Ficamos mais uns quinze minutos no celular, conversando sobre coisas sérias e outras aleatórias. Quando decidimos que precisamos dormir, meu peito se aperta. Uma sirene apita na minha cabeça:Conte para ele! Conte para ele! Conte para ele!Eu finjo que não há problema em ignorá-la e chacoalho a cabeça para espantar a sensação de culpa.Eu odeio despedidas, mesmo as pel
Não quero basear minha vida num esconde-esconde. Não quero esconder meus sentimentos de mim mesma. Quero ser feliz de verdade e andar de mãos dadas na rua com Gabriel, não com Guilherme. Não quero apagar minha fogueira para acender outra.Esse pensamento me deixa sufocada e lágrimas silenciosas começam a rolar pelo meu rosto até minha linha de raciocínio ser interrompida com batidas na porta.– Entre – tento não soar afônica.– Angel – a voz doce de Cristina chama a minha atenção e olho em sua direção.– Oi, princesa – sorrio para ela.Minha irmã entra no quarto com seu traje de bailarina e corre até mim. Ela pensa em falar alguma coisa com um sorriso estampado no rosto, mas para, avaliando meu rosto.– Você está bem?– Sim – assinto devagar. – Só estou
DezembroO mês de novembro se arrasta para passar. Ainda assim, é extremamente agitado. Muitas das minhas noites são marcadas por sonhos em que Gabriel me deixa, que estou presa num quarto sozinha ou que eu e Guilherme estamos acorrentados.Ninguém aqui em casa consegue manter um diálogo real. Falamos apenas de trivialidades e nos ocupamos com nossas obrigações diárias.Até que, num belo dia, na primeira semana de dezembro, depois de pegar meu vestido de madrinha com Max, meu pai decide usar a hora do chá para dar uma notícia.– O casamento já foi marcado.Fico estática ao ouvir isso e olho bem para ele, sentado à minha frente. Vendo que nem eu, nem Gen nos manifestamos, mamãe questiona:– E quando será?– Março. A partir de janeiro, vamos começar a arrumar tudo – ele responde.
Há uma represa bem atrás de onde Tess e Jeff ficarão sentados: uma cadeira de balanço debaixo de uma árvore frondosa. O brilho do pôr-do-sol dá um toque de tirar o fôlego. As cadeiras perfeitamente enfileiradas proporcionam aos convidados essa vista privilegiada enquanto aguardam.– Nervosa? – Gabriel me pergunta ao pararmos em frente ao caminho de pétalas que devemos seguir.– Muito – mostro minhas mãos trêmulas e ele as segura, passando confiança.– Vai dar tudo certo – Biel diz, abraçando-me, e deixo ser envolvida pelo seu calor e perfume.– Só eu que vou rir muito quando o Jeff chorar ao ver a Tess de noiva? – Jane indaga, alisando o vestido.– Ela está incrível! Com certeza eu vou rir disso! – respondo.O sol bate em nós e aquece um pouco minha pele gélida. Respiro fun