– Junia, como isso foi acontecer?! – disparo sem pensar ao que ela responde com a voz carregada de ironia, enquanto seca as lágrimas.
– Da forma tradicional, Angel!– Ai, calma! – peço mais para mim mesma do que para minha irmã. – O Guilherme já sabe, né?Gen assente e empurra a porta para fechá-la, o que me leva à segunda pergunta:– E quando você pretende contar para os nossos pais?– Eu não sei! Estou desesperada, Angel. Eles vão me matar! – a ruiva se levanta e me empurra para conseguir chegar até a pia, a fim de lavar o rosto. Analiso atentamente minha irmã, sem saber o que dizer ou que conselho dar. Só sei que um bebê é um assunto muito sério para ser deixado de lado.– Gen, isso é sério. Você precisa contar. Independente do que vocês decidirem fazer, o pSe o casamento arranjado em si já estava complicado, com um bebê na história piorou. Se Mark só preza a aparência, ele vai querer se livrar da criança a todo custo. Como Guilherme se casaria comigo tendo um filho com a minha irmã?Serei tia e madrasta? Guilherme vai ser pai e tio? Se até eu fico confusa, imagine uma criança!– Mais do que ter engravidado, seria irresponsabilidade não cuidar da criança – Biel aponta e eu concordo sem duvidar.Ficamos mais uns quinze minutos no celular, conversando sobre coisas sérias e outras aleatórias. Quando decidimos que precisamos dormir, meu peito se aperta. Uma sirene apita na minha cabeça:Conte para ele! Conte para ele! Conte para ele!Eu finjo que não há problema em ignorá-la e chacoalho a cabeça para espantar a sensação de culpa.Eu odeio despedidas, mesmo as pel
Não quero basear minha vida num esconde-esconde. Não quero esconder meus sentimentos de mim mesma. Quero ser feliz de verdade e andar de mãos dadas na rua com Gabriel, não com Guilherme. Não quero apagar minha fogueira para acender outra.Esse pensamento me deixa sufocada e lágrimas silenciosas começam a rolar pelo meu rosto até minha linha de raciocínio ser interrompida com batidas na porta.– Entre – tento não soar afônica.– Angel – a voz doce de Cristina chama a minha atenção e olho em sua direção.– Oi, princesa – sorrio para ela.Minha irmã entra no quarto com seu traje de bailarina e corre até mim. Ela pensa em falar alguma coisa com um sorriso estampado no rosto, mas para, avaliando meu rosto.– Você está bem?– Sim – assinto devagar. – Só estou
DezembroO mês de novembro se arrasta para passar. Ainda assim, é extremamente agitado. Muitas das minhas noites são marcadas por sonhos em que Gabriel me deixa, que estou presa num quarto sozinha ou que eu e Guilherme estamos acorrentados.Ninguém aqui em casa consegue manter um diálogo real. Falamos apenas de trivialidades e nos ocupamos com nossas obrigações diárias.Até que, num belo dia, na primeira semana de dezembro, depois de pegar meu vestido de madrinha com Max, meu pai decide usar a hora do chá para dar uma notícia.– O casamento já foi marcado.Fico estática ao ouvir isso e olho bem para ele, sentado à minha frente. Vendo que nem eu, nem Gen nos manifestamos, mamãe questiona:– E quando será?– Março. A partir de janeiro, vamos começar a arrumar tudo – ele responde.
Há uma represa bem atrás de onde Tess e Jeff ficarão sentados: uma cadeira de balanço debaixo de uma árvore frondosa. O brilho do pôr-do-sol dá um toque de tirar o fôlego. As cadeiras perfeitamente enfileiradas proporcionam aos convidados essa vista privilegiada enquanto aguardam.– Nervosa? – Gabriel me pergunta ao pararmos em frente ao caminho de pétalas que devemos seguir.– Muito – mostro minhas mãos trêmulas e ele as segura, passando confiança.– Vai dar tudo certo – Biel diz, abraçando-me, e deixo ser envolvida pelo seu calor e perfume.– Só eu que vou rir muito quando o Jeff chorar ao ver a Tess de noiva? – Jane indaga, alisando o vestido.– Ela está incrível! Com certeza eu vou rir disso! – respondo.O sol bate em nós e aquece um pouco minha pele gélida. Respiro fun
Ele levanta meu queixo delicadamente e diz:– Não precisa ter medo de nada, maluquinha.Fui criada para atender ao público, suprir suas expectativas e surpreendê-los, mas ultimamente a pressão tem sido avassaladora e o medo de perder tudo é apavorante.Porém, sinto o abraço de Gabriel, a confiança e força que eu precisava direcionada totalmente a mim. Suas palavras tranquilizadoras e seus lábios contra os meus de maneira a me confortar fazem toda a ansiedade e o medo de falhar irem embora.– Eu estou com você, não estou? E sempre vou estar – ele sopra em meu ouvido e um nó cresce na minha garganta. – Prometo que é só essa sensação que não vai ficar para sempre.Durante esse momento, sinto-me realmente segura ao lado do meu noivo. Mas, como ele mesmo já me disse uma vez, nada dura para sempre. E essa certez
– Relaxe, bebê – ele ri e abre o embrulho sem a menor delicadeza. O papel se rasga por completo.Gabriel sorri, lançando-me um olhar brilhante ao ver a pequena caixa de madeira toda tingida de preto do tamanho exato de uma foto padrão.– Abra! – peço mais ansiosa que ele.Ao abrir, um cartão é a primeira coisa que se vê.“Você acabou de ganhar uma viagem no tempo.Esteja pronto para acompanhar sua noiva numa tarde em Paris. Apresente-se na plataforma 7 da ferroviária amanhã (22/12) às 02:30 P.M. Nada de tênis branco!Mais informações serão dadas em breve.Eu amo você!– M”Os bilhetes do trem estão debaixo do cartão e também coloquei nossa foto da primeira vez que fomos a Paris juntos: nossos pés sobre o Point Zéro.Antes que meu no
– Eu esqueci completamente! – reclamo ao observar Junia se arrumar.Na verdade, nem se passou pela minha cabeça que a família Leto estaria no jantar de fim de ano da empresa. Mas é óbvio que estaria. Por que não? Afinal, eles fizeram um ótimo negócio esse ano, não?Esse pensamento me causa náuseas.– Calma, Angel. A mamãe disse que esse tipo de contrato é sigiloso. Duvido que alguém mencione o casamento – a ruiva liga o babyliss na tomada.– Droga! – cruzo os braços emburrada. – Justo quando está tudo maravilhoso e eu e o Biel tivemos um tempo incrível em Paris tenho que enfrentar o Mark-Babaca de novo? Não dá para ser perfeito, né...– Sinto muito, mas eu ainda acho que você deveria contar para o Biel antes que ele descubra – minha irmã continua calma.Reviro os
– Eu juro, Angel... – ele avisa com raiva. – Eu juro que não quero ouvir sua voz até chegarmos à sua casa para você tentar me explicar essa merda toda.Sua ordem me faz engolir em seco.Não olho para Biel durante todo o percurso, embora ache que vai nos matar a toda essa velocidade. Mas, se eu achava que as coisas não poderiam piorar, eu não deveria ter destrancado a porta de casa.Subo direto para o meu quarto e deixo que Gabriel feche a porta para não incomodar o silêncio mortal do resto da casa.– Vai. Explique, Angel! – ele cruza os braços. – Explique por que um cara queria agradecer a alegria de ter você para casar com o idiota do filho dele e que você concordou com isso! – sua ironia me esmaga.– Eu não concordei! – berro de volta. – Eu ia contar para você que meu pai fez a droga de um acordo para mant