Uma baforada congelante flutuou ao redor do rosto de Bruno, afastando os poucos flocos de neve que voavam livres pela cidade.
Era finalzinho de dezembro, mas as luzes ofuscantes conseguiam afastar um pouco do frio. A véspera natalina e de fim de ano sempre parecia remexer com cada canto do país e a maioria das pessoas estavam em suas casas, confortavelmente desfrutando daqueles dias de inverno junto aos familiares, todavia Bruno era diferente, afinal, após tantas reuniões na casa de seu avô materno, ele só queria fugir do resto da família.
Além do mais, Bruno tinha a desculpa perfeita para escapar, afinal, ele precisava entregar algo a uma certa pessoa antes da meia-noite, como mandava a tradição natalina. Particularmente, Bruno não ligava para celebrações em geral, porém decidiu fazer uma exceção só daquela vez.
Voltando ao tempo real, o moreno chegou ao apartamento que tanto visitou nos últimos tempos, espanando
Escondidas, elas se descobriram. Numa noite qualquer, após invadir a piscina da escola, elas nadaram nas águas refrescantes por algumas horas até a pele das mãos ficarem enrugadas. E então, quando se sentaram na beirada da piscina para apreciar o céu noturno, as coisas andaram para outro rumo. A Lua era a única testemunha delas, furtivamente olhando enquanto se entrelaçavam lenta e timidamente. Seus corpos molhados deixavam gotículas escorrerem, os cabelos aderiam a face ruborizada e mesmo assim elas não cogitavam se separar. Era um beijo singelo que começou com extrema cautela, mas que agora se transformava numa chama ardente. Elas insistiam em dizer que eram amigas, porém o sentimento que compartilhavam estava além disso. Miranda foi a primeira a notar que se sentia bem demais perto de Maria, que apenas conversar com ela lhe fazia sentir nas nuvens e agora, podendo beijá-la, a agitação inte
Isso que estou sentindo, essa agitação interna sem qualquer precedente, como se estivesse no meio de um fogo cruzado, aguardando um grande acontecimento... O que me causa isso? Nunca antes tive tal sensação de ansiedade e, ao mesmo tempo, desamparo. Simplesmente parece que estou perdido, à mercê de uma gama de sensações consternantes, as quais meu corpo responde contra minha vontade: as palmas das mãos suam, apesar de estar tão frio quanto o pior inverno; meu peito lateja, mas não é dor, pelo contrário, dele emana uma sensação quente que não sei explicar; focar minha mente parece ser uma tarefa demasiadamente complicada agora, pois nenhum pensamento é forte o suficiente para me ocupar. Não quando ele está por perto. Parece estupidez minha não conseguir agir como sempre na frente de uma pessoa que conheço a tanto tempo. Isso começou recentemente, na verdade, ao menos pude notar só recentemente. Da última vez em que nos encontramos, com su
Estavam sozinhos, mesmo com tantos transeuntes ao redor deles. Naquela mesa, só os dois conseguiam se ouvir e não existiam barreiras, como títulos ou conquistas, eram iguais, pois compartilhavam de um passado em conjunto. Afinal, quantas vezes já não estiveram naquela situação? Mesa de madeira, cerveja espumando — lacrimejando de tanta tentação —, um de cada lado e ambos tentando fugir da realidade. Assim eram aqueles dois, Alessandra e Richard. Alessandra, a diretora de uma grande empresa de marketing, era companheira de longa data de Richard, um escritor freelancer que ganhava a vida com histórias de romance apesar de que, em suas próprias palavras, ele nunca tivera um romance marcante em sua vida. Aqueles dois se conheciam desde a infância e sempre andaram juntos até que a idade adulta teve que separá-los, agora, tudo o que lhes resta é desfrutar de momentos de embriaguez como aquele para afogar as magoas.
Eu não sabia por quanto tempo estive observando aquela cena que já conhecia tão bem; horas lânguidas vendo os movimentos quase coreografados dele se reverberando contra o vento, jogando para cima apenas poeira e folhas enquanto a bola de vôlei quicava de um lado para o outro da quadra. A grama alta ricocheteava para lá e para cá e as mínimas gotículas de suor que escorriam por sua pele eram arremessadas ao ar, irradiando os raios fortes do Sol. Tornou-se parte da minha rotina olhar para Nathan imerso em seu treinamento exaustivo quase todas as manhãs. Eu apenas me sentava próxima — mas em uma distância segura, claro — e, com os cotovelos apoiados nos joelhos e queixo sobre as palmas das mãos, deixava-me perder totalmente em seus movimentos. Uma gama de devaneios remexia minha mente nesses momentos, mas nenhum fazia realmente sentido ou era marcante o suficiente para eu me devotar a ele. Não, o único que realmente prendia minha atenção er
Foi apenas uma vez, nada mais que isso. A culpa foi minha, certamente, estava sensível e queria esquecer das preocupações o quão rápido possível. Só isso... Nada mais aconteceu entre nós, a prova disso é que me sinto mal agora, após minha mente se ajeitar de qualquer jeito e a consciência recair numa cama que eu não deveria estar dividindo com outro homem. Leandro não está aqui — não estava e temo que também não estará aqui amanhã —, sua última mensagem de texto chegou dias atrás e o desconforto e a ansiedade se aglomeravam cada vez mais no meu peito. Ontem, tudo explodiu na minha cara, isso porque, após tanto tempo sozinha, alguém me estendeu palavras afáveis demais para resistir. A culpa não é dele, seu jeito é este afinal. Sempre tratando todos de forma tão simpática que chega a coagir, dono de um positivismo inumano e de tão grande gentileza que não poderia simplesmente me ignorar e ir em
A ponta de seu dedo trilhou lentamente a borda do copo, a unha de cor vermelha se refletia no líquido dourado do recipiente. Com o cotovelo apoiado no balcão e o punho ancorando o queixo, Milena deixou seus olhos vagarem perante os rostos felizes em plena agitação dos amigos que ainda estavam extasiados devido a comemoração recente; pudera, o casamento de Gabriel e Valentina foi uma data memorável, dois lindos jovens apaixonados prontos para iniciar suas vidas como uma família. Valentina estava deslumbrante e exalando doçura em seu formoso vestido de noiva, tanto que o noivo quase caiu boquiaberto no meio do altar quando ela entrou. Todavia Gabriel não cometeria esse erro; não, aguentar uma avalanche emocional não era nada para alguém notavelmente emocionado por natureza, certo? Todos pareciam tão felizes naquele dia, tal como agora, na festa noturna feita só para os amigos mais íntimos do casal. “Todos” dito de uma forma generosa, pois,
O gosto levemente apimentado borbulhando ao longo dos lábios, a respiração quente rodopiando entre nós dois, tão penetrante quanto o nosso ritmo cardíaco, o qual se equiparava em total agitação, assim como o céu noturno de fim de ano. Eu senti seus olhos fecharem-se fortemente, os cílios acariciando minha pele corada e febril. Senti gosto de barbecue, o molho que você tanto adora, perdendo apenas para a carne mal passada e cheia de tempero. Senti calor, um calor tão gigantesco que transbordava do meu peito, era diferente de qualquer coisa que já tinha experimentado antes; quase pude afirmar que meu corpo se derreteria naquele instante, escorrendo entre seus dedos e sujando suas roupas, mas, da mesma forma, eu ficaria impregnado em você, nos seus cabelos louros, na sua pele de pêssego, nos seus olhos de safira e no seu sorriso de menino sonhador... Porém outra coisa que senti naquele momento foi medo. Hoje, muitos a
— Eu gosto de você, Vitor. Foi uma frase apenas, poucas sílabas, mas suficientes para interromper a forma como o tempo transcorria. Bem, pelo menos para mim. Eu pisco para a pessoa ao meu lado, olho para cima, para baixo, tento supor se ouvi errado, abro e fecho a boca simultaneamente, tudo isso em um instante rápido. E ele continua me olhando casualmente, seu rosto tão simplório que custo a acreditar na verdade que sua voz carregava. Não, não foi uma piada, Miguel falou sério. E eu ainda estou calado, certo? Tenho que dizer alguma coisa agora, qualquer coisa... Ei, cérebro estúpido, não consegue bolar nada para eu falar? Vamos lá, não posso só ficar quieto com cara de idiota na frente de uma declaração amorosa, posso? Posso? Meu Deus, o que eu digo? — Ehrr... Você... E se eu disser algo errado agora? É mesmo necessário dar