De costas, não se vê nada de mais em você; é só uma garota — mais uma estúpida garota — no auge de todo o estrogênio, tão inocente quanto uma noviça. Mesmo de frente, não há muito o que apreciar, é só outro belo rosto, nem seria motivo de disputa em botequinho, muito menos digno de causar uma guerra entre a Grécia e Tróia, pois beleza até uma meretriz tem.
Meretriz, que sinônimo eufemístico para descrevê-la. Você é uma puta, com todas as letras: P-U-T-A. Ah, estou errado? Que outra classe de mulher se deixa tocar por qualquer tipo de homem? Esse é seu problema: vestida — seja de frente ou de costas — é só mais uma mulher, mas quando suas roupas caem, essas bocas e dentes impressos na sua pele a entregam e a condenam. Condenação feita às pressas — até por mim mesmo —, sem embasamento, pois nessas cicatrizes não há nada de vergonhoso. Estou me contradizendo, mas já aprendi que sentimentos confusos são normais para você, então por que não mais alguns?
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Eu não deveria ter vindo, definitivamente não deveria ter saído de casa assim que recebi aquela mensagem. Foi imprudente da minha parte, a necessidade me fez de bobo e cegou meus olhos, desta forma, não demorou mais do que algumas falas trocadas a beira das duas da manhã para me convencer de que era uma excelentíssima ideia deixar o conforto do meu lar e me aventurar numa das ruas mais movimentadas da cidade apenas com um endereço em mãos. Ela disse que estaria me esperando no Café et Thé, uma cafeteria, pelo que me parecia ser, e uma das mais simples e discretas. A fachada era totalmente feita de tijolos queimados e contava com uma pequena vitrine com bolos artificiais expostos na frente. Entrando, não vi mais do que sete mesas e um punhado de cadeiras com porta-guardanapos no centro. Era totalmente impossível não se sentir apreensivo naquele momento. “Mande chamar o gerente” lembro-me das mensagens daquela pessoa, “Diga que está procur
Uma baforada congelante flutuou ao redor do rosto de Bruno, afastando os poucos flocos de neve que voavam livres pela cidade. Era finalzinho de dezembro, mas as luzes ofuscantes conseguiam afastar um pouco do frio. A véspera natalina e de fim de ano sempre parecia remexer com cada canto do país e a maioria das pessoas estavam em suas casas, confortavelmente desfrutando daqueles dias de inverno junto aos familiares, todavia Bruno era diferente, afinal, após tantas reuniões na casa de seu avô materno, ele só queria fugir do resto da família. Além do mais, Bruno tinha a desculpa perfeita para escapar, afinal, ele precisava entregar algo a uma certa pessoa antes da meia-noite, como mandava a tradição natalina. Particularmente, Bruno não ligava para celebrações em geral, porém decidiu fazer uma exceção só daquela vez. Voltando ao tempo real, o moreno chegou ao apartamento que tanto visitou nos últimos tempos, espanando
Escondidas, elas se descobriram. Numa noite qualquer, após invadir a piscina da escola, elas nadaram nas águas refrescantes por algumas horas até a pele das mãos ficarem enrugadas. E então, quando se sentaram na beirada da piscina para apreciar o céu noturno, as coisas andaram para outro rumo. A Lua era a única testemunha delas, furtivamente olhando enquanto se entrelaçavam lenta e timidamente. Seus corpos molhados deixavam gotículas escorrerem, os cabelos aderiam a face ruborizada e mesmo assim elas não cogitavam se separar. Era um beijo singelo que começou com extrema cautela, mas que agora se transformava numa chama ardente. Elas insistiam em dizer que eram amigas, porém o sentimento que compartilhavam estava além disso. Miranda foi a primeira a notar que se sentia bem demais perto de Maria, que apenas conversar com ela lhe fazia sentir nas nuvens e agora, podendo beijá-la, a agitação inte
Isso que estou sentindo, essa agitação interna sem qualquer precedente, como se estivesse no meio de um fogo cruzado, aguardando um grande acontecimento... O que me causa isso? Nunca antes tive tal sensação de ansiedade e, ao mesmo tempo, desamparo. Simplesmente parece que estou perdido, à mercê de uma gama de sensações consternantes, as quais meu corpo responde contra minha vontade: as palmas das mãos suam, apesar de estar tão frio quanto o pior inverno; meu peito lateja, mas não é dor, pelo contrário, dele emana uma sensação quente que não sei explicar; focar minha mente parece ser uma tarefa demasiadamente complicada agora, pois nenhum pensamento é forte o suficiente para me ocupar. Não quando ele está por perto. Parece estupidez minha não conseguir agir como sempre na frente de uma pessoa que conheço a tanto tempo. Isso começou recentemente, na verdade, ao menos pude notar só recentemente. Da última vez em que nos encontramos, com su
Estavam sozinhos, mesmo com tantos transeuntes ao redor deles. Naquela mesa, só os dois conseguiam se ouvir e não existiam barreiras, como títulos ou conquistas, eram iguais, pois compartilhavam de um passado em conjunto. Afinal, quantas vezes já não estiveram naquela situação? Mesa de madeira, cerveja espumando — lacrimejando de tanta tentação —, um de cada lado e ambos tentando fugir da realidade. Assim eram aqueles dois, Alessandra e Richard. Alessandra, a diretora de uma grande empresa de marketing, era companheira de longa data de Richard, um escritor freelancer que ganhava a vida com histórias de romance apesar de que, em suas próprias palavras, ele nunca tivera um romance marcante em sua vida. Aqueles dois se conheciam desde a infância e sempre andaram juntos até que a idade adulta teve que separá-los, agora, tudo o que lhes resta é desfrutar de momentos de embriaguez como aquele para afogar as magoas.
Eu não sabia por quanto tempo estive observando aquela cena que já conhecia tão bem; horas lânguidas vendo os movimentos quase coreografados dele se reverberando contra o vento, jogando para cima apenas poeira e folhas enquanto a bola de vôlei quicava de um lado para o outro da quadra. A grama alta ricocheteava para lá e para cá e as mínimas gotículas de suor que escorriam por sua pele eram arremessadas ao ar, irradiando os raios fortes do Sol. Tornou-se parte da minha rotina olhar para Nathan imerso em seu treinamento exaustivo quase todas as manhãs. Eu apenas me sentava próxima — mas em uma distância segura, claro — e, com os cotovelos apoiados nos joelhos e queixo sobre as palmas das mãos, deixava-me perder totalmente em seus movimentos. Uma gama de devaneios remexia minha mente nesses momentos, mas nenhum fazia realmente sentido ou era marcante o suficiente para eu me devotar a ele. Não, o único que realmente prendia minha atenção er
Foi apenas uma vez, nada mais que isso. A culpa foi minha, certamente, estava sensível e queria esquecer das preocupações o quão rápido possível. Só isso... Nada mais aconteceu entre nós, a prova disso é que me sinto mal agora, após minha mente se ajeitar de qualquer jeito e a consciência recair numa cama que eu não deveria estar dividindo com outro homem. Leandro não está aqui — não estava e temo que também não estará aqui amanhã —, sua última mensagem de texto chegou dias atrás e o desconforto e a ansiedade se aglomeravam cada vez mais no meu peito. Ontem, tudo explodiu na minha cara, isso porque, após tanto tempo sozinha, alguém me estendeu palavras afáveis demais para resistir. A culpa não é dele, seu jeito é este afinal. Sempre tratando todos de forma tão simpática que chega a coagir, dono de um positivismo inumano e de tão grande gentileza que não poderia simplesmente me ignorar e ir em
A ponta de seu dedo trilhou lentamente a borda do copo, a unha de cor vermelha se refletia no líquido dourado do recipiente. Com o cotovelo apoiado no balcão e o punho ancorando o queixo, Milena deixou seus olhos vagarem perante os rostos felizes em plena agitação dos amigos que ainda estavam extasiados devido a comemoração recente; pudera, o casamento de Gabriel e Valentina foi uma data memorável, dois lindos jovens apaixonados prontos para iniciar suas vidas como uma família. Valentina estava deslumbrante e exalando doçura em seu formoso vestido de noiva, tanto que o noivo quase caiu boquiaberto no meio do altar quando ela entrou. Todavia Gabriel não cometeria esse erro; não, aguentar uma avalanche emocional não era nada para alguém notavelmente emocionado por natureza, certo? Todos pareciam tão felizes naquele dia, tal como agora, na festa noturna feita só para os amigos mais íntimos do casal. “Todos” dito de uma forma generosa, pois,