Capítulo 2

ALEX

Algumas semanas depois...

Já passava das seis da noite quando saí do hospital em direção ao estacionamento. Senti meu celular vibrar no bolso da calça, resgatei o aparelho e vi o nome de minha mãe piscar na tela, meio a contragosto acabei atendendo.

— Oi, mãe.

— Está podendo falar, meu filho?

— Posso sim, acabei de sair do plantão e estou a caminho de casa.

— Você está lembrando que o aniversário do seu pai está chegando?

— Sim, eu sei.

— Os seus irmãos vão vir para fazer uma surpresa e gostaria que você e sua noiva viessem também para reunirmos a família toda. Estou ansiosa para conhecê-la.

Eu ainda não tinha tido coragem de contar para minha família que tinha terminado o noivado, por isso que, só de me imaginar no meio dos meus irmãos, suas esposas e filhos era quase uma tortura. Era como se esfregassem na minha cara que eles tinham conseguido tudo o que eu mais quero para minha vida. Não me leve a mal, eu amo minha família, mas às vezes tenho um pouquinho de inveja deles.

— Alex, está me ouvindo?

— Desculpa mãe, pode repetir?

— Seu pai convidou o prefeito e a família dele e até a filha dele confirmou presença também. Se lembra dela?

— A Lara?

— Sim, ela mesmo.

No segundo em que desviei os olhos do volante para a frente do hospital, vi uma mulher entrar correndo, parecia um pouco desesperada, enquanto carregava uma criança nos braços.

— Alex! — ouvi minha mãe gritar do outro lado da linha.

— O que foi, mãe?

— Estou querendo saber se você e sua noiva virão.

— Eu... posso te responder depois? Preciso resolver um assunto rápido.

— Você sempre arruma um jeito de escapar das nossas conversas.

— Eu não estou fugindo da nossa conversa, mas tenho que atender uma emergência.

— Mas você já não tinha saído do plantão?

— Sim, mas é uma emergência pediátrica.

Tenho que confessar que aquele foi um ótimo motivo para fugir da minha mãe. Peguei o jaleco dobrado sobre o banco do caro e saí, mas continuei ouvindo minha mãe reclamar ao telefone enquanto entrava no hospital.

— Mãe, você sabe que eu adoraria ficar conversando, mas eu realmente preciso desligar agora.

— Tudo bem, eu entendo. — Ela falou quando percebeu que eu já não estava mais prestando atenção.

Tudo o que eu não queria era ter que reencontrar uma ex-namorada e parecer um fracassado no amor. Aparecer na festa do meu pai sozinho, seria como mostrar que ela tinha razão e que eu, realmente, sou um fracasso no amor.

Depois que passei pelas portas de entrada do hospital e me aproximei da recepcionista, percebi que a mulher estava mesmo desesperada enquanto segurava a criança chorosa contra o peito.

— Boa noite. O que está acontecendo?

— Eu preciso de atendimento para minha filha.

— Sou o DR. Alexander, médico pediatra — me apresentei. — Como posso ajudá-la?

— A minha filha está ardendo em febre quase o dia todo e nada faz ceder, não quer comer direito e eu já não sei mais o que fazer.

— Venha, deixe-me examiná-la.

Seguimos em silêncio pelo corredor da direita até a última sala, onde abri a porta e deixei que a mulher entrasse primeiro no consultório, que pareceu ficar surpresa com a decoração infantil. Logo que entrei e fechei a porta, percebi que a mulher não parava de fitar o chão.

— Posso começar a examinar sua filha?

— Eu não tenho como pagar uma consulta desse hospital. — Ela finalmente me encarou.

— Posso te garantir que isso não é um problema.

Eu queria poder dizer que era o dono do hospital, mas achei melhor deixar esse pequeno comentário de fora porque não queria parecer muito presunçoso.

— Mas para mim é um grande problema.

— Sei que pode soar meio estranho já que não me conhece, mas pode confiar em mim.

Enquanto eu examinava a criança, a mulher não saiu de perto da filha nem por um minuto. Tentei puxar conversa para deixá-la um pouco mais relaxada e a vontade com a minha presença, mas não funcionou muito.

— Qual é o nome dela?

— Rebeca.

— É um bonito nome. — Também reparei que a menina tinha os olhos tão azuis em nada parecidos com os da mãe, talvez tivesse herdado do pai ou dos avós.

— Obrigada. Era o nome da minha avó.

— E o seu? — perguntei curioso.

— Joana.

— E qual a idade dela?

— Oito meses.

O restante da consulta foi todo em silêncio, apenas com os resmungos da menininha. Quando terminei de examinar Rebeca, acalmei a mãe dizendo que era apenas um quadro viral, uma gripe e, por causa do nariz estar entupido estaria atrapalhando ela a mamar, expliquei os cuidados que ela deveria fazer e prescrevi alguns medicamentos.

— Muito obrigada, doutor — agradeceu enquanto se levantava da cadeira. — De verdade mesmo.

— Não foi nada demais. 

Saímos do consultório e fomos caminhando em direção a área da recepção onde ela despediu dela e foi embora. Recolhi meu jaleco e fui direto para o estacionamento. Tudo o que eu queria era poder chegar em casa e descansar um pouco. Liguei uma música animada no rádio para me manter acordado e dei partida com o carro.

Quando passei em frente ao ponto de ônibus, vi Joana com a filha e fiquei com pena porque o vento já estava começando a ficar gelado e alguns raios já cortavam o céu. Eu sabia que o ônibus ainda demoraria a passar por ali, então parei junto ao meio-fio e abaixei o vidro.

— Quer uma carona?

— Não, obrigada! O ônibus já deve estar chegando.

— Está começando a fazer frio e a chuva não vai demorar a cair, o que não é bom para a Rebeca.

Ela nada me respondeu.

— Onde você mora?

— Na gruta.

Ótimo. Era um bairro do outro lado da cidade, mas seria melhor para a menininha se não ficasse exposta ao frio e chuva por muito tempo.

— Entra aí, eu levo vocês.

— Não quero abusar da sua boa vontade, doutor.

— Eu estou oferecendo a carona e pode me chamar apenas de Alex.

A chuva começou a cair e ela não teve outra escolha a não ser entrar no carro. Durante todo o percurso, permanecemos em silêncio, ela parecia mais interessada na chuva que caía do lado de fora do que tentar conversar comigo, mas ainda sim, podia perceber seus olhares discretos em minha direção.

Podia sentir seu corpo enrijecido no banco ao meu lado, talvez estivesse com medo ou se sentindo insegura por estar no carro comigo, um homem desconhecido. Era óbvio que eu não faria nada com ela, mas ela não tinha como saber disso.

Minutos depois, quando finalmente estacionei o carro em frente a um prédio velho, no endereço indicado no GPS. Saí do carro e peguei um guarda-chuva no porta-malas e o ofereci quando abri a porta para que ela pudesse sair.

— É aqui mesmo que você mora?

— É sim! — Ela deu um meio sorriso. — Obrigada pela carona e pelo guarda-chuva!

— Não foi nada!

Joana saiu correndo para dentro do prédio e eu voltei para a segurança do carro, mas só saí dali quando tive certeza de que ela já estava segura. Eu podia não conhecê-la, mas minha mãe tinha me educado perfeitamente para ser um cavalheiro com qualquer mulher.

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