ALEX
Algumas semanas depois...
Já passava das seis da noite quando saí do hospital em direção ao estacionamento. Senti meu celular vibrar no bolso da calça, resgatei o aparelho e vi o nome de minha mãe piscar na tela, meio a contragosto acabei atendendo.
— Oi, mãe.
— Está podendo falar, meu filho?
— Posso sim, acabei de sair do plantão e estou a caminho de casa.
— Você está lembrando que o aniversário do seu pai está chegando?
— Sim, eu sei.
— Os seus irmãos vão vir para fazer uma surpresa e gostaria que você e sua noiva viessem também para reunirmos a família toda. Estou ansiosa para conhecê-la.
Eu ainda não tinha tido coragem de contar para minha família que tinha terminado o noivado, por isso que, só de me imaginar no meio dos meus irmãos, suas esposas e filhos era quase uma tortura. Era como se esfregassem na minha cara que eles tinham conseguido tudo o que eu mais quero para minha vida. Não me leve a mal, eu amo minha família, mas às vezes tenho um pouquinho de inveja deles.
— Alex, está me ouvindo?
— Desculpa mãe, pode repetir?
— Seu pai convidou o prefeito e a família dele e até a filha dele confirmou presença também. Se lembra dela?
— A Lara?
— Sim, ela mesmo.
No segundo em que desviei os olhos do volante para a frente do hospital, vi uma mulher entrar correndo, parecia um pouco desesperada, enquanto carregava uma criança nos braços.
— Alex! — ouvi minha mãe gritar do outro lado da linha.
— O que foi, mãe?
— Estou querendo saber se você e sua noiva virão.
— Eu... posso te responder depois? Preciso resolver um assunto rápido.
— Você sempre arruma um jeito de escapar das nossas conversas.
— Eu não estou fugindo da nossa conversa, mas tenho que atender uma emergência.
— Mas você já não tinha saído do plantão?
— Sim, mas é uma emergência pediátrica.
Tenho que confessar que aquele foi um ótimo motivo para fugir da minha mãe. Peguei o jaleco dobrado sobre o banco do caro e saí, mas continuei ouvindo minha mãe reclamar ao telefone enquanto entrava no hospital.
— Mãe, você sabe que eu adoraria ficar conversando, mas eu realmente preciso desligar agora.
— Tudo bem, eu entendo. — Ela falou quando percebeu que eu já não estava mais prestando atenção.
Tudo o que eu não queria era ter que reencontrar uma ex-namorada e parecer um fracassado no amor. Aparecer na festa do meu pai sozinho, seria como mostrar que ela tinha razão e que eu, realmente, sou um fracasso no amor.
Depois que passei pelas portas de entrada do hospital e me aproximei da recepcionista, percebi que a mulher estava mesmo desesperada enquanto segurava a criança chorosa contra o peito.
— Boa noite. O que está acontecendo?
— Eu preciso de atendimento para minha filha.
— Sou o DR. Alexander, médico pediatra — me apresentei. — Como posso ajudá-la?
— A minha filha está ardendo em febre quase o dia todo e nada faz ceder, não quer comer direito e eu já não sei mais o que fazer.
— Venha, deixe-me examiná-la.
Seguimos em silêncio pelo corredor da direita até a última sala, onde abri a porta e deixei que a mulher entrasse primeiro no consultório, que pareceu ficar surpresa com a decoração infantil. Logo que entrei e fechei a porta, percebi que a mulher não parava de fitar o chão.
— Posso começar a examinar sua filha?
— Eu não tenho como pagar uma consulta desse hospital. — Ela finalmente me encarou.
— Posso te garantir que isso não é um problema.
Eu queria poder dizer que era o dono do hospital, mas achei melhor deixar esse pequeno comentário de fora porque não queria parecer muito presunçoso.
— Mas para mim é um grande problema.
— Sei que pode soar meio estranho já que não me conhece, mas pode confiar em mim.
Enquanto eu examinava a criança, a mulher não saiu de perto da filha nem por um minuto. Tentei puxar conversa para deixá-la um pouco mais relaxada e a vontade com a minha presença, mas não funcionou muito.
— Qual é o nome dela?
— Rebeca.
— É um bonito nome. — Também reparei que a menina tinha os olhos tão azuis em nada parecidos com os da mãe, talvez tivesse herdado do pai ou dos avós.
— Obrigada. Era o nome da minha avó.
— E o seu? — perguntei curioso.
— Joana.
— E qual a idade dela?
— Oito meses.
O restante da consulta foi todo em silêncio, apenas com os resmungos da menininha. Quando terminei de examinar Rebeca, acalmei a mãe dizendo que era apenas um quadro viral, uma gripe e, por causa do nariz estar entupido estaria atrapalhando ela a mamar, expliquei os cuidados que ela deveria fazer e prescrevi alguns medicamentos.
— Muito obrigada, doutor — agradeceu enquanto se levantava da cadeira. — De verdade mesmo.
— Não foi nada demais.
Saímos do consultório e fomos caminhando em direção a área da recepção onde ela despediu dela e foi embora. Recolhi meu jaleco e fui direto para o estacionamento. Tudo o que eu queria era poder chegar em casa e descansar um pouco. Liguei uma música animada no rádio para me manter acordado e dei partida com o carro.
Quando passei em frente ao ponto de ônibus, vi Joana com a filha e fiquei com pena porque o vento já estava começando a ficar gelado e alguns raios já cortavam o céu. Eu sabia que o ônibus ainda demoraria a passar por ali, então parei junto ao meio-fio e abaixei o vidro.
— Quer uma carona?
— Não, obrigada! O ônibus já deve estar chegando.
— Está começando a fazer frio e a chuva não vai demorar a cair, o que não é bom para a Rebeca.
Ela nada me respondeu.
— Onde você mora?
— Na gruta.
Ótimo. Era um bairro do outro lado da cidade, mas seria melhor para a menininha se não ficasse exposta ao frio e chuva por muito tempo.
— Entra aí, eu levo vocês.
— Não quero abusar da sua boa vontade, doutor.
— Eu estou oferecendo a carona e pode me chamar apenas de Alex.
A chuva começou a cair e ela não teve outra escolha a não ser entrar no carro. Durante todo o percurso, permanecemos em silêncio, ela parecia mais interessada na chuva que caía do lado de fora do que tentar conversar comigo, mas ainda sim, podia perceber seus olhares discretos em minha direção.
Podia sentir seu corpo enrijecido no banco ao meu lado, talvez estivesse com medo ou se sentindo insegura por estar no carro comigo, um homem desconhecido. Era óbvio que eu não faria nada com ela, mas ela não tinha como saber disso.
Minutos depois, quando finalmente estacionei o carro em frente a um prédio velho, no endereço indicado no GPS. Saí do carro e peguei um guarda-chuva no porta-malas e o ofereci quando abri a porta para que ela pudesse sair.
— É aqui mesmo que você mora?
— É sim! — Ela deu um meio sorriso. — Obrigada pela carona e pelo guarda-chuva!
— Não foi nada!
Joana saiu correndo para dentro do prédio e eu voltei para a segurança do carro, mas só saí dali quando tive certeza de que ela já estava segura. Eu podia não conhecê-la, mas minha mãe tinha me educado perfeitamente para ser um cavalheiro com qualquer mulher.
JOANADepois de um dia extremamente cansativo de trabalho no restaurante, eu finalmente estava indo para casa pra ficar com a minha filha, mas antes. como de costume, teria que passar na casa de Liliane, minha melhor amiga e madrinha da minha pequena, para pegá-la.Logo que cheguei, Lili já veio toda apressada, Rebeca estava aos berros no colo dela, a expressão no seu rosto não era das melhores e a preocupação logo surgiu, consumindo todo o meu ser.— Ainda bem que você chegou.— O que aconteceu?— Ela passou o dia todo com febre, sem querer comer nadinha.— E por que você não me ligou?— Eu não queria te preocupar e nem que você perdesse o dia de trabalho porque sei que o dinheiro faz falta para você.— Mas a minha filha é a minha prioridade.— Eu até levei ela no postinho de atendimento aqui do bairro.— E o que o médico disse?— Ele falou um negócio lá, mas não confiei muito na palavra dele porque, sinceramente, ele nem encostou na menina, seria melhor levá-la ao hospital.— Vou ve
ALEXDepois que cheguei em casa, deixei as chaves sobre a mesa e me joguei no sofá. Tinha sido um plantão complicado e eu só queria descansar um pouco. Depois de entrar debaixo do chuveiro, deixei que a água fria caísse sobre meu corpo, relaxando os músculos tensos.Quando já estava me sentindo bem melhor, enrolei uma toalha enrolada no quadril e voltei ao quarto para pegar uma roupa, mas fui interrompido pelo meu celular que não parava de apitar, vi pela barra de notificações que eram mensagens de Felipe, meu irmão mais velho."E aí, irmãozinho.""Você vai na festa de aniversário do pai? Estou ansioso para te ver e conhecer sua noiva."Merda.Por um momento eu tinha me esquecido dessa confusão que estava metido. Deixei o celular de lado porque ainda não sabia o que responder, eu iria ao aniversário do meu pai, mas antes precisava arrumar uma mulher que aceitasse ser minha noiva falsa e que tivesse uma filha, já que Paola era mãe de uma garotinha quando a conheci.A mera menção ao nom
JOANA Depois de uma noite mal dormida, em que fiquei acordando de cinco em cinco minutos para verificar se a febre de Rebeca tinha ido mesmo embora, acordei ouvindo alguns resmungos vindo de dentro do berço e tive que me levantar para começar o dia. Quando olhei dentro do berço, vi minha menininha segurando um dos pés para o alto enquanto reclamava, mas logo que me viu, ela abriu um largo sorriso. Ela era tão boazinha que nem chorava quando acordava e eu não vinha logo em seu socorro. — Bom dia, minha bonequinha! Em resposta, ela se segurou nas barras laterais do berço e ficou de pé enquanto fazia borbulhas de saliva com a boca. Peguei-a no colo e levei até o seu quartinho, onde troquei a fralda suja por uma limpinha e em seguida, a levei sala, onde a coloquei sentada no tapete da sala, cercada por almofadas e alguns de seus brinquedos enquanto ia preparar sua mamadeira e um pouco de café para mim. Enquanto Rebeca tomava seu leite jogada nas almofadas, aproveitei para dar uma olh
ALEX Depois que cheguei em casa, me joguei no sofá e fiz uma ligação rápida para o meu restaurante favorito na cidade toda e, por sorte, consegui reservar uma mesa para duas pessoas. Enviei o endereço do restaurante por mensagem para Joana e ela só respondeu com um joinha. Passei a tarde quase toda terminando de escrever um artigo científico sobre a minha pesquisa e quando percebi já passava das sete da noite. Do lado de fora já estava escuro, a lua estava alta no céu e eu tinha uma hora para ficar pronto e ir para o restaurante. Enquanto a água quente relaxava meus músculos, diversos pensamentos passavam pela minha cabeça e a insegurança se fez presente. Será que Joana ia aparecer? Será que ela toparia fazer parte do meu plano? Optei por vestir uma calça de alfaiataria num tom de azul escuro, uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e preferi deixar os dois primeiros botões abertos para parecer um pouco mais descontraído. Ali estava eu, sentado em um res
JOANAQuando meu turno finalmente chegou ao fim, entrei no primeiro ônibus de volta para casa. Eu precisava me arrumar, preparar uma outra bolsa com fraldas e leite para deixar na casa de Lili e ir me encontrar com o médico bonitão.Tomei um banho relaxante, enrolei a toalha no corpo e fiquei parada diante do meu guarda-roupa aberto, tentando escolher algo para vestir que não fosse tão simples e nem muito chique, porque pelo que tinha visto numa pesquisa rápida da internet, o restaurante era fino e tinha um ar chique.Liguei para Lili por chamada de vídeo para que ela me ajudasse a escolher uma roupa e ia me vestindo e mostrando a ela o look até escolher o vestido preto, os meus scarpins de salto alto favoritos e um par de brincos que tinha ganhado de presente de Lili. Aproveitei que ainda tinha tempo e sequei o cabelos, fazendo algumas ondas com o babyliss.Decidi ir com um carro de aplicativo para o restaurante porque ele poderia insistir em me trazer de volta para casa e se eu foss
ALEXAquela noite depois de sair do restaurante, foi a noite mais difícil para eu conseguir dormir. Eu tinha saído daquele restaurante mais nervoso e angustiado do que quando tinha entrado. Saber que o meu futuro dependia exclusivamente de uma desconhecida era complicado demais.Os dias estavam se passando e a espera por uma resposta de Joana estava sendo uma verdadeira tortura. Eu passava quase o tempo inteiro com o celular próximo de mim e a cada notificação de uma nova mensagem, eu corria para ver se era a resposta de Joana. Ela devia estar gostando de me torturar.Era sábado à noite, já não aguentava mais essa incerteza, coloquei duas pedras de gelo em um copo, me servi de uma dose de uísque. Saí para a sacada do meu apartamento, apoiei as mãos sobre o batente do guarda-corpo e inspirei fundo. Se aquela mulher não me desse uma resposta logo, eu acabaria ficando louco e, quase como se tivesse lido minha mente, uma mensagem chegou.Joana: Já tenho uma resposta para te dar.Simples a
JOANADepois de encontrar Alex no restaurante para tratar de negócios, levei Rebeca para casa e, como ela já tinha adormecido, levei-a direto para o berço. Tirei os saltos e troquei o vestido pelo meu pijama confortável, mas como estava muito agitada, sabia que não conseguiria dormir então fui para a sala e peguei meu celular antes de me jogar no sofá. Havia umas quatro mensagens da minha mellhor amiga.Lili: Amiga, você não vai mesmo me contar o que aconteceu nesse seu encontro de negócios?Lili: Amiga, me responde. Por favor!Lili: Vai mesmo me deixar na curiosidade?Lili: Você sabe que eu não aguento não saber das coisas, sou ansiosa.Meu Deus. Como minha minha melhor amiga era dramática quando queria saber de um fofoca, mas eu gostava dela mesmo assim e até entendia a curiosidade/preocupação dela. Se fosse o contrário, eu com certeza, faria de tudo para tentar descobrir o que tinha acontecido.Joana: Eu vou te contar quando você vier aqui em casa.Lili: Por que demorou a me respon
ALEXDepois que Joana se afastou, entrei no meu carro, mas fiquei esperando para ver onde ela iria e para sanar minha curiosidade de qual era o carro dela. Para minha surpresa ela entrou num fusca azul, que tenho que dizer, estava em ótimo estado de conservação, mas a pequena Rebeca merecia um pouco mais de segurança do que um carro velho.Quando finalmente cheguei em casa, estava me sentindo muito mais leve como se tivesse tirado um elefante das costas. Joana tinha aceitado fazer parte do meu plano maluco e eu conseguiria mentir para minha família. Me orgulhava disso? Claro que não, mas era covarde demais para contar a verdade.Por estar acostumado a ficar sozinho em casa aos domingos, coloquei a blusa suja de batom no cesto de roupa suja, tomei um pouco do suco de laranja que estava na geladeira e aproveitei para voltar para cama e dormir mais um pouco.Quando voltei a acordar, já passava da uma da tarde. Minha cabeça tinha parado de doer e meu estômago dava sinais de vida. Me pus d