JOANA
Quando meu turno finalmente chegou ao fim, entrei no primeiro ônibus de volta para casa. Eu precisava me arrumar, preparar uma outra bolsa com fraldas e leite para deixar na casa de Lili e ir me encontrar com o médico bonitão.
Tomei um banho relaxante, enrolei a toalha no corpo e fiquei parada diante do meu guarda-roupa aberto, tentando escolher algo para vestir que não fosse tão simples e nem muito chique, porque pelo que tinha visto numa pesquisa rápida da internet, o restaurante era fino e tinha um ar chique.
Liguei para Lili por chamada de vídeo para que ela me ajudasse a escolher uma roupa e ia me vestindo e mostrando a ela o look até escolher o vestido preto, os meus scarpins de salto alto favoritos e um par de brincos que tinha ganhado de presente de Lili. Aproveitei que ainda tinha tempo e sequei o cabelos, fazendo algumas ondas com o babyliss.
Decidi ir com um carro de aplicativo para o restaurante porque ele poderia insistir em me trazer de volta para casa e se eu fosse com meu fusca azul, poderia ficar com vergonha diante do restaurante. Durante todo o caminho até o restaurante, fiquei pensando que era a primeira vez, desde que Rebeca tinha nascido, que eu iria me encontrar com um homem. Mesmo não sendo um encontro romântico, eu me estava me sentindo nervosa.
Quando o táxi parou em frente ao restaurante, paguei o motorista e desci. Respirei fundo e caminhei até a entrada, onde uma hostess me recebeu.
— Boa noite, tem uma pessoa me esperando lá dentro... Acho que o sobrenome é Palmer.
— O Sr. Balmer, certo?
— Isso mesmo!
— Me acompanhe, por favor!
Enquanto caminhava pelo salão, aproveitei para dar uma olhada ao meu redor e o lugar realmente fazia jus as fotos da internet. Era tudo muito limpo e arrumado com perfeição. Quando a hostess me indicou a mesa, onde o homem alto e forte, com os cabelos loiros penteados para trás, agradeci e me aproximei.
— Sr. Balmer? — chamei-o.
Quando o homem a minha frente ergueu a cabeça, seus belos olhos azuis me fitaram. Ele estava vestido impecavelmente e dei graças a Deus por Lili ter me ajudado a escoher uma roupa. tinha sido pega de surpresa com a beleza daquele homem.
— Que bom que veio.
— Fiquei curiosa para saber que negócios poderia querer tratar comigo — tentei soar despretensiosamente.
Antes que eu pudesse me sentar, fui surpreendida quando ele puxou a cadeira para que eu me sentasse antes de voltar ao seu lugar.
— Obrigada!
— Disponha!
— Mas você não precisava fazer isso, sou perfeitamente capaz de me sentar sozinha.
— Minha mãe me ensinou bem a como tratar uma mulher.
— E pelo visto ela fez um ótimo trabalho.
Depois que um garçom se aproximou, trazendo uma taça de água para mim e encheu a dele com um pouco mais de vinho, além de anotar nossos pedidos. Quando voltamos a ficar sozinhos, Alexander começou a me contar:
— Eu tenho evitado voltar para minha cidade natal já faz bastante tempo e da última vez, eles ficaram sabendo que eu estava noivo e que seria pai.
Eu estava sem palavras. Se ele seria pai, porque tinha me chamado para vir até aqui? Esse seu pequeno comentário tinha me deixado ainda mais curiosa.
— Bom, num belo dia, eu cheguei em casa mais cedo e... — Ele não parecia contente de ter que me contar aquilo. — Eu peguei minha noiva na cama com outro homem.
— E o bebê?
— Estou esperando nascer para fazer um exame de DNA.
— E onde eu entro nessa história toda? — perguntei realmente curiosa.
— Bem, eu não contei para minha família sobre essa traição e com o aniversário do meu pai chegando, minha mãe está querendo reunir toda a família e eu ainda não estou preparado para contar a verdade para eles, por isso, preciso da sua ajuda.
— Mas sua família não conhecia sua noiva?
— Não, porque meus irmãos moram foram do país e meus pais raramente saem do interior para vir a cidade.
— Então deixa eu ver se entendi — cruzei os dedos sobre a mesa. — Você quer a minha filha para fingir que é sua filha porque é um frouxo e não contou a verdade para sua família.
— Mais ou menos.
Eu não podia concordar com essa loucura, senti meu sangue ferver e a paciência se esvair completamente do meu corpo. Aquilo era um tremendo absurdo e, por um momento, esqueci que estávamos rodeados de outras pessoas.
— Desculpa, mas a minha filha não está a venda!
— Eu não estou querendo comprar sua filha! Longe de mim fazer uma crueldade dessas.
— Então o que você quer?
— Por favor, sente-se! Ouça minha proposta e depois pode ir embora, se quiser.
Contra a minha vontade, voltei a me sentar, mas a minha vontade era sair daquele restaurante e voltar para casa para ficar com a minha menininha.
— Então, Alex... — Comecei, prendendo sua atenção. — Qual é a sua proposta?
Um garçom serviu nossos pratos e depois que o rapaz se afastou, ele pareceu perceber que eu ainda o encarava, esperando uma resposta.
— Por que não jantamos primeiro e falamos de negócios depois? — Ele sugeriu, mas eu já tinha perdido a fome. — A comida parece estar deliciosa.
— Porque eu não vou ficar aqui a noite inteira esperando o momento em que você vai me falar que proposta é essa. Tenho uma filha para cuidar.
— Ok. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Tudo bem, eu falo.
— Estou esperando.
— A minha proposta é a seguinte... — Percebi quando ele apoiou o garfo na borda do prato. — Você e sua filha viajam comigo para a festa de aniversário do meu pai, se passam pela minha família de mentirinha por alguns dias e eu te pago uma boa quantia em dinheiro.
— De quanto estamos falando?
Dinheiro. Tínhamos chegado na parte que mais me interessava na proposta. Eu precisava de dinheiro? Com certeza, mas não admitiria isso na frente do médico bonitão.
— Dinheiro suficiente para que você largue aquele emprego deplorável.
— E que garantia eu tenho disso?
— Se você aceitar, amanhã mesmo já faço a transferência do valor para a sua conta.
Diante do meu silêncio, ele continuou falando:
— Se quiser também posso arrumar um emprego decente para você.
— Tudo isso está me parecendo bom demais. Qual a pegadinha?
— Você só precisa aceitar passar o final de semana na casa dos meus pais e fingir ser minha noiva e deixar que Rebeca seja minha filha de mentirinha.
— Eu preciso de um tempo para pensar.
— Justo, porém preciso da sua resposta até terça-feira.
— Tudo bem.
Depois de selar nosso acordo com um aperto de mãos, começamos a comer e tudo estava correndo muito bem até que decidi comentar:
— Você não parece o tipo de homem que precisa pagar para ter uma mulher ao seu lado.
— E não preciso mesmo, mas nenhuma das outras mulheres que conheço tem uma filha — Ele explicou enquanto bebericava seu vinho.
Se antes estava achando que ele, ao menos, me achava bonita e por isso tinha decidido me fazer a proposta de um final de semana, depois de sua explicação, fiquei me sentindo a última bolacha do pacote. Ele só tinha me procurado porque não tinha outra alternativa.
Quando terminamos de jantar, um garçom se aproximou para perguntar se queríamos uma sobremesa, mas falei que não, então ele pagou a conta e me acompanhou para fora do restaurante, onde entrei no primeiro táxi que parou e fui embora.
Passei ao motorista o endereço da casa de Lili, onde pedi que esperasse por um minuto enquanto eu pegava Rebeca. Claro que minha melhor amiga quis saber de tudo, mas prometi que depois contaria tudo para ela, mas que eu precisava ir para casa, tinha muita coisa para pensar.
ALEXAquela noite depois de sair do restaurante, foi a noite mais difícil para eu conseguir dormir. Eu tinha saído daquele restaurante mais nervoso e angustiado do que quando tinha entrado. Saber que o meu futuro dependia exclusivamente de uma desconhecida era complicado demais.Os dias estavam se passando e a espera por uma resposta de Joana estava sendo uma verdadeira tortura. Eu passava quase o tempo inteiro com o celular próximo de mim e a cada notificação de uma nova mensagem, eu corria para ver se era a resposta de Joana. Ela devia estar gostando de me torturar.Era sábado à noite, já não aguentava mais essa incerteza, coloquei duas pedras de gelo em um copo, me servi de uma dose de uísque. Saí para a sacada do meu apartamento, apoiei as mãos sobre o batente do guarda-corpo e inspirei fundo. Se aquela mulher não me desse uma resposta logo, eu acabaria ficando louco e, quase como se tivesse lido minha mente, uma mensagem chegou.Joana: Já tenho uma resposta para te dar.Simples a
JOANADepois de encontrar Alex no restaurante para tratar de negócios, levei Rebeca para casa e, como ela já tinha adormecido, levei-a direto para o berço. Tirei os saltos e troquei o vestido pelo meu pijama confortável, mas como estava muito agitada, sabia que não conseguiria dormir então fui para a sala e peguei meu celular antes de me jogar no sofá. Havia umas quatro mensagens da minha mellhor amiga.Lili: Amiga, você não vai mesmo me contar o que aconteceu nesse seu encontro de negócios?Lili: Amiga, me responde. Por favor!Lili: Vai mesmo me deixar na curiosidade?Lili: Você sabe que eu não aguento não saber das coisas, sou ansiosa.Meu Deus. Como minha minha melhor amiga era dramática quando queria saber de um fofoca, mas eu gostava dela mesmo assim e até entendia a curiosidade/preocupação dela. Se fosse o contrário, eu com certeza, faria de tudo para tentar descobrir o que tinha acontecido.Joana: Eu vou te contar quando você vier aqui em casa.Lili: Por que demorou a me respon
ALEXDepois que Joana se afastou, entrei no meu carro, mas fiquei esperando para ver onde ela iria e para sanar minha curiosidade de qual era o carro dela. Para minha surpresa ela entrou num fusca azul, que tenho que dizer, estava em ótimo estado de conservação, mas a pequena Rebeca merecia um pouco mais de segurança do que um carro velho.Quando finalmente cheguei em casa, estava me sentindo muito mais leve como se tivesse tirado um elefante das costas. Joana tinha aceitado fazer parte do meu plano maluco e eu conseguiria mentir para minha família. Me orgulhava disso? Claro que não, mas era covarde demais para contar a verdade.Por estar acostumado a ficar sozinho em casa aos domingos, coloquei a blusa suja de batom no cesto de roupa suja, tomei um pouco do suco de laranja que estava na geladeira e aproveitei para voltar para cama e dormir mais um pouco.Quando voltei a acordar, já passava da uma da tarde. Minha cabeça tinha parado de doer e meu estômago dava sinais de vida. Me pus d
JOANADepois que saí do parque, passei na casa de Lili, eu precisava da minha melhor amiga para me dar forças e garantir que tudo ficaria bem, mas infelizmente ela não estava em casa. Enviei uma mensagem para ela e em resposta descobri que ela estava na casa dos pais. Isso me fez lembrar de que fazia uma semana que eu não visitava os meus.— O que acha de visitar a vovó e o vovô, minha princesa? — perguntei enquanto olhava para minha filha presa em sua cadeirinha no banco de trás.Ela chacoalhou o brinquedo que tinha em mãos e abriu um largo sorriso. Antes de ir para a casa dos meus pais, precisava passar na cafeteria e pedir minha demissão, o que claro, não foi muito bem aceito pelo dono, mas eu não lhe dei outra alternativa.Logo que saí da cafeteria, enviei uma mensagem para Alex, mas como não recebi uma resposta imediata, deduzi que estivesse ocupado.Joana: Estou enviando essa mensagem só para avisar que já pedi a demissão do meu trabalho e agora você tem que cumprir sua parte do
ALEXDois dias depois...Já fazia uns dois dias que Joana tinha aceitado minha proposta e precisávamos marcar um dia para uma reunião para conversarmos e trocarmos algumas informações que seriam de grande importância no final de semana, afinal, conhecendo minha família, sabia que eles fariam muitas perguntas e uma resposta errada seria o suficiente para descobrirem que tudo era uma tremenda mentira.Alex: Será que podemos marcar de nos encontrar amanhã para discutir algumas coisas para o final de semana?Joana: Pode ser.Alex: Qual o melhor horário para você?Joana: Se você topar, pode ser no horário do almoço porque assim meu trabalho não fica prejudicado.Alex: Por mim está ótimo. Passo aí para te pegar.Joana: Achei que almoçaríamos num restaurante aqui por perto.Alex: Eu gosto de almoçar sempre no mesmo lugar quando estou no trabalho.Joana: Mas não vai me atrasar, né?Alex: Pode ficar tranquila que não vou te atrasar.Joana: Combinado então.Na segunda-feira à noite, Tony tinha
JOANANa segunda-feira acordei bem cedo, tomei um bom banho e vesti a minha melhor roupa, eu precisava impressionar o tal amigo de Alex na entrevista para garantir que a vaga seja minha. Tinha combinado de Lili vir ficar com Rebeca até eu voltar para casa para que eu não tivesse que enfrentar o trânsito até a casa dela.O táxi me deixou em frente ao enorme prédio da Tourist Heaven com vinte minutos de antecedência, ainda na calçada, respirei fundo e tomei a coragem para entrar. Do lado de dentro havia mais umas duas pessoas esperando para fazer a entrevista, mas tentei me manter firme e confiante.Eu fui a última a entrar na sala para a entrevista e fiquei surpresa ao me deparar com um homem alto, de porte atlético que mais parecia um guarda-roupa. A pele escura de sua cabeça raspada brilhava contra a luz. Ele era intimidador, mas muito educado e foi fazendo as perguntas de maneira de fiquei super tranquila.Quando ele anunciou que eu era a mais qualificada e que a vaga era minha, eu
ALEXA quinta-feira à noite chegou mais rápido do que eu estava esperando e já fazia alguns minutos que eu tinha saído do meu plantão e estava com o carro estacionado na frente do prédio de Joana para levar as duas para minha casa.Quando meu celular começou a tocar, vi que era minha mãe, provavelmente estava ansiosa para o dia seguinte, ter todos seus filhos reunidos de novo depois de tantos anos, então retirei o aparelho do suporte no painel e atendi.— Oi, mãe!— Filho. Está ocupado?— Não, já saí do meu plantão e estou em frente a casa de Joana, esperando ela descer com as malas.— Estou tão ansiosa e feliz de poder te rever e, finalmente, conhecer sua noiva e a filha dela.— Ela também está, não fala de outra coisa — menti.— Seus irmãos chegam amanhã.— Nós também, mãe.— Que maravilha! Já vou preparar aquele bolo indiano que você ama.Só de pensar no bolo indiano que minha mãe fazia, já podia sentir a boca enchendo de água. Aquele bolo sempre foi a minha perdição, eu trocaria t
JOANA A semana passou voando. No trabalho, eu estava me saindo muito bem, já tinha conseguido analisar quase todos papéis das pilhas que tinham me dado e tinha encontrado alguns erros e anotei para que apontasse as soluções na primeira reunião que participaria. Rebeca tinha se acostumado a ficar com a babá, que se mostrou muito carinhosa com a minha pequena. Na quinta-feira à tarde, depois que cheguei da empresa, estava me sentindo cansada, mas ainda tinha que terminar de arrumar a minha mala e a de Rebeca porque Alex tinha me enviado uma mensagem pela manhã dizendo que passaria aqui em casa para nos buscar depois que saísse de seu plantão no hospital. Aproveitei que a babá ainda estava cumprindo o horário e fui tomar um banho tranquilamente, sem precisar me preocupar em terminar rápido porque Rebeca poderia estar fazendo alguma bagunça. Por volta das oito da noite, estava terminando de dar comida para minha filha quando meu celular vibrou em cima da bancada da cozinha. Alex: Já e