ALEX
Depois que cheguei em casa, me joguei no sofá e fiz uma ligação rápida para o meu restaurante favorito na cidade toda e, por sorte, consegui reservar uma mesa para duas pessoas. Enviei o endereço do restaurante por mensagem para Joana e ela só respondeu com um joinha.
Passei a tarde quase toda terminando de escrever um artigo científico sobre a minha pesquisa e quando percebi já passava das sete da noite. Do lado de fora já estava escuro, a lua estava alta no céu e eu tinha uma hora para ficar pronto e ir para o restaurante.
Enquanto a água quente relaxava meus músculos, diversos pensamentos passavam pela minha cabeça e a insegurança se fez presente. Será que Joana ia aparecer? Será que ela toparia fazer parte do meu plano? Optei por vestir uma calça de alfaiataria num tom de azul escuro, uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e preferi deixar os dois primeiros botões abertos para parecer um pouco mais descontraído.
Ali estava eu, sentado em um restaurante à espera de uma mulher que poderia salvar ou destruir completamente a minha vida. Eu muito estava nervoso, meu estômago estava até um pouco revirado. Meu futuro estava nas mãos de uma mulher que eu mal conhecia e a ideia de que ela poderia nem aparecer, deixava meu coração prestes a pular fora do peito.
— Sr. Balmer? — Uma voz doce e sexy me despertou de meus devaneios.
Ela veio.
Consegui soltar o ar que nem sabia que estava prendendo.
Fiquei de pé e encarei aquele belo par de olhos castanhos. Ela estava tão linda que quase me fez perder o fôlego. Seus cabelos escuros caíam em cascata onduladas até a altura dos ombros, o vestido preto chegava até um pouco acima de seu joelho e se ajustava perfeitamente as curvas de seu corpo, mas sem revelar muito. Os sapatos de salto altíssimo lhe davam um ar mais sexy ainda.
— Que bom que veio — tentei soar naturalmente.
— Fiquei curiosa para saber que negócios poderia querer tratar comigo.
Lembrando de ser o cavalheiro que minha mãe me ensinou a ser, levantei-me e fui até o outro lado da mesa para puxar a cadeira para que ela se sentasse, em seguida voltei ao meu lugar.
— Obrigada!
— Disponha!
— Mas você não precisava fazer isso, sou perfeitamente capaz de me sentar sozinha.
— Minha mãe me ensinou bem a como tratar uma mulher.
— E pelo visto ela fez um ótimo trabalho.
Antes que eu pudessemos começar a conversar sobre o motivo dos negócios, um garçom se aproximou, trazendo uma taça de água para ela e encheu a minha com um pouco mais de vinho, além de anotar nossos pedidos.
Quando voltamos a ficar sozinhos, limpei a garganta e criei coragem para começar a falar sobre a minha verdadeira intenção de tê-la convidado para tratar de negócios e que negócios eram aqueles, já que ela estava ali somente por curiosidade.
— Eu tenho evitado voltar para minha cidade natal já faz bastante tempo e da última vez, eles ficaram sabendo que eu estava noivo e que seria pai.
Ela permaneceu em silêncio, mas prestava atenção em tudo o que eu estava contando e, por isso, continuei:
— Bom, num belo dia, eu cheguei em casa mais cedo e... — Engoli em seco. — Eu peguei minha noiva na cama com outro homem.
— E o bebê?
— Estou esperando nascer para fazer um exame de DNA.
— E onde eu entro nessa história toda?
— Bem, eu não contei para minha família sobre essa traição e com o aniversário do meu pai chegando, minha mãe está querendo reunir toda a família e eu ainda não estou preparado para contar a verdade para eles, por isso, preciso da sua ajuda.
— Mas sua família não conhecia sua noiva?
— Não, porque meus irmãos moram foram do país e meus pais raramente saem do interior para vir a cidade.
— Então deixa eu ver se entendi. — Ela cruzou os dedos das mãos sobre a mesa. — Você quer a minha filha para fingir que é sua filha porque é um frouxo e não contou a verdade para sua família.
— Mais ou menos.
— Desculpa, mas a minha filha não está a venda! — Ela falou enquanto ficava de pé, o que acabou atraindo alguns olhares curiosos em nossa direção.
— Eu não estou querendo comprar sua filha! Longe de mim fazer uma crueldade dessas.
— Então o que você quer?
— Por favor, sente-se! Ouça minha proposta e depois pode ir embora, se quiser.
Joana voltou a se sentar na cadeira à minha frente, mas já não estava mais tão amigável quanto antes. Merda. Eu precisava arrumar um jeito de fazê-la aceitar, mas de uma maneira mais tranquila.
— Então, Alex... — Ela começou a falar, mas pude perceber que estava inquieta. — Qual é a sua proposta?
Um garçom serviu nossos pratos e trouxe uma taça limpa para que eu experimentasse um novo vinho que combinaria com o meu bife. Depois que ele se afastou, percebi que Joana ainda me encarava, esperando uma resposta.
— Por que não jantamos primeiro e falamos de negócios depois? — sugeri. — A comida parece estar deliciosa.
— Porque eu não vou ficar aqui a noite inteira esperando o momento em que você vai me falar que proposta é essa. Tenho uma filha para cuidar.
— Ok. Tudo bem, eu falo.
— Estou esperando. — Ela remexeu o risoto com a ponta do garfo sem desviar os olhos de mim.
— A minha proposta é a seguinte... — apoiei o garfo na borda do meu prato. — Você e sua filha viajam comigo para a festa de aniversário do meu pai, se passam pela minha família de mentirinha por alguns dias e eu te pago uma boa quantia em dinheiro.
— De quanto estamos falando?
— Dinheiro suficiente para que você largue aquele emprego deplorável.
— E que garantia eu tenho disso?
— Se você aceitar, amanhã mesmo já faço a transferência do valor para a sua conta.
Ela pareceu ficar bastante interessada, por isso eu precisava deixar a proposta bastante atrativa para que ela aceitasse e, diante de seu silêncio, continuei falando:
— Se quiser também posso arrumar um emprego decente para você.
— Tudo isso está me parecendo bom demais. Qual a pegadinha?
— Você só precisa aceitar passar o final de semana na casa dos meus pais e fingir ser minha noiva e deixar que Rebeca seja minha filha de mentirinha.
— Eu preciso de um tempo para pensar.
— Justo, porém preciso da sua resposta até terça-feira.
— Tudo bem.
Joana era uma mulher de muitas qualidades. Educada, bonita, inteligente e causava uma boa impressão nas pessoas. Seria uma ótima esposa de mentirinha. Começamos a comer e tudo estava correndo muito bem até que ela comentou:
— Você não parece o tipo de homem que precisa pagar para ter uma mulher ao seu lado.
— E não preciso mesmo, mas nenhuma das outras mulheres que conheço tem uma filha — expliquei enquanto bebericava o vinho em minha taça.
Quando terminamos de jantar, um garçom se aproximou para perguntar se queríamos uma sobremesa, mas Joana negou, então pedi a conta e fiz questão de pagar. Acompanhei Joana até a entrada do restaurante, onde ela entrou num táxi e sumiu da minha vista.
Joana tinha que aceitar minha proposta, mas eu, realmente, estava em dúvida se ela o faria. Ela me pareceu orgulhosa demais e, se tratando da filha, pude perceber que ela era uma leoa.
JOANAQuando meu turno finalmente chegou ao fim, entrei no primeiro ônibus de volta para casa. Eu precisava me arrumar, preparar uma outra bolsa com fraldas e leite para deixar na casa de Lili e ir me encontrar com o médico bonitão.Tomei um banho relaxante, enrolei a toalha no corpo e fiquei parada diante do meu guarda-roupa aberto, tentando escolher algo para vestir que não fosse tão simples e nem muito chique, porque pelo que tinha visto numa pesquisa rápida da internet, o restaurante era fino e tinha um ar chique.Liguei para Lili por chamada de vídeo para que ela me ajudasse a escolher uma roupa e ia me vestindo e mostrando a ela o look até escolher o vestido preto, os meus scarpins de salto alto favoritos e um par de brincos que tinha ganhado de presente de Lili. Aproveitei que ainda tinha tempo e sequei o cabelos, fazendo algumas ondas com o babyliss.Decidi ir com um carro de aplicativo para o restaurante porque ele poderia insistir em me trazer de volta para casa e se eu foss
ALEXAquela noite depois de sair do restaurante, foi a noite mais difícil para eu conseguir dormir. Eu tinha saído daquele restaurante mais nervoso e angustiado do que quando tinha entrado. Saber que o meu futuro dependia exclusivamente de uma desconhecida era complicado demais.Os dias estavam se passando e a espera por uma resposta de Joana estava sendo uma verdadeira tortura. Eu passava quase o tempo inteiro com o celular próximo de mim e a cada notificação de uma nova mensagem, eu corria para ver se era a resposta de Joana. Ela devia estar gostando de me torturar.Era sábado à noite, já não aguentava mais essa incerteza, coloquei duas pedras de gelo em um copo, me servi de uma dose de uísque. Saí para a sacada do meu apartamento, apoiei as mãos sobre o batente do guarda-corpo e inspirei fundo. Se aquela mulher não me desse uma resposta logo, eu acabaria ficando louco e, quase como se tivesse lido minha mente, uma mensagem chegou.Joana: Já tenho uma resposta para te dar.Simples a
JOANADepois de encontrar Alex no restaurante para tratar de negócios, levei Rebeca para casa e, como ela já tinha adormecido, levei-a direto para o berço. Tirei os saltos e troquei o vestido pelo meu pijama confortável, mas como estava muito agitada, sabia que não conseguiria dormir então fui para a sala e peguei meu celular antes de me jogar no sofá. Havia umas quatro mensagens da minha mellhor amiga.Lili: Amiga, você não vai mesmo me contar o que aconteceu nesse seu encontro de negócios?Lili: Amiga, me responde. Por favor!Lili: Vai mesmo me deixar na curiosidade?Lili: Você sabe que eu não aguento não saber das coisas, sou ansiosa.Meu Deus. Como minha minha melhor amiga era dramática quando queria saber de um fofoca, mas eu gostava dela mesmo assim e até entendia a curiosidade/preocupação dela. Se fosse o contrário, eu com certeza, faria de tudo para tentar descobrir o que tinha acontecido.Joana: Eu vou te contar quando você vier aqui em casa.Lili: Por que demorou a me respon
ALEXDepois que Joana se afastou, entrei no meu carro, mas fiquei esperando para ver onde ela iria e para sanar minha curiosidade de qual era o carro dela. Para minha surpresa ela entrou num fusca azul, que tenho que dizer, estava em ótimo estado de conservação, mas a pequena Rebeca merecia um pouco mais de segurança do que um carro velho.Quando finalmente cheguei em casa, estava me sentindo muito mais leve como se tivesse tirado um elefante das costas. Joana tinha aceitado fazer parte do meu plano maluco e eu conseguiria mentir para minha família. Me orgulhava disso? Claro que não, mas era covarde demais para contar a verdade.Por estar acostumado a ficar sozinho em casa aos domingos, coloquei a blusa suja de batom no cesto de roupa suja, tomei um pouco do suco de laranja que estava na geladeira e aproveitei para voltar para cama e dormir mais um pouco.Quando voltei a acordar, já passava da uma da tarde. Minha cabeça tinha parado de doer e meu estômago dava sinais de vida. Me pus d
JOANADepois que saí do parque, passei na casa de Lili, eu precisava da minha melhor amiga para me dar forças e garantir que tudo ficaria bem, mas infelizmente ela não estava em casa. Enviei uma mensagem para ela e em resposta descobri que ela estava na casa dos pais. Isso me fez lembrar de que fazia uma semana que eu não visitava os meus.— O que acha de visitar a vovó e o vovô, minha princesa? — perguntei enquanto olhava para minha filha presa em sua cadeirinha no banco de trás.Ela chacoalhou o brinquedo que tinha em mãos e abriu um largo sorriso. Antes de ir para a casa dos meus pais, precisava passar na cafeteria e pedir minha demissão, o que claro, não foi muito bem aceito pelo dono, mas eu não lhe dei outra alternativa.Logo que saí da cafeteria, enviei uma mensagem para Alex, mas como não recebi uma resposta imediata, deduzi que estivesse ocupado.Joana: Estou enviando essa mensagem só para avisar que já pedi a demissão do meu trabalho e agora você tem que cumprir sua parte do
ALEXDois dias depois...Já fazia uns dois dias que Joana tinha aceitado minha proposta e precisávamos marcar um dia para uma reunião para conversarmos e trocarmos algumas informações que seriam de grande importância no final de semana, afinal, conhecendo minha família, sabia que eles fariam muitas perguntas e uma resposta errada seria o suficiente para descobrirem que tudo era uma tremenda mentira.Alex: Será que podemos marcar de nos encontrar amanhã para discutir algumas coisas para o final de semana?Joana: Pode ser.Alex: Qual o melhor horário para você?Joana: Se você topar, pode ser no horário do almoço porque assim meu trabalho não fica prejudicado.Alex: Por mim está ótimo. Passo aí para te pegar.Joana: Achei que almoçaríamos num restaurante aqui por perto.Alex: Eu gosto de almoçar sempre no mesmo lugar quando estou no trabalho.Joana: Mas não vai me atrasar, né?Alex: Pode ficar tranquila que não vou te atrasar.Joana: Combinado então.Na segunda-feira à noite, Tony tinha
JOANANa segunda-feira acordei bem cedo, tomei um bom banho e vesti a minha melhor roupa, eu precisava impressionar o tal amigo de Alex na entrevista para garantir que a vaga seja minha. Tinha combinado de Lili vir ficar com Rebeca até eu voltar para casa para que eu não tivesse que enfrentar o trânsito até a casa dela.O táxi me deixou em frente ao enorme prédio da Tourist Heaven com vinte minutos de antecedência, ainda na calçada, respirei fundo e tomei a coragem para entrar. Do lado de dentro havia mais umas duas pessoas esperando para fazer a entrevista, mas tentei me manter firme e confiante.Eu fui a última a entrar na sala para a entrevista e fiquei surpresa ao me deparar com um homem alto, de porte atlético que mais parecia um guarda-roupa. A pele escura de sua cabeça raspada brilhava contra a luz. Ele era intimidador, mas muito educado e foi fazendo as perguntas de maneira de fiquei super tranquila.Quando ele anunciou que eu era a mais qualificada e que a vaga era minha, eu
ALEXA quinta-feira à noite chegou mais rápido do que eu estava esperando e já fazia alguns minutos que eu tinha saído do meu plantão e estava com o carro estacionado na frente do prédio de Joana para levar as duas para minha casa.Quando meu celular começou a tocar, vi que era minha mãe, provavelmente estava ansiosa para o dia seguinte, ter todos seus filhos reunidos de novo depois de tantos anos, então retirei o aparelho do suporte no painel e atendi.— Oi, mãe!— Filho. Está ocupado?— Não, já saí do meu plantão e estou em frente a casa de Joana, esperando ela descer com as malas.— Estou tão ansiosa e feliz de poder te rever e, finalmente, conhecer sua noiva e a filha dela.— Ela também está, não fala de outra coisa — menti.— Seus irmãos chegam amanhã.— Nós também, mãe.— Que maravilha! Já vou preparar aquele bolo indiano que você ama.Só de pensar no bolo indiano que minha mãe fazia, já podia sentir a boca enchendo de água. Aquele bolo sempre foi a minha perdição, eu trocaria t