ALEX
Depois que cheguei em casa, deixei as chaves sobre a mesa e me joguei no sofá. Tinha sido um plantão complicado e eu só queria descansar um pouco. Depois de entrar debaixo do chuveiro, deixei que a água fria caísse sobre meu corpo, relaxando os músculos tensos.
Quando já estava me sentindo bem melhor, enrolei uma toalha enrolada no quadril e voltei ao quarto para pegar uma roupa, mas fui interrompido pelo meu celular que não parava de apitar, vi pela barra de notificações que eram mensagens de Felipe, meu irmão mais velho.
"E aí, irmãozinho."
"Você vai na festa de aniversário do pai? Estou ansioso para te ver e conhecer sua noiva."
Merda.
Por um momento eu tinha me esquecido dessa confusão que estava metido. Deixei o celular de lado porque ainda não sabia o que responder, eu iria ao aniversário do meu pai, mas antes precisava arrumar uma mulher que aceitasse ser minha noiva falsa e que tivesse uma filha, já que Paola era mãe de uma garotinha quando a conheci.
A mera menção ao nome de Paola, me fazia lembrar do que ela tinha feito comigo e ainda me causava ânsia de vômito. Tratei de afastar tais pensamentos e vesti uma bermuda de tactel, passei a mão pelos cabelos fazendo as gotículas de água se espalharem pelo ambiente e então voltei para a sala. Pedi comida pelo aplicativo e coloquei um filme de terror para assistir enquanto esperava.
"E aí, cara. Quanto tempo a gente não se fala." — enviei uma resposta para meu irmão.
"Estou com saudades de você, cara.
"Como anda a vida aí no Canadá?"
"Aqui está uma maravilha, bastante trabalho na empresa, consegui captar muitos clientes novos.
"Que maravilha. E como está a esposa e meus sobrinhos?"
"Azaria e as crianças estão ansiosos para poder voltar ao Brasil para uma visitnha."
Meu irmão tinha dado uma sorte danada quando se mudou para o Canadá. Foi lá ele conheceu Azaria, a mulher da sua vida e contruíram juntos uma bela família, daquelas de comercial de margarina. Me deram como sobrinhos crianças lindas e muito bem educadas.
"Estou com saudades de Ava e Jackson."
"Desconheço tio mais desnaturado do que você, Alex."
"Eu não tenho culpa se meus horários livres não batem com o fuso horário daí."
"Azaria e eu estamos ansiosos para conhecer a mulher que foi a responsável por roubar seu coração."
"Mal posso esperar para apresentá-la a vocês" — menti.
Eu não estava ansioso coisísima nenhuma, estava era apavorado. Ter que contar a verdade para minha família e ficar parecendo que sou um frouxo e fracassado nos relacionamentos era a pior coisa que poderia acontecer, por isso, eu precisava encontrar uma mulher para substituir Paola.
Depois de pegar meu pote de yakissoba quentinho com o entregador, voltei para o sofá e continuei assistindo o filme enquanto a chuva caía torrencialmente do lado de fora. Lá pela quarta ou quinta que levei os hashis a boca, me lembrei de Joana e a filha dela, a pequena Rebeca. Elas seriam perfeitas para o papel de noiva e filha, a pequena Rebeca até tinha os olhos azuis quase na mesma tonalidade dos meus. O grande problema seria convencer Joana.
Mais tarde, estava conversando com Tony, meu melhor amigo, por chamada de vídeo e depois que eu expliquei toda a situação, ele simplesmente disse que eu estava ferrado. Contei que tinha conhecido a mulher certa para me ajudar, mas não sabia nada sobre ela.
— Por que não manda uma mensagem para ela e pergunta?
— Não tenho o número do telefone dela.
— Por que não pede a recepcionista para olhar na ficha da filha dela?
— Porque não foi feito uma ficha.
— Ela, pelo menos, é solteira?
— Eu realmente não sei, não reparei se ela usava alguma aliança no dia da consulta.
— Assim fica muito difícil te ajudar, meu caro amigo.
— Mas eu sei onde ela mora.
— E, por acaso, está pensando em aparecer na porta dela do nada?
— Talvez.
— Isso parece uma atitude meio psicopata.
— Mas é a única forma de conseguir falar com ela porque nem onde ela trabalha, eu sei.
— Boa sorte com isso.
Depois de encerrar a ligação, eu simplesmente deitei na minha cama e nem percebi quando peguei no sono. Somente quando voltei a abrir os olhos, foi que percebi que o dia já tinha amanhecido, com apenas um olho aberto, dei uma espiada no relógio e vi que já passava das nove horas. Ótimo! Eu não tinha escutado o meu despertador tocar e tinha perdido a hora da minha caminhada matinal.
Fui até a cozinha e comecei a procurar o pó de café pelos armários, até me dar conta de que tinha acabado e eu ainda não tinha ido ao supermercado para fazer as compras do mês. Depois de trocar de roupa, peguei as chaves de casa e fui caminhando até a cafeteria que ficava a um quarteirão dali.
Ao passar pela porta, o sininho soou e uma atendente veio quase que imediatamente até o balcão. Quando meus olhos se cruzaram com o da moça, quase não consegui acreditar. Era Joana. Eu era mesmo um filho da puta sortudo. Obrigado, destino, por facilitar as coisas para o meu lado.
— Oi.
— Olá. — Ela parecia tão surpresa quanto eu, mas ainda conseguia ser profissional. — O que vai querer pedir para hoje?
— Preciso de um café forte e sem açúcar e algumas torradas com geleia.
— Pode escolher uma mesa que já vou levar seu pedido.
Decidi esperar o momento certo para falar com ela, talvez fosse melhor começar a conversa de maneira leve, perguntando sobre a pequena Rebeca e só então abordar o assunto que eu, realmente, quero conversar com ela.
Quando Joana se aproximou com a bandeja, dipôs a xícara com café na minha frente juntamente com o prato de torradas com geleia e a comanda. Ela já ia se afastar quando resolvi chamá-la pelo nome e ela estancou no lugar antes de se virar novamente em minha direção.
— O senhor precisa de mais alguma coisa?
— Só queria saber como a pequena Rebeca está.
— Ela passou a noite bem melhor depois que tomou os remédios que o senhor passou e a febre cedeu.
— Fico feliz de saber. Seu marido ficou com ela para você trabalhar?
— Não senhor, eu não tenho marido. — Ela não estava muito confortável com aquela conversa. — Minha melhor amiga é que fica tomando conta de Rebeca.
— Desculpa se invadi a sua privacidade.
— Deseja mais alguma coisa?
— Será que podemos conversar um pouco?
— Eu estou no meio do meu expediente de trabalho, senhor.
— Não tem mais nenhum cliente aqui além de mim e eu juro que vai ser rapidinho.
— Acho melhor não.
— E se for depois do seu expediente? Podemos sair para jantar.
— Eu não acho uma boa ideia.
— Por favor, Joana. Eu só preciso conversar com você, mas será apenas um jantar de negócios.
Eu não acredito que estava praticamente implorando para uma estranha jantar comigo porque minha vida dependia dela, mesmo que ela ainda não soubesse disso. A que ponto da vida eu cheguei? A proposta pareceu deixá-la curiosa porque ela parecia mais interessada.
— Tudo bem, eu aceito.
— Que horas devo te pegar? — respirei mais aliviado.
— Por volta das oito.
— Maravilha. Prefere que eu te pegue na sua casa ou aqui no seu trabalho?
— Pode ser na minha casa porque não tenho roupas adequadas aqui comigo para jantar com um médico.
— Tudo bem.
Ela saiu de perto da mesa e voltou para trás do balcão bem no momento em que outro cliente entrou na cafeteria. Tive vontade de me levantar e sair gritando de felicidade só dela ter aceitado jantar comigo, mas ainda não podia comemorar porque a vitória ainda não era garantida.
Terminei o meu café da manhã, paguei a conta e tomei o caminho de volta para casa. No caminho, aproveitei para ligar para o meu restaurante favorito na cidade e pedi para fazerem uma reserva à noite, uma mesa para duas pessoas.
Como estava de folga, fiquei em casa sem fazer nada, aproveitei para ler alguns artigos médicos publicados recentemente numa revista de respeito na área da pediatria, mas o dia pareceu se arrastar. No final da tarde e início da noite, Tony apareceu de surpresa em meu apartamento com uma garrafa de vinho nas mãos.
— O que está fazendo aqui? — perguntei surpreso porque ele nunca aparecia sem avisar.
— Achei que você pudesse estar precisando disso aqui. — Ele estendeu a garrafa de vinho para mim.
— Eu... Eu não vou poder tomar o vinho com você.
— Por que não, cara?
— Porque eu vou sair daqui a pouco.
— Vai pegar alguma mulher do calçadão?
— Não! Eu tenho um jantar com a Joana.
— A mulher que você comentou ontem?
— Ela mesmo.
JOANA Depois de uma noite mal dormida, em que fiquei acordando de cinco em cinco minutos para verificar se a febre de Rebeca tinha ido mesmo embora, acordei ouvindo alguns resmungos vindo de dentro do berço e tive que me levantar para começar o dia. Quando olhei dentro do berço, vi minha menininha segurando um dos pés para o alto enquanto reclamava, mas logo que me viu, ela abriu um largo sorriso. Ela era tão boazinha que nem chorava quando acordava e eu não vinha logo em seu socorro. — Bom dia, minha bonequinha! Em resposta, ela se segurou nas barras laterais do berço e ficou de pé enquanto fazia borbulhas de saliva com a boca. Peguei-a no colo e levei até o seu quartinho, onde troquei a fralda suja por uma limpinha e em seguida, a levei sala, onde a coloquei sentada no tapete da sala, cercada por almofadas e alguns de seus brinquedos enquanto ia preparar sua mamadeira e um pouco de café para mim. Enquanto Rebeca tomava seu leite jogada nas almofadas, aproveitei para dar uma olh
ALEX Depois que cheguei em casa, me joguei no sofá e fiz uma ligação rápida para o meu restaurante favorito na cidade toda e, por sorte, consegui reservar uma mesa para duas pessoas. Enviei o endereço do restaurante por mensagem para Joana e ela só respondeu com um joinha. Passei a tarde quase toda terminando de escrever um artigo científico sobre a minha pesquisa e quando percebi já passava das sete da noite. Do lado de fora já estava escuro, a lua estava alta no céu e eu tinha uma hora para ficar pronto e ir para o restaurante. Enquanto a água quente relaxava meus músculos, diversos pensamentos passavam pela minha cabeça e a insegurança se fez presente. Será que Joana ia aparecer? Será que ela toparia fazer parte do meu plano? Optei por vestir uma calça de alfaiataria num tom de azul escuro, uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e preferi deixar os dois primeiros botões abertos para parecer um pouco mais descontraído. Ali estava eu, sentado em um res
JOANAQuando meu turno finalmente chegou ao fim, entrei no primeiro ônibus de volta para casa. Eu precisava me arrumar, preparar uma outra bolsa com fraldas e leite para deixar na casa de Lili e ir me encontrar com o médico bonitão.Tomei um banho relaxante, enrolei a toalha no corpo e fiquei parada diante do meu guarda-roupa aberto, tentando escolher algo para vestir que não fosse tão simples e nem muito chique, porque pelo que tinha visto numa pesquisa rápida da internet, o restaurante era fino e tinha um ar chique.Liguei para Lili por chamada de vídeo para que ela me ajudasse a escolher uma roupa e ia me vestindo e mostrando a ela o look até escolher o vestido preto, os meus scarpins de salto alto favoritos e um par de brincos que tinha ganhado de presente de Lili. Aproveitei que ainda tinha tempo e sequei o cabelos, fazendo algumas ondas com o babyliss.Decidi ir com um carro de aplicativo para o restaurante porque ele poderia insistir em me trazer de volta para casa e se eu foss
ALEXAquela noite depois de sair do restaurante, foi a noite mais difícil para eu conseguir dormir. Eu tinha saído daquele restaurante mais nervoso e angustiado do que quando tinha entrado. Saber que o meu futuro dependia exclusivamente de uma desconhecida era complicado demais.Os dias estavam se passando e a espera por uma resposta de Joana estava sendo uma verdadeira tortura. Eu passava quase o tempo inteiro com o celular próximo de mim e a cada notificação de uma nova mensagem, eu corria para ver se era a resposta de Joana. Ela devia estar gostando de me torturar.Era sábado à noite, já não aguentava mais essa incerteza, coloquei duas pedras de gelo em um copo, me servi de uma dose de uísque. Saí para a sacada do meu apartamento, apoiei as mãos sobre o batente do guarda-corpo e inspirei fundo. Se aquela mulher não me desse uma resposta logo, eu acabaria ficando louco e, quase como se tivesse lido minha mente, uma mensagem chegou.Joana: Já tenho uma resposta para te dar.Simples a
JOANADepois de encontrar Alex no restaurante para tratar de negócios, levei Rebeca para casa e, como ela já tinha adormecido, levei-a direto para o berço. Tirei os saltos e troquei o vestido pelo meu pijama confortável, mas como estava muito agitada, sabia que não conseguiria dormir então fui para a sala e peguei meu celular antes de me jogar no sofá. Havia umas quatro mensagens da minha mellhor amiga.Lili: Amiga, você não vai mesmo me contar o que aconteceu nesse seu encontro de negócios?Lili: Amiga, me responde. Por favor!Lili: Vai mesmo me deixar na curiosidade?Lili: Você sabe que eu não aguento não saber das coisas, sou ansiosa.Meu Deus. Como minha minha melhor amiga era dramática quando queria saber de um fofoca, mas eu gostava dela mesmo assim e até entendia a curiosidade/preocupação dela. Se fosse o contrário, eu com certeza, faria de tudo para tentar descobrir o que tinha acontecido.Joana: Eu vou te contar quando você vier aqui em casa.Lili: Por que demorou a me respon
ALEXDepois que Joana se afastou, entrei no meu carro, mas fiquei esperando para ver onde ela iria e para sanar minha curiosidade de qual era o carro dela. Para minha surpresa ela entrou num fusca azul, que tenho que dizer, estava em ótimo estado de conservação, mas a pequena Rebeca merecia um pouco mais de segurança do que um carro velho.Quando finalmente cheguei em casa, estava me sentindo muito mais leve como se tivesse tirado um elefante das costas. Joana tinha aceitado fazer parte do meu plano maluco e eu conseguiria mentir para minha família. Me orgulhava disso? Claro que não, mas era covarde demais para contar a verdade.Por estar acostumado a ficar sozinho em casa aos domingos, coloquei a blusa suja de batom no cesto de roupa suja, tomei um pouco do suco de laranja que estava na geladeira e aproveitei para voltar para cama e dormir mais um pouco.Quando voltei a acordar, já passava da uma da tarde. Minha cabeça tinha parado de doer e meu estômago dava sinais de vida. Me pus d
JOANADepois que saí do parque, passei na casa de Lili, eu precisava da minha melhor amiga para me dar forças e garantir que tudo ficaria bem, mas infelizmente ela não estava em casa. Enviei uma mensagem para ela e em resposta descobri que ela estava na casa dos pais. Isso me fez lembrar de que fazia uma semana que eu não visitava os meus.— O que acha de visitar a vovó e o vovô, minha princesa? — perguntei enquanto olhava para minha filha presa em sua cadeirinha no banco de trás.Ela chacoalhou o brinquedo que tinha em mãos e abriu um largo sorriso. Antes de ir para a casa dos meus pais, precisava passar na cafeteria e pedir minha demissão, o que claro, não foi muito bem aceito pelo dono, mas eu não lhe dei outra alternativa.Logo que saí da cafeteria, enviei uma mensagem para Alex, mas como não recebi uma resposta imediata, deduzi que estivesse ocupado.Joana: Estou enviando essa mensagem só para avisar que já pedi a demissão do meu trabalho e agora você tem que cumprir sua parte do
ALEXDois dias depois...Já fazia uns dois dias que Joana tinha aceitado minha proposta e precisávamos marcar um dia para uma reunião para conversarmos e trocarmos algumas informações que seriam de grande importância no final de semana, afinal, conhecendo minha família, sabia que eles fariam muitas perguntas e uma resposta errada seria o suficiente para descobrirem que tudo era uma tremenda mentira.Alex: Será que podemos marcar de nos encontrar amanhã para discutir algumas coisas para o final de semana?Joana: Pode ser.Alex: Qual o melhor horário para você?Joana: Se você topar, pode ser no horário do almoço porque assim meu trabalho não fica prejudicado.Alex: Por mim está ótimo. Passo aí para te pegar.Joana: Achei que almoçaríamos num restaurante aqui por perto.Alex: Eu gosto de almoçar sempre no mesmo lugar quando estou no trabalho.Joana: Mas não vai me atrasar, né?Alex: Pode ficar tranquila que não vou te atrasar.Joana: Combinado então.Na segunda-feira à noite, Tony tinha