JOANA
Depois de um dia extremamente cansativo de trabalho no restaurante, eu finalmente estava indo para casa pra ficar com a minha filha, mas antes. como de costume, teria que passar na casa de Liliane, minha melhor amiga e madrinha da minha pequena, para pegá-la.
Logo que cheguei, Lili já veio toda apressada, Rebeca estava aos berros no colo dela, a expressão no seu rosto não era das melhores e a preocupação logo surgiu, consumindo todo o meu ser.
— Ainda bem que você chegou.
— O que aconteceu?
— Ela passou o dia todo com febre, sem querer comer nadinha.
— E por que você não me ligou?
— Eu não queria te preocupar e nem que você perdesse o dia de trabalho porque sei que o dinheiro faz falta para você.
— Mas a minha filha é a minha prioridade.
— Eu até levei ela no postinho de atendimento aqui do bairro.
— E o que o médico disse?
— Ele falou um negócio lá, mas não confiei muito na palavra dele porque, sinceramente, ele nem encostou na menina, seria melhor levá-la ao hospital.
— Vou ver o que vou fazer. Obrigada, Lili.
— Não deixe de me dar notícias. Por favor.
Peguei o primeiro táxi que parou e pedi ao motorista que me levasse ao hospital mais próximo, sem me preocupar em verificar qual seria. Só queria que minha filha fosse atendida e parasse de chorar desesperadamente.
Somente quando o carro parou foi que percebi que estávamos em frente a um hospital particular e com fama de ser muito caro, mas tentaria ajuda ali mesmo, não podia me dar ao luxo de gastar mais dinheiro indo para outro hospital.
Assim que passei pelas portas automáticas, fui direto ao balcão da recepcionista e enquanto tentava explicar, um medico se aproximou. Ele se apresentou como Dr. Alex e me conduziu até um dos consultórios. Meu queixo foi ao chão ao olhar ao meu redor e o quanto era bonito e cheio de brinquedos educativos.
— Posso começar a examinar sua filha? — Ele perguntou enquanto me encarava com aqueles olhos azuis.
Depois que eu contei que não tinha como pagar pela consulta, ele me tranquilizou e pediu que eu confiasse nele, porém percebi que ele queria dizer mais alguma coisa, mas preferiu permanecer em silêncio.
Percebendo meu silêncio, ele começar uma conversa, mas minhas respostas monossilábicas não incentivaram a ir adiante, mas ele nem se importou.
— Qual o nome dela?
— Rebeca.
— É um bonito nome.
— Obrigada. — Dei um leve sorriso de canto de boca. — Era o nome da minha avó.
— E o seu? — perguntei curioso.
— Joana.
Ele fez mais algumas perguntas sobre minha filha e quando terminou de examiná-la, me informou que não tinha grave, que era apenas um quadro viral, uma gripe e, que, por causa do nariz estar entupido estaria atrapalhando ela a mamar, então começou a explicar os remédios que teria que dar.
— Muito obrigada, doutor — agradeci enquanto pegava minha menininha no colo. — De verdade mesmo.
— Não foi nada demais.
Saí da sala e caminhei em direção a saída do hospital. Ele se despediu e então segui para o ponto de ônibus que ficava próximo. O que não podia piorar, piorou, notei que o céu estava mais escuro do que o normal, já podia ouvir algumas trovoadas e ver alguns raios cortando a escuridão. Tudo o que eu precisava para terminar meu dia de merda era uma tempestade.
Fui surpreendida quando um lindo Range Rover preto parou junto ao meio-fio e logo o vidro do carona foi abaixado, permitindo que eu visse quem estava do lado de dentro. Era o médico que havia acabado de atender minha filha.
— Quer uma carona? — Ele perguntou educado.
— Está começando a fazer frio e a chuva não vai demorar a cair, o que não é bom para a Rebeca.
Fiquei sem palavras ao ver que ainda se lembrava do nome da minha filha.
— Onde você mora? — Ele continuou.
— Na gruta.
Pelo tipo do carro dele, já sabia que o meu bairro era fora do caminho dele e talvez ele desistisse da carona. Eu estava morrendo de medo de entrar no carro de um homem estranho. Não sabia nada sobre ele a não ser que ele era médico e que tinha tido a boa vontade de examinar Rebeca mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para pagar pela consulta.
— Entra aí, eu levo vocês.
— Não quero abusar da sua boa vontade, doutor.
— Eu estou oferecendo a carona e pode me chamar apenas de Alex.
Para piorar a minha situação, o temporal desabou forte e eu não tive outra escolha a não ser entrar no carro. O carro era mesmo de gente rica, os bancos e o volante eram de couro, um painel touch de última geração e tinha até teto solar. Eu nunca tinha entrado num carro que custava muito mais do que eu poderia imaginar.
Durante todo o caminho, permanecemos em silêncio, fingi estar mais interessada na chuva que caía do lado de fora, mas era óbvio que não deixei de dar olhadas discretas na direção dele, afinal, ele era um homem muito bonito. Seus cabelos loiros estavam penteados para trás, formando um pequeno topete na frente, olhos azuis e o corpo musculoso faziam dele quase um deus grego. A julgar pelo modelo de seu carro, com certeza, ele era muito bem sucedido e rico.
Quando ele finalmente estacionou o carro em frente ao meu prédio, pude ver seu olhar julgando a espelunca em que eu morava. Fiz menção de abrir a porta do carro, mas ele me impediu e saiu do carro. Apaeceu do lado do carona, segurando um guarda-chuva, que gentilmente, me ofereceu depois de abrir a porta para mim.
— É aqui que você mora?
— É sim! — Ela deu um meio sorriso. — Obrigada pela carona e pelo guarda-chuva!
— Não foi nada!
Depois de aceitar o guarda-chuva, saí correndo para dentro do prédio enquanto ele voltava para dentro do carro, mas antes de entrar no elevador, percebi que o carro ainda estava parado em frente ao prédio. O que ele poderia ainda estar fazendo parado ali?
Logo que adentrei meu apartamento, acendi as luzes antes de levar minha pequena para o quarto, onde a coloquei, cuidadosamente, deitada em seu bercinho. Quando voltei para sala, peguei meu celular na bolsa e digitei uma mensagem tranquilizadora para Lili.
"Acabei de chegar em casa e pode ficar tranquila porque o médico disse que a nossa pequena está apenas gripadinha e que logo vai passar."
A resposta chegou quase que imediatamente:
"Ainda bem, eu estava realmente preocupada com ela."
"E ainda ganhamos uma carona do médico."
" Como assim, amiga? Me conta tudo."
"O taxista acabou me levando para um hospital particular e ele acabou nos dando uma carona de volta para casa por causa da chuva."
" E ele era bonitão?"
"Muito bonito e rico."
ALEXDepois que cheguei em casa, deixei as chaves sobre a mesa e me joguei no sofá. Tinha sido um plantão complicado e eu só queria descansar um pouco. Depois de entrar debaixo do chuveiro, deixei que a água fria caísse sobre meu corpo, relaxando os músculos tensos.Quando já estava me sentindo bem melhor, enrolei uma toalha enrolada no quadril e voltei ao quarto para pegar uma roupa, mas fui interrompido pelo meu celular que não parava de apitar, vi pela barra de notificações que eram mensagens de Felipe, meu irmão mais velho."E aí, irmãozinho.""Você vai na festa de aniversário do pai? Estou ansioso para te ver e conhecer sua noiva."Merda.Por um momento eu tinha me esquecido dessa confusão que estava metido. Deixei o celular de lado porque ainda não sabia o que responder, eu iria ao aniversário do meu pai, mas antes precisava arrumar uma mulher que aceitasse ser minha noiva falsa e que tivesse uma filha, já que Paola era mãe de uma garotinha quando a conheci.A mera menção ao nom
JOANA Depois de uma noite mal dormida, em que fiquei acordando de cinco em cinco minutos para verificar se a febre de Rebeca tinha ido mesmo embora, acordei ouvindo alguns resmungos vindo de dentro do berço e tive que me levantar para começar o dia. Quando olhei dentro do berço, vi minha menininha segurando um dos pés para o alto enquanto reclamava, mas logo que me viu, ela abriu um largo sorriso. Ela era tão boazinha que nem chorava quando acordava e eu não vinha logo em seu socorro. — Bom dia, minha bonequinha! Em resposta, ela se segurou nas barras laterais do berço e ficou de pé enquanto fazia borbulhas de saliva com a boca. Peguei-a no colo e levei até o seu quartinho, onde troquei a fralda suja por uma limpinha e em seguida, a levei sala, onde a coloquei sentada no tapete da sala, cercada por almofadas e alguns de seus brinquedos enquanto ia preparar sua mamadeira e um pouco de café para mim. Enquanto Rebeca tomava seu leite jogada nas almofadas, aproveitei para dar uma olh
ALEX Depois que cheguei em casa, me joguei no sofá e fiz uma ligação rápida para o meu restaurante favorito na cidade toda e, por sorte, consegui reservar uma mesa para duas pessoas. Enviei o endereço do restaurante por mensagem para Joana e ela só respondeu com um joinha. Passei a tarde quase toda terminando de escrever um artigo científico sobre a minha pesquisa e quando percebi já passava das sete da noite. Do lado de fora já estava escuro, a lua estava alta no céu e eu tinha uma hora para ficar pronto e ir para o restaurante. Enquanto a água quente relaxava meus músculos, diversos pensamentos passavam pela minha cabeça e a insegurança se fez presente. Será que Joana ia aparecer? Será que ela toparia fazer parte do meu plano? Optei por vestir uma calça de alfaiataria num tom de azul escuro, uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos e preferi deixar os dois primeiros botões abertos para parecer um pouco mais descontraído. Ali estava eu, sentado em um res
JOANAQuando meu turno finalmente chegou ao fim, entrei no primeiro ônibus de volta para casa. Eu precisava me arrumar, preparar uma outra bolsa com fraldas e leite para deixar na casa de Lili e ir me encontrar com o médico bonitão.Tomei um banho relaxante, enrolei a toalha no corpo e fiquei parada diante do meu guarda-roupa aberto, tentando escolher algo para vestir que não fosse tão simples e nem muito chique, porque pelo que tinha visto numa pesquisa rápida da internet, o restaurante era fino e tinha um ar chique.Liguei para Lili por chamada de vídeo para que ela me ajudasse a escolher uma roupa e ia me vestindo e mostrando a ela o look até escolher o vestido preto, os meus scarpins de salto alto favoritos e um par de brincos que tinha ganhado de presente de Lili. Aproveitei que ainda tinha tempo e sequei o cabelos, fazendo algumas ondas com o babyliss.Decidi ir com um carro de aplicativo para o restaurante porque ele poderia insistir em me trazer de volta para casa e se eu foss
ALEXAquela noite depois de sair do restaurante, foi a noite mais difícil para eu conseguir dormir. Eu tinha saído daquele restaurante mais nervoso e angustiado do que quando tinha entrado. Saber que o meu futuro dependia exclusivamente de uma desconhecida era complicado demais.Os dias estavam se passando e a espera por uma resposta de Joana estava sendo uma verdadeira tortura. Eu passava quase o tempo inteiro com o celular próximo de mim e a cada notificação de uma nova mensagem, eu corria para ver se era a resposta de Joana. Ela devia estar gostando de me torturar.Era sábado à noite, já não aguentava mais essa incerteza, coloquei duas pedras de gelo em um copo, me servi de uma dose de uísque. Saí para a sacada do meu apartamento, apoiei as mãos sobre o batente do guarda-corpo e inspirei fundo. Se aquela mulher não me desse uma resposta logo, eu acabaria ficando louco e, quase como se tivesse lido minha mente, uma mensagem chegou.Joana: Já tenho uma resposta para te dar.Simples a
JOANADepois de encontrar Alex no restaurante para tratar de negócios, levei Rebeca para casa e, como ela já tinha adormecido, levei-a direto para o berço. Tirei os saltos e troquei o vestido pelo meu pijama confortável, mas como estava muito agitada, sabia que não conseguiria dormir então fui para a sala e peguei meu celular antes de me jogar no sofá. Havia umas quatro mensagens da minha mellhor amiga.Lili: Amiga, você não vai mesmo me contar o que aconteceu nesse seu encontro de negócios?Lili: Amiga, me responde. Por favor!Lili: Vai mesmo me deixar na curiosidade?Lili: Você sabe que eu não aguento não saber das coisas, sou ansiosa.Meu Deus. Como minha minha melhor amiga era dramática quando queria saber de um fofoca, mas eu gostava dela mesmo assim e até entendia a curiosidade/preocupação dela. Se fosse o contrário, eu com certeza, faria de tudo para tentar descobrir o que tinha acontecido.Joana: Eu vou te contar quando você vier aqui em casa.Lili: Por que demorou a me respon
ALEXDepois que Joana se afastou, entrei no meu carro, mas fiquei esperando para ver onde ela iria e para sanar minha curiosidade de qual era o carro dela. Para minha surpresa ela entrou num fusca azul, que tenho que dizer, estava em ótimo estado de conservação, mas a pequena Rebeca merecia um pouco mais de segurança do que um carro velho.Quando finalmente cheguei em casa, estava me sentindo muito mais leve como se tivesse tirado um elefante das costas. Joana tinha aceitado fazer parte do meu plano maluco e eu conseguiria mentir para minha família. Me orgulhava disso? Claro que não, mas era covarde demais para contar a verdade.Por estar acostumado a ficar sozinho em casa aos domingos, coloquei a blusa suja de batom no cesto de roupa suja, tomei um pouco do suco de laranja que estava na geladeira e aproveitei para voltar para cama e dormir mais um pouco.Quando voltei a acordar, já passava da uma da tarde. Minha cabeça tinha parado de doer e meu estômago dava sinais de vida. Me pus d
JOANADepois que saí do parque, passei na casa de Lili, eu precisava da minha melhor amiga para me dar forças e garantir que tudo ficaria bem, mas infelizmente ela não estava em casa. Enviei uma mensagem para ela e em resposta descobri que ela estava na casa dos pais. Isso me fez lembrar de que fazia uma semana que eu não visitava os meus.— O que acha de visitar a vovó e o vovô, minha princesa? — perguntei enquanto olhava para minha filha presa em sua cadeirinha no banco de trás.Ela chacoalhou o brinquedo que tinha em mãos e abriu um largo sorriso. Antes de ir para a casa dos meus pais, precisava passar na cafeteria e pedir minha demissão, o que claro, não foi muito bem aceito pelo dono, mas eu não lhe dei outra alternativa.Logo que saí da cafeteria, enviei uma mensagem para Alex, mas como não recebi uma resposta imediata, deduzi que estivesse ocupado.Joana: Estou enviando essa mensagem só para avisar que já pedi a demissão do meu trabalho e agora você tem que cumprir sua parte do