Capítulo 3

JOANA

Depois de um dia extremamente cansativo de trabalho no restaurante, eu finalmente estava indo para casa pra ficar com a minha filha, mas antes. como de costume, teria que passar na casa de Liliane, minha melhor amiga e madrinha da minha pequena, para pegá-la.

Logo que cheguei, Lili já veio toda apressada, Rebeca estava aos berros no colo dela, a expressão no seu rosto não era das melhores e a preocupação logo surgiu, consumindo todo o meu ser.

— Ainda bem que você chegou.

— O que aconteceu?

— Ela passou o dia todo com febre, sem querer comer nadinha.

— E por que você não me ligou?

— Eu não queria te preocupar e nem que você perdesse o dia de trabalho porque sei que o dinheiro faz falta para você.

— Mas a minha filha é a minha prioridade.

— Eu até levei ela no postinho de atendimento aqui do bairro.

— E o que o médico disse?

— Ele falou um negócio lá, mas não confiei muito na palavra dele porque, sinceramente, ele nem encostou na menina, seria melhor levá-la ao hospital.

— Vou ver o que vou fazer. Obrigada, Lili.

— Não deixe de me dar notícias. Por favor.

Peguei o primeiro táxi que parou e pedi ao motorista que me levasse ao hospital mais próximo, sem me preocupar em verificar qual seria. Só queria que minha filha fosse atendida e parasse de chorar desesperadamente.

Somente quando o carro parou foi que percebi que estávamos em frente a um hospital particular e com fama de ser muito caro, mas tentaria ajuda ali mesmo, não podia me dar ao luxo de gastar mais dinheiro indo para outro hospital.

Assim que passei pelas portas automáticas, fui direto ao balcão da recepcionista e enquanto tentava explicar, um medico se aproximou. Ele se apresentou como Dr. Alex e me conduziu até um dos consultórios. Meu queixo foi ao chão ao olhar ao meu redor e o quanto era bonito e cheio de brinquedos educativos.

— Posso começar a examinar sua filha? — Ele perguntou enquanto me encarava com aqueles olhos azuis.

Depois que eu contei que não tinha como pagar pela consulta, ele me tranquilizou e pediu que eu confiasse nele, porém percebi que ele queria dizer mais alguma coisa, mas preferiu permanecer em silêncio.

Percebendo meu silêncio, ele começar uma conversa, mas minhas respostas monossilábicas não  incentivaram a ir adiante, mas ele nem se importou.

— Qual o nome dela?

— Rebeca.

— É um bonito nome.

— Obrigada. — Dei um leve sorriso de canto de boca. — Era o nome da minha avó.

— E o seu? — perguntei curioso.

— Joana.

Ele fez mais algumas perguntas sobre minha filha e quando terminou de examiná-la, me informou que não tinha grave, que era apenas um quadro viral, uma gripe e, que, por causa do nariz estar entupido estaria atrapalhando ela a mamar, então começou a explicar os remédios que teria que dar.

— Muito obrigada, doutor — agradeci enquanto pegava minha menininha no colo. — De verdade mesmo.

— Não foi nada demais. 

Saí da sala e caminhei em direção a saída do hospital. Ele se despediu e então segui para o ponto de ônibus que ficava próximo. O que não podia piorar, piorou, notei que o céu estava mais escuro do que o normal, já podia ouvir algumas trovoadas e ver alguns raios cortando a escuridão. Tudo o que eu precisava para terminar meu dia de merda era uma tempestade.

Fui surpreendida quando um lindo Range Rover preto parou junto ao meio-fio e logo o vidro do carona foi abaixado, permitindo que eu visse quem estava do lado de dentro. Era o médico que havia acabado de atender minha filha.

— Quer uma carona? — Ele perguntou educado.

— Está começando a fazer frio e a chuva não vai demorar a cair, o que não é bom para a Rebeca.

Fiquei sem palavras ao ver que ainda se lembrava do nome da minha filha.

— Onde você mora? — Ele continuou.

— Na gruta.

Pelo tipo do carro dele, já sabia que o meu bairro era fora do caminho dele e talvez ele desistisse da carona. Eu estava morrendo de medo de entrar no carro de um homem estranho. Não sabia nada sobre ele a não ser que ele era médico e que tinha tido a boa vontade de examinar Rebeca mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para pagar pela consulta.

— Entra aí, eu levo vocês.

— Não quero abusar da sua boa vontade, doutor.

— Eu estou oferecendo a carona e pode me chamar apenas de Alex.

Para piorar a minha situação, o temporal desabou forte e eu não tive outra escolha a não ser entrar no carro. O carro era mesmo de gente rica, os bancos e o volante eram de couro, um painel touch de última geração e tinha até teto solar. Eu nunca tinha entrado num carro que custava muito mais do que eu poderia imaginar.

Durante todo o caminho, permanecemos em silêncio, fingi estar mais interessada na chuva que caía do lado de fora, mas era óbvio que não deixei de dar olhadas discretas na direção dele, afinal, ele era um homem muito bonito. Seus cabelos loiros estavam penteados para trás, formando um pequeno topete na frente, olhos azuis e o corpo musculoso faziam dele quase um deus grego. A julgar pelo modelo de seu carro, com certeza, ele era muito bem sucedido e rico.

Quando ele finalmente estacionou o carro em frente ao meu prédio, pude ver seu olhar julgando a espelunca em que eu morava. Fiz menção de abrir a porta do carro, mas ele me impediu e saiu do carro. Apaeceu do lado do carona, segurando um guarda-chuva, que gentilmente, me ofereceu depois de abrir a porta para mim.

— É aqui que você mora?

— É sim! — Ela deu um meio sorriso. — Obrigada pela carona e pelo guarda-chuva!

— Não foi nada!

Depois de aceitar o guarda-chuva, saí correndo para dentro do prédio enquanto ele voltava para dentro do carro, mas antes de entrar no elevador, percebi que o carro ainda estava parado em frente ao prédio. O que ele poderia ainda estar fazendo parado ali?

Logo que adentrei meu apartamento, acendi as luzes antes de levar minha pequena para o quarto, onde a coloquei, cuidadosamente, deitada em seu bercinho. Quando voltei para sala, peguei meu celular na bolsa e digitei uma mensagem tranquilizadora para Lili.

"Acabei de chegar em casa e pode ficar tranquila porque o médico disse que a nossa pequena está apenas gripadinha e que logo vai passar."

A resposta chegou quase que imediatamente:

"Ainda bem, eu estava realmente preocupada com ela."

"E ainda ganhamos uma carona do médico."

" Como assim, amiga? Me conta tudo."

"O taxista acabou me levando para um hospital particular e ele acabou nos dando uma carona de volta para casa por causa da chuva."

" E ele era bonitão?"

"Muito bonito e rico."

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