Já passava das oito da noite quando o telefone tocou. O número era desconhecido, mas decidi atender mesmo assim. A voz do outro lado estava embargada, cansada. Levei alguns segundos para processar a quem pertencia, até que ela se identificou.— John, sou eu… a mãe da Hana.Um frio correu pela minha espinha, mas mantive o controle. Havia algo naquele tom de voz que já me preparava para o teatro que viria a seguir.— Ah, é você.Respondi, fingindo despreocupação. — Eu havia esquecido que tinha dado o meu número pra você.Ela ignorou a pergunta, indo direto ao ponto. O que veio depois foi uma sequência ensaiada, com uma falsa humildade que quase me fez rir.— John, eu só queria te pedir… uma ajuda. Sabe, dois milhões seriam o suficiente para eu recomeçar minha vida. Desde que a Hana foi embora, a minha situação não tem sido nada fácil.Soltei uma risada curta, não acreditando na audácia.— Dois milhões? É isso mesmo? Perguntei, com uma ironia afiada. — Achei que você fosse um pouco mai
HANA*Eu passei pelo inferno, conheci todas as faces da dor de ser despejada por alguém que deveria me proteger, não tive bons direcionamentos sobre relacionamentos saudáveis, e minha única conselheira se prostituía pra manter a vida de alto padrão que tinha, porém, ela foi a única que nunca soltou a minha mão.A conclusão que tiro é que existem realidades paralelas que podem ser erradas pra algumas pessoas, mas que pra outras pode ser a melhor coisa da vida.Era errado se prostituir? Minha resposta é: DEPENDE.Talvez olhando por outro ângulo, o John seria o tipo de homem que eu jamais iria querer voltar a olhar pra cara dele, mas pessoas feridas ferem outras pessoas, e eu escolhi olhar pra ele como vítima, quando ele expôs suas dores pra mim.Mas a minha dor diante do que a minha mãe me fez, não se comparava com nada no mundo, não havia justificativas pra todo o trauma psicológico e afetivo que ela causou em mim.Deixar Jonh tomar a frente das minhas batalhas não era sinal de fraque
Era inacreditável que eu tivesse tendo que encarar alguém que eu estava disposta a esquecer. Aquela figura a poucos metros de distância de mim era a última pessoa que eu esperava ver ali.Ela andava como se buscasse algo, ou alguém, e o coração deu um salto de inquietação. Não poderia ser coincidência, poderia? Tentei me esquivar do seu olhar, puxando John para mais perto, mas não demorou muito para que ela nos visse.Ela parou de andar, o rosto congelando numa expressão de surpresa ao ver Jonathan nos braços de John. Olhou fixamente para ele e depois para mim, como se precisasse confirmar o que seus olhos estavam vendo.— Esse… esse é o seu filho? Perguntou ela, a voz um tanto rouca.Senti o peso de seu olhar, mas mantive minha expressão firme.Antes que eu pudesse responder, John entrou no meio da situação, a voz dele firme como uma muralha.— Isso não é da sua conta.Ele respondeu, o tom frio e direto.Ela levantou o queixo, soltando uma risada seca, quase debochada.— Eu estou fal
O chão parecia ter desaparecido debaixo dos meus pés. Meu filho, meu bebê… ele estava ali, a poucos passos de distância, e num piscar de olhos, tudo virou um pesadelo. Meu coração batia tão forte que sentia o gosto de metal na boca, como se estivesse engolindo a própria dor. Minha respiração vinha curta e rápida, quase sem oxigênio. Olhei pro John, vendo o mesmo desespero que sentia. Ele começou a chamar por Jonathan, a voz carregada de uma angústia que jamais ouvi antes.Sem pensar, comecei a vasculhar o saguão, o olhar frenético passando por cada rosto, cada canto, cada sombra. Eu chamava pelo meu filho, a voz embargada e, ainda assim, alta o suficiente para chamar a atenção das pessoas ao redor. Meu corpo tremia, mas não podia me dar ao luxo de parar.— John… ele estava aqui… Ele estava aqui agora! Minha voz saiu fraca, mas cheia de um terror que eu mal conseguia controlar.Foi então que, em meio ao tumulto e ao pânico, meus olhos buscaram a última figura que eu jamais queria ver
O ar parecia um veneno. Era como se cada respiração que eu tomava me sufocasse ainda mais, me afundando num desespero do qual eu não conseguia escapar. A imagem do rosto daquele homem, o namorado da minha mãe, segurando o meu filho... Era como um pesadelo. Aquele homem abusador e nojento, que já tinha invadido minha vida antes, tinha levado o meu bebê. Minhas pernas pareciam de cera. Eu mal conseguia me sustentar de pé enquanto os policiais se movimentavam ao nosso redor, falando sobre investigações, estratégias, passos a serem tomados. Mas tudo aquilo me soava distante, uma névoa confusa. Um pensamento sombrio crescia dentro de mim, uma ideia horrível e que, aos poucos, começava a fazer sentido. Minha mãe. Ela estava no aeroporto. Ela sabia sobre a viagem. E aquele homem... Ela trouxe aquele homem para a minha vida novamente, só que dessa vez para me destruir por completo. — Não... Sussurrei, mais pra mim mesma do que pra qualquer um ao meu redor. — Ela sabia. Ela armou tud
JHON*Depois de uma lua de mel incrível, tudo o que eu queria, era aproveitar cada momento com a minha família, eu jamais imaginei que a mãe da Hana fosse aparecer, e fosse furar a nossa bolha, que por mim, eu viveria nela pra sempre.Dizer apenas um "Não" pro pedido da mãe dela, deveria ser o suficiente, mas o que eu não sabia, era que aquela mulher estava disposta a fazer coisas inimagináveis pra conseguir o dinheiro que ela queria, inclusive sequestrar o meu filho.Era inevitável me sentir culpado, na tentativa de proteger Hana, eu deixei que levasse o nosso bem mais precioso.Mas quem poderia imaginar que algo assim pudesse acontecer no meio de um aeroporto? Nosso mundo caiu.Era como se cada segundo me levasse para um abismo mais fundo, e tudo o que eu pudesse fazer fosse observar Hana à beira desse mesmo precipício.Eu vi o rosto dela se distorcer em desespero, vi a maneira como seus olhos ficaram vazios quando as imagens mostraram nossa tragédia se desenrolando diante de nós.
HANA*Entrar em casa sem o Jonathan nos braços foi como pisar num campo de lembranças que, de repente, haviam se tornado dolorosamente vazias. A ausência dele preencheu o ambiente como um peso sufocante, me esmagando a cada passo. Tudo ali parecia gritar a presença do meu filho, os brinquedos espalhados, o cobertor azul que ele arrastava pela sala, o cheirinho do seu shampoo infantil ainda impregnado no ar. Eu mal conseguia respirar.Eu me abaixei ao lado dos brinquedos, incapaz de segurar as lágrimas. A saudade e o desespero me dominavam, e cada lágrima que caía trazia consigo uma mistura de raiva e culpa. Não só por ter deixado isso acontecer, mas porque meu próprio sangue, minha mãe, tinha se aliado ao homem que sempre me causou tanto sofrimento. Como ela pôde fazer isso? Como alguém é capaz de trair a própria filha dessa forma? Me sentia como uma peça descartável no jogo dela. E o meu filho estava pagando o preço.John estava ao meu lado, mas, por mais que tentasse esconder, eu
Eu arrisquei ir até o lugar sem o dinheiro, caso algo desse errado, eu recorreria ao cartão do Jonh.Cada quilômetro naquela estrada parecia um pesadelo que se estendia. As luzes da cidade ficaram para trás, dando lugar ao silêncio frio e à escuridão que consumia tudo. Eu dirigia em automático, sentindo o estômago revirar, os dedos tremendo no volante. Tudo o que eu conseguia pensar era no Jonathan, o medo paralisante de que ele estivesse em perigo, assustado, sem ninguém para protegê-lo. Minha única esperança era que esse encontro, por mais desesperador que fosse, me levasse a ele.Finalmente, o carro parou em frente a um casebre abandonado, uma construção apodrecida, envolta na escuridão. Uma única lamparina acesa projetava sombras nas paredes frágeis. Eu senti um arrepio percorrer minha espinha, e cada instinto me gritava para sair correndo dali. Mas eu precisava do meu filho. Respirei fundo, tentando domar o pânico, e fui em direção à porta, notando o silêncio absoluto. Nenh