Eu andei pelos corredores da agência com passos rápidos, sentindo a cabeça latejar de tão confusa e irritada. As palavras de Flávia ainda ecoavam na minha mente. — Dois anos de contrato... para o bem da agência." Eu entendia o lado dela, mas era impossível ignorar a sombra que Shell poderia lançar sobre o meu relacionamento com Jonh.Quando cheguei na porta da sala onde ele estava, hesitei. Por um momento, fiquei ali, com a mão na maçaneta, respirando fundo. "Você confia nele, Hana," repeti para mim mesma como um mantra. Mas confiança precisava de diálogo, e eu sabia que precisava enfrentá-lo com calma, apesar da tormenta dentro de mim.Abri a porta devagar. Jonh estava sentado à mesa, com as mãos entrelaçadas e os cotovelos apoiados, parecendo tão perdido em pensamentos quanto eu. Ele levantou os olhos ao ouvir a porta e, ao me ver, se ajeitou na cadeira, visivelmente preocupado.— Hana...Ele começou, sua voz suave, mas carregada de tensão. — Eu estava pensando em ir te procur
JONH*A Flávia decidiu ir atrás de Hana e tentar explicar os motivos que a levaram a contratação de Shell, e enquanto eu estava sozinho, vários pensamentos me atormentaram.Não era exatamente medo que eu sentia, mas a sensação de parte do meu passado aflingir o coração de Hana, quando eu prometi que nada a faria se sentir daquela forma outra vez.Eu me lembrei da última vez que eu e Shell nos vimos, foi naquele maldito evento que eu a levei quando eu achei ser possível viver sem Hana, o mesmo dia em que o meu egoísmo e falta de caráter levou a Hana pra cama de outro homem.Shell viu as lágrimas nos meus olhos naquele dia, mesmo sem eu dizer nada, ela soube que aquelas lágrimas não eram por ela. Nunca conversamos sobre aquilo, e talvez seja por isso que a vida exigia o retorno dela, como uma sombra do meu passado, disposta a me encarar de frente.As possibilidades do que poderia dar errado continuavam a me atormentar. E se Shell tentasse desestabilizar meu casamento? Não seria difíc
HANA*" Uma modelo freelancer"...Era exatamente isso o que o John falava sobre mim, somente pra esconder que estava pagando milhões pra ser o primeiro a me comer.Mas apesar disso, naquele momento, eu não era a comidinha bem paga dele, eu era a esposa, e a mulher bem a minha frente precisava respeitar isso.Em nenhum momento eu pensei em quebrar a cara dela, tudo o que eu queria era que ela tomasse ciência de quem eu era, e de como ela deveria se comportar, eu sabia que eu não precisava brigar por algo que já era meu, da qual ela passou anos lutando pra ter.Depois de bater boca com ela, a Flávia parecia saber exatamente o que falar pra que ela não continuasse com toda aquela cena.Assuntos para resolver com o meu marido? Só nos sonhos dela.Eu virei as costas pra ela, e encostei Jonh antes de continuar o percurso interrompido até o elevador.Enquanto as portas se fechavam, o meu olhar fuzilando ela deixava claro que eu jamais abriria espaço pra que ela fizesse bagunça na minha vida
No dia seguinte, acordei sozinha na cama, levantei, fiz minha higiene pessoal, e só depois eu fui procurar o John pela casa, mas eu não o encontrei.— Que estranho, ele não sairia sem me avisar ou se despedir.Eu peguei o celular e liguei pra ele, mas a ligação foi direto pra caixa postal.Eu não queria pensar no pior, a conversa que havíamos tido no dia anterior, deveria ser o suficiente pra me deixar segura, afinal, ele iria demitir a Shell...Ou não iria?Eu fiquei pensando em ir até a agência, testificar com os meus próprios olhos se ele estava lá, fazendo o que ele disse que iria fazer. — Não, eu não vou fazer isso, que droga de insegurança é essa? Eu precisava parar de pensar em tantas besteiras.Eu resolvi então ligar pra Flávia, ela sim me atendeu, mas a forma que ela falou comigo me deixou ainda mais cismada.— Hana, não posso falar com você agora, desculpa.Ela simplesmente desligou na minha cara, sem ao menos esperar uma resposta minha.— Tem algo de errado.Eu tinha duas
JONH*Eu já sabia o que fazer, por muitas vezes eu me fiz a mesma pergunta: Eu seria capaz de viver sem a Hana ou torná-la infeliz?A resposta era "Não", e sempre seria, pois eu assumi esse compromisso não só com a Hana, mas comigo.O silêncio dela dentro do carro, já me passava várias informações ao mesmo tempo, driblar os problemas, fazer sexo intenso e apaixonado, não iria alterar em nada aquilo que se passava dentro dela, e eu já esperava por aquele pedido..."Demitir Shell"...Essa palavra vinha entrelaçada silenciosamente à frase "Interferir no trabalho de Flávia" ou "Tirar o direito da Flávia de fazer escolhas sendo ela minha sócia"...Enfim, apesar do grande problema que eu teria pela frente, a minha esposa estava acima de tudo.No dia seguinte, acordei bem cedo, fiz de tudo pra não acordar Hana, eu sabia exatamente do caos que eu estava prestes a causar e não queria que a Hana presenciasse nada disso.Me arrumei, fui pro jardim e liguei pra Flávia solicitando a presença da S
Eu nunca tive que pagar tão alto pela minha paz, durante anos pensei estar vivendo um sonho, mas o meu sonho sempre foi ter uma família diferente da que eu cresci, era dever meu construir um futuro que pudesse dar orgulho pro meu filho, entender isso, foi a coisa mais difícil que eu tive que fazer.O processo de alguém "Quebrado" como eu, foi angustiante, e trouxe cicatrizes pra todos que de alguma forma passaram pela minha vida, eu não tenho orgulho do percurso que trilhei, e das pessoas que magoei ao longo do caminho, mas eu estava orgulhoso por ter me permiti ser alguém diferente.— Flávia, solte pra imprensa a venda da agência, e amanhã, poderá tomar posse do que é seu.Falei depois de ter deixado tudo resolvido.— Vocês estão chateados comigo?— Você fez o que achou ser o correto, o seu único erro foi não ter me informado sobre isso antes.— Me desculpe.— Eu agradeço a você por tudo o que fez e suportou ao meu lado Flávia, sem você, certamente eu estaria arruinado, eu tenho cert
JONH*Quando eu era pequeno, eu sonhava em ser médico, cresci fazendo planos que nunca aconteceriam, pois a vida tinha outro destino pra mim.Cansado de estar sempre no vermelho, e sempre precisando pedir dinheiro ao meu pai, eu decidi vender minha casa e tudo o que eu tinha, e saí do país, a minha intenção era ir atrás de oportunidades que me tirassem da vida miserável que eu levava.Eu saí do Brasil e fui pra Las Vegas, onde consegui um emprego como dançarino em uma boate, e foi lá que eu conheci o mundo da prostituição.As mulheres com quem eu me envolvia me abriram portas, eu fiz contatos importantes, ganhei muito dinheiro saindo com mulheres ricas e famosas, e logo veio a oportunidade de ser modelo, pois eu tinha o padrão perfeito das agências, eu só não sabia que a prostituição também existia lá, camuflada de desfiles e eventos, a diferença era que eu passei a ganhar o triplo do que eu ganhava na boate.Eu abracei aquela oportunidade, prestei atenção em como tudo aquilo funcion
Quando eu cheguei na agência, eu encontrei uma das modelos discutindo com a Flávia, naquele momento eu já sabia o motivo da discussão, mas como todo chefe, eu tinha o dever de perguntar. — O que está havendo aqui? Já imaginaram se algum cliente entra aqui e encontra essa baderna?Flávia: Desculpa Sr. Carter, mas a Ingrid está se recusando a fazer book vermelho Ingrid: Eu já fiz book vermelho essa semana, o cliente quase me estrangulou com aquela gravata no meu pescoço, eu ainda estou dolorida das chicotadas que ele me deu, eu só quero um descanso pra que eu me recupere. — Tudo bem, você pode ir pra casa e a Flávia irá encontrar uma substituta pra você.Ingrid: Eu não vou participar do desfile?— Você sabe como as coisas funcionam por aqui Ingrid, a passarela é como se fosse uma vitrine pros nossos clientes, eu não posso dar um "Não" pros clientes caso eles queiram sair com você. Ingrid: Eu preciso da grana Jonh.— E eu preciso dos clientes, agora você pode ir.Eu vi ela se retirar