Na manhã seguinte Daniela tinha uma ultrassonografia marcada. Giorgio a deixou no estacionamento da clínica, ela entrou e a recepcionista avisou que o médico havia se atrasado. Sentou na recepção numa sala cheia de mulheres grávidas. Algumas estavam sozinhas, outras acompanhadas por mãe e uma minoria estava acompanhada por seus maridos ou namorados. Para qualquer lado que olhasse só via barrigas enormes; algumas mulheres tinham dificuldades para sentar e precisavam da ajuda dos seus acompanhantes.Daniela ficou imaginando que em pouco tempo sua barriga também estaria assim, grande, redonda, bonita.Uma moça muito jovem que estava sentada ao seu lado puxou conversa com ela. Era recém-casada e estava grávida de quatro meses. A conversa entre elas durou até a recepcionista chamar o seu nome e levá-la por um corredor longo, cheio de lâmpadas. Ela entrou numa sala escura e foi orientada para que tirasse a roupa, vestisse um roupão aberto na frente e deitasse na maca. Alguns minutos depoi
Antonino estava fechado em uma sala de reunião discutindo vendas com a sua equipe. Foi uma manhã cansativa, mas ele como presidente da empresa precisava estar presente para discutir algumas questões pendentes.Às dez da manhã ele já estava entediado. Olhou o relógio de pulso e ficou batendo com a caneta sobre a mesa de forma disfarçada enquanto cada homem na sala aproveitava os seus minutos para mostrar suas vendas e as estratégias usadas. Sempre um querendo ser melhor do que o outro. Essa era a ideia das vendas: que o melhor vencesse.Assim que a reunião acabou Antonino saiu para almoçar e ligou para Daniela, mas caiu na caixa de mensagem. Tentou mais três vezes e nada conseguiu. Com certeza Daniela não queria atender porque ainda estava com raiva dele. Ultimamente eles não estavam conseguindo se entender de jeito nenhum.Chegou em casa por volta das cinco da tarde, estacionou o carro na frente do casarão e encontrou Rosa na sala de estar dando ordem a alguns empregados. Quando ela o
Na manhã em que desapareceu, Daniela acordou decidida. Estava cansada de passear pelo jardim da mansão. Até as flores que existiam nos canteiros ela já conhecia de cor. Estava sufocada ali dentro e precisava com urgência ver gente. Mas não queria sair vigiada com um motorista em seu encalço.Depois da refeição matinal foi para a varanda e chamou um carro de aplicativo. Sempre se escondendo de Giorgio e também de Rosa foi para frente da mansão e ficou ao lado dos seguranças aguardando. O motorista do aplicativo assim que chegou foi revistado e só depois ela entrou no carro.Saltou no centro comercial e se sentiu viva novamente olhando as vitrines e vendo gente passando ao seu redor. Fez algumas compras, almoçou em um restaurante popular e seguiu por uma rua estreita e comprida.Foi naquele momento que um furgão preto veio na sua direção. A porta foi aberta, e dois homens encapuzados pularam sobre ela e a arrastaram para dentro do veículo, depois colocaram um pano com um liquido gelado
Vincenzo Romano era filho de Michael Romano e Paulina Cociani, um casal de agricultores italianos que tinham uma vida simples e modesta. Mas o seu pai também tinha negócios com o mafioso Genaro Goldacci, o avô de Antonino Goldacci.Genaro Goldacci na época era dono de uma rede de farmácias e comprava do seu pai plantas aromáticas e medicinais para transformá-las em medicamentos fitoterápicos, vendendo clandestinamente as mesmas.A primeira vez que Vincenzo entrou na mansão dos Goldacci ele tinha dez anos de idade. Estava acontecendo uma festa beneficente e estavam presentes pessoas ilustres como governadores, prefeitos, deputados e juízes. O seu pai só estava ali porque trabalhava secretamente para Genaro Goldacci. Na verdade ele era um dos seus capangas. Vincenzo não sabia se o seu pai fazia aquilo de livre e espontânea vontade ou se sofria algum tipo de chantagem, mas a verdade é que sempre que Genaro Goldacci queria dar uma surra em alguém ele chamava Michael Romano. Uma coisa que
Antonino estava sentado à mesa tomando o terceiro copo de whisky e naquele momento pensava em Daniela. Desde que ela voltou daquele sequestro mal explicado andava estranha, cabisbaixa e não o encarava quando falavam sobre o assunto.Quando ela desapareceu ele ficou louco, mas o alivio veio no momento em que recebeu aquele telefonema e atendeu ao número estranho, coisa que não costumava fazer. Naquele momento, com o telefone no ouvido, ouviu a voz chorosa de Daniela dizendo que estava em um posto de gasolina que ficava na beira da estrada. Ela lhe passou o endereço e ele partiu imediatamente com os seus homens e a encontrou sentada em um banco, toda despenteada como alguém que correu muito para encontrar um lugar seguro.Ele não lhe fez muitas perguntas, bastava saber que ela estava bem. Queria ter acertado tudo durante a noite, com um jantar à luz de velas, mas Daniela desde então tem se mostrado indisposta e fria.Olhou mais uma vez para o relógio de pulso e analisou o ambiente. O ba
Alguns dias depoisAntonino estava no escritório sentado em sua poltrona giratória olhando a fotografia de Daniela que ele havia colocado sobre a mesa. Estava esperando os supervisores chegarem para começar a reunião quando o seu telefone particular tocou:— Novidades?— Sim — falou a voz masculina do outro lado da linha. — Preciso que venha ao meu escritório ainda hoje. — Tudo bem, eu vou.Antonino desligou no momento em que Anna entrava informando que só faltava ele na reunião. Sentiu vontade de dar uma desculpa para não participar, mas era tarde, todos já o estavam aguardando.Levantou da cadeira, atravessou a sala e seguiu até o final do corredor.***No início da tarde Antonino estacionou ao longo do meio-fio e entrou em um prédio velho. O elevador rangia e parecia que ia desmoronar antes de chegar ao terceiro andar onde ficava o escritório do detetive Vittorio Manzotti. Assim que a caixa barulhenta parou, Antonino saltou e empurrou a porta que ficava na frente do elevador. O e
Daniela continuava se espremendo ao lado da porta da biblioteca, ouvindo a conversa entre Antonino e Franco.— Eu tenho a nome da Goldacci a zelar. Parece que você não entende isso. É a minha pele que está em jogo, a minha empresa, o meu nome — Antonino alterou a voz.— É, tem razão. As coisas estão acontecendo rápidas demais, por isso é que agora é tudo ou nada. Teremos que eliminar o Lucchese e o Vincenzo Romano e o problema estará resolvido.Daniela, atrás da porta, começou a tremer descontroladamente. — Ah... e ainda tem a sua mulher. Ao ouvir o seu nome, suas pernas viraram uma gelatina.— Deixe a Daniela fora disso.— Ela sabe demais. Quem garante que um dia ela não vai te trair?Daniela não estava acreditando. Estavam conversando sobre tirar vidas como quem discute o roteiro de um filme. E Franco queria que Antonino a matasse.Naquele momento, ela ouviu a voz de Antonino ficar alterada:— Ela é a minha esposa! Nunca mais fale dela desse jeito e nem ouse encostar um dedo nela!
Alguns dias depoisDaniela olhou-se no espelho que ficava na parede do quarto. Via-se com nitidez, mas era como se não estivesse ali. O reflexo que o vidro lhe devolveu era de outra pessoa, uma estranha. Sua expressão naquele momento era impassível, calma, serena, de uma normalidade assustadora. Só a palidez e as olheiras fundas traíam as noites de insônia, as horas atormentadas na escuridão da noite, olhando para o nada, deitada na cama fria na qual passara a dormir sozinha. Ainda estava tomando medicamentos para dormir, mas em menor dose e já conseguia se alimentar. As coisas pareciam normais; todos na casa tentavam se comportar de maneira normal, mas nada mais era normal, principalmente ela.Uma rotina básica foi retomada, mas desde o dia em que tudo aconteceu, cada minuto vivido estava sendo angustiante. O mundo ao redor ficou cinza, nada tinha graça, só um detalhe lhe trazia esperança: o filho que crescia no seu ventre. Era por ele que ela se esforçava para melhorar, comer, andar,