Daniela continuava se espremendo ao lado da porta da biblioteca, ouvindo a conversa entre Antonino e Franco.— Eu tenho a nome da Goldacci a zelar. Parece que você não entende isso. É a minha pele que está em jogo, a minha empresa, o meu nome — Antonino alterou a voz.— É, tem razão. As coisas estão acontecendo rápidas demais, por isso é que agora é tudo ou nada. Teremos que eliminar o Lucchese e o Vincenzo Romano e o problema estará resolvido.Daniela, atrás da porta, começou a tremer descontroladamente. — Ah... e ainda tem a sua mulher. Ao ouvir o seu nome, suas pernas viraram uma gelatina.— Deixe a Daniela fora disso.— Ela sabe demais. Quem garante que um dia ela não vai te trair?Daniela não estava acreditando. Estavam conversando sobre tirar vidas como quem discute o roteiro de um filme. E Franco queria que Antonino a matasse.Naquele momento, ela ouviu a voz de Antonino ficar alterada:— Ela é a minha esposa! Nunca mais fale dela desse jeito e nem ouse encostar um dedo nela!
Alguns dias depoisDaniela olhou-se no espelho que ficava na parede do quarto. Via-se com nitidez, mas era como se não estivesse ali. O reflexo que o vidro lhe devolveu era de outra pessoa, uma estranha. Sua expressão naquele momento era impassível, calma, serena, de uma normalidade assustadora. Só a palidez e as olheiras fundas traíam as noites de insônia, as horas atormentadas na escuridão da noite, olhando para o nada, deitada na cama fria na qual passara a dormir sozinha. Ainda estava tomando medicamentos para dormir, mas em menor dose e já conseguia se alimentar. As coisas pareciam normais; todos na casa tentavam se comportar de maneira normal, mas nada mais era normal, principalmente ela.Uma rotina básica foi retomada, mas desde o dia em que tudo aconteceu, cada minuto vivido estava sendo angustiante. O mundo ao redor ficou cinza, nada tinha graça, só um detalhe lhe trazia esperança: o filho que crescia no seu ventre. Era por ele que ela se esforçava para melhorar, comer, andar,
Quatro anos depoisEra domingo. Daniela estava chegando em casa depois de ter passado a manhã com o filho na praia. Enzo estava com quase três anos e cada dia se parecia mais com o pai. Tinha cabelos negros brilhantes e olhos escuros e profundos.Ela havia fugido para o Brasil logo após a morte de Antonino e desde então não quis mais saber da Itália. Sim, havia fugido de Franco, porque não confiava nele, tinha medo dele.Jogou o chapéu e a sacola sobre o sofá e gritou:— Carmem, estou sentindo cheiro de comida gostosa.Daniela comprou uma casa à beira-mar e convidou Carmem para morar com ela depois que Carlos e Angélica se casaram.Abriu mão da herança de Antonino deixando tudo para Enzo quando completasse a maioridade. Usou a herança da avó e abriu uma Drogaria e Loja de Cosméticos na Avenida Paralela, uma das mais movimentadas da capital baiana.Mas não foi fácil chegar até ali e recuperar o equilíbrio emocional e psicológico. Teve que lutar muito, se esforçar além dos seus limites p
PARTE 2SalvadorNaquela noite, diante da janela do quarto olhando para fora, para o nada, Daniela repensava sua vida enquanto o colar de diamantes e a passagem para o Quênia jaziam sobre sua cama como um fantasma que voltou para assombrá-la. Sabia que aquilo não poderia ser coisa de Antonino; ele estava morto. Naquele momento, Daniela foi transportada no tempo; seus pensamentos retrocederam para quatro anos antes.No instante em que o médico disse que Antonino havia morrido de uma parada respiratória como consequência do atropelamento na faixa de pedestres, ela começou a sentir as dores do parto e naquele dia Enzo nasceu. Que coisa estranha! O garoto nasceu no mesmo dia em que o pai dele morreu. No dia do sepultamento, um dia após o nascimento de Enzo, ainda incomodada pelos pontos, Daniela saiu escondida do hospital com o filho recém-nascido nos braços, ligou para Alex e com a ajuda dele conseguiu chegar a tempo no cemitério. Deixou o bebê no carro com o amigo e caminhou pelo piso
Rio de JaneiroAntonino Goldacci serviu-se de uma bebida no quarto de hotel, sentou na beirada da cama e aguardou. Não demorou muito e a mulher loura entrou e tirou o sobretudo exibindo a roupa que usava por baixo; estava vestida de enfermeira: usava uma touca branca na cabeça, um minúsculo vestido branco e um par de sapatos de saltos finos da mesma cor.Ela aproximou-se dele, ajoelhou e desceu o zíper da sua calça. Em seguida segurou seu pênis e o enfiou na boca quente e úmida, antes de começar a chupá-lo vorazmente.Ele segurou na sua cabeça com bastante força, fechou os olhos e aproveitou aquele momento. O prazer que ela lhe proporcionava era intenso, mas ele decidiu que queria mais, então a levantou, virou e a jogou na cama. Ela caiu de quatro, mostrando que não estava usando nada por baixo do vestido minúsculo. Ele colocou o preservativo e entrou nela. A mulher se remexia cada vez mais rápido, fazendo bem o seu papel. Depois de um tempo entrando e saindo dela, sentiu que o êxtas
O mês passou voando e a vida de Daniela parecia que tinha voltado ao normal. Acordava cedo, levava Enzo para a escola e ia trabalhar na Drogaria. Estava animada aquele dia e resolveu fazer uma visita inesperada. Parou na frente da academia onde Rafael trabalhava e entrou. Falou com a recepcionista e subiu um lance de escadas. A academia estava lotada, as salas ocupadas. Daniela parou na frente de uma sala envidraçada e ficou assistindo a uma aula de zumba cuja música ritmada ecoava pelo ambiente num ritmo gostoso e frenético. Lembrou-se do passado, quando fazia aulas de dança antes de a sua vida virar um caos com a doença da mãe.Subia mais um lance de escadas quando encontrou Rafael conversando com uma mulata que usava uma legging e um top curto, exibindo um corpo escultural maravilhoso. Ele a viu, se despediu da moça e veio cumprimentá-la.— Dani? Que surpresa! Beijaram-se.— Quem era a moça? — Daniela perguntou, curiosa.— Priscila, uma aluna da academia. Por quê? Está com ciúme
A música ao vivo era MPB. O som de voz e violão se espalhava pelo ambiente sensibilizando até os ouvidos mais insensíveis. Daniela e Valentina sentadas no bar numa orla bem movimentada, balançavam o corpo para cá e para lá enquanto bebiam cerveja.— Está vendo aquele cara gostoso ali de camisa amarela olhando para cá? Vou transar com ele ainda hoje — Valentina falou mordendo o lábio inferior.— Você é louca!Daniela não se surpreendia com as loucuras de Valentina; com ela cada minuto valia por um dia inteiro de emoção.— Tina, sair com você é uma verdadeira aventura. Não consigo esquecer daquela vez quando pegamos escondido a moto de Klaus Stein, depois a deixamos estacionada bem longe de nós enquanto tomávamos sorvete e ela foi roubada.— Nem me lembre disso. Foi a primeira vez que senti que a minha avó queria me dar uma surra. Daniela respirou profundamente lembrando de quando chegou na Itália sem conhecer nada, totalmente perdida, e foi acolhida pela avó de Valentina.— Dona Marin
Giorgio parou o carro ao longo do meio-fio e Antonino desceu na frente da escola, caminhando a passos largos. Se identificou na portaria e seguiu por um enorme pátio coberto. Na recepção, a moça loura, magra e baixinha o olhou de cima a baixo e deu um enorme sorriso antes de conduzi-lo até a sala da diretora.A sala estava vazia e ele sentou numa cadeira próxima à uma grande mesa. Ficou observando as imagens educativas na parede e as fotos dos grandes educadores que revolucionaram o ensino.De repente a porta foi aberta e uma mulher de meia-idade, sorridente, se aproximou. Antonino levantou e segurou a mão que ela lhe estendia.— Bom dia, sou Cristina, diretora da escola.— Toni Vannicola. — Quando não queria ser identificado, Antonino sempre usava o sobrenome da sua mãe.— Em que posso ajudá-lo, senhor?— Eu e minha esposa acabamos de nos mudar e estamos visitando algumas escolas para o nosso filho de quatro anos. — Sente-se, por favor. Tenho certeza de que depois que o senhor conh