Giorgio parou o carro ao longo do meio-fio e Antonino desceu na frente da escola, caminhando a passos largos. Se identificou na portaria e seguiu por um enorme pátio coberto. Na recepção, a moça loura, magra e baixinha o olhou de cima a baixo e deu um enorme sorriso antes de conduzi-lo até a sala da diretora.A sala estava vazia e ele sentou numa cadeira próxima à uma grande mesa. Ficou observando as imagens educativas na parede e as fotos dos grandes educadores que revolucionaram o ensino.De repente a porta foi aberta e uma mulher de meia-idade, sorridente, se aproximou. Antonino levantou e segurou a mão que ela lhe estendia.— Bom dia, sou Cristina, diretora da escola.— Toni Vannicola. — Quando não queria ser identificado, Antonino sempre usava o sobrenome da sua mãe.— Em que posso ajudá-lo, senhor?— Eu e minha esposa acabamos de nos mudar e estamos visitando algumas escolas para o nosso filho de quatro anos. — Sente-se, por favor. Tenho certeza de que depois que o senhor conh
Daniela chegou às seis da manhã na clínica, empurrando a cadeira de rodas de Rafael e se dirigiu para o salão da fisioterapia. O local estava cheio, ela posicionou a cadeira de rodas próxima a um banco e se sentou. Observando as expressões faciais de Rafael entendeu que ele estava sentindo dor.— Rafa, você tomou os medicamentos hoje?— Tomei, por quê?— Está sentindo dores?—Não, estou me sentindo eufórico, louco para correr na avenida — respondeu acidamente.Daniela fingiu não entender o ataque e prosseguiu:— Quer alguma coisa?— Quero que me deixe em paz! Está se comportando como se fosse a minha mãe.— Será que dá pra parar de me agredir e conversar como uma pessoa normal?Rafael deu uma gargalhada alta e disse com fúria:— Já deixei de ser normal há muito tempo. Agora eu sou essa aberração.— Não fale assim, Rafa. Isso não é verdade.— Então, você está comigo pelos meus movimentos graciosos, não é? Que piada! E fique sabendo de uma coisa: não preciso de você como babá.— Rafa,
Dentro do carro de aplicativo Valentina olhava pela janela admirando o dia bonito e ensolarado. Não quis contar para Daniela com quem ia encontrar-se porque sabia que a amiga certamente iria reprovar.Não mentiu quando disse que o carro havia quebrado, porém, não lhe contou os detalhes. E tudo havia começado exatamente duas semanas antes. Valentina fechou os olhos e reviveu o momento em que tudo começou.Acordara com o alarme do relógio digital. Sem abrir os olhos passou a mão sobre a mesinha de cabeceira e deu um tapa no relógio enquanto procurava o botão ao lado para desligá-lo. Um dia antes havia inaugurado a sua loja de lingerie dentro do shopping e logo após fechar o estabelecimento pegou o carro e desceu na frente de uma boate, a primeira que encontrou. Lá, ela bebeu bastante, dançou muito e transou como louca com um gringo bonitão que a levou para os fundos da danceteria.Por isso, estava com uma ressaca horrorosa; a cabeça parecia que ia explodir e seu corpo não lhe obedecia
Valentina saltou do carro de aplicativo na frente do hotel luxuoso, entrou e perguntou por Franco na recepção. A moça informou que ele estava participando de um congresso farmacêutico, na cobertura.Ela sentou e esperou, mas o tempo passava e ele não aparecia. Por duas vezes foi perguntar no balcão e a moça disse que ainda não havia terminado.Depois de duas horas viu homens e mulheres saindo dos elevadores com o nome das indústrias farmacêuticas nos crachás, puxando malas com rodinhas. De repente viu Franco sair de um dos elevadores e se dirigir para a saída, mas não estava só. Uma morena bonita com longos cabelos cacheados, usando um tubinho em tom pastel e sapatos de salto finíssimos o acompanhava. E eles estavam muito íntimos, abraçados e sorrindo.Valentina se levantou e Franco a viu. Ela o encarou, em seguida se encaminhou para a saída e entrou no taxi que estava estacionado ao longo do meio-fio. Viu Franco sair apressado e vir atrás dela, porém ordenou que o motorista partisse
Às oito da noite, Valentina estava pronta para sair. Olhou sua imagem no espelho grande do quarto se sentindo a deusa do sexo. Estava usando um vestido preto curto, sapatos de salto agulha e maquiagem caprichada. Saiu do apartamento, chamou o elevador e em alguns minutos estava na calçada do prédio onde morava. Um carro a aguardava. Abriu a porta do carona e entrou.— Você é mesmo pontual, Silvia — falou Valentina piscando para a colega. — Pontualíssima, querida.Silvia era magra, de pele morena bronzeada e cabelo comprido e liso. Trabalhava em uma loja de maquiagem dentro do shopping e as duas se conheceram almoçando todos os dias no mesmo horário na praça de alimentação. Um dia conversando, descobriram que gostavam da mesma coisa: sexo casual. E naquele momento estavam indo para uma festa na casa de amigos de Silvia.Depois de dez minutos Silvia estacionou o carro ao longo do meio-fio na frente de um restaurante elegante. As duas permaneceram dentro do carro.— A festa é aqui? — V
O dia amanheceu quente e abafado com o céu escuro em alguns pontos. Ao longe se ouvia o som de uma possível trovoada.Daniela deixou Enzo na escola e passou na casa de Rafael a fim de levá-lo para a fisioterapia, mas ele já havia saído. Ela seguiu para a clínica e foi tomar café na cantina enquanto ele terminava os exercícios. Estava esperando na recepção, sentada numa poltrona, folheando uma revista, quando Rafael saiu girando a cadeira de rodas.— Oi, Rafa — ela se levantou.Ele lhe dirigiu um olhar frio e disse secamente:— Oi.Seguiram em silêncio até o estacionamento. Depois que Rafael se acomodou no seu automóvel adaptado, Daniela disse:— Sinto muito por não ter aparecido no nosso encontro.O silêncio que se seguiu foi longo. Ela achou que ele não fosse responder, mas subitamente Rafael falou:— Existe uma coisa chamada telefone.Daniela pensou em caminhar até o seu carro que estava estacionado há poucos metros do carro de Rafael e ir embora para evitar mais problemas, porém, s
O carro foi deixado no estacionamento da danceteria enquanto Daniela e Valentina seguiam caminhando lado a lado pela calçada brilhante. Observando as luzes coloridas Daniela pensava em como as danceterias transmitiam um magnetismo eletrizante que embriagava os sentidos.Assim que entrou foi logo contagiada pela euforia do lugar. Não importava quantas vezes tivesse ido numa danceteria, mas cada vez que entrava por uma porta daquelas era como se fosse a primeira vez. Aquela era frequentada por pessoas comuns: estudantes em geral, moças e rapazes que depois de um dia de trabalho ou de faculdade chegavam ali a fim de se divertir na pista de dança.As amigas se encaminharam para o balcão e pediram duas bebidas, em seguida juntaram as taças e disseram ao mesmo tempo:— Saúde!— Hoje é sexta-feira e vamos nos divertir como nos velhos tempos — Valentina estava quase gritando por causa do barulho.— Como no dia em que pegamos escondido a moto do alemão nazista? — Daniela perguntou dando uma ga
Às cinco e trinta da tarde Daniela e Enzo estavam sentados na recepção da clínica aguardando a vez. Enzo passou a noite gemendo, com dores estomacais e Daniela mal esperou o dia amanhecer para ligar para o pediatra dele. Porém, o médico só iria atender à tarde.Desde que chegaram Enzo parecia estar melhor. Foi correndo para a salinha de brinquedos e ficou por lá com as outras crianças durante algum tempo e Daniela aproveitou para ler uma revista que estava na mesinha de centro. Mas, de repente, Enzo veio correndo, reclamando que as dores tinham voltado. Daniela colocou a cabecinha dele no colo e tentou fazê-lo relaxar.Naquele momento, cansada, ela observava as pessoas ao redor e voltava a divagar o pensamento olhando pela janela. Não era fácil criar um filho sozinha e ela não estava se referindo ao dinheiro. Percebeu isso claramente na noite anterior vendo o filho chorar de dor. O tempo passou e Daniela cochilou ali mesmo na sala cheia de gente.Percebeu vagamente que alguém a estav