Dentro do carro de aplicativo Valentina olhava pela janela admirando o dia bonito e ensolarado. Não quis contar para Daniela com quem ia encontrar-se porque sabia que a amiga certamente iria reprovar.Não mentiu quando disse que o carro havia quebrado, porém, não lhe contou os detalhes. E tudo havia começado exatamente duas semanas antes. Valentina fechou os olhos e reviveu o momento em que tudo começou.Acordara com o alarme do relógio digital. Sem abrir os olhos passou a mão sobre a mesinha de cabeceira e deu um tapa no relógio enquanto procurava o botão ao lado para desligá-lo. Um dia antes havia inaugurado a sua loja de lingerie dentro do shopping e logo após fechar o estabelecimento pegou o carro e desceu na frente de uma boate, a primeira que encontrou. Lá, ela bebeu bastante, dançou muito e transou como louca com um gringo bonitão que a levou para os fundos da danceteria.Por isso, estava com uma ressaca horrorosa; a cabeça parecia que ia explodir e seu corpo não lhe obedecia
Valentina saltou do carro de aplicativo na frente do hotel luxuoso, entrou e perguntou por Franco na recepção. A moça informou que ele estava participando de um congresso farmacêutico, na cobertura.Ela sentou e esperou, mas o tempo passava e ele não aparecia. Por duas vezes foi perguntar no balcão e a moça disse que ainda não havia terminado.Depois de duas horas viu homens e mulheres saindo dos elevadores com o nome das indústrias farmacêuticas nos crachás, puxando malas com rodinhas. De repente viu Franco sair de um dos elevadores e se dirigir para a saída, mas não estava só. Uma morena bonita com longos cabelos cacheados, usando um tubinho em tom pastel e sapatos de salto finíssimos o acompanhava. E eles estavam muito íntimos, abraçados e sorrindo.Valentina se levantou e Franco a viu. Ela o encarou, em seguida se encaminhou para a saída e entrou no taxi que estava estacionado ao longo do meio-fio. Viu Franco sair apressado e vir atrás dela, porém ordenou que o motorista partisse
Às oito da noite, Valentina estava pronta para sair. Olhou sua imagem no espelho grande do quarto se sentindo a deusa do sexo. Estava usando um vestido preto curto, sapatos de salto agulha e maquiagem caprichada. Saiu do apartamento, chamou o elevador e em alguns minutos estava na calçada do prédio onde morava. Um carro a aguardava. Abriu a porta do carona e entrou.— Você é mesmo pontual, Silvia — falou Valentina piscando para a colega. — Pontualíssima, querida.Silvia era magra, de pele morena bronzeada e cabelo comprido e liso. Trabalhava em uma loja de maquiagem dentro do shopping e as duas se conheceram almoçando todos os dias no mesmo horário na praça de alimentação. Um dia conversando, descobriram que gostavam da mesma coisa: sexo casual. E naquele momento estavam indo para uma festa na casa de amigos de Silvia.Depois de dez minutos Silvia estacionou o carro ao longo do meio-fio na frente de um restaurante elegante. As duas permaneceram dentro do carro.— A festa é aqui? — V
O dia amanheceu quente e abafado com o céu escuro em alguns pontos. Ao longe se ouvia o som de uma possível trovoada.Daniela deixou Enzo na escola e passou na casa de Rafael a fim de levá-lo para a fisioterapia, mas ele já havia saído. Ela seguiu para a clínica e foi tomar café na cantina enquanto ele terminava os exercícios. Estava esperando na recepção, sentada numa poltrona, folheando uma revista, quando Rafael saiu girando a cadeira de rodas.— Oi, Rafa — ela se levantou.Ele lhe dirigiu um olhar frio e disse secamente:— Oi.Seguiram em silêncio até o estacionamento. Depois que Rafael se acomodou no seu automóvel adaptado, Daniela disse:— Sinto muito por não ter aparecido no nosso encontro.O silêncio que se seguiu foi longo. Ela achou que ele não fosse responder, mas subitamente Rafael falou:— Existe uma coisa chamada telefone.Daniela pensou em caminhar até o seu carro que estava estacionado há poucos metros do carro de Rafael e ir embora para evitar mais problemas, porém, s
O carro foi deixado no estacionamento da danceteria enquanto Daniela e Valentina seguiam caminhando lado a lado pela calçada brilhante. Observando as luzes coloridas Daniela pensava em como as danceterias transmitiam um magnetismo eletrizante que embriagava os sentidos.Assim que entrou foi logo contagiada pela euforia do lugar. Não importava quantas vezes tivesse ido numa danceteria, mas cada vez que entrava por uma porta daquelas era como se fosse a primeira vez. Aquela era frequentada por pessoas comuns: estudantes em geral, moças e rapazes que depois de um dia de trabalho ou de faculdade chegavam ali a fim de se divertir na pista de dança.As amigas se encaminharam para o balcão e pediram duas bebidas, em seguida juntaram as taças e disseram ao mesmo tempo:— Saúde!— Hoje é sexta-feira e vamos nos divertir como nos velhos tempos — Valentina estava quase gritando por causa do barulho.— Como no dia em que pegamos escondido a moto do alemão nazista? — Daniela perguntou dando uma ga
Às cinco e trinta da tarde Daniela e Enzo estavam sentados na recepção da clínica aguardando a vez. Enzo passou a noite gemendo, com dores estomacais e Daniela mal esperou o dia amanhecer para ligar para o pediatra dele. Porém, o médico só iria atender à tarde.Desde que chegaram Enzo parecia estar melhor. Foi correndo para a salinha de brinquedos e ficou por lá com as outras crianças durante algum tempo e Daniela aproveitou para ler uma revista que estava na mesinha de centro. Mas, de repente, Enzo veio correndo, reclamando que as dores tinham voltado. Daniela colocou a cabecinha dele no colo e tentou fazê-lo relaxar.Naquele momento, cansada, ela observava as pessoas ao redor e voltava a divagar o pensamento olhando pela janela. Não era fácil criar um filho sozinha e ela não estava se referindo ao dinheiro. Percebeu isso claramente na noite anterior vendo o filho chorar de dor. O tempo passou e Daniela cochilou ali mesmo na sala cheia de gente.Percebeu vagamente que alguém a estav
Antonino havia chegado bem cedo ao Rio de Janeiro. Estacionou o carro na frente do hotel luxuoso e deu a chave para o manobrista. Depois se dirigiu para o hall de entrada e seguiu para o elevador, sempre olhando para os lados. Mesmo tendo se vestido discretamente com calça jeans, camisa de malha e boné, ele procurava se manter em alerta. Os seus seguranças vinham um pouco atrás, disfarçados.Quando o elevador parou no último andar ele saltou e caminhou pelo longo corredor até encontrar a porta e acionar a campainha. O advogado Ricardo Aliotti abriu a porta e o convidou para entrar. Depois de se cumprimentarem, Antonino se sentou na poltrona de frente para uma enorme janela e observou Ricardo sentar à sua frente. — Sinto importuná-lo, senhor Goldacci, mas foi necessário chamá-lo aqui porque não acho seguro enviar documentos pelo computador.— Está tudo pronto? — Antonino perguntou querendo abreviar a conversa.— Sim. O senhor só precisa ler e assinar.O advogado passou os papeis à Ant
Caminhando devagarinho, tensa, Daniela seguiu pelo corredor segurando com força a mão do filho e abriu a última porta. O médico levantou-se e veio cumprimentá-la. Aparentava mais de sessenta anos, porém era um homem robusto, de movimentos ágeis. O hematologista Mauricio Saldanha fora indicado pelo pediatra de Enzo para fazer uma análise mais aprofundada dos exames do garoto. Segundo ele, Mauricio era o melhor na sua área de atuação. — Bom dia — Mauricio Saldanha a cumprimentou com um largo sorriso no rosto.— Bom dia, doutor Saldanha. Sou Daniela Rivera e este é meu filho Enzo.— Em que posso ajudá-los? — perguntou, enquanto apontava para duas cadeiras à frente da sua mesa.Daniela sentou e entregou os exames de Enzo, ao mesmo tempo em que explicava o motivo de estar ali: o pediatra de Enzo alertara anteriormente que houve uma pequena alteração nos exames de sangue dele e isso a deixou preocupada a ponto de ela perder o sono. Ela falou também que o pai de Enzo sofria de uma anemia p