Caminhando devagarinho, tensa, Daniela seguiu pelo corredor segurando com força a mão do filho e abriu a última porta. O médico levantou-se e veio cumprimentá-la. Aparentava mais de sessenta anos, porém era um homem robusto, de movimentos ágeis. O hematologista Mauricio Saldanha fora indicado pelo pediatra de Enzo para fazer uma análise mais aprofundada dos exames do garoto. Segundo ele, Mauricio era o melhor na sua área de atuação. — Bom dia — Mauricio Saldanha a cumprimentou com um largo sorriso no rosto.— Bom dia, doutor Saldanha. Sou Daniela Rivera e este é meu filho Enzo.— Em que posso ajudá-los? — perguntou, enquanto apontava para duas cadeiras à frente da sua mesa.Daniela sentou e entregou os exames de Enzo, ao mesmo tempo em que explicava o motivo de estar ali: o pediatra de Enzo alertara anteriormente que houve uma pequena alteração nos exames de sangue dele e isso a deixou preocupada a ponto de ela perder o sono. Ela falou também que o pai de Enzo sofria de uma anemia p
Na segunda-feira, Daniela conduziu Rafael para a fisioterapia e o viu fazer exercícios mais avançados. Ele levantou da cadeira de rodas com ajuda do fisioterapeuta, mas não conseguiu ficar muito tempo de pé e Daniela viu a decepção no semblante dele, mas aplaudiu e deu um sorriso para animá-lo. Ele ainda tinha o físico bonito e forte, mas se demorasse muito tempo sem caminhar a tendência era ir atrofiando. Daniela aprendeu a amar Rafael, mas era um amor diferente; era quase como amar um irmão.Quando chegaram à casa dele, jogaram cartas e viram televisão, enquanto a enfermeira não aparecia. — Por que não fica e passa a noite aqui comigo? — Rafael perguntou enquanto beijava a mão dela.— Sabe que não posso, Rafa. Tenho uma criança pequena em casa.— Eu estava pensando que qualquer dia desses a gente podia fazer um piquenique; eu, você e o Enzo — Rafael falou com entusiasmo.— É uma excelente ideia.Rafael ajustou a cadeira de rodas para mais perto do sofá e perguntou:— Já disse hoje
Antonino acabara de descer do seu jatinho na sua ilha particular às onze da manhã. Olhou para cima dos rochedos e avistou a casa; ela era quadrada, com paredes de vidro que proporcionavam muita luminosidade e o terreno tinha um suave declive para o mar. Ele subiu pelos degraus rochosos até alcançar a varanda lá em cima e passou pela sala. Atravessou o cômodo e sentou do outro lado da varanda, onde podia ver a parte deserta da ilha, que era também o lugar mais bonito.Tinha o privilégio de ver aquele paraíso através da varanda da sua casa todos os dias desde que se mudara para lá. Ali, o nascer e o pôr do sol eram lindos e o faziam esquecer dos problemas que estavam por vir.Havia comprado aquela ilha há dez anos e a visitara muito pouco. Só ia ali quando vinha da Itália para participar das reuniões na filial da empresa que ficava no Rio de Janeiro. Escolheu comprar uma ilha na Bahia por causa das paisagens paradisíacas que tanto lembravam as praias da Itália.A casa era muito grande
Faltavam quinze para as nove da manhã quando Valentina entrou no salão de beleza. Dez minutos depois estava com o cabelo cheio de creme, quando Silvia empurrou a porta e atravessou o cômodo sentando-se ao seu lado. Valentina tirou os olhos da revista que estava lendo e dardejou-lhe um olhar penetrante, em seguida voltou para a sua leitura.Enquanto a manicure cuidava das unhas de Silvia, esta falou sussurrando para Valentina:— Precisamos conversar.— E quem foi que disse que eu quero conversar com você? — Valentina respondeu dura e seca.— Não seja infantil. Você sabia muito bem aonde íamos e o que íamos fazer.— O cara quase me estuprou! — Valentina falou em voz alta chamando atenção das clientes do estabelecimento.— E eu não tenho culpa — Silvia murmurou.— Será que você pode me deixar em paz? — Valentina rosnou.— Você não entra mais na loja em que trabalho, não me dirige mais a palavra na praça de alimentação. O que quer que eu faça?— Não quero nada de você. Só quero que me esq
Valentina saía do banco naquele momento quando viu o Mercedes parado e Franco encostado no automóvel. Quando ela se aproximou, ele sem dizer uma palavra sequer abriu a porta do carro. Ela entrou e sentou no banco macio e confortável do carona, enquanto ele fechava a porta com delicadeza, dava a volta e sentava ao volante.Enquanto dirigia ele falou apenas sobre o tempo e o calor. Conversaram amenidades e riram, porém ela o analisava o tempo todo. Gostava de Franco; gostava mais do que devia.Ele parou o Mercedes na frente de um hotel luxuoso e disse a encarando:— Já te fiz essa pergunta uma vez, mas vou fazer de novo: você me quer?Ela corou. Não de timidez, mas do calor que subiu pelo seu corpo e lhe afogueou o rosto.— Vem comigo? — Franco perguntou com os olhos fixos nela.Ela permaneceu calada. Passou a língua nos lábios para provocá-lo. Ele continuou:— Desde que te reencontrei tudo o que penso é ter você em meus braços.Aquela conversa funcionava como choques elétricos passando
O motorista encostou o carro do lado de fora do enorme prédio envidraçado e Daniela saltou, usando um vestido longo azul royal, acompanhada por Valentina que usava um vestido vermelho.Caminharam em direção ao hall de entrada, passaram pela segurança e Valentina sorriu para Eduardo e Albertina, o casal de idoso, na faixa dos setenta e poucos anos, que a havia convidado para aquela festa beneficente e a esperavam em frente aos elevadores. Ambos eram totalmente grisalhos, mas ainda estavam cheios de energias para frequentar festas. Tinham uma loja de aluguel de roupas bem em frente à loja de Valentina e arranjavam muitos clientes para ela, por isso foi difícil para Valentina dizer não.Daniela sentia seus saltos finos e pontiagudos deslizarem pelo piso de mármore polido. Não estava acostumada a frequentar festas elegantes e se sentia um pouco desconfortável. Só estava ali por causa de Valentina que ultimamente andava um pouco melancólica desde que tinha acabado o flerte com Franco. Se b
Quando a porta foi aberta, Daniela estava totalmente despreparada para ver a pessoa que surgiu à sua frente. No momento em que Antonino entrou no quarto usando terno escuro e sapatos pretos, Daniela começou a tremer e chorar. Sem acreditar no que estava vendo deu um passo para trás e se apoiou na parede para não cair. O que via não era real. Com certeza havia sido drogada e estava tendo alucinações, mas não conseguia tirar os olhos da imagem dele que caminhava na sua direção, com a graça e a elegância que ela conhecia tão bem.Antonino parou bem pertinho e ela sentiu o seu hálito de menta, quando ele abriu a boca e disse:— Senti tanta saudade!— Oh, meu Deus! Não pode ser verdade... você está morto!— Estou aqui com você, agora.Daniela se encolheu e disse entre soluços:— Não é você. Eu estou louca!Ele fez um carinho no rosto dela com as costas da mão e disse num sussurro:— Eu sou real e você não é louca.Então ela teve consciência de que não estava perdendo o juízo e naquele mom
Horas depois, de volta à ilha, Antonino saltou do barco. Caminhou pelo píer, usando camiseta, bermuda e sandália. Em seguida pisou na areia e foi em direção à Daniela. Ela estava sentada em uma rocha, com o vestido longo levantado até o joelho e jogava conchinhas de volta ao mar. Quando o viu ela se levantou e Antonino a puxou pela cintura e a beijou, encostando-a nas rochas altas. Daniela pôs os braços ao redor do pescoço dele e entregou-se aos seus carinhos. Beijaram-se longamente, em seguida Antonino disse:— Precisamos conversar sobre o nosso filho. — Sim, precisamos.— Quero trazê-lo para cá.— Não! — Daniela falou alto.— Por que não?— Por que o Enzo não pode ficar sem mim.— Você está aqui. É minha esposa. Somos casados.— Sim, somos casados, mas não é tão simples. Para todos, você morreu.— Está preocupada com o personal que está na cadeira de rodas? — Antonino perguntou e viu o olhar espantado dela.— Andava me espionando? — Daniela perguntou, desconfiada.— Eu sempre esti