Antonino acabara de descer do seu jatinho na sua ilha particular às onze da manhã. Olhou para cima dos rochedos e avistou a casa; ela era quadrada, com paredes de vidro que proporcionavam muita luminosidade e o terreno tinha um suave declive para o mar. Ele subiu pelos degraus rochosos até alcançar a varanda lá em cima e passou pela sala. Atravessou o cômodo e sentou do outro lado da varanda, onde podia ver a parte deserta da ilha, que era também o lugar mais bonito.Tinha o privilégio de ver aquele paraíso através da varanda da sua casa todos os dias desde que se mudara para lá. Ali, o nascer e o pôr do sol eram lindos e o faziam esquecer dos problemas que estavam por vir.Havia comprado aquela ilha há dez anos e a visitara muito pouco. Só ia ali quando vinha da Itália para participar das reuniões na filial da empresa que ficava no Rio de Janeiro. Escolheu comprar uma ilha na Bahia por causa das paisagens paradisíacas que tanto lembravam as praias da Itália.A casa era muito grande
Faltavam quinze para as nove da manhã quando Valentina entrou no salão de beleza. Dez minutos depois estava com o cabelo cheio de creme, quando Silvia empurrou a porta e atravessou o cômodo sentando-se ao seu lado. Valentina tirou os olhos da revista que estava lendo e dardejou-lhe um olhar penetrante, em seguida voltou para a sua leitura.Enquanto a manicure cuidava das unhas de Silvia, esta falou sussurrando para Valentina:— Precisamos conversar.— E quem foi que disse que eu quero conversar com você? — Valentina respondeu dura e seca.— Não seja infantil. Você sabia muito bem aonde íamos e o que íamos fazer.— O cara quase me estuprou! — Valentina falou em voz alta chamando atenção das clientes do estabelecimento.— E eu não tenho culpa — Silvia murmurou.— Será que você pode me deixar em paz? — Valentina rosnou.— Você não entra mais na loja em que trabalho, não me dirige mais a palavra na praça de alimentação. O que quer que eu faça?— Não quero nada de você. Só quero que me esq
Valentina saía do banco naquele momento quando viu o Mercedes parado e Franco encostado no automóvel. Quando ela se aproximou, ele sem dizer uma palavra sequer abriu a porta do carro. Ela entrou e sentou no banco macio e confortável do carona, enquanto ele fechava a porta com delicadeza, dava a volta e sentava ao volante.Enquanto dirigia ele falou apenas sobre o tempo e o calor. Conversaram amenidades e riram, porém ela o analisava o tempo todo. Gostava de Franco; gostava mais do que devia.Ele parou o Mercedes na frente de um hotel luxuoso e disse a encarando:— Já te fiz essa pergunta uma vez, mas vou fazer de novo: você me quer?Ela corou. Não de timidez, mas do calor que subiu pelo seu corpo e lhe afogueou o rosto.— Vem comigo? — Franco perguntou com os olhos fixos nela.Ela permaneceu calada. Passou a língua nos lábios para provocá-lo. Ele continuou:— Desde que te reencontrei tudo o que penso é ter você em meus braços.Aquela conversa funcionava como choques elétricos passando
O motorista encostou o carro do lado de fora do enorme prédio envidraçado e Daniela saltou, usando um vestido longo azul royal, acompanhada por Valentina que usava um vestido vermelho.Caminharam em direção ao hall de entrada, passaram pela segurança e Valentina sorriu para Eduardo e Albertina, o casal de idoso, na faixa dos setenta e poucos anos, que a havia convidado para aquela festa beneficente e a esperavam em frente aos elevadores. Ambos eram totalmente grisalhos, mas ainda estavam cheios de energias para frequentar festas. Tinham uma loja de aluguel de roupas bem em frente à loja de Valentina e arranjavam muitos clientes para ela, por isso foi difícil para Valentina dizer não.Daniela sentia seus saltos finos e pontiagudos deslizarem pelo piso de mármore polido. Não estava acostumada a frequentar festas elegantes e se sentia um pouco desconfortável. Só estava ali por causa de Valentina que ultimamente andava um pouco melancólica desde que tinha acabado o flerte com Franco. Se b
Quando a porta foi aberta, Daniela estava totalmente despreparada para ver a pessoa que surgiu à sua frente. No momento em que Antonino entrou no quarto usando terno escuro e sapatos pretos, Daniela começou a tremer e chorar. Sem acreditar no que estava vendo deu um passo para trás e se apoiou na parede para não cair. O que via não era real. Com certeza havia sido drogada e estava tendo alucinações, mas não conseguia tirar os olhos da imagem dele que caminhava na sua direção, com a graça e a elegância que ela conhecia tão bem.Antonino parou bem pertinho e ela sentiu o seu hálito de menta, quando ele abriu a boca e disse:— Senti tanta saudade!— Oh, meu Deus! Não pode ser verdade... você está morto!— Estou aqui com você, agora.Daniela se encolheu e disse entre soluços:— Não é você. Eu estou louca!Ele fez um carinho no rosto dela com as costas da mão e disse num sussurro:— Eu sou real e você não é louca.Então ela teve consciência de que não estava perdendo o juízo e naquele mom
Horas depois, de volta à ilha, Antonino saltou do barco. Caminhou pelo píer, usando camiseta, bermuda e sandália. Em seguida pisou na areia e foi em direção à Daniela. Ela estava sentada em uma rocha, com o vestido longo levantado até o joelho e jogava conchinhas de volta ao mar. Quando o viu ela se levantou e Antonino a puxou pela cintura e a beijou, encostando-a nas rochas altas. Daniela pôs os braços ao redor do pescoço dele e entregou-se aos seus carinhos. Beijaram-se longamente, em seguida Antonino disse:— Precisamos conversar sobre o nosso filho. — Sim, precisamos.— Quero trazê-lo para cá.— Não! — Daniela falou alto.— Por que não?— Por que o Enzo não pode ficar sem mim.— Você está aqui. É minha esposa. Somos casados.— Sim, somos casados, mas não é tão simples. Para todos, você morreu.— Está preocupada com o personal que está na cadeira de rodas? — Antonino perguntou e viu o olhar espantado dela.— Andava me espionando? — Daniela perguntou, desconfiada.— Eu sempre esti
Ao ficar sozinha no quarto, após a partida de Antonino, Daniela refletiu sobre a loucura que estava acontecendo com ela. Passar a noite fora deixando em casa um filho pequeno de quatro anos nunca foi coisa que esteve nos seus planos, mas o que poderia ter feito? Agora estava ali com as emoções confusas; feliz em saber que Antonino estava vivo e ao mesmo tempo apreensiva, pois sabia que a sua vida a partir daquele momento mudaria completamente.As coisas entre ela e Antonino nunca foram fáceis. Ela nunca o teve por inteiro. Havia sempre algo inacabado, coisas para ele resolver e ela nunca foi a primeira opção. Pegou o telefone e viu que tinha várias ligações perdidas de Valentina e também de Carmem. Ligou para Valentina e caiu na caixa de mensagem, em seguida ligou para Carmem. Depois do segundo toque ouviu a voz apreensiva:— Daniela? Por Deus, aonde você está?— Carmem, estarei ainda hoje em casa. Liguei para saber do Enzo.— Enzo está bem. Mas e você? — Carmem perguntou com voz t
Quando abriu os olhos, Daniela estava numa cama de hospital. O recinto dava a impressão de estar rodopiando. Um cheiro acre de produtos químicos impregnou nas suas narinas. O cheiro lembrava-lhe uma experiência vivida e já esquecida. Tão remoto, e no entanto, tão familiar, aquele cheiro a fazia querer pular da cama do hospital e sair correndo.A primeira pessoa que viu foi Valentina, mas não a reconheceu.— Dani! Está tudo bem. Fica calma! — Valentina a confortava.— Quem é você? — Daniela perguntou, sem noção de nada.— Sou Valentina, sua amiga; não se lembra? Trouxeram você para cá há dois dias. Chegou inconsciente e só agora está voltando a si. O médico acha que se trata de um milagre. De acordo com os que viram o local do acidente, você devia estar morta. Quando uma turma de socorro trouxe você para cá, estava inconsciente e cheia de contusões, mas felizmente não havia fraturas. O motorista, no entanto, não teve a mesma sorte.— Motorista?— Sim, o chofer que dirigia o carro. Ele