Horas depois, de volta à ilha, Antonino saltou do barco. Caminhou pelo píer, usando camiseta, bermuda e sandália. Em seguida pisou na areia e foi em direção à Daniela. Ela estava sentada em uma rocha, com o vestido longo levantado até o joelho e jogava conchinhas de volta ao mar. Quando o viu ela se levantou e Antonino a puxou pela cintura e a beijou, encostando-a nas rochas altas. Daniela pôs os braços ao redor do pescoço dele e entregou-se aos seus carinhos. Beijaram-se longamente, em seguida Antonino disse:— Precisamos conversar sobre o nosso filho. — Sim, precisamos.— Quero trazê-lo para cá.— Não! — Daniela falou alto.— Por que não?— Por que o Enzo não pode ficar sem mim.— Você está aqui. É minha esposa. Somos casados.— Sim, somos casados, mas não é tão simples. Para todos, você morreu.— Está preocupada com o personal que está na cadeira de rodas? — Antonino perguntou e viu o olhar espantado dela.— Andava me espionando? — Daniela perguntou, desconfiada.— Eu sempre esti
Ao ficar sozinha no quarto, após a partida de Antonino, Daniela refletiu sobre a loucura que estava acontecendo com ela. Passar a noite fora deixando em casa um filho pequeno de quatro anos nunca foi coisa que esteve nos seus planos, mas o que poderia ter feito? Agora estava ali com as emoções confusas; feliz em saber que Antonino estava vivo e ao mesmo tempo apreensiva, pois sabia que a sua vida a partir daquele momento mudaria completamente.As coisas entre ela e Antonino nunca foram fáceis. Ela nunca o teve por inteiro. Havia sempre algo inacabado, coisas para ele resolver e ela nunca foi a primeira opção. Pegou o telefone e viu que tinha várias ligações perdidas de Valentina e também de Carmem. Ligou para Valentina e caiu na caixa de mensagem, em seguida ligou para Carmem. Depois do segundo toque ouviu a voz apreensiva:— Daniela? Por Deus, aonde você está?— Carmem, estarei ainda hoje em casa. Liguei para saber do Enzo.— Enzo está bem. Mas e você? — Carmem perguntou com voz t
Quando abriu os olhos, Daniela estava numa cama de hospital. O recinto dava a impressão de estar rodopiando. Um cheiro acre de produtos químicos impregnou nas suas narinas. O cheiro lembrava-lhe uma experiência vivida e já esquecida. Tão remoto, e no entanto, tão familiar, aquele cheiro a fazia querer pular da cama do hospital e sair correndo.A primeira pessoa que viu foi Valentina, mas não a reconheceu.— Dani! Está tudo bem. Fica calma! — Valentina a confortava.— Quem é você? — Daniela perguntou, sem noção de nada.— Sou Valentina, sua amiga; não se lembra? Trouxeram você para cá há dois dias. Chegou inconsciente e só agora está voltando a si. O médico acha que se trata de um milagre. De acordo com os que viram o local do acidente, você devia estar morta. Quando uma turma de socorro trouxe você para cá, estava inconsciente e cheia de contusões, mas felizmente não havia fraturas. O motorista, no entanto, não teve a mesma sorte.— Motorista?— Sim, o chofer que dirigia o carro. Ele
Antonino ligou para Franco, enquanto se vestia na frente do espelho.— Algum sinal dele, Franco? — a voz de Antonino tinha um tom áspero, de poucos amigos.— Ainda não, primo — Ouviu a voz de Franco tão audível como se estivesse ao seu lado.— Vamos agilizar o processo. Esse desgraçado tem que sumir da face da terra o mais rápido possível e eu mesmo quero fazer isso. Só me avise quando encontrá-lo.— Concordo que dessa vez ele foi longe demais — Franco falou.— Ele não fez isso com qualquer pessoa, Franco. Ele tentou matar a minha mulher. Eu vou pegar esse cara; eu mesmo.— Fica frio. Ele não vai se esconder para sempre.— A gente se vê daqui a pouco.Antonino terminou de se vestir, abriu a porta do quarto e desceu as escadas. Encontrou Conchita na sala de jantar e disse:— Cuide bem dela, Conchita. — Sim, senhor Goldacci. Não se preocupe com nada.— Rosa chegará em breve para organizar tudo.— Está bem, senhor.Antonino entrou no seu jatinho particular e em menos de uma hora estava
Dois meses se passaram desde o acidente de Daniela. Ela perdera a memória completamente e não reconhecia Antonino como seu marido, por isso, cada um tinha o seu próprio quarto. Antonino trouxe Enzo e Carmem para viver com eles. Porém, depois de duas semanas, Carmem teve que partir; foi chamada para cuidar de Angélica, a sua nora, que estava numa gravidez de alto risco.E naquela manhã, Daniela acordou e permaneceu um bom tempo de olhos fechados, sem coragem para levantar-se. Ao se virar para o lado abraçou um corpinho quente e macio e quando abriu os olhos lá estava o garoto deitado ao seu lado, com os olhos grandes fixados nela.Mesmo sem conseguir lembrar de nada Daniela sentia um carinho enorme por aquela criança que a chamava de mãe. Permaneceu imóvel, olhando para o menino de olhos castanhos e cabelos escuros.— Estou com fome, mamãe.Daniela levantou da cama e fez sua higiene matinal. Quando retornou para o quarto, estendeu a mão para Enzo que estava sentado na cama. O garoto s
Quando desceu para jantar, usando um vestido curto de malha e sandálias, Daniela sentou sozinha na mesa enorme da sala de jantar. Certamente Antonino já deveria ter saído para a sua reunião de negócios. Os dois empregados como sempre, estavam ao lado da mesa como soldados, numa posição de sentido. Ela não estava com muita fome; comeu alguma coisa muito rápido e voltou para o quarto.Ficou na janela observando a noite e ouvindo o barulho do mar. Os pensamentos tumultuavam o seu cérebro. Queria se lembrar de alguma coisa do seu passado com Antonino para chegar a alguma conclusão sobre eles dois, mas tudo permanecia em total escuridão. Porém, mesmo sem memória, ela sentia que havia algo muito forte entre eles. Quando ele chegava perto, o coração dela pulava e uma corrente elétrica atravessava o seu corpo, causando-lhe tremores. A noite estava quente e Daniela resolveu sair da casa. Já do lado de fora sentou nos degraus de pedra e contemplou a beleza daquela noite. O mar estava barulhen
O neuropsiquiatra chegou à ilha no dia seguinte. O doutor Rodrigo Mascarenhas era um homem na faixa dos cinquenta e poucos anos, alto e forte, com barba e cabelos grisalhos. Daniela o levou ao cômodo espaçoso no terceiro andar, lugar que havia sido preparado para o tratamento.Na antessala havia um sofá, uma mesa e um armário com várias gavetas. Mas havia também a segunda sala anexada à primeira. O segundo cômodo tinha paredes brancas e persianas nas janelas; havia uma poltrona reclinável e logo à frente, um sofá bastante confortável. E sobre uma mesinha de canto havia seringas descartáveis e materiais de primeiros socorros.Daniela estava ansiosa para começar o tratamento, porque o que mais desejava era ter a sua memória de volta para poder desfrutar de uma vida normal.***Daniela e Antonino passaram o dia sem conseguir ficar a sós devido à movimentação que estava acontecendo por causa da chegada do médico. Mas mesmo que estivessem sozinhos ela não saberia o que dizer a ele. Depois
Depois da chegada de Rosa a vida de Daniela ficou um pouco mais calma e ela passava a maior parte do dia fazendo caminhada pela ilha. Um dia, subiu numa pedra bem alta e percebeu que havia uma movimentação de pessoas na ilha vizinha. Conchita havia lhe dito certa vez que a feira da ilha era aos sábados.E naquela manhã Daniela se preparou para um pouco de diversão. Vestiu short e camiseta, calçou havaianas, em seguida desceu com Enzo no colo e o colocou dentro do barco. Viu o olhar inquisidor do segurança e disse:— Só vou dar uma volta de barco com o meu filho. Não se preocupe, vamos ficar bem.Ligou o motor e se dirigiu para a ilha vizinha. Chegou lá em quarenta minutos. Amarrou o barco e caminhou com o filho sobre as madeiras do píer, em seguida pisou na areia macia. O dia estava quente e bonito, com o céu azul sem nuvens. Enzo, como sempre, parecia feliz e tranquilo. Ela olhou para trás e viu ao longe o segurança dentro de um barco, vigiando-a.Depois de uma caminhada prazerosa o