Quando desceu para jantar, usando um vestido curto de malha e sandálias, Daniela sentou sozinha na mesa enorme da sala de jantar. Certamente Antonino já deveria ter saído para a sua reunião de negócios. Os dois empregados como sempre, estavam ao lado da mesa como soldados, numa posição de sentido. Ela não estava com muita fome; comeu alguma coisa muito rápido e voltou para o quarto.Ficou na janela observando a noite e ouvindo o barulho do mar. Os pensamentos tumultuavam o seu cérebro. Queria se lembrar de alguma coisa do seu passado com Antonino para chegar a alguma conclusão sobre eles dois, mas tudo permanecia em total escuridão. Porém, mesmo sem memória, ela sentia que havia algo muito forte entre eles. Quando ele chegava perto, o coração dela pulava e uma corrente elétrica atravessava o seu corpo, causando-lhe tremores. A noite estava quente e Daniela resolveu sair da casa. Já do lado de fora sentou nos degraus de pedra e contemplou a beleza daquela noite. O mar estava barulhen
O neuropsiquiatra chegou à ilha no dia seguinte. O doutor Rodrigo Mascarenhas era um homem na faixa dos cinquenta e poucos anos, alto e forte, com barba e cabelos grisalhos. Daniela o levou ao cômodo espaçoso no terceiro andar, lugar que havia sido preparado para o tratamento.Na antessala havia um sofá, uma mesa e um armário com várias gavetas. Mas havia também a segunda sala anexada à primeira. O segundo cômodo tinha paredes brancas e persianas nas janelas; havia uma poltrona reclinável e logo à frente, um sofá bastante confortável. E sobre uma mesinha de canto havia seringas descartáveis e materiais de primeiros socorros.Daniela estava ansiosa para começar o tratamento, porque o que mais desejava era ter a sua memória de volta para poder desfrutar de uma vida normal.***Daniela e Antonino passaram o dia sem conseguir ficar a sós devido à movimentação que estava acontecendo por causa da chegada do médico. Mas mesmo que estivessem sozinhos ela não saberia o que dizer a ele. Depois
Depois da chegada de Rosa a vida de Daniela ficou um pouco mais calma e ela passava a maior parte do dia fazendo caminhada pela ilha. Um dia, subiu numa pedra bem alta e percebeu que havia uma movimentação de pessoas na ilha vizinha. Conchita havia lhe dito certa vez que a feira da ilha era aos sábados.E naquela manhã Daniela se preparou para um pouco de diversão. Vestiu short e camiseta, calçou havaianas, em seguida desceu com Enzo no colo e o colocou dentro do barco. Viu o olhar inquisidor do segurança e disse:— Só vou dar uma volta de barco com o meu filho. Não se preocupe, vamos ficar bem.Ligou o motor e se dirigiu para a ilha vizinha. Chegou lá em quarenta minutos. Amarrou o barco e caminhou com o filho sobre as madeiras do píer, em seguida pisou na areia macia. O dia estava quente e bonito, com o céu azul sem nuvens. Enzo, como sempre, parecia feliz e tranquilo. Ela olhou para trás e viu ao longe o segurança dentro de um barco, vigiando-a.Depois de uma caminhada prazerosa o
Antonino viajou na manhã seguinte e passou cinco dias fora. Quando retornou Daniela e ele pouco se falaram por causa das muitas reuniões que ele fazia, trancado na biblioteca com os seguranças.E enfim, chegou o dia da festa. Há tempos que Antonino evitava ir a festas e eventos, mas aquela era muito importante porque os duzentos convidados selecionados eram pessoas importantes para os negócios da Goldacci Indústria Farmacêutica.E quanto à Daniela, ela estava feliz porque finalmente pôde sair da ilha. Estava muito elegante dentro de um vestido longo verde e Antonino de smoking; e como sempre, era o homem mais cobiçado pelas mulheres e invejado pelos outros homens.Quando entraram todos se voltaram para observá-los.Fernando Barbosa e sua esposa, Maria Clara, vieram recebê-los. Daniela observou como o contraste físico deixava o casal bastante interessante. Fernando Barbosa era alto, loiro e elegante, se bem que Daniela o achou magro demais para a sua altura. A esposa, baixinha e morena
No dia seguinte, após a festa na casa de Fernando Barbosa, Daniela viu Franco chegar bem cedo e se trancar com Antonino na biblioteca para uma reunião secreta, como era de costume. Valentina avisou que iria visitá-la e Daniela mandou um segurança com o barco, mas como ainda não haviam chegado, ela almoçou na companhia de Rosa. Depois do almoço Daniela desceu em direção à praia. Naquele dia o sol estava a pino, o céu estava sem nuvens e o mar continuava agitado e belo com suas águas espumantes batendo forte de encontro as rochas.Caminhou para longe e se sentou na areia debaixo de uma amendoeira para pôr em ordem os pensamentos. Sua memória estava retornando aos poucos através de sonhos ou mesmo de alguns flashes quando ela estava acordada. O neuropsiquiatra havia lhe dito que ela estava a caminho da cura.Porém, o desânimo amargava os seus dias. Na verdade, nem sabia se estava ali apenas por causa do acidente ou se havia um outro motivo. Algo dentro dela dizia que estava deixando de
Naquela mesma noite, na casa da ilha, Valentina se olhava no espelho da parede antes de descer para o jantar, quando um relâmpago cortou o céu.Ela vestiu uma calça jeans, calçou um par de sandálias e pôs uma blusa sem mangas; passou um pouco de maquiagem e prendeu os cabelos num rabo de cavalo. Saiu do quarto, atravessou a sala de visitas e se dirigiu para a praia. Viu a fogueira acesa na areia e a mesa posta para quatro pessoas. De frente para ela estavam Daniela e Antonino, sentados pertinho um do outro. A outra pessoa estava de costas e ela não precisou se esforçar muito para saber que era Franco. Quando se aproximou ele se virou de repente e deu um sorriso reluzente para ela.— Boa noite — Valentina sorriu.— Boa noite, Valentina — Franco falou se levantando e puxando a cadeira para ela.Valentina sentou e esperou ele fazer o mesmo, mas Franco ficou alguns segundos encarando-a e ela sentiu uma pontada de nervosismo. Ele obviamente estava muito à vontade, mas ela também não se de
Antonino e Franco saíram logo cedo, nas primeiras horas do dia. Daniela e Valentina tomaram juntas o café da manhã, em seguida Valentina se despediu e partiu.O dia foi longo para Daniela. Ela pôs sua roupa de ginástica, correu na praia e mais tarde levou Enzo para tomar banho de mar. No início da noite estava lendo no terraço quando Antonino chegou e passou direto para o quarto.Na hora do jantar ela foi para a mesa sozinha. Estava sem fome e ficou com a colher circulando no caldo da sopa, observando as idas e vindas dos empregados entre a cozinha e a sala de jantar.Antonino estava há duas horas trancado no quarto falando ao telefone, e ela tentava adivinhar se a conversa dele era com um homem ou com uma mulher. Sentia naquele momento um ciúme doentio que estava corroendo as suas entranhas, porque amava aquele homem, mesmo sem ter lembrança alguma do passado. E ele era o seu marido, mas parecia que o casamento deles estava sendo empurrado com a barriga e ela não sabia porquê. O últ
Enquanto Daniela chorava dentro do quarto, Antonino caminhava com Enzo pela praia observando o garoto catar conchas do mar. Uma onda veio forte e respingou água neles quando bateu de encontro às rochas e foi naquele exato momento que o telefone dele tocou pela segunda vez; a primeira foi quando estava à mesa, tomando café. Ele olhou a tela e não reconheceu o número, mas atendeu.— Alô?— Bom dia, querido — era a voz de Claudina, do outro lado da linha.— Você não devia telefonar para mim.Claudina deu uma risada sonora.— Então só atendeu porque não reconheceu o número? Sabe essa coisa de ter dois telefones, um para os negócios e o outro particular? Pois é, acabei perdendo um deles; acho que ficou no hotel onde passamos a noite ontem. — Que é que você quer? — Antonino perguntou com acidez.— Lembrá-lo do nosso encontro hoje à tarde. Temos assuntos inacabados das nossas empresas. — Nunca me esqueço de um compromisso. Não precisava ligar.— Você parece preocupado. Não me diga que Da