Seis meses depois— Você está maravilhosa, amiga! Lindíssima! — Foram as palavras de Valentina para Daniela no quarto, enquanto terminava de vesti-la.Estavam na casa da ilha. Daniela terminando de se preparar para o casamento. Antonino já estava no terraço, com os convidados. Ele havia escolhido Franco como padrinho e Daniela escolheu Valentina como madrinha.Diante do enorme espelho pregado na parede Daniela se examinava. Ela usava um vestido vintage, modelo coluna apertado da melhor renda marfim. O seu cabelo foi penteado em um coque no alto da cabeça e tinha alguns fios caindo pelo pescoço e colo.— Para de chorar! — Berrou Valentina carinhosamente.— Eu não consigo. Acho que o rímel está querendo escorrer.— E se escorrer você vai ficar feia!— Obrigada, Tina. Você é a minha melhor amiga e eu te amo.— E eu vou te odiar se você não parar de chorar!— Sabe o que eu queria agora, Tina?Valentina parou e perguntou:— O quê? — Eu queria que minha mãe estivesse aqui. Ela ia ficar tão
Cinco anos depois.Rodando na cadeira giratória de Antonino, na nova filial da Goldacci Indústria Farmacêutica, Enzo, agora com nove anos, balançava as pernas e sorria. Quando desceu da cadeira estava tonto. Antonino apareceu na porta, atravessou o cômodo e guiou o filho até a enorme parede de vidro. Era sábado e ele havia passado apenas para pegar alguns documentos. O prédio estava quase deserto; só uns poucos funcionários trabalhando. Ficaram olhando a rua lá embaixo e Antonino virou-se para Enzo e disse:— Tudo isso aqui vai ser seu um dia. — Verdade, papai? Eu vou ser assim como você? Vou ficar palestrando para um monte de pessoas dentro de uma sala fechada? — o garoto perguntou com empolgação.Antonino riu e passou a mão pelo cabelo do filho bagunçando os fios, enquanto Enzo lhe fazia uma pergunta atrás da outra. Fisicamente Enzo era muito parecido com ele, tinha os mesmos cabelos escuros e lisos de fios grossos e a sobrancelha cheia.Durante toda vida Antonino amara aquele lu
Capítulo 1Daniela abriu os olhos antes que o despertador tocasse. Acordou agitada, pois aquele seria o seu primeiro dia de trabalho. Levantou apressada e seguiu para o banheiro. Ligou o chuveiro e deixou que a água quente aliviasse a tensão enquanto organizava os pensamentos. De volta ao quarto, parou na frente do espelho grande e procurou se vestir de maneira elegante, porém, despretensiosa. Prendeu os longos cabelos negros e ondulados em um coque, deixando alguns fios soltos. Usou delineador para realçar os olhos escuros, batom nude para disfarçar os lábios cheios e carnudos e brincos e perfume discretos. Vestiu uma saia lápis preta na altura dos joelhos, com uma fenda na parte de trás, acompanhada de uma blusa de seda na cor pastel com botões na frente. E para finalizar usou sapatos de salto alto.Deu uma última olhada no espelho e ficou satisfeita com o que viu. A maquiagem combinava com a sua cor parda e ela se sentiu digna do cargo que ocuparia: assistente de vendas da Goldacci
Capítulo 2Sentado em um dos bancos traseiros da sua limousine, Antonino Goldacci interrompeu a conversa que estava tendo ao telefone, quando o automóvel parou rapidamente à frente da sua mansão, enquanto o portão alto de ferro fundido decorado se abria para dar passagem ao veículo.Mesmo tendo dois seguranças na entrada da mansão, não conseguia relaxar sempre que chegava ali, pois o assassinato dos pais ainda estava gravado na sua mente. Ele tinha quinze anos quando aconteceu. Foi há vinte anos, mas as imagens continuavam nítidas, como em um filme. No momento em que o motorista parou o carro na entrada da mansão, seu pai pressentiu que havia alguma coisa errada e rapidamente abriu a porta do carro e o empurrou para fora. Antonino tropeçou no cinto e foi parar debaixo do automóvel. Foi salvo por um milagre, pois foi naquele momento que ouviu os disparos e viu muito sangue escorrendo para o chão. Além dos pais dele, morreram também o motorista da limousine e os dois seguranças que faz
Capítulo 3Na manhã seguinte, faltando quinze minutos para as dez, Daniela atravessou a porta giratória do saguão da Goldacci Indústria Farmacêutica. Foi vestida com um tubinho básico e sapatos de salto alto. Os cabelos negros e levemente ondulados estavam soltos, formando cascatas que desciam até a cintura. Usava também um colar e um par de brincos combinando.Por onde passava, chamava a atenção dos olhares masculinos e também femininos. Quem a via dentro daquele visual não imaginava que ali estava uma moça tímida e recatada, com os nervos à flor da pele, que em poucos minutos iria fazer sua primeira apresentação na empresa, falando sobre um medicamento que estava sendo lançado no mercado farmacêutico. Entrou no elevador e saltou no décimo quinto andar. Passou pela recepção e encontrou Francesco no hall de entrada. Depois seguiram juntos por um longo corredor até chegar à última porta, que era a sala do auditório onde seria feito o lançamento do produto novo. Francesco abriu a port
Capítulo 4Antonino Goldacci estava no campo de pouso, aguardando. Assim que seu primo desceu do avião os dois se abraçaram e foram em direção à limousine. Franco era muito parecido com Antonino; tinha os mesmos olhos escuros e cabelos castanhos ondulados. Era um pouco mais jovem, mas a idade nunca foi um empecilho para a amizade dos dois primos. Franco sempre foi o seu braço direito na empresa, mas há dois anos se afastou para apoiar o pai nos negócios. Porém, desde que começou a desconfiar da conduta de Luciano, Antonino planejava trazer o primo de volta.Naquela noite, Antonino e Franco foram para uma boate, acompanhados por duas modelos escolhidas em catálogos e depois passaram a noite num motel de luxo cada um com a sua acompanhante e viveram momentos de sexo e luxúria. Na manhã seguinte, Antonino levou Franco para a empresa e fez uma reunião convocando Francesco, Luciano e os demais diretores apresentando a todos o novo vice-presidente da empresa. A função de Franco seria de mon
Capítulo 5Naquela sexta-feira, após o expediente de trabalho Daniela chegou à pensão, exausta. Assim que entrou na cozinha encontrou dona Marina com uma travessa de macarrão e sentiu fome.Na pensão de dona Marina a mesa grande de madeira ficava no quintal, debaixo de uma árvore. Geralmente as refeições eram momentos descontraídos acompanhados por cantorias e muitas conversas dos hóspedes.Assim que acabou de sentar, Valentina, a neta de dona Marina, veio e sentou ao seu lado, com os cabelos loiros cacheados, soltos ao vento. As duas tinham a mesma idade e se entenderam desde o primeiro dia que Daniela chegou à pensão.Dona Marina, uma senhora de estatura mediana e muito corpulenta com fartos seios, andava da cozinha para o quintal e após colocar a travessa de macarrão fumegante sobre a mesa, foi pondo também pratos e talheres.Naquele momento se aproximou da mesa um senhor de setenta e cinco anos, magro, alto e sisudo, com cara fechada e expressão de poucos amigos. Klaus Stein era a
Capítulo 6Mais tarde, ao chegar à pensão, Daniela subiu correndo para o quarto, arrancou a fantasia do corpo e jogou longe. Foi para o banheiro e abriu o registro do chuveiro, depois sentou no chão encolhida, abraçando os joelhos e deixou que a água quente jorrasse sobre a sua cabeça. Daniela chorou; chorou de soluçar. Pensou na sua vida e na maneira como foi criada pela mãe. As duas sempre foram sozinhas porque o pai as abandonou quando Daniela ainda era muito pequena. Não lembrava quantos anos tinha; talvez cinco anos, talvez menos. Mas as imagens do dia em que ele foi embora ainda estavam muito nítidas na sua memória. Ela estava sentada no tapete da sala com os brinquedos espalhados pelo chão. Penteava a sua boneca Barbie quando sentiu a presença de alguém ao seu lado. Olhou para cima e viu o pai de pé com uma mala na mão. Nunca conseguiu esquecer aquele olhar, porque ela buscou algum vestígio de sentimento e não viu nenhum. Observou com tristeza o pai lhe dar as costas e seguir