Capítulo 3
Na manhã seguinte, faltando quinze minutos para as dez, Daniela atravessou a porta giratória do saguão da Goldacci Indústria Farmacêutica. Foi vestida com um tubinho básico e sapatos de salto alto. Os cabelos negros e levemente ondulados estavam soltos, formando cascatas que desciam até a cintura. Usava também um colar e um par de brincos combinando.Por onde passava, chamava a atenção dos olhares masculinos e também femininos. Quem a via dentro daquele visual não imaginava que ali estava uma moça tímida e recatada, com os nervos à flor da pele, que em poucos minutos iria fazer sua primeira apresentação na empresa, falando sobre um medicamento que estava sendo lançado no mercado farmacêutico.Entrou no elevador e saltou no décimo quinto andar. Passou pela recepção e encontrou Francesco no hall de entrada. Depois seguiram juntos por um longo corredor até chegar à última porta, que era a sala do auditório onde seria feito o lançamento do produto novo.Francesco abriu a porta de vidro e eles passaram. A reunião já tinha começado e a sala estava escura, apenas com a claridade do telão, onde Luciano, o gerente administrativo, estava falando sobre a empresa e mostrava as imagens da mesma.Todos estavam sentados de costa e havia cinco fileiras de cadeiras com todos os lugares preenchidos. Daniela foi seguindo Francesco que a levou até à frente da sala e mostrou uma das cadeiras vazias, depois se sentou na outra.Ela deduziu que aqueles homens e mulheres ali sentados eram na grande maioria vendedores de campo. Ainda não conhecia nenhum, mas provavelmente iriam ser apresentados mais tarde.Assim que Luciano terminou a sua apresentação, todos aplaudiram e imediatamente ele a chamou. Daniela ficou ainda mais nervosa. A primeira apresentação era sempre difícil, em qualquer lugar, e ela já estava sentindo dores na barriga de tanta ansiedade.Todos os olhares se voltaram para ela e foi então que percebeu que ainda permanecia sentada. Levantou trêmula e a pasta que estava na sua mão caiu espalhando alguns papeis pelo chão. Francesco a ajudou a recolher os folhetos e ela recebeu dele um tapinha no ombro como encorajamento.Daniela levantou e se posicionou ao lado da mesa de maneira que não ficasse na frente da tela. De onde estava não podia ver o rosto das pessoas sentadas por causa da pouca luz no ambiente, mas sabia que todos os olhares estavam focados nela. Pigarreou e iniciou o seu discurso:— Bom dia para todos! Meu nome é Daniela Rivera e eu sou assistente de vendas do gerente comercial, o senhor Francesco Giordani. O meu objetivo em estar aqui hoje é apresentar para vocês o lançamento de um produto inovador que será sucesso de vendas.Naquele momento, a imagem do medicamento apareceu no telão.— Este medicamento para pacientes com problemas cardíacos vai revolucionar o mercado farmacêutico.No telão a imagem mudou, surgindo um casal de idoso, cada um segurando a caixa do medicamento que estava sendo lançado. Todos os olhares alternavam entre ela e o telão e Daniela tentando vencer o nervosismo, deu continuidade ao seu discurso:— Temos aqui uma substância eficaz e leve, com um mínimo de efeitos colaterais, que não causa sonolência nem palpitações. E uma grande vantagem: digamos que o paciente está em um lugar que não tenha água por perto, por exemplo, dentro de um transporte coletivo, o que ele faz? Simplesmente coloca um comprimido embaixo da língua e pronto. Sim, meus amigos, temos um medicamento sublingual, que trará mais tranquilidade para o paciente. Mas os benefícios dele não acabam aqui.Todos pareciam estar bem envolvidos na apresentação. Daniela foi ficando mais relaxada e falou das inúmeras vantagens que o novo medicamento oferecia. Quando terminou, todos aplaudiram e as luzes foram acesas. Ela virou-se para pegar a pasta que havia deixado sobre a mesa quando ouviu o seguinte comentário:— Você não falou sobre a posologia. Quantas vezes ao dia o paciente vai usar o medicamento é algo muito importante e não deveria ser esquecido de mencionar, por uma assistente de vendas que tem a função de passar informações corretas e completas.Houve um silêncio constrangedor. Ela olhou para o autor do comentário e quando viu aquele homem no fundo da sala, suas mãos tremeram e sem perceber deixou a pasta cair no chão. O homem que a estava constrangendo era o mesmo que ela havia dado um banho de suco de laranja no elevador.Daniela ficou extática, sem chão, enquanto o homem se aproximava. Quando chegou bem perto dela ele ordenou em voz alta:— Apaguem as luzes novamente.Daniela o olhava sem acreditar no que ele estava fazendo. O homem tomou a palavra e refez toda a apresentação dela, falando sobre o produto como se ela não estivesse ali. Quando ele terminou, todos o aplaudiram.Então ele olhou para ela e disse no seu ouvido:— Espero que melhore da próxima vez!Depois lhe deu as costas, caminhou em direção à porta e saiu da sala. Os vendedores que estavam sentados também se levantaram e seguiram para a sala do coffee break, enquanto Daniela continuava de pé, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Lágrimas de ódio, de vergonha e de humilhação. Que homem arrogante! Seria uma vingança pelo que aconteceu no elevador?Quando a sala ficou vazia ela sentou em uma cadeira e desabou, chorando rios de lágrimas. Francesco que havia acabado de se despedir de um vendedor na porta, voltou-se para ela, sentou ao seu lado e disse:— Não fique assim! Quer saber, pra mim você esteve ótima!Ela levantou a cabeça com o rosto molhado de lágrimas e disse com indignação:— Quem ele pensa que é para falar desse jeito?— Não sabe mesmo quem ele é?Francesco perguntou, arregalando os olhos, mas quando viu a inocência no seu olhar, disse:— Minha nossa! Então você ainda não conhecia o seu patrão? Pois ele é Antonino Goldacci, o cara que paga o nosso salário; o dono disso tudo aqui.— O quê? — perguntou embasbacada. — Então ele... ele...Daniela não conseguiu terminar a frase. Levantou, passou como uma flecha pelo corredor e se trancou na sua sala. A mente estava totalmente bombardeada e sem condições de processar aquela nova informação. Como podia acontecer aquilo com ela? Deu um banho de suco de laranja no seu patrão e ele com raiva, a humilhou na frente de todos, como se ela fosse uma incompetente, sem noção do que estava falando. Que homem cruel! Ela estava se sentindo um lixo, com vontade de abrir um buraco no chão e enterrar a cabeça dentro.Ligou o computador e digitou uma carta de demissão. Imprimiu, leu e rasgou. Não podia pedir demissão porque a doença da sua mãe lhe deixou com muitas dívidas. Estava devendo ao banco e só poderia pagar se ficasse naquele emprego porque o salário que a Goldacci pagava era alto. Antes havia batido em várias portas e o salário era tão pequeno que não conseguiria comer e pagar os boletos mensais ao mesmo tempo.Ia ficar, mas também iria evitar qualquer tipo de diálogo com Antonino Goldacci. Ainda bem que ela trabalhava com Francesco e não havia necessidade de se dirigir ao patrão, a não ser em reuniões, o que não era muito frequente..Capítulo 4Antonino Goldacci estava no campo de pouso, aguardando. Assim que seu primo desceu do avião os dois se abraçaram e foram em direção à limousine. Franco era muito parecido com Antonino; tinha os mesmos olhos escuros e cabelos castanhos ondulados. Era um pouco mais jovem, mas a idade nunca foi um empecilho para a amizade dos dois primos. Franco sempre foi o seu braço direito na empresa, mas há dois anos se afastou para apoiar o pai nos negócios. Porém, desde que começou a desconfiar da conduta de Luciano, Antonino planejava trazer o primo de volta.Naquela noite, Antonino e Franco foram para uma boate, acompanhados por duas modelos escolhidas em catálogos e depois passaram a noite num motel de luxo cada um com a sua acompanhante e viveram momentos de sexo e luxúria. Na manhã seguinte, Antonino levou Franco para a empresa e fez uma reunião convocando Francesco, Luciano e os demais diretores apresentando a todos o novo vice-presidente da empresa. A função de Franco seria de mon
Capítulo 5Naquela sexta-feira, após o expediente de trabalho Daniela chegou à pensão, exausta. Assim que entrou na cozinha encontrou dona Marina com uma travessa de macarrão e sentiu fome.Na pensão de dona Marina a mesa grande de madeira ficava no quintal, debaixo de uma árvore. Geralmente as refeições eram momentos descontraídos acompanhados por cantorias e muitas conversas dos hóspedes.Assim que acabou de sentar, Valentina, a neta de dona Marina, veio e sentou ao seu lado, com os cabelos loiros cacheados, soltos ao vento. As duas tinham a mesma idade e se entenderam desde o primeiro dia que Daniela chegou à pensão.Dona Marina, uma senhora de estatura mediana e muito corpulenta com fartos seios, andava da cozinha para o quintal e após colocar a travessa de macarrão fumegante sobre a mesa, foi pondo também pratos e talheres.Naquele momento se aproximou da mesa um senhor de setenta e cinco anos, magro, alto e sisudo, com cara fechada e expressão de poucos amigos. Klaus Stein era a
Capítulo 6Mais tarde, ao chegar à pensão, Daniela subiu correndo para o quarto, arrancou a fantasia do corpo e jogou longe. Foi para o banheiro e abriu o registro do chuveiro, depois sentou no chão encolhida, abraçando os joelhos e deixou que a água quente jorrasse sobre a sua cabeça. Daniela chorou; chorou de soluçar. Pensou na sua vida e na maneira como foi criada pela mãe. As duas sempre foram sozinhas porque o pai as abandonou quando Daniela ainda era muito pequena. Não lembrava quantos anos tinha; talvez cinco anos, talvez menos. Mas as imagens do dia em que ele foi embora ainda estavam muito nítidas na sua memória. Ela estava sentada no tapete da sala com os brinquedos espalhados pelo chão. Penteava a sua boneca Barbie quando sentiu a presença de alguém ao seu lado. Olhou para cima e viu o pai de pé com uma mala na mão. Nunca conseguiu esquecer aquele olhar, porque ela buscou algum vestígio de sentimento e não viu nenhum. Observou com tristeza o pai lhe dar as costas e seguir
Capítulo 7Desde a noite do baile de máscaras que Daniela não via Antonino. Ele estava viajando a negócios.No sábado, os diretores e suas secretárias foram convocados para uma reunião no laboratório da Goldacci Indústria Farmacêutica. Daniela se vestiu de uma maneira descontraída. Usou calça jeans, blusa leve de seda sem mangas, e sapatilhas. E no cabelo fez um rabo de cavalo.Havia uma Van com a marca da empresa esperando no estacionamento da mesma. Quando Daniela chegou, encontrou Francesco e Anna. Todos entraram e o motorista seguiu viagem.Daniela sentou no canto e ficou olhando a paisagem. O centro da cidade como sempre, estava congestionado. Quando os carros paravam no sinal, as pessoas atravessavam a faixa de pedestres com tanta pressa como se aquele fosse o último dia de suas vidas.Mas aos poucos toda aquela agitação foi ficando para trás e o veículo se movimentava normalmente sem tantas paradas, pois o tráfego foi ficando livre, permitindo o seu deslocamento na rodovia em u
Capítulo 8Naquela manhã Daniela chegou na empresa com um ramalhete nas mãos. Entrou na sua sala e colocou as flores sobre a mesa. Havia comprado rosas brancas e amarelas a caminho do trabalho para alegrar o dia. Sua mãe cultivava um lindo canteiro e foi com ela que aprendeu a gostar de plantas.Colocou as rosas em vasos e distribuiu pela sala. Naquele momento Francesco entrou.— Bom dia! — ele falou sorrindo. — Que cheiro bom!— Bom dia! — Daniela respondeu.— Vá agora mesmo até a sala de Antonino. Ele quer falar com você.— Comigo? Por quê?— Não sei. Ele não disse. Vá logo!Daniela abriu a porta e caminhou pelo longo corredor. Não conseguia imaginar o que ele queria falar com ela, mas ficava nervosa toda vez que precisava chegar perto de Antonino Goldacci.Quando chegou à frente da porta da sala dele, bateu e entrou. Ele estava sentado na sua poltrona giratória, atrás de uma imponente mesa de vidro, impecavelmente vestido, como sempre, e com um sorriso de matar qualquer mulher despr
Capítulo 9Era uma sexta-feira. Assim que chegou à empresa, Daniela encontrou Francesco sentado na recepção tomando cafezinho. Quando ele a viu foi ao seu encontro e como sempre fazia, colocou um braço sobre o seu ombro e foram caminhando pelo corredor na direção contrária.— Onde estamos indo? — Daniela perguntou, curiosa.— Desculpe, esqueci de dizer que iremos participar de uma reunião na sala de Antonino.— Reunião? Assim, de repente?— Ele decidiu de última hora. Francesco falou já abrindo a porta da sala do chefe. Daniela entrou primeiro e ele seguiu logo atrás dela. — Bom dia! — falou com tremor na voz.Os homens que estavam na sala responderam ao cumprimento. Antonino estava sentado na sua cadeira giratória, atrás da sua mesa. As cadeiras estavam arrumadas em círculo e ele fez sinal com a mão para que ela e Francesco se sentassem no grupo. Daniela se acomodou ao lado de Francesco e observou os quatro homens ao redor. Só conhecia Franco, que era primo de Antonino. Os outros t
Capitulo 10Chegaram à boate Paradiso faltando poucos minutos para as dez da noite. A danceteria tinha letreiros coloridos em neon na parte mais alta, porém na entrada havia uma luz discreta.Dois homens altos e musculosos faziam a guarda da portaria. Logo depois havia um longo corredor com uma luz bem fraquinha, em seguida havia outra porta que Pietro empurrou e logo estavam dentro de um salão enorme, elegante e cheio de luzes. Assim que entrou Daniela ficou encantada com a beleza do lugar e o espetáculo de luzes coloridas em meio a uma escuridão azulada. Eles atravessaram a pista de dança e se dirigiram para a outra extremidade do salão, um lugar cheio de mesas e com uma luz discreta. Sentaram-se em um lugar que era ao mesmo tempo próximo do balcão de bebidas e da pista de dança. Pietro pediu as bebidas e logo após, Valentina o puxou para a pista de dança. Daniela ficou sozinha na mesa observando a boate lotada. Antes de sair de casa pensou que iria se entediar, mas estava se div
Capítulo 11Depois da bofetada que recebeu de Daniela, Antonino Goldacci ainda permaneceu na boate durante alguns minutos. Seu desejo era levar Daniela para algum lugar, fazê-la dançar sensualmente para ele e receber dela aquele mesmo sorriso que ela esbanjara há pouco na pista de dança. Já viu muitas e muitas mulheres dançando, mas não com aquela sensualidade natural e agreste. Porém, a garota era teimosa e aquele não era o momento certo. Já haviam se desentendido naquela noite, portanto era melhor que ele não buscasse mais aborrecimentos para si mesmo.De repente desejou sair dali o mais rápido possível. Era um homem que se entediava fácil e naquele momento havia perdido o interesse pela boate. Não fazia sentido ficar naquele lugar se não estava se divertindo mais.Tinha muitos problemas para resolver, coisas sérias da empresa e não podia ficar perdendo tempo com uma garota birrenta e mal-amada.Virou na boca o resto da bebida que estava no copo e puxou a morena siliconada pelo bra