Faltavam quinze para as nove da manhã quando Valentina entrou no salão de beleza. Dez minutos depois estava com o cabelo cheio de creme, quando Silvia empurrou a porta e atravessou o cômodo sentando-se ao seu lado. Valentina tirou os olhos da revista que estava lendo e dardejou-lhe um olhar penetrante, em seguida voltou para a sua leitura.Enquanto a manicure cuidava das unhas de Silvia, esta falou sussurrando para Valentina:— Precisamos conversar.— E quem foi que disse que eu quero conversar com você? — Valentina respondeu dura e seca.— Não seja infantil. Você sabia muito bem aonde íamos e o que íamos fazer.— O cara quase me estuprou! — Valentina falou em voz alta chamando atenção das clientes do estabelecimento.— E eu não tenho culpa — Silvia murmurou.— Será que você pode me deixar em paz? — Valentina rosnou.— Você não entra mais na loja em que trabalho, não me dirige mais a palavra na praça de alimentação. O que quer que eu faça?— Não quero nada de você. Só quero que me esq
Valentina saía do banco naquele momento quando viu o Mercedes parado e Franco encostado no automóvel. Quando ela se aproximou, ele sem dizer uma palavra sequer abriu a porta do carro. Ela entrou e sentou no banco macio e confortável do carona, enquanto ele fechava a porta com delicadeza, dava a volta e sentava ao volante.Enquanto dirigia ele falou apenas sobre o tempo e o calor. Conversaram amenidades e riram, porém ela o analisava o tempo todo. Gostava de Franco; gostava mais do que devia.Ele parou o Mercedes na frente de um hotel luxuoso e disse a encarando:— Já te fiz essa pergunta uma vez, mas vou fazer de novo: você me quer?Ela corou. Não de timidez, mas do calor que subiu pelo seu corpo e lhe afogueou o rosto.— Vem comigo? — Franco perguntou com os olhos fixos nela.Ela permaneceu calada. Passou a língua nos lábios para provocá-lo. Ele continuou:— Desde que te reencontrei tudo o que penso é ter você em meus braços.Aquela conversa funcionava como choques elétricos passando
O motorista encostou o carro do lado de fora do enorme prédio envidraçado e Daniela saltou, usando um vestido longo azul royal, acompanhada por Valentina que usava um vestido vermelho.Caminharam em direção ao hall de entrada, passaram pela segurança e Valentina sorriu para Eduardo e Albertina, o casal de idoso, na faixa dos setenta e poucos anos, que a havia convidado para aquela festa beneficente e a esperavam em frente aos elevadores. Ambos eram totalmente grisalhos, mas ainda estavam cheios de energias para frequentar festas. Tinham uma loja de aluguel de roupas bem em frente à loja de Valentina e arranjavam muitos clientes para ela, por isso foi difícil para Valentina dizer não.Daniela sentia seus saltos finos e pontiagudos deslizarem pelo piso de mármore polido. Não estava acostumada a frequentar festas elegantes e se sentia um pouco desconfortável. Só estava ali por causa de Valentina que ultimamente andava um pouco melancólica desde que tinha acabado o flerte com Franco. Se b
Quando a porta foi aberta, Daniela estava totalmente despreparada para ver a pessoa que surgiu à sua frente. No momento em que Antonino entrou no quarto usando terno escuro e sapatos pretos, Daniela começou a tremer e chorar. Sem acreditar no que estava vendo deu um passo para trás e se apoiou na parede para não cair. O que via não era real. Com certeza havia sido drogada e estava tendo alucinações, mas não conseguia tirar os olhos da imagem dele que caminhava na sua direção, com a graça e a elegância que ela conhecia tão bem.Antonino parou bem pertinho e ela sentiu o seu hálito de menta, quando ele abriu a boca e disse:— Senti tanta saudade!— Oh, meu Deus! Não pode ser verdade... você está morto!— Estou aqui com você, agora.Daniela se encolheu e disse entre soluços:— Não é você. Eu estou louca!Ele fez um carinho no rosto dela com as costas da mão e disse num sussurro:— Eu sou real e você não é louca.Então ela teve consciência de que não estava perdendo o juízo e naquele mom
Horas depois, de volta à ilha, Antonino saltou do barco. Caminhou pelo píer, usando camiseta, bermuda e sandália. Em seguida pisou na areia e foi em direção à Daniela. Ela estava sentada em uma rocha, com o vestido longo levantado até o joelho e jogava conchinhas de volta ao mar. Quando o viu ela se levantou e Antonino a puxou pela cintura e a beijou, encostando-a nas rochas altas. Daniela pôs os braços ao redor do pescoço dele e entregou-se aos seus carinhos. Beijaram-se longamente, em seguida Antonino disse:— Precisamos conversar sobre o nosso filho. — Sim, precisamos.— Quero trazê-lo para cá.— Não! — Daniela falou alto.— Por que não?— Por que o Enzo não pode ficar sem mim.— Você está aqui. É minha esposa. Somos casados.— Sim, somos casados, mas não é tão simples. Para todos, você morreu.— Está preocupada com o personal que está na cadeira de rodas? — Antonino perguntou e viu o olhar espantado dela.— Andava me espionando? — Daniela perguntou, desconfiada.— Eu sempre esti
Ao ficar sozinha no quarto, após a partida de Antonino, Daniela refletiu sobre a loucura que estava acontecendo com ela. Passar a noite fora deixando em casa um filho pequeno de quatro anos nunca foi coisa que esteve nos seus planos, mas o que poderia ter feito? Agora estava ali com as emoções confusas; feliz em saber que Antonino estava vivo e ao mesmo tempo apreensiva, pois sabia que a sua vida a partir daquele momento mudaria completamente.As coisas entre ela e Antonino nunca foram fáceis. Ela nunca o teve por inteiro. Havia sempre algo inacabado, coisas para ele resolver e ela nunca foi a primeira opção. Pegou o telefone e viu que tinha várias ligações perdidas de Valentina e também de Carmem. Ligou para Valentina e caiu na caixa de mensagem, em seguida ligou para Carmem. Depois do segundo toque ouviu a voz apreensiva:— Daniela? Por Deus, aonde você está?— Carmem, estarei ainda hoje em casa. Liguei para saber do Enzo.— Enzo está bem. Mas e você? — Carmem perguntou com voz t
Quando abriu os olhos, Daniela estava numa cama de hospital. O recinto dava a impressão de estar rodopiando. Um cheiro acre de produtos químicos impregnou nas suas narinas. O cheiro lembrava-lhe uma experiência vivida e já esquecida. Tão remoto, e no entanto, tão familiar, aquele cheiro a fazia querer pular da cama do hospital e sair correndo.A primeira pessoa que viu foi Valentina, mas não a reconheceu.— Dani! Está tudo bem. Fica calma! — Valentina a confortava.— Quem é você? — Daniela perguntou, sem noção de nada.— Sou Valentina, sua amiga; não se lembra? Trouxeram você para cá há dois dias. Chegou inconsciente e só agora está voltando a si. O médico acha que se trata de um milagre. De acordo com os que viram o local do acidente, você devia estar morta. Quando uma turma de socorro trouxe você para cá, estava inconsciente e cheia de contusões, mas felizmente não havia fraturas. O motorista, no entanto, não teve a mesma sorte.— Motorista?— Sim, o chofer que dirigia o carro. Ele
Antonino ligou para Franco, enquanto se vestia na frente do espelho.— Algum sinal dele, Franco? — a voz de Antonino tinha um tom áspero, de poucos amigos.— Ainda não, primo — Ouviu a voz de Franco tão audível como se estivesse ao seu lado.— Vamos agilizar o processo. Esse desgraçado tem que sumir da face da terra o mais rápido possível e eu mesmo quero fazer isso. Só me avise quando encontrá-lo.— Concordo que dessa vez ele foi longe demais — Franco falou.— Ele não fez isso com qualquer pessoa, Franco. Ele tentou matar a minha mulher. Eu vou pegar esse cara; eu mesmo.— Fica frio. Ele não vai se esconder para sempre.— A gente se vê daqui a pouco.Antonino terminou de se vestir, abriu a porta do quarto e desceu as escadas. Encontrou Conchita na sala de jantar e disse:— Cuide bem dela, Conchita. — Sim, senhor Goldacci. Não se preocupe com nada.— Rosa chegará em breve para organizar tudo.— Está bem, senhor.Antonino entrou no seu jatinho particular e em menos de uma hora estava