O carro foi deixado no estacionamento da danceteria enquanto Daniela e Valentina seguiam caminhando lado a lado pela calçada brilhante. Observando as luzes coloridas Daniela pensava em como as danceterias transmitiam um magnetismo eletrizante que embriagava os sentidos.Assim que entrou foi logo contagiada pela euforia do lugar. Não importava quantas vezes tivesse ido numa danceteria, mas cada vez que entrava por uma porta daquelas era como se fosse a primeira vez. Aquela era frequentada por pessoas comuns: estudantes em geral, moças e rapazes que depois de um dia de trabalho ou de faculdade chegavam ali a fim de se divertir na pista de dança.As amigas se encaminharam para o balcão e pediram duas bebidas, em seguida juntaram as taças e disseram ao mesmo tempo:— Saúde!— Hoje é sexta-feira e vamos nos divertir como nos velhos tempos — Valentina estava quase gritando por causa do barulho.— Como no dia em que pegamos escondido a moto do alemão nazista? — Daniela perguntou dando uma ga
Às cinco e trinta da tarde Daniela e Enzo estavam sentados na recepção da clínica aguardando a vez. Enzo passou a noite gemendo, com dores estomacais e Daniela mal esperou o dia amanhecer para ligar para o pediatra dele. Porém, o médico só iria atender à tarde.Desde que chegaram Enzo parecia estar melhor. Foi correndo para a salinha de brinquedos e ficou por lá com as outras crianças durante algum tempo e Daniela aproveitou para ler uma revista que estava na mesinha de centro. Mas, de repente, Enzo veio correndo, reclamando que as dores tinham voltado. Daniela colocou a cabecinha dele no colo e tentou fazê-lo relaxar.Naquele momento, cansada, ela observava as pessoas ao redor e voltava a divagar o pensamento olhando pela janela. Não era fácil criar um filho sozinha e ela não estava se referindo ao dinheiro. Percebeu isso claramente na noite anterior vendo o filho chorar de dor. O tempo passou e Daniela cochilou ali mesmo na sala cheia de gente.Percebeu vagamente que alguém a estav
Antonino havia chegado bem cedo ao Rio de Janeiro. Estacionou o carro na frente do hotel luxuoso e deu a chave para o manobrista. Depois se dirigiu para o hall de entrada e seguiu para o elevador, sempre olhando para os lados. Mesmo tendo se vestido discretamente com calça jeans, camisa de malha e boné, ele procurava se manter em alerta. Os seus seguranças vinham um pouco atrás, disfarçados.Quando o elevador parou no último andar ele saltou e caminhou pelo longo corredor até encontrar a porta e acionar a campainha. O advogado Ricardo Aliotti abriu a porta e o convidou para entrar. Depois de se cumprimentarem, Antonino se sentou na poltrona de frente para uma enorme janela e observou Ricardo sentar à sua frente. — Sinto importuná-lo, senhor Goldacci, mas foi necessário chamá-lo aqui porque não acho seguro enviar documentos pelo computador.— Está tudo pronto? — Antonino perguntou querendo abreviar a conversa.— Sim. O senhor só precisa ler e assinar.O advogado passou os papeis à Ant
Caminhando devagarinho, tensa, Daniela seguiu pelo corredor segurando com força a mão do filho e abriu a última porta. O médico levantou-se e veio cumprimentá-la. Aparentava mais de sessenta anos, porém era um homem robusto, de movimentos ágeis. O hematologista Mauricio Saldanha fora indicado pelo pediatra de Enzo para fazer uma análise mais aprofundada dos exames do garoto. Segundo ele, Mauricio era o melhor na sua área de atuação. — Bom dia — Mauricio Saldanha a cumprimentou com um largo sorriso no rosto.— Bom dia, doutor Saldanha. Sou Daniela Rivera e este é meu filho Enzo.— Em que posso ajudá-los? — perguntou, enquanto apontava para duas cadeiras à frente da sua mesa.Daniela sentou e entregou os exames de Enzo, ao mesmo tempo em que explicava o motivo de estar ali: o pediatra de Enzo alertara anteriormente que houve uma pequena alteração nos exames de sangue dele e isso a deixou preocupada a ponto de ela perder o sono. Ela falou também que o pai de Enzo sofria de uma anemia p
Na segunda-feira, Daniela conduziu Rafael para a fisioterapia e o viu fazer exercícios mais avançados. Ele levantou da cadeira de rodas com ajuda do fisioterapeuta, mas não conseguiu ficar muito tempo de pé e Daniela viu a decepção no semblante dele, mas aplaudiu e deu um sorriso para animá-lo. Ele ainda tinha o físico bonito e forte, mas se demorasse muito tempo sem caminhar a tendência era ir atrofiando. Daniela aprendeu a amar Rafael, mas era um amor diferente; era quase como amar um irmão.Quando chegaram à casa dele, jogaram cartas e viram televisão, enquanto a enfermeira não aparecia. — Por que não fica e passa a noite aqui comigo? — Rafael perguntou enquanto beijava a mão dela.— Sabe que não posso, Rafa. Tenho uma criança pequena em casa.— Eu estava pensando que qualquer dia desses a gente podia fazer um piquenique; eu, você e o Enzo — Rafael falou com entusiasmo.— É uma excelente ideia.Rafael ajustou a cadeira de rodas para mais perto do sofá e perguntou:— Já disse hoje
Antonino acabara de descer do seu jatinho na sua ilha particular às onze da manhã. Olhou para cima dos rochedos e avistou a casa; ela era quadrada, com paredes de vidro que proporcionavam muita luminosidade e o terreno tinha um suave declive para o mar. Ele subiu pelos degraus rochosos até alcançar a varanda lá em cima e passou pela sala. Atravessou o cômodo e sentou do outro lado da varanda, onde podia ver a parte deserta da ilha, que era também o lugar mais bonito.Tinha o privilégio de ver aquele paraíso através da varanda da sua casa todos os dias desde que se mudara para lá. Ali, o nascer e o pôr do sol eram lindos e o faziam esquecer dos problemas que estavam por vir.Havia comprado aquela ilha há dez anos e a visitara muito pouco. Só ia ali quando vinha da Itália para participar das reuniões na filial da empresa que ficava no Rio de Janeiro. Escolheu comprar uma ilha na Bahia por causa das paisagens paradisíacas que tanto lembravam as praias da Itália.A casa era muito grande
Faltavam quinze para as nove da manhã quando Valentina entrou no salão de beleza. Dez minutos depois estava com o cabelo cheio de creme, quando Silvia empurrou a porta e atravessou o cômodo sentando-se ao seu lado. Valentina tirou os olhos da revista que estava lendo e dardejou-lhe um olhar penetrante, em seguida voltou para a sua leitura.Enquanto a manicure cuidava das unhas de Silvia, esta falou sussurrando para Valentina:— Precisamos conversar.— E quem foi que disse que eu quero conversar com você? — Valentina respondeu dura e seca.— Não seja infantil. Você sabia muito bem aonde íamos e o que íamos fazer.— O cara quase me estuprou! — Valentina falou em voz alta chamando atenção das clientes do estabelecimento.— E eu não tenho culpa — Silvia murmurou.— Será que você pode me deixar em paz? — Valentina rosnou.— Você não entra mais na loja em que trabalho, não me dirige mais a palavra na praça de alimentação. O que quer que eu faça?— Não quero nada de você. Só quero que me esq
Valentina saía do banco naquele momento quando viu o Mercedes parado e Franco encostado no automóvel. Quando ela se aproximou, ele sem dizer uma palavra sequer abriu a porta do carro. Ela entrou e sentou no banco macio e confortável do carona, enquanto ele fechava a porta com delicadeza, dava a volta e sentava ao volante.Enquanto dirigia ele falou apenas sobre o tempo e o calor. Conversaram amenidades e riram, porém ela o analisava o tempo todo. Gostava de Franco; gostava mais do que devia.Ele parou o Mercedes na frente de um hotel luxuoso e disse a encarando:— Já te fiz essa pergunta uma vez, mas vou fazer de novo: você me quer?Ela corou. Não de timidez, mas do calor que subiu pelo seu corpo e lhe afogueou o rosto.— Vem comigo? — Franco perguntou com os olhos fixos nela.Ela permaneceu calada. Passou a língua nos lábios para provocá-lo. Ele continuou:— Desde que te reencontrei tudo o que penso é ter você em meus braços.Aquela conversa funcionava como choques elétricos passando