Leonardo
Naquela manhã chuvosa, eu tinha certeza de que algo estava prestes a mudar. Meu instinto para problemas era muito aguçado, e desde o momento que Amber saiu do meu hotel, eu pude sentir que tinha acabado de tomar uma péssima decisão.
"Quando eles irão chegar?" Olhei para minha secretária que continuava a trocar mensagens com alguém do grupo Delux. "Eles já me fizeram aguardar mais do que o necessário, Sra. Torres. Se não houver resposta em 2 minutos, estamos indo embora."
"Claro, senhor."
Me afastei, deixando que ela tentasse resolver aquele problema. Puxei novamente meu celular do bolso e entrei nas mensagens trocadas com Amber. Não havia nenhuma nova visualização desde ontem, quando saiu do meu hotel.
"Senhor, eles chegaram."
O salão estava impecável para aquela reunião. A mesa de guloseimas já disposta, o ar na temperatura que eu gostava, e os locais com todos os papéis necessários para a apresentação. Se tudo desse certo, eu fecharia um dos maiores contratos de entretenimentos para os hotéis temáticos.
Cumprimentei o CEO e os acionistas do grupo Delux. Seus projetos eram ambiciosos e suas táticas de atração de públicos, invejáveis. Apenas o Cirque du Soleil conseguia ter técnicas mais avançadas.
"Peço desculpa pelo atraso, Martinucci, tivemos dificuldade em encontrar este lugar." Olhei para a minha secretária, que arregalou os olhos, e percebi que aquela era uma forma de me manter com os pés firmes no chão. Eles não consideravam a MGroup uma aquisição diferente de todas as outras que já fizeram.
"Seu tempo é tão precioso quanto o meu, Vancelos, acredito que podemos remediar isso, fechando um contrato no final da reunião." O CEO da Delux me analisou e sorriu, entendendo que da mesma forma que ele considerava seu negócio uma mina de ouro, eu considerava a minha empresa da mesma forma.
"Fiquei realmente intrigado com o plano que nos mandou. Não tinha pensado em como poderíamos atingir o ramo hoteleiro até você entrar em contato." sorri satisfeito, me sentando na cadeira na cabeceira da mesa, e indicando que todos fizessem o mesmo.
A apresentação transcorreu de forma impecável. Deixei que meus diretores sanassem as principais dúvidas, vendo a satisfação que transparecia em suas feições.
"Vamos agora para a parte que realmente interessa. Como serão feitas as distribuições financeiras?" Vancelos questionou.
"Essa é a parte que eu estava esperando." Abri meu laptop e conectei ao projetor.
Acessei a pasta criptografada e a acessei abrindo o arquivo e o exibindo no telão.
"QUE BRINCADEIRA É ESSA?" O senhor Vancelos se levantou irritado, mas não consegui acompanhar suas ações, pois meus olhos estavam grudados na frase que se abriu assim que acessei o documento.
'VÁ SE FERRAR, LEONARDO MARTINUCCI.'
Comecei a abrir pasta por pasta em meus arquivos, todos com uma frase mais pejorativa que a anterior.
"Layla, acione a senhorita Bayer, quero saber o que está acontecendo imediatamente."
"Você foi hackeado, Martinucci?" Vancelos riu. "Acho que nossa reunião acabou. Eu só fecho com empresas de alta segurança física e tecnológica, e o senhor acabou de me provar que é falho." ." todos começaram a sair e meus diretores me encararam.
“DESAPAREÇAM DA MINHA FRENTE!” Gritei, fazendo todos correrem para fora.
Agarrei meu Macbook e o atirei contra a parede, o vendo se estilhaçar.
"LAYLA, CADÊ A BAYER?"
"Senhor, ela não apareceu no trabalho hoje. Disseram que ela pediu demissão ontem à tarde."
Meu sangue gelou. "COMO EU NÃO FUI INFORMADO SOBRE ISSO? MANDE A GERENTE DO RH VIR ATÉ O HOTEL, IMEDIATAMENTE."
Tentei ligar para Amber novamente. Caixa postal.
"ONDE VOCÊ ESTÁ, AMBER? VOCÊ SABE O QUE ACABOU DE FAZER, SUA IRRESPONSÁVEL! HAJA COMO UMA MULHER E VOLTE ATÉ MINHA SALA PARA REPARAR O DANO DE MILHÕES DE DÓLARES QUE CAUSOU NOS COFRES DA EMPRESA!" Desliguei o celular o arremessando contra a parede.
"Senhor, mandou me chamar?" as suaves batidas na porta, após 15 minutos, me alertaram e me virei indo em direção à ela, puxando com força a mesma, quase fazendo a mulher cair aos meus pés.
"POR QUE NÃO ME AVISOU QUE A BAYER PEDIU DEMISSÃO?" A mulher baixinha, de cabelos cacheados e óculos fundo de garrafa, tremeu a minha frente. Bufei ainda mais irado e me afastei dela, antes que descontasse toda a raiva que eu sentia da Amber.
"Ela me disse que o avisaria pessoalmente, senhor. Eu achei que já soubesse de sua decisão."
"Senhorita Joy, você sabe o que a Amber Bayer fazia aqui na empresa?" minha voz era baixa e mortal, e a mulher evitou me olhar, gaguejando.
"Sim senhor, ela é a Diretora de Segurança de Dados." respirei fundo e me aproximei da mulher que novamente se encolheu.
"Quantas pessoas existem na equipe de dados com a mesma competência que ela, senhorita Joy?" o grunhido que saia do meu peito, era pior que as palavras que saltavam da minha boca.
"Nenhuma, senhor." ela respondeu.
"Então por que achou que ela me avisaria?" falei em seu ouvido, me afastando em tempo de ver lágrimas escorrerem por seu rosto.
"Eu não sei, senhor. Amber costuma cumprir com suas palavras." Sua fala entrou como um punhal em minha mente. Amber nunca tinha me ameaçado, até ontem, e tudo que ela disse, estava se cumprindo.
"O QUE VAI FAZER AGORA PARA ARRUMAR ESSA BAGUNÇA, SENHORA JOY?" Voltei a me irritar e a segurei pelos braços, irado. "ACHE AMBER, OU DESAPAREÇA DA MINHA EMPRESA." A soltei tentando colocar minha cabeça no lugar.
"Sinto muito senhor, eu não achei que..." a olhei de forma sarcástica.
"Claro que não achou. Eu não te pago para achar nada, eu te pago para resolver os problemas de pessoal. Seu erro e o da senhorita Bayer, custaram milhões de dólares ao MGroup. Ache-a ou desapareça." a mulher começou a chorar ainda mais e saiu correndo de minha sala.
"Vejo que as coisas estão piorando." Magnus, meu segurança particular, entrou na sala.
"ACHE AQUELA DESGRAÇADA."
"Eu lhe avisei. Deveria ter deixado a moça a par da situação desde que começaram a se envolver."
"Quando eu colocar minhas mãos nela, não haverá homem nessa terra que me faça parar. Eu a destruirei assim como ela tentou me destruir."
***
Os dias se transformaram em semanas. O pessoal da segurança não conseguia burlar as criptografias dos arquivos, e cada tentativa revelava uma frase nova. De alguma forma, o jornal local descobriu tudo, e a imprensa começou a acampar na matriz da empresa.
"Senhor, há fotos do senhor com uma moça ruiva rodando pela internet," Layla me informou três semanas depois. "As características físicas são muito semelhantes a nossa ex-funcionária."
"Pague o que for preciso, mas tire essa foto de circulação. Martina não pode saber sobre isso." Por mais que meu relacionamento fosse apenas de aparências, minha noiva era uma modelo extremamente vaidosa. Um escândalo como aquele poderia piorar ainda mais a imagem da MGroup.
"Magnus já trouxe o relatório da semana?"
"Sim, ainda não encontraram o paradeiro da senhorita Amber Bayer, senhor. Ela sumiu."
Fechei os olhos irado, e a pontada de preocupação começando a me invadir. Havia algo mais naquela história, algo que eu estava perdendo. Mas agora, depois de perder 30 milhões de dólares e ter minha reputação arrastada pela lama, eu começava a me perguntar se realmente queria descobrir o que era.
"Onde você se meteu, Amber?" murmurei para mim mesmo, enquanto a chuva voltava a cair lá fora, exatamente como naquela tarde em que tudo começou a desmoronar.
AmberA primeira coisa que senti foi dor. Uma dor lancinante que parecia partir minha cabeça ao meio. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam como chumbo. Um bipe constante ecoava ao meu lado, ritmado com as batidas do meu coração."Ela está acordando," uma voz feminina soou distante. "Chame o doutor Hans."Forcei novamente meus olhos, conseguindo abri-los dessa vez. A luz branca e forte me fez fechá-los imediatamente. Tentei erguer a mão para proteger meu rosto, mas algo me impedia. Senti o puxão de agulhas e tubos em meu braço."Calma, querida. Não se mexa muito," a mesma voz, agora mais próxima. "Você está no hospital."Hospital? Por quê? Tentei falar, mas minha garganta estava seca demais. Um gemido rouco foi tudo que consegui emitir."Aqui, tome um pouco de água." Um canudo tocou meus lábios e bebi devagar, sentindo o líquido gelado aliviar o desconforto. Abri os olhos novamente, dessa vez mais preparada para a claridade.Uma enfermeira de meia idade sorria gentilmente pa
Peter"Ela acordou, senhor Calton." A voz no telefone era baixa, discreta. "Ainda está confusa, como previsto."Desliguei o celular e olhei para os documentos espalhados em minha mesa. Três dias. Foram necessários apenas três dias para criar uma vida inteira para Amber Kane - certidão de nascimento, histórico escolar, fotos de família cuidadosamente manipuladas.A tecnologia pode fazer milagres nas mãos certas."Tudo pronto?" perguntei ao homem sentado à minha frente."Sim, Calton. Os registros médicos foram alterados. Segundo o sistema, ela deu entrada sem documentos. Todo o incidente foi apagado.""E quanto à investigação do acidente?""Sob controle. A placa era falsa, como ordenado. Sem câmeras funcionando no local. Sem testemunhas dispostas a falar." Ele hesitou. "Mas...""Mas?""Não conseguimos apagar as câmeras do hotel. Por mais que tentássemos, a segurança continua inviolável. E Martinucci viu a ambulância partir."Meus dedos tamborilaram na mesa. Leonardo. Claro que ele estar
Amber"Não, não e não! Esse vestido está horrível," Peter arrancou o vestido verde de minhas mãos. "É o evento mais importante do ano, não pode usar qualquer coisa."Observei através do espelho enquanto ele revirava meu guarda-roupa, jogando peças no chão com desdém. Em três anos, era a primeira vez que me levaria a um evento social."Aqui," ele jogou um vestido dourado na cama. "Use este. E pelo amor de Deus, faça algo com esse cabelo." Olhei para meu cabelo preto na altura dos ombros, que pareciam rebeldes demais."Peter, as crianças...""Já falei com a babá. Ela ficará a noite toda," ele checou o relógio pela terceira vez em cinco minutos. "Não me faça me arrepender de te levar, Amber. É o Baile Anual de Caridade do Setor Hoteleiro, todos os grandes nomes estarão lá. Ou quase..." eu não entendi o que ele quis dizer com isso, mas não iria perguntar. Sabia que ele não responderia.Mordi o lábio, pegando o vestido. Era lindo, tinha que admitir. O tecido cintilante parecia líquido entr
Leonardo"Ouvi dizer que Peter Calton trouxe uma acompanhante," Martina comentou, ajustando seu vestido vermelho. "Dizem que é sua noiva."Ignorei o comentário, como fazia com a maioria das coisas que ela dizia. Meus olhos percorriam o salão automaticamente, avaliando cada rosto, cada contrato em potencial. Era isso que eu deveria estar fazendo, networking, política, jogos de poder. Não pensando em Calton, meu principal concorrente."Que bom para ele. Estava na hora." ela riu sem graça, tentando chamar minha atenção, mas eu não queria saber dela."Léo, não vai me convidar para conhecer alguns de seus fornecedores?" ela me olhou interessada."E por que eu faria isso?" falei sério a encarando."Pare de me tratar assim , Martinucci. Eu sei que ainda está bravo, mas já passou." ela fala, e sinto o ódio subir em minha garganta."Se acha que vou aparecer naquele casamento, está completamente errada. Temos um acordo, e isso não faz parte dele." ela riu, alisando meu terno, e me olhando com g
Amber"Por favor, está me machucando." Minhas costas pressionadas contra a parede começavam a doer, mas o homem não se afastou. Seus olhos, tão parecidos com os de meus filhos, queimavam de ódio.A sala VIP do Plaza Royal, que momentos antes me pareceu elegante com sua decoração em dourado e vermelho, agora mais parecia uma prisão. O segurança, Magnus, como o outro o chamara, bloqueava a única saída."Você não entende," tentei novamente, lutando contra as lágrimas. "Eu realmente não sei quem vocês são. Se me deixarem ligar para o meu noivo...""Noivo?" O homem riu, um som frio que me fez tremer. "Ainda não terminou sua atuação? Quer continuar fingindo que não se lembra de nada?"Tentei me desvencilhar, mas ele era muito mais forte. O perfume dele, uma mistura de hortelã com algo amadeirado, me deixava tonta, despertando sensações que eu não compreendia.A porta se abriu e outro homem entrou apressadamente. Aproveitei a distração para tentar correr, mas não fui rápida o suficiente. Mag
AmberA primeira sensação foi de desorientação. Minha cabeça latejava e minha boca estava seca, com um gosto amargo. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam como chumbo."Ela está acordando," ouvi uma voz masculina dizer. Magnus, reconheci.Forcei meus olhos a se abrirem e pisquei várias vezes, tentando focar minha visão. O ambiente era amplo e elegante, decorado em tons de cinza e azul. Uma suíte, percebi, maior que qualquer quarto que já tinha visto. E ainda assim... familiar."Onde..." minha voz saiu rouca. "Onde estou?""Em um lugar que você conhece bem," a voz dele respondeu de algum lugar à minha direita.Me sentei lentamente, segurando a cabeça que ainda girava. Estava deitada em uma cama king size, ainda usando o vestido dourado da festa, agora amarrotado. O perfume dos lençóis, um toque de lavanda, despertou algo em minha memória, mas a lembrança nunca vinha completa."Por favor," tentei me levantar, mas minhas pernas tremiam. "Preciso voltar para festa. Peter deve es
LeonardoAndei de um lado a outro enquanto ela descobria sua história."Acha mesmo que é verdade o que ela diz?" Magnus me questionou."Não sei. Espero qualquer coisa dessa mulher." parei e me virei para ele. "Ainda assim, procure por Amber Kane e veja o que descobre. Procure também entender como Peter entrou nessa história. Não acredito que seja por acaso." Ele concordou, puxando o celular e começando a digitar.Voltei para o quarto depois de 15 minutos a encontrando sentada no chão, com várias fotos e relatos espalhados a sua volta."Eu não me lembro de nada disso." sua voz soou firme."Percebo que não. Mas eu posso te ajudar com isso, se você me devolver o que roubou."Ela se levantou e me aproximei perigosamente dela. Por mais que eu negasse, meu corpo ainda a desejava e em um movimento rápido, a puxei pela nuca, a trazendo bem perto do meu corpo."Eu só quero as minhas informações de volta, Amber...e pelo que eu vejo, você quer sua vida. É uma troca justa." Sua boca se moveu sedu
AmberMinhas mãos tremiam enquanto colocava os brincos. Pareciam normais, elegantes até, mas carregavam o peso da minha nova prisão. Deslizei o celular para dentro da bolsa, tentando escondê-lo entre o estojo de maquiagem e a carteira."Quando eu mandar mensagem, você responde em no máximo cinco minutos," Leonardo falou sem tirar os olhos do próprio celular. "Se demorar mais que isso, considerarei uma quebra do acordo."O silêncio que seguiu era sufocante. O som dos dedos dele deslizando pela tela do celular parecia ensurdecedor no espaço confinado do carro."Que horas são?" perguntei de repente, um novo tipo de pânico me atingindo."Quase meia-noite," ele respondeu sem me olhar. "Ficamos fora por pouco mais de uma hora.""Uma hora?" Minhas mãos voaram para o rosto. "Não, não, não..."Abri a bolsa freneticamente, procurando um lenço. O rímel devia estar todo borrado, minha maquiagem arruinada. Peter odiava quando eu não estava impecável. Odiava quando eu desaparecia.Uma risada seca m