5. Meu novo plano

Peter

"Ela acordou, senhor Calton." A voz no telefone era baixa, discreta. "Ainda está confusa, como previsto."

Desliguei o celular e olhei para os documentos espalhados em minha mesa. Três dias. Foram necessários apenas três dias para criar uma vida inteira para Amber Kane - certidão de nascimento, histórico escolar, fotos de família cuidadosamente manipuladas.

A tecnologia pode fazer milagres nas mãos certas.

"Tudo pronto?" perguntei ao homem sentado à minha frente.

"Sim, Calton. Os registros médicos foram alterados. Segundo o sistema, ela deu entrada sem documentos. Todo o incidente foi apagado."

"E quanto à investigação do acidente?"

"Sob controle. A placa era falsa, como ordenado. Sem câmeras funcionando no local. Sem testemunhas dispostas a falar." Ele hesitou. "Mas..."

"Mas?"

"Não conseguimos apagar as câmeras do hotel. Por mais que tentássemos, a segurança continua inviolável. E Martinucci viu a ambulância partir."

Meus dedos tamborilaram na mesa. Leonardo. Claro que ele estaria lá. Seu precioso hotel, sua preciosa... funcionária.

"Não importa. Ele não pode provar nada." Me levantei, ajustando o terno. "E logo ela será apenas uma memória distante."

Peguei a pasta com os documentos e as fotos que mandei preparar. Imagens dela com "os pais", na verdade, funcionários antigos da empresa que já haviam falecido. Fotos dela na suposta casa onde cresceu,  a pequena casa dos fundos da minha propriedade, que mandei mobiliar às pressas.

"O médico foi instruído?"

"Sim. Dirá apenas o necessário. Amnésia dissociativa é conveniente, explica a falta de memórias sem levantar muitas questões."

Perfeito. Tudo estava saindo como planejado. Bem, quase tudo. O acidente deveria tê-la matado, não apenas apagado sua memória. Mas talvez isso fosse ainda melhor.

"E quanto aos arquivos da MGroup?"

"Ainda criptografados. Nem mesmo nossa melhor equipe conseguiu quebrá-los."

Claro que não. Amber não era a melhor à toa. Seus códigos eram praticamente inquebráveis. Era por isso que a queria morta inicialmente. Mas agora... agora eu tinha algo melhor. Tinha ela.

"Continuem tentado, sem ela na direção, as coisas vão começar a fraquejar." 

"Talvez agora seja a hora de tentar subornar algum funcionário do departamento de segurança. Sem a diretora, eles irão cair rapidamente, e logo teremos o controle interno da empresa." Meu sócio falou.

"Ainda não. Se atacarmos agora, Leonardo vai desconfiar e logo chegará até mim. Preciso de tempo para arrancar cada detalhe da mulher. Cada mínima informação que ela me trouxer, será um dia mais próximo da ruína de Leonardo."

"Acha que isso será o suficiente?" Owen questionou.

"Depois da manchete do jornal, onde ele perdeu um contrato de 30 milhões, não tenho dúvidas, que outras quebras de contrato virão. Como descobrimos Amber não era apenas a Diretora, mas também a amante de Leonardo, quando ela se lembrar de tudo, ficará com tanta raiva que nos ajudará de boa vontade."

"É um plano arriscado, mas pode dar certo, Peter."

"Não pode, vai. Porque se não der, eu a mato, como era o plano inicial, e nunca ninguém nos ligará a ela." Meu sócio se levantou e fiz o mesmo.

"Faça o que tiver que ser feito, mas não deixe rastros. Se me perguntarem, nunca soube de nada disso." ele saiu da sala e sorri, ironicamente. No meu bolso um gravador registrava cada traço de nossa conversa. "Se eu cair, você cai, Owen."

Saí de minha sala e me virei para minha secretária.

"Mande preparar o carro imediatamente. Estou de saída."

No elevador, ensaiei minha expressão. Preocupação, alívio, amor, tudo precisava parecer genuíno. Amber podia estar sem memória, mas seu instinto ainda estava lá. Ela era esperta demais para baixar a guarda facilmente.

"A primeira impressão é crucial," murmurei para meu reflexo no espelho do elevador. "Seja o salvador, não o predador."

No carro, revisei mentalmente cada detalhe da história que criamos. Cada momento precisava ser consistente, cada informação precisava se encaixar perfeitamente. Uma única falha e todo o plano desmoronaria.

"Quanto tempo até o hospital?"

"Quinze minutos, senhor."

Tempo suficiente para uma última revisão. Abri a pasta novamente, estudando cada documento. A história era simples: seus pais trabalharam para minha família por anos. Quando morreram, a acolhemos. Nos apaixonamos. Éramos felizes até o acidente.

Simples. Claro. Acreditável.

O celular vibrou. Uma mensagem de texto: "Martinucci está furioso. Está vasculhando cada canto da cidade atrás da mulher."

Sorri. Que tente. Não encontrará nada. Em algumas horas, Amber Bayer deixará oficialmente de existir. Apenas Amber Kane permanecerá - minha Amber Kane.

O carro parou em frente ao hospital.

"Senhor?" O motorista me olhou pelo retrovisor. "Chegamos."

"Ótimo." Ajeitei a gravata uma última vez. "Hora do show."

Caminhei pelos corredores do hospital com a expressão estudada de preocupação. Cada passo me aproximava mais do meu objetivo. Cada movimento era calculado.

Parei em frente ao quarto dela, respirei fundo. Era hora de conhecer minha "namorada".

"Graças a Deus você acordou!"

O resto, como dizem, é história. Uma história que eu mesmo escrevi, linha por linha, mentira por mentira.

Observei-a adormecer, o medicamento que pedi à enfermeira para administrar fazendo efeito rapidamente. Toquei seu cabelo vermelho. Não que não combinasse com ela, mas era chamativo e evidente demais, teria que mudar.

"Durma bem, meu amor." Sussurrei, um sorriso frio nos lábios. "Quando acordar, começaremos sua nova vida. A vida que eu escolhi para você."

Saí do quarto para encontrar o médico. Havia ainda muitos detalhes a acertar, muitos rastros a apagar e dinheiro a pagar.

Mas ela era minha agora. E em breve, muito em breve, usaria seus talentos para destruir Leonardo Martinucci de uma vez por todas.

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