4. Hospital

Amber

A primeira coisa que senti foi dor. Uma dor lancinante que parecia partir minha cabeça ao meio. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras pesavam como chumbo. Um bipe constante ecoava ao meu lado, ritmado com as batidas do meu coração.

"Ela está acordando," uma voz feminina soou distante. "Chame o doutor Hans."

Forcei novamente meus olhos, conseguindo abri-los dessa vez. A luz branca e forte me fez fechá-los imediatamente. Tentei erguer a mão para proteger meu rosto, mas algo me impedia. Senti o puxão de agulhas e tubos em meu braço.

"Calma, querida. Não se mexa muito," a mesma voz, agora mais próxima. "Você está no hospital."

Hospital? Por quê? Tentei falar, mas minha garganta estava seca demais. Um gemido rouco foi tudo que consegui emitir.

"Aqui, tome um pouco de água." Um canudo tocou meus lábios e bebi devagar, sentindo o líquido gelado aliviar o desconforto. Abri os olhos novamente, dessa vez mais preparada para a claridade.

Uma enfermeira de meia idade sorria gentilmente para mim. Atrás dela, aparelhos médicos piscavam e apitavam. Meu braço direito estava engessado e vários fios saíam do meu corpo.

"O que..." minha voz saiu rouca, "o que aconteceu?"

"Você sofreu um acidente, mas vai ficar tudo bem." Ela ajustou algo no soro. "O médico já está vindo te examinar."

Acidente? Que acidente? Tentei me lembrar, mas era como se uma névoa densa cobrisse minha mente. Quanto mais eu tentava alcançar as memórias, mais elas pareciam fugir.

"Que dia é hoje?" perguntei, sentindo um início de pânico.

"Primeiro de novembro."

"De que ano?"

A enfermeira hesitou por um momento. "2021."

2021? Isso fazia sentido? Por que eu não conseguia ter certeza?

"Como é seu nome, querida?" ela perguntou suavemente.

Abri a boca para responder e... nada. O pânico cresceu. Meu nome. Qual era meu nome? Por que eu não conseguia me lembrar do meu próprio nome?

O monitor cardíaco começou a bipar mais rápido. Minha respiração acelerou.

"Eu não... eu não sei." As lágrimas começaram a escorrer. "Por que eu não sei meu nome?"

"Está tudo bem, é normal ficar confusa depois de um trauma." A enfermeira segurou minha mão. "O doutor vai explicar tudo."

Olhei em volta do quarto procurando algo familiar. Nada. Nem mesmo as roupas dobradas sobre a poltrona me diziam algo.

"Tem alguém... tem alguém me procurando?" perguntei, tentando encontrar alguma conexão com minha vida.

"Ainda não, querida. Você estava sem documentos quando chegou."

Sem documentos. Sem nome. Sem memórias. O que tinha acontecido comigo?

A porta se abriu e um médico entrou, seguido por outros dois homens de jaleco. "Bem-vinda de volta," ele sorriu, consultando uma prancheta. "Sou o doutor Hans. Você nos deu um susto e tanto."

"Por que não consigo me lembrar de nada?"

"Você sofreu um traumatismo craniano severo. É comum haver perda de memória nesses casos." Ele se aproximou, iluminando meus olhos com uma pequena lanterna. "Vamos fazer alguns exames para avaliar a extensão do dano."

As perguntas começaram. Que dia era hoje? Quem sou eu? Onde eu estou? Algumas eu conseguia responder, outras não faziam o menor sentido. Era como se parte do meu cérebro funcionasse perfeitamente, enquanto outra estava completamente apagada.

"Parece ser um caso de amnésia dissociativa," o médico explicou depois dos testes. "Você mantém suas memórias gerais, conhecimentos básicos, mas perdeu suas memórias pessoais."

"Isso... isso é permanente?"

"Cada caso é único. As memórias podem voltar aos poucos, ou..."

A porta se abriu novamente. Um homem alto, de terno escuro e cabelos perfeitamente alinhados entrou apressado.

"Graças a Deus você acordou!" Ele veio até minha cama, seus olhos brilhando de preocupação. "Estava tão preocupado."

Olhei para o médico, confusa. O homem percebeu minha hesitação e seu rosto ficou sério.

"Amber, sou eu, Peter." Ele segurou minha mão entre as suas. "Não se lembra de mim?"

Peter? O nome não significava nada. Puxei minha mão de volta, assustada.

"Desculpe, ela está com amnésia," o médico explicou. "Não se lembra nem mesmo do próprio nome."

"Oh, meu amor." Peter se sentou na beira da cama. "Sou seu namorado. Estava te procurando a dias. Nunca imaginei que poderia ter sofrido um acidente."

Namorado? Eu tinha um namorado?

"Como... como me encontrou?"

"Reconheci sua foto no sistema de pessoas desaparecidas." Ele sorriu gentilmente. "Vim assim que soube."

Estudei seu rosto procurando algo familiar. Nada. Mas ele sabia meu nome. Sabia quem eu era.

"Meu nome é Amber?"

"Sim, Amber Kane." Ele acariciou minha mão. "E eu vou cuidar de você, prometo. Vou te ajudar a lembrar de tudo."

Kane. Amber Kane. O nome soava estranho, como se pertencesse a outra pessoa. Mas era tudo que eu tinha naquele momento.

"Tem mais alguém?" perguntei esperançosa. "Meus pais?"

Uma sombra passou pelo rosto de Peter. "Seus pais faleceram há alguns anos. Éramos só nós dois."

O vazio em meu peito aumentou. Sozinha. Eu estava sozinha no mundo, exceto por este homem que dizia ser meu namorado.

"Descanse agora," ele beijou minha testa. "Estarei aqui quando acordar."

"Preciso que nos tire algumas dúvidas, para que eu passe o caso dela para o senhor. Foram 3 dias desacordadas, acredito que..."

"Sim, claro. Eu mesmo dei queixa na polícia sobre o desaparecimento dela. Eu trouxe todos os documentos, doutor." Ele me olhou de novo e desviei o olhar, com medo do que podia encontrar ali. 

Minha cabeça latejava, enquanto a enfermeira aplicava algo em meu soro. Olhei novamente para o homem e ele sorriu para mim, de forma atenciosa, mesmo prestando atenção no médico.

"Descanse agora querida, seu namorado irá resolver tudo. Você não está mais sozinha."

Fechei os olhos, exausta. Em algum lugar, enterrado no fundo da minha mente, algo gritava que havia algo errado. Mas eu estava confusa demais, assustada demais para ouvir.

Naquele momento, Peter era minha única conexão com quem eu era. Minha única chance de recuperar minha vida.

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