Tess se sentia ridícula naquele vestido cheio de pregas e seda. Mas ela tinha que admitir que gostava de como o filho da dona da loja olhava para ela.

O vestido era carmim e prateado. Magnífico. Não era muito chique, mas deixava-a linda. Era melhor que a túnica velha e as calças rasgadas que normalmente usava.

Mas a pior parte ainda era o salto irritante. Ela mal conseguia ficar de pé naquelas duas agulhas.

A dona da loja, Ayla, era uma mulher de meia-idade cujo filho, Beau, ajudava-a  quando não estava no trabalho como ajudante de mercador. Era uma espécie de amiga para Finnick e Tess, então concordara em arrumar a garota para o baile de inverno pelo custo de duas moedas de ouro.

Já era noite quando Ayla finalmente permitiu que Finnick visse a garota. Tess estava muito bela. Ela fizera um coque com tranças e tirara alguns fios para que caíssem pela pele pálida da jovem. Maquiou a garota passando uma camada delicada de delineador preto e sombra em volta dos olhos da garota, fazendo com que o azul se destacasse, passou uma camada de batom vermelho escuro em seus lábios, quase vinho, e por fim finalizou com o tema da festa: uma máscara delicada, carmim com arabescos prateados.

Ao olhar-se no espelho, Tess percebeu que estava deslumbrante. 

"Não sei que milagre fez para deixá-la bonita, mas se custou apenas duas moedas, ela devia voltar aqui todos os dias." Finnick disse para Ayla, que riu como um pato engasgado.

Tess bufou. " Se é tão bonito, como ainda não arrumou uma namorada?"

O irmão corou. " Não preciso de namorada quando tenho você para ocupar cada pensamento meu." Os dois riram, mas ele ainda não tinha terminado. " Venha cá, quero te dar uma coisa."

Ela se aproximou e ele tirou da bolsa de couro um enorme colar prateado, no pingente havia um rubi do tamanho de um olho.

" É lindo, Finn." Ela exclamou enquanto ele prendia o colar ao pescoço pálido dela.

"Agora está perfeita. Uma verdadeira dama da nobreza." Ayla riu. " Agora vá, a carruagem já deve estar aí. "

Tess fez uma careta ao irmão. " Gastou dinheiro com uma carruagem?"

Antes que ele respondesse, Beau se apressou em responder. " Não. É um presente meu para completar sua perfeição. "

O garoto ruivo corou consideravelmente. Agradecendo, Tess pousou um beijo na bochecha dele. " Muito gentil."

Como uma precaução, Finnick prendeu as adagas gêmeas às coxas de Tess antes que ela partisse.

" Se algo der errado, vá para o portão sul, eu estarei lá. Se tudo der certo, volte diretamente para cá e te encontro aqui. Agora vá. " Finnick beijou a testa da irmã e a viu entrar na carruagem, partindo para o castelo do Lorde.

Ele mal podia acreditar que faltavam dois dias para o aniversário de dezoito anos dela.

.........................................................................................................................

Tess estava abrindo e fechando a mão para evitar que tremesse, um truque que um amigo a ensinara.

O baile estava lindo, mas estava o ar estava congelante. Ela tinha certeza que os lábios vermelhos estavam azuis.

Por sorte, o baile foi na parte de dentro do castelo. Música melódica soava dos violinos, harpa e piano no canto. Os nobres dançavam por todo lado.

Ela viu muitos olhares na direção dela, mas ignorou todos. Ela sabia porque o irmão a mandara até ali:a jóia da senhora de Holirya, Fraya Cornelius, esposa do Lorde.

Ela era melhor em roubar objetos protegidos do que Finnick, se esgueirando como uma cobra entre os obstáculos.

Ela viu o homem se aproximar dela um segundo antes dele sussurrar em seu ouvido. " Uma bela mulher combina com esta bela noite."

Ela se afastou um pouco dele e forçou um sorriso. Reconheceu o homem como o barão Georgius Valira.

" Meu senhor. " Ela o cumprimentou com uma leve reverência.

" Ora, e como seria o seu nome?" Ele perguntou ainda com um sorriso sedutor.

Georgius era alto e magro e tinha um rosto belo, mas ela sabia da fama de mulherengo dele. Pobre baronesa Lilia.

" Sou Pryia Farlentine, senhor." Ela sorriu.

" Me daria a honra de uma dança? " A expressão dele era de que não aceitaria um não como resposta.

Segurando a mão do barão, ela foi conduzida até a pista de dança onde se lembrou do que aprendera com a amiga do leste, Maya, sobre danças.

Depois de dançar duas músicas com o barão, ela se afastou dele quando ele se distraiu com outra dama que passava. Ela estava metros longe quando ele virou a cabeça de volta.

Ela seguiu para a mesa de bebidas, onde pegou uma taça de vinho.

Sabia que a jóia da senhora–uma enorme esmeralda que custava quase tanto quanto aquele castelo–estava no andar de cima e com pelo menos quatro guardas de vigia.

Então Tess elaborou um plano na cabeça e rapidamente o colocou em prática.

Subornou um dos violinistas com algumas moedas de prata para que tocasse uma música mais rápida. Como o previsto, logo todos dançavam fervorosamente. E ninguém olhava para a escada.

Mas era loucura subir aquela na frente de todos. Precisava achar a escada dos criados.

Ela notou que as criadas entravam e saíam do salão através de um corredor semi-oculto da pista de dança. Se dirigiu até lá com cuidado.

Quando finalmente chegou, se aproximou da parede e fingiu passar mal. Ela atravessou duas portas–uma dava para a cozinha e a outra para um armazém–até chegar onde queria.

Entrou cambaleando na saleta onde estavam algumas criadas. As três gorduchas com uniformes branco e verde arregalaram os olhos para ela.

" Senhorita, a senhorita está bem?" Uma deles perguntou.

Ela gemeu e agarrou a cabeça. " Estou passando mal. Será que haveria um quarto para que eu me deitasse no andar de cima?"

A mesma criada assentiu e a puxou para uma escada de madeira atrás da saleta. Subiu com a garota e a deixou num quarto enorme, talvez maior que a "casa" que dividia com Finnick.

"Espere, onde fica os aposentos do lorde? Não quero incomodá-lo." Tess perguntou inocentemente.

" Não se preocupe, senhorita. Ficam no final do andar, na ala sul, portanto não se preocupe. Descanse e volte para a festa assim que se sentir melhor."

A criada deixou o quarto e Tess sorriu, esperando.