Capítulo Sete

Antes mesmo de acordar, ela viu as imagens da cabeça dele. Ele sonhava com campos que ela sabia e não sabia que eram de Varinth, o antigo lar de Alek. Ele corria sobre um cavalo branco absolutamente lindo.

Mas aquilo era errado. Tess não conhecia os campos de Varinth e jamais havia montado num corcel daqueles.

Ela acordou abruptamente e se sentou no sofá duro e desconfortável. A dor no estômago e nas costelas havia diminuído consideravelmente no último dia, devido aos cuidados de Alek.

Ela ouviu passos apressados vindos do corredor e Alek surgiu na sala. Ele estava sem camisa, apenas com uma calça larga de veludo barato cinza. Seus cabelos estavam espetados e desajeitados. Ela percebeu que ele saíra correndo da cama--isso explicaria os olhos estranhamente alertas.

Ouvi você gritar.

Alek pareceu ter dito isso, mas seus lábios não se moveram.

Uma sensação estranha a percorreu, uma espécie de medo e preocupação. Mas não era dela esses sentimentos.

" O que está acontecendo? " Ela perguntou com a voz fraca.

" Eu ouvi você gritar. E pensei que algo tivesse acontecido. " Ele esfregou a nuca.

" Alek, isso vai soar muito estranho, mas com o que você estava sonhando?" Ela perguntou com cautela.

Ele se jogou no sofá ao lado dela. " Com Varinth. Nos campos de caça da minha família lá. Eu estava montado sobre Karnie, meu cavalo." Um sorriso torto estava em seus lábios, mas a garganta de Tess secou.

" Karnie era branco." Foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

Ele franziu a testa para ela. " Como sabe?"

" Porque eu vi o sonho. Você estava perseguindo uma lebre branca e marrom. " Ela estava segurando o pânico que ameaçava invadir seus pensamentos.

" O que quer dizer com você viu o sonho? " Ele perguntou.

" Eu vi o sonho. Como se fosse meu. Assim como ouvi você falar sem ter aberto a boca."

Isso é loucura.

Ela pulou do sofá, ficando de pé num segundo. " Eu não estou louca! Eu sei o que vi e ouvi."

Ele se ergueu também, completamente confuso. " Você ouviu isso?"

Ela assentiu. Ele puxou o cabelo e andou de um lado para o outri reptidas vezes. "Tess, eu não falei isso. Eu pensei isso."

O coração dela palpitou. " Alek, alguma coisa está muito errada."

Antes que ele pudesse responder, um barulho alto de baque, seguido por repetidos farfalhares soou do lado de fora da porta principal.

Ela se encolheu e Alek estava ao seu lado em um segundo. Ouviram mais uma série de farfalhares e mais um baque antes que...alguém batesse na porta.

"Não atenda." Tess sibilou.

" Preciso. " Ele disse, então correu para o quarto e voltou dois segundos depois com uma camiseta de manga comprida.

Ela seguiu atrás dele, a mão segura na faca que ela pegara na pia da cozinha.

Ele destrancou a porta e com um último olhar para a garota atrás dele, ele escancarou a porta.

Um homenzinho baixinho estava à porta. Ele tinha uma barriga gorducha,estranhos olhos pretos e não podia ser maior do que a altura entre o pé e o joelho de Tess. Mas não foi nada disso que chamou a atenção dos dois. Ao invés disso, contiveram um grito ao olhar para a pele verde-musgo do homem, as orelhas curvadas e pontudas e os dentes afiados e pequenos que estavam retorcidos num sorriso formal.

" Alek Fyodor e Tess Hayne? " O homem perguntou num voz com um sotaque pesado e desconhecido.

Ambos apenas assentiram, incapazes de falar.

" Sou Gandor e venho em nome de minhas três Majestades, rainhas Mab, Maeve e Mora. Vim para buscar vocês. " Ele continuou, como se o medo não estivesse estampado na face dos dois jovens.

" Ora, mas que casalzinho mal-educado esse! Vão ficar me encarando ou me convidar para entrar?" O homem reclamou.

" Entre, senhor." Alek gaguejou.

Ele limpou a neve do casaco pesado e entrou com passos de pinguim.

" Porque exatamente veio nos buscar? E para onde vai nos levar?" Tess perguntou subitamente.

" Ora, você completou dezoito anos e ele faz o mesmo dois anos atrás. Viajei a noite toda para chegar aqui cedo. Vim levar vocês até a Academia Escarlate, é claro." Ele riu.

" Mas que homenzinho maluco." Alek exclamou.

" Não sou um homem, meu caro. Sou um goblin. Sirvo minhas rainhas para qualquer situação. E vocês ainda não devem ter descobrido o laço. " O goblin meneoou a cabeça.

" Que laço? " Tess insistiu.

O goblin riu, o que foi uma mistura de um passarinho e um homem bêbado sendo brutalmente assassinado.

" O laço dos Gêmeos, é claro! " Ele riu mais um pouco.

Gêmeos. A palavra pareceu açoitar Tess. Aquilo era impossível. Gêmeos! Ela e Alek! Que idéia ridícula.

Ela tinha vontade de rir na cara do goblin, mas ao ver a expressão paciente dele, resolveu não fazê-lo. Mas aquela era uma idéia estúpida.

" Senhor, acho que se enganou. Eu sou só uma ladra de jóias e ele é só um curandeiro. Não somos ninguém. "

"Ora, minha cara, a grande Deusa deve saber exatamente quem você é de verdade se te deu tal dádiva. Agora precisamos ir." Ele bateu palmas para estimular os dois.

Alek se manifestou. " Senhor, ser Gêmeo de outro significa ouvir os pensamentos um do outro e sentir o que o outro sente?"

Gandor pensou um pouco antea de responder. " É mais complicado que isso. Vocês compartilham uma ligação mental para o que desejam partilhar com o outro. E quanto as sentimentos, é praticamente a mesma coisa. "

Foi como se dessem um tapa na cara de Tess. A garota estava começando a acreditar no que se recusava a crer há tanto tempo.

Gêmeos. Talvez a idéia não fosse tão absurda.

" Eu irei com você. " Alek disse, quebrando o silêncio tenso.

Tess olhou para ele e viu a decisão em seus olhos. Era um presente da grande Deusa Mãe, afinal.

Suspirando, ela acompanhou o amigo. " Eu também vou."

Gandor bateu palmas e sorriu. " Excelente. Peguem seus pertences de maior valor sentimental, quanto ao resto deixem para trás. Vocês estão indo para a Academia Escarlate, afinal."

Tess pegou as adagas gêmeas e as prendeu ao cinto. Era as únicas coisas que podia levar. Depois de perguntar se não podia ver o irmão pela última vez, ouviu do goblin que não havia tempo pois eram o último casal de Gêmeos e que a Cerimônia de Escolha seria em cinco semanas. Permitiu que caíssem duas lágrimas por Finnick, então partiu com o goblin e Alek.

Eles foram recepcionados por três brutamontes--que se apresentaram como meio ogros e meio gigantes, o que os tornava ogros gigantes.

Não havia carruagem ou qualquer tipo de veículo, então Tess perguntou. " Como vamos viajar?"

Gandor riu." Vamos por Narlfe, a forma de transporte mais rápida. Tomem, bebam isso." Ele entregou um copo com um líquido dourado para cada um dos jovens.

Assim que bebeu o líquido estranhamente doce, a mente de Tess ficou pesada. Ela viu Alek fraquejar um segundos antes de ser engolida pela escuridão.

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