Tess acordou com um barulho de metal contra metal. Ela abriu os olhos, alerta, e se levantou. Ignorou a dor no abdômen e olhou ao redor.
Atrás do sofá onde estava, ela podia ver Alek na cozinha. Como se algo o chamasse, ele olhou na direção dela.
"Com fome?" Ele perguntou.
Como se esperasse o momento, seu estômago roncou alto. Tão alto que o garoto ouviu da cozinha.
Ele riu. " Venha comer."
Ela se levantou. Por um milagre, a dor na barriga e nas costelas havia diminuído consideravelmente.
" O que colocou nessas bandagens?" Ela tocou a barriga.
" Uma pomada para dor. Sou aprendiz de curandeiro. E você? "
Ela riu com amargura. " Ladra de jóias. "
Ele levantou as sobrancelhas. " Verdade? Bem, então vou adorar ouvir a história sobre o que aconteceu com você ontem, para que ficasse nesse estado."
"Está tão ruim? " Ela gemeu.
" Olhe você mesma." Ele estendeu uma frigideira para ela, cujo fundo de metal formava um espelho. Ela sentiu vontade de chorar quando viu a mancha roxa no queixo, um corte no lábio e outro na sobrancelha.
" Poderia ter sido pior. " Ele deu de ombros.
Ela se sentou na mesa de dois lugar minúscula e esperou pela comida.
Ela contou a história da noite anterior, sem deixar detalhes de fora. Eles comeram torrada, manteiga e ovos. Alek a interrompia às vezes para fazer comentários que a faziam rir, e ela sabia que ele fazia isso para quebrar o clima tenso da história.
Quando chegou à parte em que Hernest batia nela, a expressão do garoto ficou sombria. Por fim, ela perguntou o que ele fazia ali tão tarde da noite.
"Bem, eu estava numa peça de teatro ali perto, Rosalie e Went, já ouviu falar?"
Ela riu. " Sim, mas você não parece o tipo de cara que gasta sua noite vendo Rosalie e Went. Mas não respondeu minha pergunta completamente. "
Ele mordeu o último pedaço de torrada. " Para a sua sorte, aquele era meu caminho habitual. Um pequeno atalho do teatro até aqui, em Saldara, para evitar a avenida principal. "
Ela assentiu e comeu um pouco dos ovos que estavam um pouco sem sal. Ela gostava de Alek. Ele era engraçado, divertido e tinha um brilho estranho nos olhos dele que a faziam se sentir confortável.
" Bem, a que horas posso voltar para casa?" Ela perguntou, cansada de tanto comer.
Ele riu. " Dê uma olhada na janela."
Ela se levantou e andou até a minúscula janela. Pequenos flocos de neve se prendiam ao vidro e parecia especialmente frio do lado de fora. Do lado de fora, uma camada de neve de pelo menos quarenta centímetros impedia que abrissem a porta, tanto do lado de dentro quanto de fora.
"Não acredito nisso. Meu irmão deve estar tendo um ataque. " Ela choramingou.
" Ei, anime-se. Passaremos um tempo aqui enquanto não limpam a rua ou até que a neve derreta. Nada mais divertido. " Ele riu.
" Não posso passar meu aniversário de dezoito anos com um estranho! " Ela gemeu.
Ao se lembrar que no dia seguinte ela finalmente seria maior e poderia beber sem ter que subornar os atendentes ou se esconder de todos, ou até mesmo roubar algumas garrafas.
"Está brincando, certo? " Ele se inclinou sobre a mesa, encarando-a. Ela negou com a cabeça e um dar de ombros. " Não posso acreditar. Então, Tess, você terá o melhor aniversário de todos."
Ela riu. " Claro que vou."
Ele se levantou. " Estou falando sério ou não me chamo Alek Fyodor." Ele jurou e estendeu a mão para a garota. " Venha, no meu aniversário de dezoito anos, um amigo me fez beber durante a véspera toda e no dia acordei com a pior ressaca da minha vida!" Ele gargalhou, o som aquecendo as entranhas de Tess.
Os dois passaram o dia em frente à lareira, jogando cartas e tomando goles de uma garrafa de vinho que Alek tinha.
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Ambos estavam quase bêbados antes do almoço. Eles riam sem saber porque examente entavam rindo, faziam piadas totalmente sem graça mas que fazia o outro rir enlouquecidamente.
Alek ganhava a maior parte das partidas dos jogos de carta, até que Tess jogou todas as cartas para o alto e se jogou no chão, encarando a lareira que crepitava.
" Cansou de perder?" Alek perguntou, rindo e tomando mais um gole da garrafa azulada.
" Você está roubando. E quero fazer alguma outra coisa." Ela protestou." O que quer fazer, milady?"
Ela jogou um braço sobre os olhos e gemeu. A cabeça rodava de um jeito estranho que a desagradava. Por fim, tomou a garrafa da mão do outro e bebeu um grande gole que a fez engasgar.
" Quero saber um pouco de você. Me conte sobre porque exatamente mora sozinho." Ela pediu, encostando a base do pescoço no sofá ao lado da perna do garoto.
" Bem, é uma história longa e miserável que eu vou encurtar para você. Quando tinha quatorze anos, meu pai morreu, então minha mãe se isolou com sua tristeza interminável. Por isso, peguei minha parte da herança e me mudei para Holirya. É com esse dinheiro que sobrevivo até hoje."
"De onde você era?" Ela perguntou.
" Varinth, no sul. Meu pai era barão de um pedaço de terra lá. E você? "
"Sou de Chrases, no norte. " Ela disse, com a garganta apertada.
" Chrases não é a cidade-divisa com a terra dos Assassinos de Ferro? "
" É. E foi na mão de um bando deles que meus pais morreram." A voz dela não era nem um sussurro.
Alek engasgou com o vinho. " Sinto muito. Quantos anos você tinha?"
" Dez. Meu irmão tinha dezessete, então me criou a partir de lá. De Chrases fomos para Pertrin, então para Joraele e então viemos para cá. Estamos aqui há quase dois anos."
"Fico feliz por ter seu irmão. Pelo menos tem alguém. " A amargura na voz do garoto foi tanta que Tess se encolheu e não foi capaz de responder nada.
Depois de mais um tempo conversando, ela pegou um livro para ler enquanto Alek cozinhava o jantar.
Foram dormir cedo com a promessa de que o dia seguinte seria melhor.
Mas quando soou meia-noite, como a última peça de um quebra-cabeça se encaixando, as almas de Tess e Alek foram ligadas.
Antes mesmo de acordar, ela viu as imagens da cabeça dele. Ele sonhava com campos que ela sabia e não sabia que eram de Varinth, o antigo lar de Alek. Ele corria sobre um cavalo branco absolutamente lindo. Mas aquilo era errado. Tess não conhecia os campos de Varinth e jamais havia montado num corcel daqueles. Ela acordou abruptamente e se sentou no sofá duro e desconfortável. A dor no estômago e nas costelas havia diminuído consideravelmente no último dia, devido aos cuidados de Alek. Ela ouviu passos apressados vindos do corredor e Alek surgiu na sala. Ele estava sem camisa, apenas com uma calça larga de veludo barato cinza. Seus cabelos estavam espetados e desajeitados. Ela percebeu que ele saíra correndo da cama--isso explicaria os olhos estranhamente alertas.
Tess acordou com um leve balanço. Algo rígido a segurava, percebeu. Ela abriu os olhos devagar e viu que um dos ogros a carregava. Ele tinha o nariz achatado, cabelos ralos e embaraçados e cicatrizes demais no rosto e nos braços. Devia ter quase dois metros de vinte de altura e era extremamente forte, como um mercenário de guerra. O ogro percebeu que ela o examinava e bufou. Gandor, que ia na frente, se virou e sorriu para ela. " Ora, olá garota-Tess. Estamos quase chegando. Sinto muito por ter que usar a Calicia em você, mas vocês dois não estão acostumados a viajar com Narlfe, por isso achei melhor que dormisse. Mas não perderam nada, essa viagem é especialmente chata. Solte-a, Nythu." O ogro ,Nythu, obedeceu e a pousou no chão.
Tess estava na varanda, apreciando a bela vista da terra feérica, quando ouviu passos entrando no quarto. Ela se virou e viu três mulheres, paradas ali, encarando-a. A primeira era uma ninfa gorducha que parecia ter meia-idade, com grossos cachos loiros na cabeça. A segunda era uma Anjana, que se parecia muito com uma humana, mas tinha a pele branca e perfeita demais para isso. Ela usava um vestido de seda rosa fluido e belo e tinha a cabeça adornada com uma coroa de flores coloridas. Já a terceira, era uma fada do tamanho do antebraço de Tess. Tinha cabelos arroxeados e a pele branca como porcelana. Usava um vestido lindo e verde, que combinavam com suas asas. " Ora, então é esta a menina? Mas que beleza! " A ninfa gargalhou. " Olá criança, meu nome é Therae e estas são Danara e Wi
As entranhas de Tess se remoíam enquanto ela se decidia se entrava ou não no salão de treinamento dos Gêmeos. Ela encarava a porta enorme de madeira branca, cujos arabescos dourados se misturavam às estruturas da parede também, parecendo magia. Ela não duvidava que fosse. Estava ali há pelo menos cinco minutos, decidindo entre entrar ou correr para longe dali. Mas por fim, ela juntou o que restava da coragem dela e abriu a porta. O salão era enorme, um pouco menor do que um salão de baile comum. Ela viu as três partes que dividiam o salão. A primeira era algo parecido com uma área de treinamento físico. A segunda era um tatame enorme e azul. Mas foi a terceira que chamou sua atenção. Era a maior área, pegando quase metade do salão
Cinco dias haviam se passado até que um deles demonstrasse os poderes. E não foi Tess, para o descontentamento dela. Os dois estavam parados ao lado de Dannaer havia quase três horas e Tess estava sinceramente pensando em desistir, mas Alek ameaçava amarrá-la à cama se tentasse fugir. Então, enquanto fechava os olhos e se concetrava de novo, Tess ouviu arquejos e sentiu um súbito calor. Alek tinha uma bola de fogo na mão e parecia prestes a desmaiar. Apague isso!Ela gritou. Então a bola de fogo foi extinta, deixando pessoas boquiabertas encarando os dois. " Bem, parece que só falta um elemento, se é que
Reana curou os ferimentos de Alek facilmente. Contrey ficava sempre ao lado da companheira, como uma sombra protetora. Tess achou incrível o dom de Contrey. Ele podia fazer com que as pessoas vissem o que ele quisesse, criando uma ilusão por tempo o suficiente para matar alguém com uma espada. Tess agradeceu milhares de vezes à Reana, que tinha um rosto meigo em forma de coração. Já Contrey tinha o rosto duro e o olhar sempre protetor em cima da parceira. Tess não quis acompanhar os outros no almoço, por isso Alek, Krisa e Liam ficaram com ela enquanto treinava com seus novos dons do gelo. A linha mágica era fácil de achar agora, como se fosse natural, mas ela não conseguia controlar direito as rajadas gélidas ou a temperatura que descia a níveis preocupantes, criando camadas de gel
Tess acordou com uma comoção, um burburinho constante, pela Academia. Ela estava de pé em um segundo ao ouvir passos do lado de fora de seu quarto. Uma cabeça de cabelos castanhos surgiu na porta. " Não vai acreditar quem está aqui!" A garota gritou. " Venha, você precisa vê-los." Tess gaguejou algo ininteligível e correu ao quarto de vestir. Colocou uma calça, uma túnica cinza e botas. Escovou os dentes enquanto Krisa penteava seu cabelo. Em menos de dois minutos as duas estavam correndo para o jardim principal. Tess quase derrubou um anão no meio do caminho. Ela gritou desculpas enquanto Krisa mandava ventos para impulsioná-las a ir mais rápido. Em menos de trinta segundos, as
Alek a encontrou assim que Tess se afastou de Rowan. Ele tinha o cabelo desarrumado e parecia ter colocado as primeiras roupas que achou. O que exatamente está acontecendo aqui?Ele perguntou. As rainhas mandaram representantes. Uma dríade para Mab, o general da Legião Sombra para Maeve e Clio e Garnett para Mora. Ele ergueu as sobrancelhas.Incrível. Já falou com alguém? Tess assentiu.Rowan é bem gentil.Ela olhou para o guerreiro que agora conversava com Nortrem. Bem, vamos conhecer os outros. Tess segurou o braço de Ale