MAGNUS.
A noite era escura e preenchida por terror noturno. Se encarasse ao redor, poderia sentir todo o mundo se tornando cada vez menos branco, ganhando um tom levemente esverdeado e marrom. A troca de estação estava se tornando real.
Magnus sentia os pés tremerem pelo frio constante, os dentes rangendo de vez em quando, mas não o impediu. Continuou caminhando e em seu sonho de lobo, ele era rápido. Percorreu o vale das colinas e a floresta de inverno, observou a lua e chamou por seus irmãos, mas não havia ninguém para responder. Nunca houve.
Poderia se lembrar perfeitamente de todas as ocasiões em que brincou junto a alguém da sua idade, de todas as vezes que subiu na casa da árvore e acabou brincando de boneca com Teresa. Magdalena o batia em todas as ocasiões, dizia que era coisa de garota. Ele não se importava. Gostava de ter alguém para brin
DEXTRA.Em algumas ocasiões sentia como se pudesse voar para longe de seu corpo e observa-lo de cima, onde tudo parecia tão mais simples. Em algumas outras, sentia como se tivesse morrido e fosse seu espírito a vagar pelo mundo, agindo como se ainda estivesse vivo, enganando cada ser humano ao redor. Era um pensamento terrível.Seus olhos estavam perdidos sobre o teto levemente manchado de uma tinta mal passada, tão antiga quanto a própria casa que residia. Os braços estavam esticados e a cabeça reta, como o corpo em um caixão de molas e almofadas confortáveis. Seu manto poderia ser a condenação.Dextra sentia como se pudesse voltar no tempo e impedir seu nascimento, mas o que seria de suas doces meninas? O corpo parecia enjoado.Sempre que fechava os olhos, conseguia ver onde um dia estivera, acima de tudo e ao mesmo tempo tão abaixo. Cansada e per
A GAROTA NO PONTO DE ÔNIBUS.O mundo era escuro e cheio de terror noturno. Quando olhava para baixo, onde toda a cidade residia tão pequena sob seus pés, ele sentia-se novo outra vez. Como se não houvesse passado tanto tempo preso dentro de uma casca viva parcialmente. Como se fosse liberto pelo desejo. Mesmo tão de longe ele conseguia farejar o odor de homem, o cheiro tênue de chá vermelho e a lavanda. Era sempre lavanda, como sendo mundo fosse um banheiro de bar.Estava cansado. Sentia o peso sobre as pernas, mas mesmo assim o arrastou até onde pôde, sua força estava esvaindo e a fome começava a surgir em um salivar incomum. Diante da presa, ele rasgou parte de sua carne, sentiu o gosto metálico, porém frio, a carne estava apodrecendo sobre seus dentes e o gosto era terrível, mas ainda sim, empurrou tudo para dentro. Não havia uma boa colheita em ano
Sonhos de Lua e uma garota perdida no passado.Como um antigo sonho ela permaneceu durante um decênio. O corpo era uma coisa pálida pela falta de vitamina d e todas as suas articulações doíam. Ela gostava de ficar sentada de frente à janela onde a paisagem era de linhas escuras e tijolos. Algumas vezes tentava conjurar um familiar, mas seu corpo mundano não era bem alimentado para tau.Ela sentia como se estivesse pronta para partir e em algumas ocasiões tinha a certeza que o dia havia chegado. Elescostumavam abrir o compartimento de alimentação da porta de aço provendo apenas o necessário para o corpo permanecer vivo e nada mais. E será tentasse guardar um pouco de comida para depois, para poder juntar e prover em um dia tudo o que precisava, elessabiam.Faye ainda mantinha as marcas roxeadas pelos braços e pernas, as l
SPENCER.Durante os dias de primavera, Marien costumava manter bom humor. Isso porque a cidade ficava povoada novamente e os clientes apareciam com frequência. Um rapaz com sotaque comprou um par de caldeirões antigos o bastante para terem o dobro de sua idade, uma garota bonita passou por lá e levou um punhado de taças de cristal, um casal comprou um lustre e duas caixas feitas de bronze, pequenas, porém tão charmosas. Então, um mulher tão alta quanto uma sequoia adentrou o ambiente fazendo o mundo parar de rodar por um instante. Tinha as bochechas e nariz corados de frio, madeixas loiras douradas levemente queimadas de Sol, mas ali nunca fazia sol. Seus olhos eram cor de gelo e a boca pequena, redondinha.— Boa tarde — ela sorriu o mais bonito dos sorrisos — Eu estou a procura de um artefato e me indicaram sua loja.A moça ergueu uma fotografia onde u
MAGNUS.Em algumas ocasiões ele sentia como se tivesse falecido há algum tempo e que tudo que estava vivendo era um tipo de castigo divino por todos seus pecados. Como poderia ser merecedor de toda graça do mundo quando mantinha tantos desejos mundanos?Parte de si sempre soube que havia algo de errado. Tudo havia começado com uma pequena morte em um pequeno quarto de cirurgia onde ninguém pôde salvá-la. Era apenas uma garotinha assustada, desarmada de qualquer maldade. Esteve preparada para aquilo, apesar de tudo.— Você não viverá muito se não o fizer — ele havia lhe dito naquela manhã e Magnus estava a observando de longe, vendo seus olhos de lontra paralisados, sem qualquer menção de emoção. Ele a invejou por muito tempo. Como poderia ter todo o peso da doença e ainda sim não sentir nada? Não chorar?
NICHOLAS. Durante as manhãs de terça-feira ele costumava correr pelo parque, nas quartas-feiras visitava uma lanchonete e comia waffles e algumas vezes chocolate quente acompanhava. Mas era durante a sextas-feira, quando ele se enfiava no carro em direção ao cemitério da cidade que Nicholas ficava intrigado. Nicholas estava bem disfarçado em seu óculos escuro e touca de inverno, bonés eram muito óbvios. Então enfiava a mão no bolso dianteiro do casaco marrom, aquele que nunca usava por ser muito gelado, mas ninguém nunca havia o visto com ele, o que era uma vantagem. Nicholas estava há tanto tempo ser perseguir pessoas suspeitas que não sabia se estava suficientemente bom. Poderia fingir que sim. O Cmentarz Lesny w Laskach mantinha uma cerca baixa e um portão de ferro de igual tamanho. Naquela região a neve ainda densa apesar da transição estar tão evidente. Ali, onde uma escola para crianças cegas era tão próxima, Nicholas não viu sentido co
TERESA. Quando estava deitada em sono e seus olhos se abriam em direção ao mundo, Teresa a via. Era uma figura cumprida com seu vestido escuro de gola tão alta ao ponto de tampar todo pescoço e parte do queixo. Uma gola franzida, branca assim como as mangas da peça. Seu rosto também era cumprido e os cabelos medianos, ela era composta por dois olhos grandes e outros quatro sobre a testa e sua expressão era triste. Teresa havia a chamado de Tristeza. Quando estava envolta à sua quente da banheira, Tristeza estava no canto do cômodo com seus olhos tristes a fitando de longe, parecendo analisar cada partícula móvel de seu corpo. Quando Tristeza apareceu pela primeira vez, agarrando seu pé e implorando por atenção, Teresa achou que iria morrer, mas agora havia se acostumado com a presença. Enquanto lavava os cabelos sobre a banheira pequena sentia o calafrio de uma água já passando de morna para fria. Então ela ligou a torneira e deixou a água qu
RITA. Kostenko estava sentado com um casaco verde demasiado grosso, luvas e até mesmo uma touca escura. Rita não pôde deixar de rir. — Estamos na transição — disse ao se sentar. — E você está atrasada. — Disse que tinha consulta e além do mais, fiquei presa no elevador. Podemos? Quando ele concordou, Rita já montava uma fila de arquivos sobre a mesa. Estavam sobre o mezanino onde não mais que dois casais se mantinham tão afastados. Havia fotos das cenas, do Barnes e dos corpos, dos suspeitos e da multidão de curiosos, de Catherine. — Vamos começar com o essencial. A causa da maioria das mortes vem de envenenamento intramuscular em diversas áreas do corpo. Algum deles mantém mais de um marca de agulha como é o caso do número dezoito. Se analisarmos as cenas onde os corpos foram dispostos, são todos sobre a floresta, mais precisamente nessa região — apontou o dedo sobre o mapa onde pontos foram marcados — Todos os corpos