TERESA.
Quando estava deitada em sono e seus olhos se abriam em direção ao mundo, Teresa a via. Era uma figura cumprida com seu vestido escuro de gola tão alta ao ponto de tampar todo pescoço e parte do queixo. Uma gola franzida, branca assim como as mangas da peça. Seu rosto também era cumprido e os cabelos medianos, ela era composta por dois olhos grandes e outros quatro sobre a testa e sua expressão era triste. Teresa havia a chamado de Tristeza.
Quando estava envolta à sua quente da banheira, Tristeza estava no canto do cômodo com seus olhos tristes a fitando de longe, parecendo analisar cada partícula móvel de seu corpo. Quando Tristeza apareceu pela primeira vez, agarrando seu pé e implorando por atenção, Teresa achou que iria morrer, mas agora havia se acostumado com a presença.
Enquanto lavava os cabelos sobre a banheira pequena sentia o calafrio de uma água já passando de morna para fria. Então ela ligou a torneira e deixou a água qu
RITA. Kostenko estava sentado com um casaco verde demasiado grosso, luvas e até mesmo uma touca escura. Rita não pôde deixar de rir. — Estamos na transição — disse ao se sentar. — E você está atrasada. — Disse que tinha consulta e além do mais, fiquei presa no elevador. Podemos? Quando ele concordou, Rita já montava uma fila de arquivos sobre a mesa. Estavam sobre o mezanino onde não mais que dois casais se mantinham tão afastados. Havia fotos das cenas, do Barnes e dos corpos, dos suspeitos e da multidão de curiosos, de Catherine. — Vamos começar com o essencial. A causa da maioria das mortes vem de envenenamento intramuscular em diversas áreas do corpo. Algum deles mantém mais de um marca de agulha como é o caso do número dezoito. Se analisarmos as cenas onde os corpos foram dispostos, são todos sobre a floresta, mais precisamente nessa região — apontou o dedo sobre o mapa onde pontos foram marcados — Todos os corpos
SEXTO POTENCIAL.Quando estava dentro de sua caixinha confortável, ele sentia como se fosse a pessoa mais importante do mundo, mas quando estava no mundo gelado que era aquela cidade, sentia-se inútil, perdido sem ela.O grande prédio à frente era daqueles espelhados, tão cumpridos ao ponto de tocar o céu e as nuvens. As vezes se perguntava o que veria lá de cima, se o reino dos Céus estaria ali, onde ele pudesse ver e quem sabe tocar. Filip sentia como se pudesse ser o homem mais poderoso do mundo.— Mas você não é — ela lhe disse baixinho como em um pensamento alto. Lena ainda mantinha aquela ironia no olhar como antes — Você sabe que ela vai mandar você voltar para casa, não sabe?Ele a fitou por momento curto antes de balançar a cabeça e mandá-la para longe. Mas ela nunca ia de fato.Filipe tinha
O DEMÔNIO ESCONDIDO NO NOSSO PLANO. Quando o sol descia e a lua se tornava tão grande como se estivesse pronta para engolir toda a terra, os antigos demônios reinavam. Estavam sobre o uivo de um lobo gigante, o cantar da coruja e o vento que sussurrava na língua antiga, sobre os móveis que estalavam as três da manhã. Quando os pinheiros da grande floresta assombrada se contorciam e formavam a passagem para os familiares, elesubia ao plano mundano e causava caos e destruição. Nenhuma alma humana ousava o fitar por muito tempo, pois todos sabiam que era impossível aguentar, mas havia alguns segredos. Quando a criatura abriu a boca seus caninos pareceram muito maiores graças à projeção que seu maxilar conseguia fazer por ser apenas de ossos. Era apenas o esqueleto de um bode que jazeu há tanto, mas ainda sim era a coisa mais assustadora do mundo. Em volta da cabeça havia um amontoado de fios negros que dançavam mesmo sem vento alg
HENRY. A lua havia se tornado uma coisa pequena em meio a tela azul clara que ia se multiplicando até se transformar em um dia comum. Poucos poderiam vê-la partindo à cada instante seguindo em direção à outra parte do globo, para deixar uma noite de lua cheia para muitos outros. Sempre que estava acordado por volta daquele horário, poderia ouvir os pequenos grilos e seu canto, um galo em qualquer lugar, mas nunca a voz mundana. A floresta assombrada estava estranhamente quente naquela ocasião. Henry sentiu todo o suor escorrendo por entre as costas enquanto caminhava dentre pinheiros e sequoias, alguns dos troncos eram largos indicando outras espécies. Então o chão ficava mais úmido por conta do pequeno riacho que se formava próximo as rochas e a caverna e era por ali que ele caminhava. Henry sabia que aquela era uma água mortal onde vida alguma era capaz de aguentar por tanto, sabia que a fonte que se jogava para cima estava envenenada há tanto.
FAYE. Mesmo quando caminhava pelo grande vale profundo, Faye sentia como se ainda houvesse uma saída. Em seus poucos Sonhos de Lua, procurava pela energia do Sol, pela sabedoria das constelações que tanto viram em seus dias de vida. Se conseguisse energia o suficiente, poderia virar o jogo. Sempre que encarava ao redor, o mundo comum parecia mais distante. Era como se as paredes brancas fossem apenas peças de vidro e tudo que a acercava era o vazio de um mundo atópico. Como se todos os móveis velhos e manchados de sangue, poeira e tristeza fossem toda a humanidade que a acercava. Earl havia lhe contado sobre o rapaz da Inglaterra. — Ele está nos alimentando todas as manhãs e noites com carne mundana — lhe disse na língua dos lobos. Faye estava com o grande lobo no colo, ou pelo menos toda a parte que cabia em seu colo, ela gostava de passar as mãos sobre a cabeça do animal como fizera anos antes. Grande parte de si gostaria d
Nadia. Quando não estava totalmente escuro ou neblinoso, a cidade de Truskaw não parecia tão ruim. Nadia poderia encontrar o canto de pássaros pela floresta assombrada, o intenso verde das folhas e o marrom da terra, as formigas caminhando entre tronco e lebres. Nadia sentia falta de caçar lebres. Lembrava de quando era nova e tudo que tinha que fazer da vida era estudar e brincar. Seus pais costumavam lhe dizer que seria a mulher mais inteligente do mundo quando crescesse, poderia até ser verdade, mas ela nunca sentiu-se nem ao menos esperta. Rita estava caminhando muito mais à frente. Esta era uma garota cautelosa, havia aprendido tanto nos últimos anos. — Estamos quase lá — quis anunciar mesmo Nadia tento a total consciência de onde iriam. Talvez o fato de não ser totalmente moradora de lá fizesse as pessoas acharem que ela não conhecia a cidade. Quando subiram uma grande elevação encontrando o ponto de partida, uma grande
O SONHO FRANCÊS. Quando o céu estava limpo e as estrelas dominavam o mundo comum, grilos começavam seu coro da madrugada e ela sabia que iria chover. Mesmo quando algum lobo uivava longe ou quando as corujas insistiam em piar em cima do telhado, ela sabia que iria chover. Era como um passe comum naquela estação onde todos os animais do mundo se uniam para avisar um ato natural por mais simples que parecesse. Quando os pássaros voltavam a fazer seus ninhos próximos ao bosque ela sabia que já era primavera, que já não estavam transitando entre o mundo gelado e um mais quente, harmonioso. Quando Tessa voltava às aulas ela sabia também que o pior havia passado. Ela se lembrava de fazer tudo sozinha desde sempre. Quando criança costumava acordar cedo e preparar seu café da manhã, de passar sua roupa e queimar a ponta dos dedos para testar a temperatura do ferro, de nunca saber se tinha lavado o cabelo no dia certo ou sequer se havia lavado direito
TERESA. Quando o sol se punha atrás das árvores e todo o mundo comum se tornava escuro por alguns instantes curtos, Teresa sentia a forte brisa da primavera sobre os cabelos. Era estranho caminhar sobre a floresta assombrada com um carrinho de mãos cheio de terra Negra e sementes, com uma garrafa mediana de água e medo. Aquele lugar era capaz de destruir a mente mundana. Diziam as lendas que todas as bruxas da floresta moravam naquele lugar onde as árvores se inclinavam para frente abraçando seus donos com tanto louvor e fora lá, onde as árvores tinham espinhos e olhos vermelhos que ela foi parar. Quando olhava para o céu poderia enxergar toda a escuridão pincelada pelas poucas estrelas com a Lua tão pequena que mais parecia uma lanterna velha e quase sem bateria. Ela cruzou todo o caminho estreito e as linhas ingremes a frente, encontrou plantas vermelhas como sangue e algumas outras quase transparentes, os dedos de gelo começavam a se forma