Os Bebês do Rei do Cartel
Os Bebês do Rei do Cartel
Por: J. C. Rodrigues Alves
PRÓLOGO

O vento cortante da madrugada me feria a pele enquanto eu atravessava os jardins da mansão Mendonza, o coração batendo tão rápido que eu sentia uma pressão sufocante no peito. Cada passo parecia um eco na escuridão, um lembrete de que estava sozinha naquela tentativa de fuga. A qualquer momento, algum dos seguranças poderia me ver e me deter. Mas a possibilidade de ser pega não era o suficiente para me fazer parar.

Precisava sair dali antes que o sol nascesse e meu destino fosse selado para sempre.

Tudo o que sabia era que tinha que fugir.

Precisava escapar da vida que Diego havia decidido para mim. Tentava segurar as lágrimas enquanto corria em direção à garagem. A promessa de liberdade era como uma chama fraca dentro de mim, algo que eu sabia que poderia apagar a qualquer segundo.

Alcanço o carro preto, o único que sabia estar ali destrancado. Minhas mãos tremiam enquanto tentava uma ligação direta. Havia lido algo sobre fazer uma “luxação direta” na ignição para ligar o carro sem chave, e embora não tivesse muita certeza de como aquilo realmente funcionava, estava desesperada para tentar.

Mas minhas mãos estavam ficando cada vez mais trêmulas. O pânico e a ansiedade cresciam em uma onda que não conseguia controlar. A adrenalina que antes me movia agora parecia me engolir, como se uma pressão imensa estivesse esmagando meu peito, dificultando minha respiração.

Comecei a hiperventilar, e meu corpo paralisou. Minhas mãos estavam congeladas no volante, incapazes de continuar com aquele plano que, começava a parecer insano e fracassado. — Não… Não agora… — murmuro, sentindo meu coração disparar ainda mais rápido. Meu peito subia e descia descontroladamente, e um tremor tomou conta de mim.

Cada vez que eu tentava respirar, parecia que o ar me escapava, como se meus pulmões não conseguissem reter nada.

O mundo ao meu redor começou a escurecer, as bordas da minha visão se fechando, até que tudo o que conseguia ver era o painel do carro e o reflexo do meu rosto em puro desespero.

De repente, ouvi uma voz masculina ao meu lado. 

— Ei, você está bem?

Viro o rosto bruscamente, ainda tremendo, e vi um homem parado ali, os olhos firmes e atentos em mim. Sua presença me assustou tanto que por um instante achei que iria desmaiar de vez.

Ele se aproximou devagar, levantando as mãos em um gesto de paz, como se quisesse me mostrar que não era uma ameaça.

— Respiro, está bem? Só respire fundo — disse ele, a voz calma, quase reconfortante. 

Aquelas palavras me fizeram tentar, mas meu corpo não obedecia.

Era como se eu estivesse presa em um pesadelo, em um pânico que não conseguia controlar.

Ele percebeu isso, e sem esperar, deu a volta para o lado do passageiro e entrou no carro, fechando a porta e se aproximando de mim com um toque suave, colocando uma das mãos em meu ombro.

— Olhe para mim — pediu ele, com uma firmeza gentil que me fez focar em seu rosto. Seus olhos eram escuros, intensos, mas tinham uma calma estranha, quase hipnotizante. — Respire fundo. Puxe o ar devagar e solte.

Eu o encarei, ainda hesitante, mas aos poucos fui tentando fazer o que ele dizia. Puxo o ar e o solto, sentindo a tensão começar a ceder, pouco a pouco.

Ele mantinha a mão em meu ombro, e mesmo sem saber por quê, aquele simples gesto fazia com que me sentisse mais segura.

— Isso. Continue respirando. Devagar — sussurrou, o tom suave como se quisesse me acalmar completamente.

Aos poucos, o mundo ao meu redor começou a voltar ao normal. Minha visão se ajustou, e o ar finalmente começou a preencher meus pulmões. Solto um suspiro tremido e encosto a cabeça no volante, exausta.

— Desculpe — murmuro, ainda sem forças para encará-lo. — Eu… eu precisava sair daqui. Preciso fugir antes que me obriguem a casar com um homem que é considerado um monstro.

O desconhecido ficou em silêncio por um instante, como se absorvesse o que eu acabara de dizer. Ainda estava tensa, mas o momento de pânico tinha passado, graças à sua intervenção.

— Casar contra a sua vontade? — ele perguntou, com um tom de curiosidade genuína misturado com algo que não conseguia decifrar.

Assenti, ainda sem coragem para olhar em seus olhos.

— Meu padrasto… Ele quer que eu me case com Javier Herrera, o herdeiro do cartel rival — digo, sentindo o veneno nas palavras. — Esse casamento… É um pesadelo. Eu não posso. Não consigo.

Ao dizer isso, finalmente olho para o homem ao meu lado. Ele me observava com uma expressão indecifrável, mas havia uma intensidade em seus olhos que me deixava nervosa. Havia algo no modo como ele me olhava, como se ele já soubesse tudo aquilo antes mesmo de eu falar.

— Fugir pode não ser a solução que você espera — ele disse, a voz baixa e séria. — Você tem ideia do que aconteceria com sua família se você fugisse?

Eu abaixei a cabeça, sabendo que ele estava certo. Fugir significava abandonar minha mãe e minha irmã à mercê de Diego Montoya. Sabia que o preço seria alto para elas, mas ainda assim, o medo daquele casamento parecia me devorar por dentro.

— Eu não sei o que fazer — admiti, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos.

Ele ficou em silêncio por um momento e, então, gentilmente, colocou uma mão sobre a minha, que ainda segurava o volante com força.

— Às vezes, não é tão simples escapar de certos destinos. Especialmente quando existem pessoas que dependem de nós — Sua voz soa calma e segura. — Mas talvez enfrentar essa situação seja o primeiro passo para mudar algo, mesmo que seja pequeno.

Inspiro fundo, tentando absorver o que ele dizia. Havia uma sabedoria em suas palavras, algo que me acalmava, mesmo que a ideia de voltar para a mansão me parecesse tão insuportável quanto antes.

— Volte para casa — ele sugeriu, com uma gentileza surpreendente. — Por mais difícil que seja, talvez esse não seja o melhor momento para tentar escapar. Você pode estar se precipitando.

De alguma forma, aquelas palavras me atingiram profundamente. A raiva e o desespero ainda estavam ali, mas ele havia plantado uma semente de dúvida, uma pequena hesitação que me fazia reconsiderar minhas ações.

Solto um longo suspiro, exausta, e finalmente balancei a cabeça em um gesto de concordância. Eu sabia que ele estava certo. Ir embora sem um plano poderia acabar mal para todos. Mas algo em mim ainda resistia, ainda sentia a dor de uma liberdade perdida.

Antes de abrir a porta para sair, olhei para ele, curiosa.

— Eu nem sei o seu nome.

Ele me olhou de volta, e um pequeno sorriso curvou seus lábios, um sorriso que não era nem gentil, nem ameaçador, mas parecia carregar uma verdade cruel e oculta.

— Javier — disse, pausadamente, como se saboreasse o efeito de sua revelação. — Javier Herrera.

Um arrepio percorreu minha espinha.

Meu corpo inteiro congelou, e senti o sangue gelar em minhas veias.

Ele… ele era Javier Herrera. O homem que eu tinha acabado de confessar que odiava. O homem com quem eu estava prestes a me casar à força. E ele me ouvira desabafar cada palavra de desespero sobre o casamento.

Ele segurou minha mão novamente, a mesma mão que antes eu agarrava ao volante com medo, e seu olhar se fixou no meu com uma intensidade sombria, quase possessiva.

— É melhor você voltar para casa, Camille — ele murmurou, a voz suave, mas com um tom que parecia uma ordem disfarçada de conselho. — Nos vemos em breve.

Sem dizer mais nada, ele abriu a porta e saiu, deixando-me ali, sozinha e paralisada.

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