CAPÍTULO 3

 Camille 

    24 horas antes

Era meu horário de almoço, e tinha saído correndo da lanchonete para tentar fazer minha mãe entender que aquele casamento com alguém que não conhecia e como Javier Herrera era uma completa insanidade.

Tentei mil vezes pedir outra conversa a sós com Juan Carlos, mas ele sempre me ignorava. Então, decidi apelar para ela, esperando que ela pudesse ao menos falar com ele. Ela era a única que talvez pudesse fazê-lo mudar de ideia.

Assim que entro na loja de roupas, vi minha mãe, Roberta, folheando araras, com o rosto calmo, como se o mundo ao redor estivesse perfeito.

Ela segurava um vestido azul e analisava as costuras, absorta, sem parecer notar minha presença. Esse contraste entre a tranquilidade dela e o caos que explodia dentro de mim me irritava de uma forma que não conseguia controlar.

— Mãe, a gente precisa conversar. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas eu não conseguia mais fingir que estava bem com aquilo.

Ela olha para mim, estreitando o olhar ao perceber que estava vestida com o uniforme do trabalho, e depois sorri como se não percebesse a seriedade da situação.

— Claro, querida. Mas primeiro, o que acha desse vestido? A cor vai combinar com meu tom de pele?

Bufo, cruzando os braços, mas ela não desisti e ergue o vestido contra o corpo, observando o espelho.

— Mãe, você está me ouvindo? Eu preciso que você fale com Juan Carlos sobre esse casamento. Eu não quero isso, não desse jeito. 

Ela suspira, como se eu estivesse sendo dramática, e volta a olhar as araras, passando os dedos por tecidos caros e brilhantes.

— Camille, quantas vezes eu já te disse? Juan só quer o melhor para você. Ele está garantindo seu futuro, protegendo você e toda nossa família. Esse casamento é uma bênção, não um castigo.

As palavras dela queimaram.

Uma bênção? Era isso o que ela pensava? Que eu estava sendo abençoada por ser forçada a casar com Javier Herrera, alguém que eu mal conhecia e de quem eu queria distância?

Senti a raiva fervendo, mas me controlei.

— Mãe, por favor… isso não é uma bênção. Ele não me perguntou, não me deu escolha. Eu estou sendo tratada como um objeto, como algo que ele pode usar e trocar pelo que quiser. 

Ela para, segurando uma blusa nas mãos e me encara. Seu olhar estava mais sério agora, como se, de repente, tivesse decidido que minha rebeldia precisava ser controlada.

— Cami, você precisa parar de pensar assim. — Sua voz era firme, o tom de alguém que estava dando uma lição. — Juan nos deu tudo. Essa segurança, essa vida. Você sabe como a nossa situação era antes. Você quer voltar a isso? Quer ver a gente morando em algum lugar sujo e perigoso, sem ninguém para proteger você e sua irmã?

Fecho os olhos por um segundo, tentando absorver o impacto das palavras dela. É claro que eu lembrava. Lembrava de cada detalhe da nossa vida antes dele, de como o mundo parecia ameaçador e vazio.

Mas agora eu me sentia ameaçada de outra forma, e ninguém parecia disposto a me ouvir.

— Eu sei o que elefez por nós, e sou grata, mãe. Mas… será que é pedir demais querer ter uma escolha? Eu nem conheço Javier. Ele é… — eu hesitei, pensando nas palavras certas, mas a verdade escapou antes que eu pudesse parar. — Ele é cruel, frio. Ele com certeza não se importa comigo, ele só quer o que o casamento representa para os negócios.

Ela suspira, deixando a blusa de lado, e segura minhas mãos com uma expressão cansada.

— Camille, você precisa entender que, no mundo de Juan, não existe o conceito de “escolha” como você imagina. Ele pensa em nós antes de tudo. Ele protege nossa família, protege sua irmã. Se esse casamento vai garantir nossa segurança, então você tem que aceitar isso. Nem sempre as coisas são como queremos, e às vezes precisamos sacrificar um pouco da nossa liberdade pelo bem maior.

— Sacrificar a minha liberdade? — sussurro, com a voz embargada. — É fácil dizer isso quando não é você que está sendo sacrificada.

Ela solta minhas mãos, cruzando os braços com um olhar firme.

— E você acha que foi fácil para mim? Acha que eu nunca sacrifiquei nada? Juan me deu uma vida que eu nunca sonhei, e eu aceitei as condições. Ele cuida de nós, nos protege, e agora você terá o mesmo. Javier pode não ser o homem dos seus sonhos, mas ele é o homem que elrescolheu. Confie no julgamento dele.

Senti a garganta apertar, e lágrimas ameaçaram aparecer, mas eu as engoli. Eu não ia chorar, não ali, em uma loja de roupas, implorando para minha própria mãe que não me entregasse a um homem que me fazia sentir mais como uma posse do que uma pessoa.

— Mãe… — minha voz saiu como um sussurro —, por favor… fala com ele. Pede para ele me ouvir. Eu não estou pedindo muito, só quero que ele me ouça.

Ela me olha com tristeza, mas seus olhos mostravam uma decisão irredutível.

— Eu não posso. Ele já tomou a decisão, e ele não vai voltar atrás. Eu não vou colocá-lo contra mim, ou contra você. Só… só seja forte, querida. No fim, você vai ver que ele tem razão e trate de sair daquele buraco em que dorme e voltar para casa.

Ela volta a olhar as roupas, como se a conversa tivesse acabado, e tudo dentro de mim gritou de frustração. Meu próprio pedido, minha própria dor, haviam sido tratados como uma criança que pede um brinquedo novo.

Como se eu fosse pequena demais para entender a importância do que estava em jogo.

Me afastei, com o coração apertado e a respiração curta. Tudo parecia mais escuro, mais frio, e percebi que, não importa o quanto lutasse, estava sozinha.

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