Javier O silêncio era pesado ao nosso redor e a noite parecia avançar com uma lentidão quase irritante.Eu não costumava me importar com formalidades, muito menos com o que as pessoas esperavam de mim. Mas com Camila era diferente. Ela me encarava como se cada movimento meu fosse uma ameaça, cada palavra uma promessa de algo inevitável. Não estava acostumado com isso, com alguém que desafiasse cada respiração minha, e não podia negar que isso tornava tudo um pouco mais… interessante.Ela estava de costas para mim, tentando se livrar do vestido, o corpo tenso e a frustração evidente. De repente, ouvi o som sutil de algo travado — o zíper. Uma praga escapou de seus lábios, e pude ver que tentava puxá-lo para baixo, mas o tecido parecia determinado a mantê-la prisioneira.— Precisa de ajuda? — pergunto, tentando esconder a provocação na voz.Ela congela por um segundo, e pude sentir o conflito em seu olhar pelo espelho à nossa frente, como se considerasse o orgulho acima da necessidade
O banheiro estava quente e silencioso, o vapor do banho ainda pairava no ar enquanto me encarava no espelho. O dia havia sido como um furacão, arrancando tudo do lugar e me forçando a aceitar a presença de Alejandro como uma sombra que eu não poderia evitar.Enrolo a toalha no cabelo, visto um robe de seda leve que estava entre as coisas que haviam sido cuidadosamente colocadas no banheiro e respiro fundo, ensaiando mentalmente o que viria em seguida. Mas, ao abrir a porta e ver o quarto vazio, senti um alívio inesperado.Javier não estava lá. A cama do lado dele parecia intacta, mas o lugar estava claramente vazio, e uma calma se instalou em mim.Talvez ele tivesse decidido dormir em outro quarto, como uma trégua não declarada. Com isso em mente, deitei-me na cama, e pela primeira vez desde que o dia começara, deixei-me afundar no colchão macio e fechei os olhos, tentando silenciar os pensamentos que borbulhavam na minha mente.Acordo com a luz da manhã filtrando-se pelas cortinas pe
Javier A manhã foi repleta de reuniões no meu escritório particular, uma sala elegante e discreta, em um prédio que usávamos apenas para negociações sigilosas e mais delicadas.Do lado de fora, minha equipe de segurança mantinha uma vigilância discreta, enquanto no interior, meu conselheiro de negócios, Marco, atualizava-me sobre o andamento de um carregamento importante. A rotina de controle e execução que fazia parte dos meus dias me dava uma sensação de segurança — e de poder.Juan Carlos havia feito questão de manter um olho atento no que se passava em nossos territórios conjuntos, e embora ele não estivesse lá, sua presença era perceptível através das informações que constantemente recebia. Enquanto ouvia Marco descrever as operações em andamento, minha mente vagava momentaneamente para Camila. Tinha certeza de que a noite anterior fora desconfortável para ela, mas essa era parte da adaptação que ambos teríamos que enfrentar, uma fase inevitável e queria logo passar para a fa
CamilaA manhã estava tranquila e rotineira na lanchonete, apesar do movimento aumentar em determinados momentos, mas nada que não dessemos conta.Ajudava a cozinheira com os pedidos da manhã, distraída em meio ao vapor das panelas e o aroma de café e panquecas, que tornavam o ambiente acolhedor.Estava enfileirando pratos no balcão, organizando o próximo pedido, quando a porta da cozinha se abriu, e uma das garçonetes, Carla, entrou com uma expressão meio divertida no rosto.— Camila, um cliente pediu pra ser atendido só por você — ela anunciou, me estendendo um bilhete com o pedido.Franzi a testa, intrigada. Não era comum que alguém fizesse questão de um atendimento específico. Peguei o pedido da mão dela e olhei de relance para a mesa que ela apontou. Vi um homem com o rosto coberto pelo cardápio e caminhei na direção dele, preparando um sorriso educado para o desconhecido.Ao chegar à mesa, parei, esperando que o cliente baixasse o cardápio. E então ele o fez — e eu engoli em sec
JavierAssim que chegamos em casa, a atmosfera estava tensa. O ambiente luxuoso e cuidadosamente decorado não fazia nada para aliviar a pressão que pairava entre nós.O aroma familiar do café e do couro polido da mobília preenchia o ar enquanto seguíamos em silêncio até o corredor que levava aos nossos quartos. Camila caminhava à frente, os passos firmes e decididos, mas eu podia sentir sua ansiedade a cada movimento.— Camila, espera um momento — chamei, mantendo o tom calmo enquanto a seguia até o quarto.Ela parou e se virou para mim, cruzando os braços como se estivesse se protegendo de um ataque. O olhar duelista or nos olhos dela me fez entender que ela estava pronta para qualquer tipo de batalha.— O que foi agora? — perguntou, com um tom sarcástico que deixava claro que estava longe de estar satisfeita.— Precisamos conversar sobre o que falri no carro — disse, tentando manter um tom neutro, mas as palavras pareciam pesadas na língua.— Ah, claro. Vamos falar sobre o que realm
Camila As batidas na porta me tiraram dos pensamentos que rodopiavam na minha cabeça como uma tempestade. Quando abri, me deparei com Carmen, a governanta, me olhando com um ar de impaciência.— Olá, senhora Herrera — disse, sem muito entusiasmo, como se tivesse certeza de que eu não estaria empolgada para o que vinha a seguir. — Está na hora de aprender como as coisas funcionam por aqui. Afinal, você é a senhora desta casa, e há certas responsabilidades que cabem apenas a você.E lá vem mais responsabilidade...A última coisa que eu esperava era uma aula de administração doméstica, mas Carmen não me deu tempo para discutir. Ela virou-se, acenando para que eu a seguisse, e eu, com um suspiro resignado, fui atrás dela.Descemos as escadas, passando pelo longo corredor que levava à cozinha, e durante o trajeto ela começou uma explicação minuciosa sobre as rotinas da casa. Falava dos horários de limpeza, dos funcionários que ficavam à disposição o tempo todo e até dos detalhes mais bana
O vento cortante da madrugada me feria a pele enquanto eu atravessava os jardins da mansão Mendonza, o coração batendo tão rápido que eu sentia uma pressão sufocante no peito. Cada passo parecia um eco na escuridão, um lembrete de que estava sozinha naquela tentativa de fuga. A qualquer momento, algum dos seguranças poderia me ver e me deter. Mas a possibilidade de ser pega não era o suficiente para me fazer parar.Precisava sair dali antes que o sol nascesse e meu destino fosse selado para sempre.Tudo o que sabia era que tinha que fugir.Precisava escapar da vida que Diego havia decidido para mim. Tentava segurar as lágrimas enquanto corria em direção à garagem. A promessa de liberdade era como uma chama fraca dentro de mim, algo que eu sabia que poderia apagar a qualquer segundo.Alcanço o carro preto, o único que sabia estar ali destrancado. Minhas mãos tremiam enquanto tentava uma ligação direta. Havia lido algo sobre fazer uma “luxação direta” na ignição para ligar o carro sem c
Camille48 horas antesA mansão estava em silêncio.Um silêncio denso e carregado, daqueles que parecem anunciar uma tempestade.Me sentei rigidamente em uma das poltronas de couro do escritório do meu padrasto, Juan Carlos Mendonza, observando os detalhes ao meu redor com uma inquietação que não conseguia aplacar, talvez fosse o cansaço depois de um dia exaustivo de trabalho em uma lanchonete, aonde desejava apenas minha cama de solteiro em um único cômodo que conseguia pagar com o salário que ganhava. Cada móvel e cada peça de arte naquele ambiente carregavam um peso que só alguém como Juan Carlos poderia impor. Cada item parecia um símbolo de poder, de controle absoluto — algo que ele exercia não só sobre sua “família” de sangue, mas sobre todos os que dependiam dele. Incluindo minha mãe e a minha irmã.O relógio na parede indicava meia-noite, e ele ainda não havia chegado.O ar estava abafado, quase sufocante, e o único som que ouvia era o tique-taque incessante do relógio. Me se