Diego
Trabalhar como chefe da segurança do homem mais importante do país, além de ser um trabalho feito com seriedade, deixa qualquer homem com a mente totalmente fodida. Horas atrás o doutor Leonardo estava em reunião com parlamentares em Brasília, para lidar com o primeiro ano do seu mandato como Presidente. Agora se encontrava na sala de espera do hospital da família, aguardando notícias sobre a saúde do seu pai. Conheço a família Martinez há mais de vinte e cinco anos, quando comecei a trabalhar era apenas um recém- policial formado de vinte e poucos anos. Que começou como um dos seguranças do então secretário de saúde e graças a competência e lealdade conseguiu conquistar o cargo de chefe da segurança que mantenho até hoje. Agora com quarenta e oito anos, estou prestes a me aposentar. Jurei que encerraria minha carreira aos cinquenta anos, que aconteceria daqui dois anos e começaria a trabalhar com meu próprio negócio. Muitos devem achar que eu penso em montar uma empresa de segurança particular, contudo meus planos são outros. Tenho o local escolhido, as parcelas quase todas pagas e logo serei dono do meu próprio restaurante. Sim, um cara como eu, acostumado a lidar com bandidos, cuidar da segurança de um homem importante como Leonardo Martinez, quer terminar seus dias como chef de cozinha. O amor que tenho pela culinária vem da minha mãe. Com dificuldade e muito sufoco, me criou até os dezoito anos, quando o maldito câncer de mama a levou para longe de mim. Sempre fui um bom estudante, com boas notas e não foi difícil passar na prova da polícia civil. Sozinho em São Paulo, órfão de pai e mãe me inscrevi em um cursinho popular, passando em segundo lugar para agente civil. Vivia muito bem sozinho, morando em um apartamento com uma suíte, sala e cozinha na zona Norte de São Paulo. Todo o dinheiro que economizei durante os anos, foram para quitar o apartamento em que eu moro pagar o imóvel duas ruas acima do meu prédio, onde eu montaria o meu restaurante.
Era fiel ao senhor Leonardo e daria minha vida se fosse preciso para salvar a vida deste homem. Quando fui informado do estado de saúde do doutor Ricardo, eu não medi esforços para que pudéssemos chegar a São Paulo com rapidez. O patriarca da família assim como o filho único era um homem justo e correto. Durante todos esses anos em que trabalho para esta família, jamais fui tratado de forma diferente e tenho apenas gratidão. O segredo que carrego comigo, morreria comigo e jamais deixaria que alguém soubesse o verdadeiro motivo de ter me tornado policial e logo depois segurança.
— Diego, minha filha deve ficar aqui com o avô. Você conhece Valentina e sabe como minha filha pode ser teimosa — ouço com atenção o que o senhor diz sobre sua filha mais velha. Senhorita Valentina se tornou uma linda mulher e nem de longe lembra a criança, sorridente que vi crescer. Sempre justa e correta. A garota era muito parecida com sua mãe. Cabelos castanhos escuros, olhos da mesma cor. Porém o sorriso era do pai. Valentina se tornou pediatra e sempre que conversava comigo quando mais nova, contava que o sonho era cuidar das crianças, que todas deveriam ter pais amorosos como os dela.
— Senhor, se quiser ir descansar, eu faço companhia à senhorita. Leandro e Sofia já devem estar chegando em casa nessa hora. Dona Jéssica com certeza precisa descansar também.
Digo e o homem concorda comigo. Mandei reforçar a segurança em torno do hospital, para que não vazasse nenhuma informação referente a saúde do doutor Ricardo e nem a presença do presidente. Vejo quando o senhor Leonardo fala algo com a esposa e sua filha. Os três conversam por alguns minutos até que o homem retorna me informando que iria para a casa dos pais e que eu ficaria com a senhorita Valentina até o retorno deles.
— Diego, minha filha quer ficar aqui para saber informações, antes de ir embora vou até o consultório do Renato para conversar sobre a condição do meu pai. Ele acabou de me enviar uma mensagem porque pedi que não aparecesse aqui por conta da minha filha.
Concordei e o homem chamou a esposa para irem embora. Fiz sinal para que os rapazes acompanhassem os dois em segurança. Dona Jéssica sorriu ao passar por mim e apenas balancei a cabeça em resposta. Assim que os dois se foram, virei-me para ir até a lanchonete buscar algo para que a senhorita bebesse. Sabia que a garota amava cappuccino de chocolate e biscoito de castanha amanteigado. A deixei sozinha enquanto isso, sem me preocupar com sua segurança, visto que ninguém ousava entrar nessa parte do hospital sem autorização. Pedi um cappuccino com os biscoitos, tirei o cartão de crédito da carteira, aproximando da máquina. A atendente sorridente até demais para mim, me entregou ambos e agradeci voltando até a recepção. Ao retornar, encontrei-a mexendo no celular. Minha relação com a senhorita Valentina era apenas o necessário, uma vez que a garota nem morava com os pais desde os 17 anos, quando começou a faculdade. Contudo ela sempre tratou a todos os funcionários com educação e como a conhecia desde menina, quando foi revelado a existência da filha secreta do então governador.
— Senhorita?
Chamei-a parando a sua frente, a garota se assustou ao ouvir minha voz e levantou a cabeça confusa.
— Se passou muito tempo desde que a senhorita chegou, então tomei a liberdade de comprar algo para que a senhorita possa comer e beber — estendi o copo de isopor juntamente com a embalagem dos biscoitos. Ela apenas sorriu aceitando o que eu havia comprado para ela.
— Obrigada Diego! Não precisava se incomodar comigo — me disse, colocando o copo em cima da mesa de centro para abrir a embalagem de biscoito. Permaneci parado ao lado dela na poltrona, então ela fez sinal para que eu me sentasse na outra poltrona.
— Me faça companhia, você comeu também? Sei bem que quando está trabalhando não se distrai para nada.
Questionou e respondi que estava tudo bem comigo.
— Não se preocupe senhorita, coma tranquila, que garanto que seu avô ficará bem muito em breve e o que está passando agora será apenas uma lembrança daqui alguns dias.
Respondi, observando-a comer com tranquilidade os biscoitos e como seu rosto estava abatido. Ela havia se transformado em uma bela mulher, em pensamento me recrimino, por estar notando isso em um momento tão turbulento quanto o que a família Martinez passava. Virei o rosto para o lado, tentando afastar da mente a forma que ela mastigava o biscoito ou bebia o líquido. Com certeza era falta de sono e eu precisava de algumas horas dormindo para que meu juízo voltasse ao normal.
ValentinaApós o banho, vesti minha calça de moletom e minha camiseta do Batman, que era a minha favorita. Meu pai ligou um pouco depois do jantar para saber notícias do vovô, mas tudo continuava na mesma. Ele queria retornar para o hospital, mas eu disse que não seria preciso. Diego fez companhia para mim, até mesmo jantou comigo. Acabamos jantando juntos, mas, na verdade, Diego ficou em silêncio enquanto comia. Por mais que eu tentasse puxar algum assunto, o grandalhão simplesmente respondia com monossílabos. O Vovô continuava sendo monitorado, e o doutor Renato disse que ele estava evoluindo muito bem. Ele me assegurou que eu poderia dormir tranquila e que no dia seguinte teríamos boas notícias. Peguei meu celular de dentro da minha bolsa para verificar as ligações e mensagens. Respondi a Mateus, que estava preocupado com a falta de informações. Meu namorado avisou que estaria no hospital logo cedo, mas eu pedi que não fosse. Quanto menos pessoas presentes, melhor seria. Respondi à
ValentinaAcordei com o barulho do meu celular tocando. Dei um pulo na cama, indo pegar o aparelho que havia deixado na mesinha ao lado.— Alô!Disse tentando abrir os olhos para enxergar melhor.— Senhorita Martinez, perdoe incomodar tão cedo. Sou a enfermeira- chefe responsável pela internação do seu avô. A senhora pode comparecer no consultório do doutor Renato?A mulher disse, eu respondi que me encontrava no hospital.— Vou trocar de roupa e chego em vinte minutos. Peça para providenciarem o café da manhã e meus pais foram chamados?Perguntei à enfermeira, que respondeu que papai já estava sabendo e chegaria em breve. Se desculpou por ligar ao invés de vir até o quarto que fiquei. Disse que não precisava se desculpar e que eu logo chegaria. Desliguei o celular, corri apressada para dentro do banheiro, tirando a roupa e entrando embaixo do chuveiro. A água quente acabou me despertando com mais rapidez. Cinco minutos depois, enrolada com o roupão, vou procurar uma roupa para vestir
DiegoTomava o café da manhã, na cafeteria do hospital, ao lado de mais dois seguranças. A equipe da manhã continuou vigiando a porta do quarto em que o doutor Ricardo estava internado. Eu precisava conversar a sós com o senhor Leonardo, explicar sobre toda a situação, contudo teria que fazer isso longe dos outros e principalmente da sua filha. Meu informante alertou-me que se começaram a usar o pai do presidente como forma de intimidar o início do seu governo, significava que eles passariam a atacar os filhos e a mais velha era o alvo mais fácil, por indiretamente fazer parte do escândalo que foi o primeiro mandato dele como Governador, vinte anos atrás.— Diego, foi necessário dispensar o Bruno daquela forma?Raimundo, um dos seguranças que trabalhava comigo há anos, questionou a atitude que tomei ao demitir o garoto por conta do erro na noite anterior. Todos os meus funcionários sabiam como eu costumava trabalhar e como eu prezava pelo compromisso e lealdade. Principalmente quando
ValentinaEstava no meu quarto, tentando relaxar na banheira. Mal coloquei os pés na casa dos meus avós e já me estressei com a briga entre a mamãe e a vovó. Sofia e Leandro foram para faculdade e quando papai surgiu na sala, vovó Soraia reclama que a minha mãe não tinha nada que ficar com o meu avô no hospital, visto que ela não fazia parte da nossa família. Como sempre, papai teve que apartar a discussão e vovó se irritou por não poder visitar o esposo. Disse que iria se trancar em seu quarto e minha mãe respondeu que ela fazia um favor para todos. Papai disse que precisava trabalhar, indo se trancar no escritório, enquanto minha mãe saiu para passar o dia fazendo companhia para o meu avô. Eu avisei que ficaria com ele a noite, contudo meu pai disse que não era preciso e que era para ficar descansando. Minha família estava bem longe de ser perfeita e se todos soubessem como era a relação da primeira- dama com sua sogra, seria a manchete de todos os sites de fofocas. Depois que fique
ValentinaO almoço foi com papai elogiando meu namorado, enquanto vovó dizia que iria começar a organizar o nosso noivado em breve. Eu apenas ouvia aquela conversa toda calada, apenas esperando o momento certo para ficar sozinha com Mateus e esclarecer alguns pontos com meu namorado.— Filha, como seu avô terá alta amanhã, não vejo necessidade de ficar com ele hoje a noite.Meu pai disse, enquanto eu olhava para o prato com o pensamento longe daqui.— Leonardo, aquela sua mulher não tinha nada que ficar com o meu Ricardo no hospital. Deveria ter pedido que Áurea ou uma enfermeira cuidasse dele.Vovó resmungava do outro lado, enquanto Mateus prestava atenção em seu celular. Nosso almoço foi horrível, principalmente quando meu pai questionou nosso noivado e a demora em nos casarmos. Mateus disse que a mãe havia dito o mesmo e que agora que papai foi eleito presidente, era o correto sua filha mais velha começar a construir uma família aos moldes tradicionais. Assim o eleitorado veria com
DiegoSozinho em meu apartamento, preparava algo para comer. O senhor Leonardo disse que eu poderia tirar a noite de folga, por conta do trabalho intenso que tive nas últimas quarenta e oito horas. No primeiro momento recusei, contudo, fui obrigado a aceitar, quando ele disse que eram ordens do presidente. Doutor Ricardo teve uma melhora milagrosa, sorrindo na companhia da primeira- dama e conversando comigo sobre coisas da vida. Meus subordinados, questionavam sempre o motivo de ser tão leal a família Martinez e continuar trabalhando para eles, depois de tantos anos. Nem eu mesmo sabia o porquê. Doutor Leonardo sempre foi bondoso comigo, tratando-me bem e não como se eu fosse apenas um empregado. Durante todos esses anos, acompanhei a trajetória política do homem, desde seu mandato como secretário de saúde até agora como Presidente do país. A forma limpa e justa de fazer política, fez com que ele acumulasse inimigos com o passar dos anos. No primeiro escândalo envolvendo o seu nome,
DiegoDirigia de volta para casa, após uma sessão intensa de sexo com aquela desconhecida. A garota foi receptiva até demais, enquanto aproveitamos muito bem a suíte. Ela até tentou descobrir algo sobre mim, porém fui claro quando disse que o que tivemos hoje a noite terminava no momento em que eu saísse daquele quarto. A madrugada fria, me fez abrir o vidro para que o vento batesse em meu rosto. Mesmo sendo bastante perigoso o que estava fazendo, não era errado ter a brisa por alguns minutos. Enquanto dirigia prestando atenção no trânsito, o celular do trabalho tocou e apertei o botão do carro para atender a chamada. Era um dos funcionários da mansão dos Martinez que trabalhava fazendo a segurança dos pais do presidente.— Espero que não tenha acontecido nenhuma tragédia para me ligar em plena folga essa hora da madrugada.Respondi, assim que atendi a chamada.— Boa noite senhor e perdoe-me o horário. É que tive tempo somente agora para falar.O garoto disse, alertando-me os meus sen
ValentinaEra muito cedo ainda, teria que procurar algo para ocupar meu tempo até a hora do almoço com Francisco. Após o desastre que foi o café da manhã com minha família, precisava de uma distração antes que eu retornasse ao trabalho no hospital. Esperava o chilique vindo do meu pai, contudo não imaginei o escândalo que faria ao ouvir minha escolha de voltar a morar sozinha. Papai, se recusou a aceitar minha decisão, meus irmãos permaneceram calados como sempre e para a minha sorte é que vovó não se encontrava para o drama ser ainda maior. Como sempre, a única que aceitou sem dramas, foi mamãe. Escolhi uma roupa para o almoço com meu amigo, o dia em São Paulo estava cinzento e isso deveria ser um aviso de como minha vida ficaria complicada nos próximos dias. Uma batida na porta, larguei a calça jeans, em cima da poltrona e fui abrir. Encontrei a mamãe, parada, com seu sorriso. Fiz sinal para que a dona Jéssica entrasse e fechei a porta, vendo minha mãe indo sentar na minha cama.— E