Capítulo 4

Valentina

Acordei com o barulho do meu celular tocando. Dei um pulo na cama, indo pegar o aparelho que havia deixado na mesinha ao lado.

— Alô!

Disse tentando abrir os olhos para enxergar melhor.

— Senhorita Martinez, perdoe incomodar tão cedo. Sou a enfermeira- chefe responsável pela internação do seu avô. A senhora pode comparecer no consultório do doutor Renato?

A mulher disse, eu respondi que me encontrava no hospital.

— Vou trocar de roupa e chego em vinte minutos. Peça para providenciarem o café da manhã e meus pais foram chamados?

Perguntei à enfermeira, que respondeu que papai já estava sabendo e chegaria em breve. Se desculpou por ligar ao invés de vir até o quarto que fiquei. Disse que não precisava se desculpar e que eu logo chegaria. Desliguei o celular, corri apressada para dentro do banheiro, tirando a roupa e entrando embaixo do chuveiro. A água quente acabou me despertando com mais rapidez. Cinco minutos depois, enrolada com o roupão, vou procurar uma roupa para vestir. Enquanto procurava uma calcinha, alguém batia na porta e fui atender, achando que era alguma emergência. Ao abrir, dei de cara com Diego. O grandalhão usava seu uniforme de sempre e a expressão em seu rosto ao me encontrar vestindo somente o roupão foi engraçada.

— Aconteceu algo?

Perguntei, parada na porta, aguardando ele dizer algo.

— Bom dia, senhorita! Seu pai está se dirigindo para cá e o doutor deseja conversar com a família sobre a situação do seu avô.

— Eu recebi a ligação há alguns minutos — respondi e Diego ficou calado olhando para o meu rosto até que respondeu que iria me esperar do lado de fora.

— Tudo bem! Em dez minutos estou pronta — fechei a porta e só então percebi a calcinha na mão e pude entender o motivo do rosto desconfortável do homem.

— Sem noção!

Recriminando a mim mesmo, enquanto vestia a peça e depois colocava o sutiã. Peguei minha calça jeans e a camiseta preta vestindo. Passei uma escova no meu cabelo, que ainda estava molhado. Peguei minha bolsa e guardei as roupas sujas na mochila. Pediria para um dos seguranças levar as peças para lavar e tia Áurea poderia mandar uma mala com mais roupas, se fosse necessário. Conferi meu rosto e como se nada tivesse acontecido, saí do quarto. Encontrei Diego encostado na parede, com os braços cruzados e os olhos fechados.

— Estou pronta!

Disse, vendo os olhos dele se abrirem, encarando meu rosto. O homem apontou em direção ao corredor. Sorri para ele, como sempre fazia, recebendo a mesma expressão séria de sempre. Dei de ombros, caminhando ao lado dele em silêncio, até o consultório do doutor. Encontrei os outros seguranças do lado de fora e com certeza meu pai estava aqui.

— O presidente chegou e a senhora pode entrar!

Diego apontou para a porta.

— Obrigada e desculpe o que aconteceu lá na porta do meu quarto — disse, me dirigindo até o consultório. Não falei mais nada além de pedir desculpas. Ele era um homem esperto e entendeu muito bem ao que me referi. Bati na porta, aguardando resposta para entrar. Abri a porta, dando de cara com papai sentado com um sorriso que encheu meu coração de esperanças.

— Minha princesa, veio sem tomar café da manhã?

Papai perguntou, levantando-se para me receber.

— A enfermeira ligou achando que eu não estava aqui. Mas depois eu penso em comer algo, conte uma notícia boa, por que pela cara do senhor e do doutor posso acreditar que o meu avô acordou?

Fui logo perguntando, ignorando as boas maneiras.

— Calma, senhorita! Bom dia, primeiro e visto que o olhar do seu pai entregou tudo. Pode ficar tranquila. Ricardo acordou e está neste momento tomando seu café da manhã. Como ele acordou um pouco confuso, achei melhor chamar Leonardo e você.

Doutor Renato diz, eu abraço meu pai, segurando a emoção e não chorando na frente do médico.

— Eu posso tomar café da manhã no quarto com o vovô?

Perguntei e o médico autorizou, entretanto, eu deveria manter a calma e não deixar que o paciente tivesse fortes emoções.

— Prometo que me comporto — disse levantando-me da cadeira dando a mão para o meu pai, como sempre fiz desde criança.

— Vamos até aquele velho teimoso, princesa — papai disse, se levantando também, saindo de mãos dadas comigo do consultório. Encontramos Diego aguardando como sempre e todos seguiram para o quarto do vovô.

— A mamãe não quis acompanhar o senhor ou achou melhor ela ficar em casa com a vovó e os gêmeos?

Perguntei, porque era estranho meu pai sozinho.

— Sua mãe teve uma discussão com sua avó logo cedo. Sabe como sua avó é difícil de lidar e como sua mãe deixou de se importar com tudo que minha mãe faz há muitos anos, achei melhor Jessica ficar na mansão.

Com certeza, era algo relacionado aos gêmeos ou meu avô. Aquelas duas se detestavam e nunca consegui entender o motivo de tanta implicância entre as duas. Diego foi na frente enquanto eu conversava com papai. Antes de entrarmos, os dois se afastaram indo conversar baixinho para que ninguém pudesse ouvir. Eu tentei ouvir o que diziam, contudo, não consegui nada. Meu pai voltou para o meu lado e juntos entramos no quarto. Encontramos vovô sentado na cama, tomando suco e rindo de algo que a enfermeira contava. Nem parecia que horas atrás, estava naquela cama lutando pela vida.

— Que susto o senhor deu em todos nós!

Papai foi o primeiro a falar, enquanto eu, sem me importar em levar bronca, me sentei na cama ao lado do vovô.

— Amor do vovô — fui recebida com um sorriso pelo vovô Ricardo, que acariciou meu rosto, com a mão enrugada com as agulhas do soro e da medicação.

— O papai tem razão, que susto deu na gente. Peguei o primeiro voo para São Paulo e abandonei tudo em Manaus para chegar o mais rápido que eu podia.

Confessei e meu avô respondeu que só assim eu voltava para casa.

— Estou bem e Renato veio assim que despertei para ver como eu estava. Não se preocupem que foi somente um susto.

A enfermeira pediu licença nos deixando sozinhos, porém antes avisou que seria servido o café para meu pai e eu no quarto do paciente. Papai sentou na cadeira que a enfermeira estava antes e eu continuei na cama sentada com o vovô.

— Leonardo, não precisa se desesperar filho. Foi somente um susto, eu estou bem melhor e Renato disse que terei alta em dois dias.

Vovô disse, meu pai e eu trocamos olhares porque sabíamos que teríamos que cuidar da saúde dele ainda mais. E conhecendo bem o avô que tenho, mesmo sendo médico, era teimoso como uma mula empacada.

— Melhor conversar sobre esse assunto, quando o senhor sair do hospital — disse mudando o teor da conversa.

— Então, minha netinha, voltou de vez ou vai embarcar no primeiro avião de volta a Manaus?

— Sua neta, vai ficar. Pode melhorar ainda mais do que está, decidi retornar antes do previsto e vou entrar em contato com meu chefe e enviar a carta de desligamento.

Havia pensado bem e conversaria com Mateus sobre voltar para São Paulo. Não sei se meu namorado aceitaria, contudo, a saúde do meu avô era importante para mim e se fosse preciso encerrar meu contrato antes do previsto eu faria.

— Isso significa que você vai voltar para casa e morar com seus avós?

Papai perguntou. Eu esperava essa pergunta, visto estar de volta à cidade. Contudo, eu não moraria com minha família, permaneceria vivendo sozinha e iria procurar um apartamento próximo do hospital. Teria que assumir meu cargo na diretoria e começaria a cuidar de tudo.

— Significa que volto a morar em São Paulo como antes e não comece a criar planos — apontei para os dois. Recordo o que o médico disse e achei melhor não falar sobre a minha decisão de continuar morando sozinha. Passei a distrair vovô com assuntos aleatórios, uma enfermeira trouxe o café da manhã. Nós três comemos, conversamos e assim eu distraía meu pai e meu avô de mais perguntas que com toda certeza os dois fariam.

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