Valentina
Acordei com o barulho do meu celular tocando. Dei um pulo na cama, indo pegar o aparelho que havia deixado na mesinha ao lado.
— Alô!
Disse tentando abrir os olhos para enxergar melhor.
— Senhorita Martinez, perdoe incomodar tão cedo. Sou a enfermeira- chefe responsável pela internação do seu avô. A senhora pode comparecer no consultório do doutor Renato?
A mulher disse, eu respondi que me encontrava no hospital.
— Vou trocar de roupa e chego em vinte minutos. Peça para providenciarem o café da manhã e meus pais foram chamados?
Perguntei à enfermeira, que respondeu que papai já estava sabendo e chegaria em breve. Se desculpou por ligar ao invés de vir até o quarto que fiquei. Disse que não precisava se desculpar e que eu logo chegaria. Desliguei o celular, corri apressada para dentro do banheiro, tirando a roupa e entrando embaixo do chuveiro. A água quente acabou me despertando com mais rapidez. Cinco minutos depois, enrolada com o roupão, vou procurar uma roupa para vestir. Enquanto procurava uma calcinha, alguém batia na porta e fui atender, achando que era alguma emergência. Ao abrir, dei de cara com Diego. O grandalhão usava seu uniforme de sempre e a expressão em seu rosto ao me encontrar vestindo somente o roupão foi engraçada.
— Aconteceu algo?
Perguntei, parada na porta, aguardando ele dizer algo.
— Bom dia, senhorita! Seu pai está se dirigindo para cá e o doutor deseja conversar com a família sobre a situação do seu avô.
— Eu recebi a ligação há alguns minutos — respondi e Diego ficou calado olhando para o meu rosto até que respondeu que iria me esperar do lado de fora.
— Tudo bem! Em dez minutos estou pronta — fechei a porta e só então percebi a calcinha na mão e pude entender o motivo do rosto desconfortável do homem.
— Sem noção!
Recriminando a mim mesmo, enquanto vestia a peça e depois colocava o sutiã. Peguei minha calça jeans e a camiseta preta vestindo. Passei uma escova no meu cabelo, que ainda estava molhado. Peguei minha bolsa e guardei as roupas sujas na mochila. Pediria para um dos seguranças levar as peças para lavar e tia Áurea poderia mandar uma mala com mais roupas, se fosse necessário. Conferi meu rosto e como se nada tivesse acontecido, saí do quarto. Encontrei Diego encostado na parede, com os braços cruzados e os olhos fechados.
— Estou pronta!
Disse, vendo os olhos dele se abrirem, encarando meu rosto. O homem apontou em direção ao corredor. Sorri para ele, como sempre fazia, recebendo a mesma expressão séria de sempre. Dei de ombros, caminhando ao lado dele em silêncio, até o consultório do doutor. Encontrei os outros seguranças do lado de fora e com certeza meu pai estava aqui.
— O presidente chegou e a senhora pode entrar!
Diego apontou para a porta.
— Obrigada e desculpe o que aconteceu lá na porta do meu quarto — disse, me dirigindo até o consultório. Não falei mais nada além de pedir desculpas. Ele era um homem esperto e entendeu muito bem ao que me referi. Bati na porta, aguardando resposta para entrar. Abri a porta, dando de cara com papai sentado com um sorriso que encheu meu coração de esperanças.
— Minha princesa, veio sem tomar café da manhã?
Papai perguntou, levantando-se para me receber.
— A enfermeira ligou achando que eu não estava aqui. Mas depois eu penso em comer algo, conte uma notícia boa, por que pela cara do senhor e do doutor posso acreditar que o meu avô acordou?
Fui logo perguntando, ignorando as boas maneiras.
— Calma, senhorita! Bom dia, primeiro e visto que o olhar do seu pai entregou tudo. Pode ficar tranquila. Ricardo acordou e está neste momento tomando seu café da manhã. Como ele acordou um pouco confuso, achei melhor chamar Leonardo e você.
Doutor Renato diz, eu abraço meu pai, segurando a emoção e não chorando na frente do médico.
— Eu posso tomar café da manhã no quarto com o vovô?
Perguntei e o médico autorizou, entretanto, eu deveria manter a calma e não deixar que o paciente tivesse fortes emoções.
— Prometo que me comporto — disse levantando-me da cadeira dando a mão para o meu pai, como sempre fiz desde criança.
— Vamos até aquele velho teimoso, princesa — papai disse, se levantando também, saindo de mãos dadas comigo do consultório. Encontramos Diego aguardando como sempre e todos seguiram para o quarto do vovô.
— A mamãe não quis acompanhar o senhor ou achou melhor ela ficar em casa com a vovó e os gêmeos?
Perguntei, porque era estranho meu pai sozinho.
— Sua mãe teve uma discussão com sua avó logo cedo. Sabe como sua avó é difícil de lidar e como sua mãe deixou de se importar com tudo que minha mãe faz há muitos anos, achei melhor Jessica ficar na mansão.
Com certeza, era algo relacionado aos gêmeos ou meu avô. Aquelas duas se detestavam e nunca consegui entender o motivo de tanta implicância entre as duas. Diego foi na frente enquanto eu conversava com papai. Antes de entrarmos, os dois se afastaram indo conversar baixinho para que ninguém pudesse ouvir. Eu tentei ouvir o que diziam, contudo, não consegui nada. Meu pai voltou para o meu lado e juntos entramos no quarto. Encontramos vovô sentado na cama, tomando suco e rindo de algo que a enfermeira contava. Nem parecia que horas atrás, estava naquela cama lutando pela vida.
— Que susto o senhor deu em todos nós!
Papai foi o primeiro a falar, enquanto eu, sem me importar em levar bronca, me sentei na cama ao lado do vovô.
— Amor do vovô — fui recebida com um sorriso pelo vovô Ricardo, que acariciou meu rosto, com a mão enrugada com as agulhas do soro e da medicação.
— O papai tem razão, que susto deu na gente. Peguei o primeiro voo para São Paulo e abandonei tudo em Manaus para chegar o mais rápido que eu podia.
Confessei e meu avô respondeu que só assim eu voltava para casa.
— Estou bem e Renato veio assim que despertei para ver como eu estava. Não se preocupem que foi somente um susto.
A enfermeira pediu licença nos deixando sozinhos, porém antes avisou que seria servido o café para meu pai e eu no quarto do paciente. Papai sentou na cadeira que a enfermeira estava antes e eu continuei na cama sentada com o vovô.
— Leonardo, não precisa se desesperar filho. Foi somente um susto, eu estou bem melhor e Renato disse que terei alta em dois dias.
Vovô disse, meu pai e eu trocamos olhares porque sabíamos que teríamos que cuidar da saúde dele ainda mais. E conhecendo bem o avô que tenho, mesmo sendo médico, era teimoso como uma mula empacada.
— Melhor conversar sobre esse assunto, quando o senhor sair do hospital — disse mudando o teor da conversa.
— Então, minha netinha, voltou de vez ou vai embarcar no primeiro avião de volta a Manaus?
— Sua neta, vai ficar. Pode melhorar ainda mais do que está, decidi retornar antes do previsto e vou entrar em contato com meu chefe e enviar a carta de desligamento.
Havia pensado bem e conversaria com Mateus sobre voltar para São Paulo. Não sei se meu namorado aceitaria, contudo, a saúde do meu avô era importante para mim e se fosse preciso encerrar meu contrato antes do previsto eu faria.
— Isso significa que você vai voltar para casa e morar com seus avós?
Papai perguntou. Eu esperava essa pergunta, visto estar de volta à cidade. Contudo, eu não moraria com minha família, permaneceria vivendo sozinha e iria procurar um apartamento próximo do hospital. Teria que assumir meu cargo na diretoria e começaria a cuidar de tudo.
— Significa que volto a morar em São Paulo como antes e não comece a criar planos — apontei para os dois. Recordo o que o médico disse e achei melhor não falar sobre a minha decisão de continuar morando sozinha. Passei a distrair vovô com assuntos aleatórios, uma enfermeira trouxe o café da manhã. Nós três comemos, conversamos e assim eu distraía meu pai e meu avô de mais perguntas que com toda certeza os dois fariam.
DiegoTomava o café da manhã, na cafeteria do hospital, ao lado de mais dois seguranças. A equipe da manhã continuou vigiando a porta do quarto em que o doutor Ricardo estava internado. Eu precisava conversar a sós com o senhor Leonardo, explicar sobre toda a situação, contudo teria que fazer isso longe dos outros e principalmente da sua filha. Meu informante alertou-me que se começaram a usar o pai do presidente como forma de intimidar o início do seu governo, significava que eles passariam a atacar os filhos e a mais velha era o alvo mais fácil, por indiretamente fazer parte do escândalo que foi o primeiro mandato dele como Governador, vinte anos atrás.— Diego, foi necessário dispensar o Bruno daquela forma?Raimundo, um dos seguranças que trabalhava comigo há anos, questionou a atitude que tomei ao demitir o garoto por conta do erro na noite anterior. Todos os meus funcionários sabiam como eu costumava trabalhar e como eu prezava pelo compromisso e lealdade. Principalmente quando
ValentinaEstava no meu quarto, tentando relaxar na banheira. Mal coloquei os pés na casa dos meus avós e já me estressei com a briga entre a mamãe e a vovó. Sofia e Leandro foram para faculdade e quando papai surgiu na sala, vovó Soraia reclama que a minha mãe não tinha nada que ficar com o meu avô no hospital, visto que ela não fazia parte da nossa família. Como sempre, papai teve que apartar a discussão e vovó se irritou por não poder visitar o esposo. Disse que iria se trancar em seu quarto e minha mãe respondeu que ela fazia um favor para todos. Papai disse que precisava trabalhar, indo se trancar no escritório, enquanto minha mãe saiu para passar o dia fazendo companhia para o meu avô. Eu avisei que ficaria com ele a noite, contudo meu pai disse que não era preciso e que era para ficar descansando. Minha família estava bem longe de ser perfeita e se todos soubessem como era a relação da primeira- dama com sua sogra, seria a manchete de todos os sites de fofocas. Depois que fique
ValentinaO almoço foi com papai elogiando meu namorado, enquanto vovó dizia que iria começar a organizar o nosso noivado em breve. Eu apenas ouvia aquela conversa toda calada, apenas esperando o momento certo para ficar sozinha com Mateus e esclarecer alguns pontos com meu namorado.— Filha, como seu avô terá alta amanhã, não vejo necessidade de ficar com ele hoje a noite.Meu pai disse, enquanto eu olhava para o prato com o pensamento longe daqui.— Leonardo, aquela sua mulher não tinha nada que ficar com o meu Ricardo no hospital. Deveria ter pedido que Áurea ou uma enfermeira cuidasse dele.Vovó resmungava do outro lado, enquanto Mateus prestava atenção em seu celular. Nosso almoço foi horrível, principalmente quando meu pai questionou nosso noivado e a demora em nos casarmos. Mateus disse que a mãe havia dito o mesmo e que agora que papai foi eleito presidente, era o correto sua filha mais velha começar a construir uma família aos moldes tradicionais. Assim o eleitorado veria com
DiegoSozinho em meu apartamento, preparava algo para comer. O senhor Leonardo disse que eu poderia tirar a noite de folga, por conta do trabalho intenso que tive nas últimas quarenta e oito horas. No primeiro momento recusei, contudo, fui obrigado a aceitar, quando ele disse que eram ordens do presidente. Doutor Ricardo teve uma melhora milagrosa, sorrindo na companhia da primeira- dama e conversando comigo sobre coisas da vida. Meus subordinados, questionavam sempre o motivo de ser tão leal a família Martinez e continuar trabalhando para eles, depois de tantos anos. Nem eu mesmo sabia o porquê. Doutor Leonardo sempre foi bondoso comigo, tratando-me bem e não como se eu fosse apenas um empregado. Durante todos esses anos, acompanhei a trajetória política do homem, desde seu mandato como secretário de saúde até agora como Presidente do país. A forma limpa e justa de fazer política, fez com que ele acumulasse inimigos com o passar dos anos. No primeiro escândalo envolvendo o seu nome,
DiegoDirigia de volta para casa, após uma sessão intensa de sexo com aquela desconhecida. A garota foi receptiva até demais, enquanto aproveitamos muito bem a suíte. Ela até tentou descobrir algo sobre mim, porém fui claro quando disse que o que tivemos hoje a noite terminava no momento em que eu saísse daquele quarto. A madrugada fria, me fez abrir o vidro para que o vento batesse em meu rosto. Mesmo sendo bastante perigoso o que estava fazendo, não era errado ter a brisa por alguns minutos. Enquanto dirigia prestando atenção no trânsito, o celular do trabalho tocou e apertei o botão do carro para atender a chamada. Era um dos funcionários da mansão dos Martinez que trabalhava fazendo a segurança dos pais do presidente.— Espero que não tenha acontecido nenhuma tragédia para me ligar em plena folga essa hora da madrugada.Respondi, assim que atendi a chamada.— Boa noite senhor e perdoe-me o horário. É que tive tempo somente agora para falar.O garoto disse, alertando-me os meus sen
ValentinaEra muito cedo ainda, teria que procurar algo para ocupar meu tempo até a hora do almoço com Francisco. Após o desastre que foi o café da manhã com minha família, precisava de uma distração antes que eu retornasse ao trabalho no hospital. Esperava o chilique vindo do meu pai, contudo não imaginei o escândalo que faria ao ouvir minha escolha de voltar a morar sozinha. Papai, se recusou a aceitar minha decisão, meus irmãos permaneceram calados como sempre e para a minha sorte é que vovó não se encontrava para o drama ser ainda maior. Como sempre, a única que aceitou sem dramas, foi mamãe. Escolhi uma roupa para o almoço com meu amigo, o dia em São Paulo estava cinzento e isso deveria ser um aviso de como minha vida ficaria complicada nos próximos dias. Uma batida na porta, larguei a calça jeans, em cima da poltrona e fui abrir. Encontrei a mamãe, parada, com seu sorriso. Fiz sinal para que a dona Jéssica entrasse e fechei a porta, vendo minha mãe indo sentar na minha cama.— E
Valentina— Tantos problemas, que a doença do vovô foi o menor dos males. Contei para o meu pai hoje sobre voltar a morar sozinha, o velho surtou como sempre e mamãe saiu em minha defesa e conhecendo bem o doutor Leonardo, uma hora dessas deve ter comprado o apartamento que vou morar, mandado o Diego instalar milhares de câmera de vigilância e reforçar as sombras para me seguirem.Disse sorrindo, vendo Francisco fazer o mesmo ao meu ouvir. Meu amigo não tinha uma vida tão diferente assim da minha. Tio Pedro e sua fama, mesmo com o passar dos anos não mudou e a família Pascal, sempre teve que viver pensando no inimigo que atacaria o tio. Com o crescimento da comunidade Estrela Guia e os projetos que o governo criou para melhorar a vida dos moradores, tio Pedro passou a ser muito mais conhecido que vinte anos atrás e também muito visado pelos bandidos disfarçados de bons samaritanos.O garçom apareceu, para anotar os nossos pedidos. Como sempre, escolhi um filé ao molho madeira e Franci
DiegoA reunião do presidente com o governador de São Paulo, demorou mais do que o previsto. Por uma parte, isso foi bom porque tive tempo suficiente para escolher o apartamento que Valentina ficaria. O senhor Leonardo deu carta-branca para escolher o que eu achasse mais seguro. Escolhi o lugar, conforme o antigo apartamento da garota. Envie para o advogado da família, a proposta da imobiliária e como todos os imóveis da família Martinez, as transações seriam feitas no total sigilo. Enquanto eu aguardava o almoço entre o presidente e aquele idiota do Mário finalizar, verificava as atualizações da compra através das mensagens enviadas diretamente a mim. A turma que fazia a segurança dos filhos do Presidente, informou-me que Valentina almoçou com Francisco e após o almoço saiu do restaurante com o merdinha que a garota chamava de namorado. Meu sexto sentido sempre alertou que existe algo de errado com aquele moleque e principalmente com a família dele de gente metida a besta que vomitav