Diego
Tomava o café da manhã, na cafeteria do hospital, ao lado de mais dois seguranças. A equipe da manhã continuou vigiando a porta do quarto em que o doutor Ricardo estava internado. Eu precisava conversar a sós com o senhor Leonardo, explicar sobre toda a situação, contudo teria que fazer isso longe dos outros e principalmente da sua filha. Meu informante alertou-me que se começaram a usar o pai do presidente como forma de intimidar o início do seu governo, significava que eles passariam a atacar os filhos e a mais velha era o alvo mais fácil, por indiretamente fazer parte do escândalo que foi o primeiro mandato dele como Governador, vinte anos atrás.
— Diego, foi necessário dispensar o Bruno daquela forma?
Raimundo, um dos seguranças que trabalhava comigo há anos, questionou a atitude que tomei ao demitir o garoto por conta do erro na noite anterior. Todos os meus funcionários sabiam como eu costumava trabalhar e como eu prezava pelo compromisso e lealdade. Principalmente quando se tratava de assuntos relacionados à família do presidente.
— Se o garoto precisava ir até o banheiro, por qual motivo não chamou um dos rapazes que vigiavam no andar debaixo? Não podemos confiar em ninguém, até mesmo nos enfermeiros que trabalham aqui. Sabem que o presidente pediu sigilo sobre a saúde do pai.
Fui até um pouco rude na resposta, porém era dessa forma que eu lidava com tudo. Saí da mesa, deixando o homem sozinho. Fui até o quarto do doutor Ricardo, visto haver se passado uma hora desde o momento que os deixei para conversar com o paciente. O presidente precisaria voltar a Brasília e eu permaneceria em São Paulo para cuidar de tudo. Cumprimentei os rapazes na porta e bati antes de entrar. Ao adentrar o quarto, encontrei o doutor Ricardo com a neta. Valentina contava algo para o avô arrancando risos do homem, que permanecia com agulhas e soro. O senhor Leonardo conversava ao celular, perto da janela. Eu pedi licença e Valentina parou de falar assim que me aproximei dos dois.
— Bom dia, meu jovem!
O doutor Ricardo disse assim que me viu. Ainda não tinha falado com o homem desde o momento em que ele despertou.
— Bom dia, senhor! Espero que tenha uma recuperação rápida.
Respondi, observando Valentina me olhando com uma certa atenção.
— Diego, você chegou na hora certa — Senhor Leonardo diz, se aproximando de nós três. Assenti para o meu chefe, que avisou que voltaria para a mansão, para participar da reunião com o vice-presidente, que a esposa viria para o hospital, fazer companhia ao sogro.
— Filha, vamos comigo para casa? Assim sua avó pode ver você e aproveita para descansar. O pior já passou e seu avô, pelo que vejo, está bem melhor do que imaginava.
Valentina no primeiro momento recusou, porém, o avô a convenceu a voltar.
— Meu amor. Ouviu o que Renato disse? Eu vou ter alta em dois dias. Você descansa, tranquiliza a sua avó sobre a minha recuperação. Sua mãe vai ficar comigo e amanhã você retorna.
Doutor Ricardo disse, convencendo a neta que aceitou a contragosto.
— Diego, vou com a minha filha agora, entretanto o motorista volta com a minha esposa. Jéssica vai almoçar com meu pai aqui mesmo. Estava conversando com minha mulher e ela aguarda a nossa chegada para vir para cá.
O presidente avisa, se despedindo do pai. Sua filha faz o mesmo, porém avisa que qualquer problema era para avisar que ela voltava correndo para o hospital. Pai e filha saíram, porém, antes de ir, o senhor Leonardo pediu que eu fosse até a mansão à noite para conversar comigo. Ele estava sabendo por alto do acontecido, mesmo não entrando em detalhes não era correto esconder do homem algo tão sério. Os dois se foram, nos deixando sozinho. Eu faria companhia ao paciente até a chegada da senhora Jéssica e assim não deixaria o doutor Ricardo sozinho.
— Pegue a cadeira meu jovem e venha sentar aqui ao meu lado — o velho diz, e faço o que ele me pede. Coloquei a cadeira ao lado da sua cama, cruzando os braços como costumava fazer.
— Como sei que você obedece a tudo que meu filho pede, fique aqui enquanto eu tiro uma soneca. Não quis dizer nada para aqueles dois, porque não quero a minha neta se preocupando comigo.
O homem diz, se acomodando melhor na cama e fechando os olhos. Sorri ao escutar ele falando dessa forma. Quando estava na frente da neta, ele agia diferente para não preocupar a garota. Lembrei de quando fui até o quarto mais cedo e tive que desviar os meus olhos da mão dela que segurava a minúscula peça. Eu andava dormindo pouco, era isso que me acontecia e por esse motivo andava tendo pensamentos errados com uma mulher vinte anos mais jovem que eu e ainda por cima a filha mais velha do meu chefe.
Aproveitei que o doutor realmente dormiu, para conversar com um amigo por mensagem. Ele trabalhava fazendo a segurança do senhor Pedro, o chefe de Lagoa Azul. Tanto o chefe da comunidade como meu chefe, ambos tinham o mesmo inimigo em comum, que mesmo com o passar dos anos, permanecia sendo um fantasma morto na vida dos dois homens. Eu sabia que existia alguém tentando novamente, vender drogas e trazer a desordem para aquela comunidade, contudo Pedro cuidava de tudo com a mesma garra de quando assumiu tudo. O filho mais velho dele: Francisco, era um advogado que começava a ficar conhecido no meio, principalmente por lidar com casos envolvendo famílias poderosas da cidade. Esperei a resposta, pensando em como lidaria com as novas chantagens que o presidente com toda certeza passaria a receber e de como protegeria o homem de qualquer problema, que viesse dos inimigos e faria o que fosse preciso para cuidar não apenas do presidente como de toda a sua família.
ValentinaEstava no meu quarto, tentando relaxar na banheira. Mal coloquei os pés na casa dos meus avós e já me estressei com a briga entre a mamãe e a vovó. Sofia e Leandro foram para faculdade e quando papai surgiu na sala, vovó Soraia reclama que a minha mãe não tinha nada que ficar com o meu avô no hospital, visto que ela não fazia parte da nossa família. Como sempre, papai teve que apartar a discussão e vovó se irritou por não poder visitar o esposo. Disse que iria se trancar em seu quarto e minha mãe respondeu que ela fazia um favor para todos. Papai disse que precisava trabalhar, indo se trancar no escritório, enquanto minha mãe saiu para passar o dia fazendo companhia para o meu avô. Eu avisei que ficaria com ele a noite, contudo meu pai disse que não era preciso e que era para ficar descansando. Minha família estava bem longe de ser perfeita e se todos soubessem como era a relação da primeira- dama com sua sogra, seria a manchete de todos os sites de fofocas. Depois que fique
ValentinaO almoço foi com papai elogiando meu namorado, enquanto vovó dizia que iria começar a organizar o nosso noivado em breve. Eu apenas ouvia aquela conversa toda calada, apenas esperando o momento certo para ficar sozinha com Mateus e esclarecer alguns pontos com meu namorado.— Filha, como seu avô terá alta amanhã, não vejo necessidade de ficar com ele hoje a noite.Meu pai disse, enquanto eu olhava para o prato com o pensamento longe daqui.— Leonardo, aquela sua mulher não tinha nada que ficar com o meu Ricardo no hospital. Deveria ter pedido que Áurea ou uma enfermeira cuidasse dele.Vovó resmungava do outro lado, enquanto Mateus prestava atenção em seu celular. Nosso almoço foi horrível, principalmente quando meu pai questionou nosso noivado e a demora em nos casarmos. Mateus disse que a mãe havia dito o mesmo e que agora que papai foi eleito presidente, era o correto sua filha mais velha começar a construir uma família aos moldes tradicionais. Assim o eleitorado veria com
DiegoSozinho em meu apartamento, preparava algo para comer. O senhor Leonardo disse que eu poderia tirar a noite de folga, por conta do trabalho intenso que tive nas últimas quarenta e oito horas. No primeiro momento recusei, contudo, fui obrigado a aceitar, quando ele disse que eram ordens do presidente. Doutor Ricardo teve uma melhora milagrosa, sorrindo na companhia da primeira- dama e conversando comigo sobre coisas da vida. Meus subordinados, questionavam sempre o motivo de ser tão leal a família Martinez e continuar trabalhando para eles, depois de tantos anos. Nem eu mesmo sabia o porquê. Doutor Leonardo sempre foi bondoso comigo, tratando-me bem e não como se eu fosse apenas um empregado. Durante todos esses anos, acompanhei a trajetória política do homem, desde seu mandato como secretário de saúde até agora como Presidente do país. A forma limpa e justa de fazer política, fez com que ele acumulasse inimigos com o passar dos anos. No primeiro escândalo envolvendo o seu nome,
DiegoDirigia de volta para casa, após uma sessão intensa de sexo com aquela desconhecida. A garota foi receptiva até demais, enquanto aproveitamos muito bem a suíte. Ela até tentou descobrir algo sobre mim, porém fui claro quando disse que o que tivemos hoje a noite terminava no momento em que eu saísse daquele quarto. A madrugada fria, me fez abrir o vidro para que o vento batesse em meu rosto. Mesmo sendo bastante perigoso o que estava fazendo, não era errado ter a brisa por alguns minutos. Enquanto dirigia prestando atenção no trânsito, o celular do trabalho tocou e apertei o botão do carro para atender a chamada. Era um dos funcionários da mansão dos Martinez que trabalhava fazendo a segurança dos pais do presidente.— Espero que não tenha acontecido nenhuma tragédia para me ligar em plena folga essa hora da madrugada.Respondi, assim que atendi a chamada.— Boa noite senhor e perdoe-me o horário. É que tive tempo somente agora para falar.O garoto disse, alertando-me os meus sen
ValentinaEra muito cedo ainda, teria que procurar algo para ocupar meu tempo até a hora do almoço com Francisco. Após o desastre que foi o café da manhã com minha família, precisava de uma distração antes que eu retornasse ao trabalho no hospital. Esperava o chilique vindo do meu pai, contudo não imaginei o escândalo que faria ao ouvir minha escolha de voltar a morar sozinha. Papai, se recusou a aceitar minha decisão, meus irmãos permaneceram calados como sempre e para a minha sorte é que vovó não se encontrava para o drama ser ainda maior. Como sempre, a única que aceitou sem dramas, foi mamãe. Escolhi uma roupa para o almoço com meu amigo, o dia em São Paulo estava cinzento e isso deveria ser um aviso de como minha vida ficaria complicada nos próximos dias. Uma batida na porta, larguei a calça jeans, em cima da poltrona e fui abrir. Encontrei a mamãe, parada, com seu sorriso. Fiz sinal para que a dona Jéssica entrasse e fechei a porta, vendo minha mãe indo sentar na minha cama.— E
Valentina— Tantos problemas, que a doença do vovô foi o menor dos males. Contei para o meu pai hoje sobre voltar a morar sozinha, o velho surtou como sempre e mamãe saiu em minha defesa e conhecendo bem o doutor Leonardo, uma hora dessas deve ter comprado o apartamento que vou morar, mandado o Diego instalar milhares de câmera de vigilância e reforçar as sombras para me seguirem.Disse sorrindo, vendo Francisco fazer o mesmo ao meu ouvir. Meu amigo não tinha uma vida tão diferente assim da minha. Tio Pedro e sua fama, mesmo com o passar dos anos não mudou e a família Pascal, sempre teve que viver pensando no inimigo que atacaria o tio. Com o crescimento da comunidade Estrela Guia e os projetos que o governo criou para melhorar a vida dos moradores, tio Pedro passou a ser muito mais conhecido que vinte anos atrás e também muito visado pelos bandidos disfarçados de bons samaritanos.O garçom apareceu, para anotar os nossos pedidos. Como sempre, escolhi um filé ao molho madeira e Franci
DiegoA reunião do presidente com o governador de São Paulo, demorou mais do que o previsto. Por uma parte, isso foi bom porque tive tempo suficiente para escolher o apartamento que Valentina ficaria. O senhor Leonardo deu carta-branca para escolher o que eu achasse mais seguro. Escolhi o lugar, conforme o antigo apartamento da garota. Envie para o advogado da família, a proposta da imobiliária e como todos os imóveis da família Martinez, as transações seriam feitas no total sigilo. Enquanto eu aguardava o almoço entre o presidente e aquele idiota do Mário finalizar, verificava as atualizações da compra através das mensagens enviadas diretamente a mim. A turma que fazia a segurança dos filhos do Presidente, informou-me que Valentina almoçou com Francisco e após o almoço saiu do restaurante com o merdinha que a garota chamava de namorado. Meu sexto sentido sempre alertou que existe algo de errado com aquele moleque e principalmente com a família dele de gente metida a besta que vomitav
DiegoEstava no hospital, aguardando o doutor Ricardo ter alta. Após ser informado do que deveria fazer a partir de agora, o presidente pediu que acompanhasse a primeira-dama até o hospital. Doutor Ricardo, conversava com o seu médico, sobre sua saúde e o repouso necessário. Recordo das palavras em seu escritório e da missão de cuidar da filha mais velha do presidente. Valentina era uma mulher tranquila, mesmo não gostando da segurança ao redor, jamais reclamou ou tratou qualquer funcionário mal. A questão para mim nesse momento é que não pensei que eu seria o escolhido para vigiar cada passo seu a partir de agora. Há anos que não aparecia nada relacionado ao passado do senhor Leonardo e a sua esposa. Justo agora que o novo mandato como presidente começa, aparece algo assim. Era como voltar ao passado, uma época em que Marcelo era vivo e comandava tudo de dentro da sua prisão luxuosa. Aguardava no corredor, pensativo em como faria a partir do momento que o presidente retornasse a Bras