Capítulo 6

Valentina

Estava no meu quarto, tentando relaxar na banheira. Mal coloquei os pés na casa dos meus avós e já me estressei com a briga entre a mamãe e a vovó. Sofia e Leandro foram para faculdade e quando papai surgiu na sala, vovó Soraia reclama que a minha mãe não tinha nada que ficar com o meu avô no hospital, visto que ela não fazia parte da nossa família. Como sempre, papai teve que apartar a discussão e vovó se irritou por não poder visitar o esposo. Disse que iria se trancar em seu quarto e minha mãe respondeu que ela fazia um favor para todos. Papai disse que precisava trabalhar, indo se trancar no escritório, enquanto minha mãe saiu para passar o dia fazendo companhia para o meu avô. Eu avisei que ficaria com ele a noite, contudo meu pai disse que não era preciso e que era para ficar descansando. Minha família estava bem longe de ser perfeita e se todos soubessem como era a relação da primeira- dama com sua sogra, seria a manchete de todos os sites de fofocas. Depois que fiquei sozinha na sala, subi para o meu quarto, tirei a minha roupa e fui para o banheiro. Precisava relaxar meu corpo cansado. Agora estava na banheira, ouvindo música enquanto pensava no que eu faria a partir de agora. Vovô teria alta no dia seguinte, meu pai retornaria para Brasília e eu escolheria um novo apartamento para morar. O meu antigo, estava alugado, depois que fui trabalhar em Manaus e não era justo pedir que os inquilinos saíssem. Mateus me mandou mensagem, perguntando se eu queria almoçar com ele, porém recusei dizendo que ficaria com a minha avó. Dessa forma, a raiva dela passaria um pouco com a minha presença. Quando estava no carro, notei meu pai estranho, conversando com alguém pelo celular. Porém não compreendi do que se tratava, pelo simples fato dele falar praticamente em códigos. Nunca quis me envolver na política e sempre recusei os pedidos para me filiar ao partido no núcleo jovem. Política era algo que nem eu e muito menos meus irmãos desejavam para nossas vidas. A água ficou fria e saí da banheira com cuidado. Peguei meu roupão, vestindo e voltando para o quarto. Meu celular começou a tocar e ao ver o nome no visor, atendi no primeiro toque. Com toda a confusão eu esqueci completamente de ligar para o meu chefe.

— Sebastian, me perdoa por favor — respondi assim que atendi a chamada.

— Olá Valentina! Fique tranquila, estou sabendo o que aconteceu com seu avô e por esse motivo eu estou ligando para saber se você precisa de algo.

Sebastian era meu chefe e amigo. Ele era espanhol e se naturalizou brasileiro. Tinha trinta anos e era pediatra assim como eu. Um profissional excelente, além de tudo lindo, porém nenhuma mulher tinha chances com ele.

— Vovô vai ter alta amanhã, e me perdoa novamente por não te ligar antes. Foi tudo rápido demais, acabei vindo com Mateus no primeiro voo, quando cheguei aqui meus pais estavam e foi aquela confusão.

Comecei a explicar tudo, até que tive que contar que enviaria minha carta de demissão.

— Não se preocupa, porque a Lucy meio que avisou sobre sua decisão. Talvez esse susto com seu avô seja um sinal para a senhora assumir suas responsabilidades de uma vez.

Sebastian disse. Ele sempre falava que eu precisava seguir com meu trabalho no hospital da família, ajudando aqueles que precisavam.

— Eu pensei o mesmo que você. De verdade me desculpa por sair do programa dessa forma.

Disse, ouvindo dele que estava tudo bem e que eu não precisava me preocupar com nada.

— Se você vai se desligar é bem capaz daquele seu namorado fazer o mesmo.

Sebastian e Mateus não se davam muito bem, principalmente meu namorado com suas piadas sem graça para cima do meu chefe, o que foi motivo de muitas discussões entre a gente.

— Mateus não disse nada, até me sinto mal por ele ter vindo comigo — respondi, ouvindo uma risada do outro lado da linha.

— Como se aquele idiota não agradecesse aos céus por isso.

Sebastian respondeu. Avisou que eu poderia enviar a carta de desligamento que ele assinaria e que se eu precisasse de qualquer coisa que avisasse. Nos despedimos, deixei o celular em cima da mesinha e fui até o closet escolher uma roupa para vestir. Peguei uma calça jeans e uma camiseta regata. Nos pés calcei uma rasteirinha e eu sabia que minha avó iria brigar comigo por me ver usando roupa simples em casa. Ela dizia que eu como filha de um homem tão importante como o meu pai, deveria me vestir como uma dama e não igual uma maltrapilha. Minha irmã, ao contrário de mim, foi criada aos moldes da minha avó, mesmo com mamãe sendo contra. Como meu pai descobriu minha existência, quando eu ainda era criança, não fui criada por ele nos meus primeiros seis anos de vida. Na realidade a relação dos meus pais, foi de altos e baixos até chegarem aonde estão hoje. Passei uma escova nos cabelos, peguei o celular da cama, guardando no bolso de trás e saí do quarto.Ao descer as escadas, ouvi vozes de homem e não acreditei em que encontrei conversando com vovó na sala.

— Meu amor — Mateus como sempre não aceitou o que eu disse, aparecendo em casa para almoçar comigo, quando eu havia dito que ficaria com minha família.

— Eu te disse que não poderia sair com você hoje — respondi e minha avó prestava atenção ao que nós dois conversamos.

— Me desculpa. Você sabe como eu me preocupo contigo. Então decidi convidar você e a dona Soraia para almoçar fora. Sua avó contou que seu pai está trancado no escritório e sua mãe foi para o hospital.

Mateus disse. Eu não era idiota e sabia que a desculpa de convidar para almoçar fora era uma mentira, para que ele fosse convidado para almoçar conosco.

— Valentina, seu noivo vai almoçar conosco. Tenho certeza que o seu pai vai amar a companhia do genro.

Ao ouvir a vovó chamar o Mateus de noivo, controlei a língua para não dar uma resposta malcriada. Tanto que ela mal fechou a boca, meu pai surgiu de repente na sala.

— Mateus, você aqui em casa essa hora — papai foi até ele cumprimentando e Mateus fez questão de repetir o que tinha me dito antes.

— Valentina, peça para colocarem mais um prato na mesa. É claro que meu genro vai almoçar conosco hoje. É bom que assim possamos conversar sobre o noivado de vocês.

Papai, disse indo sentar ao lado da minha avó, esquecendo completamente das obrigações. Mateus tinha esse dom de manipular as situações e minha mãe se irritava com isso, porque parecia que meu pai era cego. Eu sei que sou uma tonta por não conseguir me livrar desse namoro fadado ao fracasso, contudo eu daria um jeito de conversar a sós com ele e assim deixar claro que as minhas opiniões e decisões deveriam ser respeitadas.

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