Valentina
Estava no meu quarto, tentando relaxar na banheira. Mal coloquei os pés na casa dos meus avós e já me estressei com a briga entre a mamãe e a vovó. Sofia e Leandro foram para faculdade e quando papai surgiu na sala, vovó Soraia reclama que a minha mãe não tinha nada que ficar com o meu avô no hospital, visto que ela não fazia parte da nossa família. Como sempre, papai teve que apartar a discussão e vovó se irritou por não poder visitar o esposo. Disse que iria se trancar em seu quarto e minha mãe respondeu que ela fazia um favor para todos. Papai disse que precisava trabalhar, indo se trancar no escritório, enquanto minha mãe saiu para passar o dia fazendo companhia para o meu avô. Eu avisei que ficaria com ele a noite, contudo meu pai disse que não era preciso e que era para ficar descansando. Minha família estava bem longe de ser perfeita e se todos soubessem como era a relação da primeira- dama com sua sogra, seria a manchete de todos os sites de fofocas. Depois que fiquei sozinha na sala, subi para o meu quarto, tirei a minha roupa e fui para o banheiro. Precisava relaxar meu corpo cansado. Agora estava na banheira, ouvindo música enquanto pensava no que eu faria a partir de agora. Vovô teria alta no dia seguinte, meu pai retornaria para Brasília e eu escolheria um novo apartamento para morar. O meu antigo, estava alugado, depois que fui trabalhar em Manaus e não era justo pedir que os inquilinos saíssem. Mateus me mandou mensagem, perguntando se eu queria almoçar com ele, porém recusei dizendo que ficaria com a minha avó. Dessa forma, a raiva dela passaria um pouco com a minha presença. Quando estava no carro, notei meu pai estranho, conversando com alguém pelo celular. Porém não compreendi do que se tratava, pelo simples fato dele falar praticamente em códigos. Nunca quis me envolver na política e sempre recusei os pedidos para me filiar ao partido no núcleo jovem. Política era algo que nem eu e muito menos meus irmãos desejavam para nossas vidas. A água ficou fria e saí da banheira com cuidado. Peguei meu roupão, vestindo e voltando para o quarto. Meu celular começou a tocar e ao ver o nome no visor, atendi no primeiro toque. Com toda a confusão eu esqueci completamente de ligar para o meu chefe.
— Sebastian, me perdoa por favor — respondi assim que atendi a chamada.
— Olá Valentina! Fique tranquila, estou sabendo o que aconteceu com seu avô e por esse motivo eu estou ligando para saber se você precisa de algo.
Sebastian era meu chefe e amigo. Ele era espanhol e se naturalizou brasileiro. Tinha trinta anos e era pediatra assim como eu. Um profissional excelente, além de tudo lindo, porém nenhuma mulher tinha chances com ele.
— Vovô vai ter alta amanhã, e me perdoa novamente por não te ligar antes. Foi tudo rápido demais, acabei vindo com Mateus no primeiro voo, quando cheguei aqui meus pais estavam e foi aquela confusão.
Comecei a explicar tudo, até que tive que contar que enviaria minha carta de demissão.
— Não se preocupa, porque a Lucy meio que avisou sobre sua decisão. Talvez esse susto com seu avô seja um sinal para a senhora assumir suas responsabilidades de uma vez.
Sebastian disse. Ele sempre falava que eu precisava seguir com meu trabalho no hospital da família, ajudando aqueles que precisavam.
— Eu pensei o mesmo que você. De verdade me desculpa por sair do programa dessa forma.
Disse, ouvindo dele que estava tudo bem e que eu não precisava me preocupar com nada.
— Se você vai se desligar é bem capaz daquele seu namorado fazer o mesmo.
Sebastian e Mateus não se davam muito bem, principalmente meu namorado com suas piadas sem graça para cima do meu chefe, o que foi motivo de muitas discussões entre a gente.
— Mateus não disse nada, até me sinto mal por ele ter vindo comigo — respondi, ouvindo uma risada do outro lado da linha.
— Como se aquele idiota não agradecesse aos céus por isso.
Sebastian respondeu. Avisou que eu poderia enviar a carta de desligamento que ele assinaria e que se eu precisasse de qualquer coisa que avisasse. Nos despedimos, deixei o celular em cima da mesinha e fui até o closet escolher uma roupa para vestir. Peguei uma calça jeans e uma camiseta regata. Nos pés calcei uma rasteirinha e eu sabia que minha avó iria brigar comigo por me ver usando roupa simples em casa. Ela dizia que eu como filha de um homem tão importante como o meu pai, deveria me vestir como uma dama e não igual uma maltrapilha. Minha irmã, ao contrário de mim, foi criada aos moldes da minha avó, mesmo com mamãe sendo contra. Como meu pai descobriu minha existência, quando eu ainda era criança, não fui criada por ele nos meus primeiros seis anos de vida. Na realidade a relação dos meus pais, foi de altos e baixos até chegarem aonde estão hoje. Passei uma escova nos cabelos, peguei o celular da cama, guardando no bolso de trás e saí do quarto.Ao descer as escadas, ouvi vozes de homem e não acreditei em que encontrei conversando com vovó na sala.
— Meu amor — Mateus como sempre não aceitou o que eu disse, aparecendo em casa para almoçar comigo, quando eu havia dito que ficaria com minha família.
— Eu te disse que não poderia sair com você hoje — respondi e minha avó prestava atenção ao que nós dois conversamos.
— Me desculpa. Você sabe como eu me preocupo contigo. Então decidi convidar você e a dona Soraia para almoçar fora. Sua avó contou que seu pai está trancado no escritório e sua mãe foi para o hospital.
Mateus disse. Eu não era idiota e sabia que a desculpa de convidar para almoçar fora era uma mentira, para que ele fosse convidado para almoçar conosco.
— Valentina, seu noivo vai almoçar conosco. Tenho certeza que o seu pai vai amar a companhia do genro.
Ao ouvir a vovó chamar o Mateus de noivo, controlei a língua para não dar uma resposta malcriada. Tanto que ela mal fechou a boca, meu pai surgiu de repente na sala.
— Mateus, você aqui em casa essa hora — papai foi até ele cumprimentando e Mateus fez questão de repetir o que tinha me dito antes.
— Valentina, peça para colocarem mais um prato na mesa. É claro que meu genro vai almoçar conosco hoje. É bom que assim possamos conversar sobre o noivado de vocês.
Papai, disse indo sentar ao lado da minha avó, esquecendo completamente das obrigações. Mateus tinha esse dom de manipular as situações e minha mãe se irritava com isso, porque parecia que meu pai era cego. Eu sei que sou uma tonta por não conseguir me livrar desse namoro fadado ao fracasso, contudo eu daria um jeito de conversar a sós com ele e assim deixar claro que as minhas opiniões e decisões deveriam ser respeitadas.
ValentinaO almoço foi com papai elogiando meu namorado, enquanto vovó dizia que iria começar a organizar o nosso noivado em breve. Eu apenas ouvia aquela conversa toda calada, apenas esperando o momento certo para ficar sozinha com Mateus e esclarecer alguns pontos com meu namorado.— Filha, como seu avô terá alta amanhã, não vejo necessidade de ficar com ele hoje a noite.Meu pai disse, enquanto eu olhava para o prato com o pensamento longe daqui.— Leonardo, aquela sua mulher não tinha nada que ficar com o meu Ricardo no hospital. Deveria ter pedido que Áurea ou uma enfermeira cuidasse dele.Vovó resmungava do outro lado, enquanto Mateus prestava atenção em seu celular. Nosso almoço foi horrível, principalmente quando meu pai questionou nosso noivado e a demora em nos casarmos. Mateus disse que a mãe havia dito o mesmo e que agora que papai foi eleito presidente, era o correto sua filha mais velha começar a construir uma família aos moldes tradicionais. Assim o eleitorado veria com
DiegoSozinho em meu apartamento, preparava algo para comer. O senhor Leonardo disse que eu poderia tirar a noite de folga, por conta do trabalho intenso que tive nas últimas quarenta e oito horas. No primeiro momento recusei, contudo, fui obrigado a aceitar, quando ele disse que eram ordens do presidente. Doutor Ricardo teve uma melhora milagrosa, sorrindo na companhia da primeira- dama e conversando comigo sobre coisas da vida. Meus subordinados, questionavam sempre o motivo de ser tão leal a família Martinez e continuar trabalhando para eles, depois de tantos anos. Nem eu mesmo sabia o porquê. Doutor Leonardo sempre foi bondoso comigo, tratando-me bem e não como se eu fosse apenas um empregado. Durante todos esses anos, acompanhei a trajetória política do homem, desde seu mandato como secretário de saúde até agora como Presidente do país. A forma limpa e justa de fazer política, fez com que ele acumulasse inimigos com o passar dos anos. No primeiro escândalo envolvendo o seu nome,
DiegoDirigia de volta para casa, após uma sessão intensa de sexo com aquela desconhecida. A garota foi receptiva até demais, enquanto aproveitamos muito bem a suíte. Ela até tentou descobrir algo sobre mim, porém fui claro quando disse que o que tivemos hoje a noite terminava no momento em que eu saísse daquele quarto. A madrugada fria, me fez abrir o vidro para que o vento batesse em meu rosto. Mesmo sendo bastante perigoso o que estava fazendo, não era errado ter a brisa por alguns minutos. Enquanto dirigia prestando atenção no trânsito, o celular do trabalho tocou e apertei o botão do carro para atender a chamada. Era um dos funcionários da mansão dos Martinez que trabalhava fazendo a segurança dos pais do presidente.— Espero que não tenha acontecido nenhuma tragédia para me ligar em plena folga essa hora da madrugada.Respondi, assim que atendi a chamada.— Boa noite senhor e perdoe-me o horário. É que tive tempo somente agora para falar.O garoto disse, alertando-me os meus sen
ValentinaEra muito cedo ainda, teria que procurar algo para ocupar meu tempo até a hora do almoço com Francisco. Após o desastre que foi o café da manhã com minha família, precisava de uma distração antes que eu retornasse ao trabalho no hospital. Esperava o chilique vindo do meu pai, contudo não imaginei o escândalo que faria ao ouvir minha escolha de voltar a morar sozinha. Papai, se recusou a aceitar minha decisão, meus irmãos permaneceram calados como sempre e para a minha sorte é que vovó não se encontrava para o drama ser ainda maior. Como sempre, a única que aceitou sem dramas, foi mamãe. Escolhi uma roupa para o almoço com meu amigo, o dia em São Paulo estava cinzento e isso deveria ser um aviso de como minha vida ficaria complicada nos próximos dias. Uma batida na porta, larguei a calça jeans, em cima da poltrona e fui abrir. Encontrei a mamãe, parada, com seu sorriso. Fiz sinal para que a dona Jéssica entrasse e fechei a porta, vendo minha mãe indo sentar na minha cama.— E
Valentina— Tantos problemas, que a doença do vovô foi o menor dos males. Contei para o meu pai hoje sobre voltar a morar sozinha, o velho surtou como sempre e mamãe saiu em minha defesa e conhecendo bem o doutor Leonardo, uma hora dessas deve ter comprado o apartamento que vou morar, mandado o Diego instalar milhares de câmera de vigilância e reforçar as sombras para me seguirem.Disse sorrindo, vendo Francisco fazer o mesmo ao meu ouvir. Meu amigo não tinha uma vida tão diferente assim da minha. Tio Pedro e sua fama, mesmo com o passar dos anos não mudou e a família Pascal, sempre teve que viver pensando no inimigo que atacaria o tio. Com o crescimento da comunidade Estrela Guia e os projetos que o governo criou para melhorar a vida dos moradores, tio Pedro passou a ser muito mais conhecido que vinte anos atrás e também muito visado pelos bandidos disfarçados de bons samaritanos.O garçom apareceu, para anotar os nossos pedidos. Como sempre, escolhi um filé ao molho madeira e Franci
DiegoA reunião do presidente com o governador de São Paulo, demorou mais do que o previsto. Por uma parte, isso foi bom porque tive tempo suficiente para escolher o apartamento que Valentina ficaria. O senhor Leonardo deu carta-branca para escolher o que eu achasse mais seguro. Escolhi o lugar, conforme o antigo apartamento da garota. Envie para o advogado da família, a proposta da imobiliária e como todos os imóveis da família Martinez, as transações seriam feitas no total sigilo. Enquanto eu aguardava o almoço entre o presidente e aquele idiota do Mário finalizar, verificava as atualizações da compra através das mensagens enviadas diretamente a mim. A turma que fazia a segurança dos filhos do Presidente, informou-me que Valentina almoçou com Francisco e após o almoço saiu do restaurante com o merdinha que a garota chamava de namorado. Meu sexto sentido sempre alertou que existe algo de errado com aquele moleque e principalmente com a família dele de gente metida a besta que vomitav
DiegoEstava no hospital, aguardando o doutor Ricardo ter alta. Após ser informado do que deveria fazer a partir de agora, o presidente pediu que acompanhasse a primeira-dama até o hospital. Doutor Ricardo, conversava com o seu médico, sobre sua saúde e o repouso necessário. Recordo das palavras em seu escritório e da missão de cuidar da filha mais velha do presidente. Valentina era uma mulher tranquila, mesmo não gostando da segurança ao redor, jamais reclamou ou tratou qualquer funcionário mal. A questão para mim nesse momento é que não pensei que eu seria o escolhido para vigiar cada passo seu a partir de agora. Há anos que não aparecia nada relacionado ao passado do senhor Leonardo e a sua esposa. Justo agora que o novo mandato como presidente começa, aparece algo assim. Era como voltar ao passado, uma época em que Marcelo era vivo e comandava tudo de dentro da sua prisão luxuosa. Aguardava no corredor, pensativo em como faria a partir do momento que o presidente retornasse a Bras
ValentinaAo entrar em casa, dei de cara com meu avô na sala, todo falante e sorridente. Nem parecia que doutor Ricardo, esteve tão mal, dias atrás. Ao me ver entrar, abriu os braços para mim, claro que fui até meu avô amado sem pensar duas vezes. Vovó, Soraia, quis saber como foi o encontro com Natália, dizendo que organizaria um jantar entre as famílias, antes da volta dos meus pais para Brasília. Troquei olhares com mamãe, que disfarçou uma careta ao ouvir as palavras da sogra. Meu pai, agiu comigo, como se não tivesse brigado comigo no café da manhã. Todo amoroso, alegre e como eu conhecia o senhor Leonardo bem, sabia que ele contaria sobre sua decisão de encontrar um apartamento para que eu morasse sozinha e encheria de seguranças ao redor. Subi para o meu quarto, para deixar minha bolsa e tomar um banho para descer para o jantar. Meus irmãos ficaram na sala fazendo companhia aos meus avós e aos nossos pais. Fazia uma trança no cabelo, quando a porta se abriu e ao me virar, depar