Prólogo
Elaris Stins Quando eu finalmente percebi, já estava correndo há tanto tempo que as minhas pernas pareciam pedaços de madeira prestes a se partir. O ar entrava e saía em arfadas curtas, o peito doía… minhas patas mal aguentavam mais o impacto contra o chão duro e repleto de raízes. Eu estava fugindo, sem rumo, sem saber para onde ir. Só sabia que precisava continuar. Não podia parar. Não agora. Os galhos me arranham meu rosto peludo, mesmo estando em quatro patas, eu conseguia sentir o ardor. Minha loba já estava em modo automático, se movendo pela urgência de sobreviver. De tempos em tempos, eu ouvia o som deles atrás de mim: os caçadores da minha própria matilha. Não eram estranhos, não eram predadores de fora. Eram os meus. Eles me queriam morta, e… eu nem sabia o porquê.O que eu havia feito para merecer isso? Nada... nada.
Tudo por causa de algo que eu não fiz, era logico. Não fazia ideia do que estava acontecendo. As acusações vieram rápidas demais, e a chance de me defender nunca veio. Só ouvi sussurros sobre traição, sobre algo terrível que havia acontecido — e de alguma forma, meu nome estava no meio disso.Por que? Eu não sabia, não tinha a minina ideia.
Não me deram tempo para processar no fim de tudo, e simplesmente… correram atrás de mim como se eu fosse a pior ameaça que já conheceram.MERDA!
O medo pulsou em minhas veias como veneno, sentia tudo arder, um calor estranho sentia por todo o meu corpo, meu sanguie fervia, isso me fazia correr mais rápido do que eu jamais pensei ser possível. Eu tinha que fugir, tinha que escapar. Mas para onde? As árvores à minha volta começavam a se misturar, um borrão de verde e marrom que não fazia sentido. O desespero estava ganhando, e quando eu fui notar… não havia um lugar seguro, nenhum refúgio, e cada passo parecia me levar mais fundo na escuridão.Mue coração batia depressa, a adrenalina estava a mil, mas não podia parar, tinha que continuar, fugir para algum lugar, tinha que despistar eles.
O vento carregava o cheiro deles. Eles estavam perto. Perto demais. Era uma questão de tempo até que me alcançassem, e o meu coração disparava como um tambor em desespero, as batidas tão altas que eu mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos. Eu não sabia o que tinha acontecido. Não sabia por que estavam me caçando. Mas uma coisa era certa: se me pegassem, não haveria mais perguntas, apenas o fim. Não poderia parar, não iria morrer desse jeito. Foi então que algo me chamou atenção. Uma presença. Uma sombra que se movia à minha frente, rápido, com uma agilidade quase inumana. Meu corpo gelou, mas não era mais medo. Era instinto. Aquilo não era um deles. Não era parte da matilha — pelo menos, não a minha. Seu cheiro era diferente, era menos forte do que minha alcateia, ele tinha... um cheiro bom. Continuei correndo, mesmo que minhas pernas gritassem para parar. Mesmo que meus pulmões queimassem como se estivessem pegando fogo, e então… quando achei que não poderia mais aguentar, ele apareceu. — Ei! — gritou uma voz forte, firme, me atravessando como um relâmpago. Meus olhos piscaram rápido, tentando entender o que eu estava vendo. Um homem — não, um lobo, mas também homem, ele estava em sua forma de homem, mas sabia que ele era um lobo. Ele corria em minha direção, mas algo nele me dizia que ele não estava ali para me caçar, não como os outros. Eu tropecei, as minhas pernas finalmente falhando, e caí no chão com um baque surdo. Os galhos que me arranharam antes agora pareciam punhais cravados na minha carne, mas nada disso importava. Tudo o que eu conseguia fazer era olhar enquanto ele enfrentava os caçadores que vinham atrás de mim. "Que merda." me encolhi, enquanto encarei eles. Era o meu fim, eu sabia disso. O homem então se colocou entre mim e os lobos, sem hesitar. Um rosnado profundo reverberou de sua garganta, ecoando pela floresta. Os caçadores pararam, hesitaram. Eu mal podia acreditar no que estava vendo. Os lobos, aqueles que estavam prontos para me despedaçar minutos antes, estavam recuando, se dispersando como sombras.Aquele terrirório só podia ser desse homem, minha alcateia não podia prosseguir. Era isso.
Funguei alto e então, o homem se virou para mim. Eu levantei um pouco e minha cabeça, comecei a cheira-lo, ele tinha um cheiro bom... meus olhos examinaram o seu rosto, seu lindo rosto.
Percebi apenas que era alto... olhos claros... seu rosto estava sério. Quem era ele? Ele falou algo e não consegui entender, eu me sentia fraca... senti minha loba fraca, eu já não tinha mais forças, tudo a minha volta se tornou um borrão preto. Senti o meu corpo cair na terra fria... E tudo escureceu.Davian Deane - Sombra do Zane Meses se passaram.Após a derrota de Cassius, tudo se normalizou. Mas, algo dentro de mim, me incomodava... Eu não sabia o que era pior: ficar observando de longe Zane e Elena, tão felizes, como se nada no mundo pudesse tocá-los, ou estar preso na minha própria cabeça, tentando encontrar algo que me fizesse sentir... algo além de vazio, porque desde que a guerra acabou, parecia que todo mundo ao meu redor encontrou seu lugar, menos eu.Sei quem parece ridículo, mas bom... Não é. Enquanto penso sobre tudo isso, caminho pelo jardim do castelo do meu alfa... e por pensar nele, sentia algo estranho dente de mim. O meu alfa... Zane? Ele tinha tudo. Um filho, uma companheira incrível, e o respeito de todos. Eu, por outro lado, me sentia à sombra dele, sempre ali, presente, mas nunca brilhando. Tentava ignorar isso, tentava me concentrar em outras coisas, mas era impossível não reparar no contraste. Toda vez que eu os via, a vida deles parecia mais plena,
Davian Deane - sombra do Zane Continuei paralisado, vendo-a em sua forma humana, com aqueles cabelos prateados caindo em ondas suaves sobre os ombros, percebi que algo estava muito além do meu controle. Ela não era só uma loba comum, e eu estava prestes a descobrir isso da pior maneira possível.Ela mal teve tempo de me olhar mais uma vez antes de desmaiar, porque ela literalmente, desabou na terra fria.Eu me aproximei dela no mesmo instante, a pegando em meus braços. No momento em que senti o peso dela, fiquei congelado por alguns segundos, sem saber o que fazer. Quer dizer, o que eu deveria fazer? Abandoná-la ali não era uma opção, e claramente ela estava exausta demais para sequer falar. Sem outra escolha, a única coisa que me veio à cabeça foi levá-la para a minha casa.Dei meia volta e comecei a caminhar pelo trilho ao lado da floresta, atento, olhando para os lados enquanto caminhava. Não foi exatamente fácil. Carregar alguém desacordado sempre é complicado, e ela, apesar de
Elaris StinsMinha cabeça parecia estar cheia de névoa, e quando eu abri os olhos devagar, piscando várias vezes para tentar ajustar a visão… as coisas não pareciam melhorar muito. O que eu via à minha frente não fazia sentido de imediato. Teto de madeira, luz suave entrando pelas frestas de uma janela... tudo parecia tão estranho. Senti algo macio sob meu corpo e, quando tentei me mexer, percebi que estava deitada em uma cama. Uma cama. Como assim? Onde eu estou? Quando foi a última vez que dormi em algo assim? Por um momento, o cheiro de comida me invadiu, fazendo meu estômago roncar de imediato. O aroma era acolhedor, familiar, mas o medo ainda latejava dentro de mim. Fome ou não, eu precisava entender o que estava acontecendo.Quem havia me trazido até ali? Era uma emboscada? Respirei fundo e deixei que a mente, antes turva, começasse a processar melhor. Lembranças surgiram em flashes. A fuga. O cansaço. A sensação de estar sendo caçada pela própria alcateia, e então… ele, o
Davian Deane Eu não conseguia parar de olhar para ela.Ela estava sentada ali, à minha frente, comendo a sopa que eu preparei, e parecia… diferente. Havia algo na forma como segurava a colher, como levava cada gota à boca, que me deixava hipnotizado. Os cabelos prateados, ainda um pouco bagunçados por tudo o que aconteceu, caíam sobre os ombros dela de uma maneira quase surreal. Cada vez que a luz da janela batia nos fios, eles brilhavam como uma coisa viva, refletindo os raios de sol tímidos que invadiam a cabana.O que tem nessa loba? Me questionei. E aqueles olhos… Meu lobo interior deu um pulo quando ela abriu os olhos pela primeira vez e me encarou. Eles eram como um oceano profundo, intensos de um jeito que eu não sabia explicar. E agora, enquanto ela comia em silêncio, tudo o que eu conseguia pensar era: O que diabos eu vou fazer com ela?Eu podia ser muitas coisas, mas não era irresponsável. Agora que a trouxe pra cá, a deitei na minha cama, alimentei… era como se eu tivesse
Elaris Stins Acordei após escutar a porta bater, me levantei assustada e fui até a janela, foi então que vi Davian caminhando por uma estrada, ele havia saído cedo. Continuei sentada na cama, e senti um silêncio estranho tomar conta da cabana. Eu podia ouvir cada pequeno som: o vento balançando as árvores lá fora, o ranger suave da madeira, até mesmo minha respiração, que parecia pesada demais para o ambiente tranquilo. Eu não havia dormido bem a noite, ainda me sentia cansada.Ele tinha dito ontem para descansar e que eu podia ficar à vontade, mas… o que isso significava? Andar por aí, fuçar nas coisas dele? A ideia me pareceu estranha, mesmo que a curiosidade me queimasse por dentro. O que eu realmente queria fazer era explorar tudo, saber mais sobre esse homem que, por algum motivo desconhecido, decidiu me ajudar. Mas… algo me segurava. Talvez fosse o cansaço, ou talvez fosse a sensação de que essa cabana não era o meu lugar.Então, fiquei onde estava. Levantei da cama com cuidad
Davian Deane Eu fiquei ali, parado, olhando pra ela, e tudo dentro de mim parecia uma confusão sem fim. Elaris estava sentada na minha frente, mexendo distraída nos pentes que eu tinha trazido, com aquele sorriso leve no rosto. Ela parecia tão… normal agora, tão distante da imagem da loba exausta e desesperada que eu vi correndo na floresta. Mas, ao mesmo tempo, tinha algo de diferente nela, algo que eu não conseguia entender direito.E, pra ser sincero, eu também não conseguia entender por que estava ajudando tanto. Quer dizer, era o certo a fazer, não é? Alguém precisava ajudar. Mas era só isso? Só por ser o "certo"? Eu já tinha visto situações parecidas antes, gente em fuga, lobos fugindo de problemas, e na maioria das vezes… eu me mantinha longe, afinal… não era meu trabalho me meter. Porém agora, era diferente. Com Elaris, eu não consegui simplesmente ignorar. Algo nela me puxou, algo que eu ainda não sabia o que era. Eu só vi aquela loba prateada, correndo pra salvar a própria
Elaris Stins Eu sabia que a resposta dele era sincera, mas mesmo assim… parte de mim queria entender mais. Só que, no fim das contas, o que mais eu poderia esperar? Davian não me conhecia. Ele nunca tinha me visto antes, nunca soube da minha existência até me encontrar correndo pela floresta, desesperada e ferida. O fato de ele ter me ajudado sem pensar muito já era mais do que eu podia pedir.Realmente não esperava isso de um lobo desconhecido, estava no território dele, e Davian me acolheu. E isso, me deixava curiosa. Depois que ele saiu, escolhi um vestido e uma presilha.Fui aí banheiro e tomei um bom banho na banheira, me lavei e percebi que as minhas feridas estavam cicatrizando, ainda bem.Se comer bem e cuidar de mim, em breve estarei nova em folha.Após me secar e colocar o vestido, arrumei meus longos cabelos, o prendi um pouco com a presilha, os cabelos que ficavam caindo sob meu rosto tinha os prendido para trás. Meus longos cabelos prateados estavam alinhados agora, is