Elena Winslow Quimby. O silêncio entre mim e Zane era denso.Carregado de tensão.Eu já tinha tomado minha decisão há muito tempo e tudo que eu estava esperando era um bom motivo, um bom motivo além do óbvio, das ameaças e da forma desrespeitosa com que aquela maldita alcateia tratava a própria deusa que os regia.Mas, obviamente, Zane não ia aceitar a minha decisão, sem uma briga.— Elena… — Zane começou, sua voz grave, exausta. — Nós precisamos pensar nisso com calma.Cruzei os braços, sem paciência.— Eu já pensei. — Minha voz saiu firme. — Nós vamos pegar os exércitos e ir até o reino de Elaris.Zane passou as mãos pelos cabelos, claramente tentando conter sua frustração.— E você acha mesmo que eu vou deixar você fazer isso?Eu dei um passo à frente, meu olhar se fixando no dele.— E você acha mesmo que pode me impedir?Houve um momento de silêncio.Ele sabia a resposta.E eu também.Mas, como esperado, ele tentou de novo.— Elena…— Esse exército não é só seu, Zane. — Minha voz
Davian Deane Eu tentei.Eu realmente tentei.Mas nada, absolutamente nada, funcionava.A cela estava trancada com algum tipo de encantamento.Toda vez que eu tentava me transformar em sombra para escapar, sentia uma barreira invisível me puxando de volta, como se estivesse preso em uma armadilha mágica.Eu já tinha tentado forçar as correntes, chutado as grades, até usado minha própria força bruta para tentar derrubar a porcaria da porta.Nada.E foi aí que a realidade finalmente me atingiu.— Isso é sério? Agora eu que sou a porcaria da donzela em perigo?Eu soltei um suspiro exasperado, apoiando a cabeça na parede fria de pedra atrás de mim.Isso me lembrava tanto da vez em que Zane foi feito prisioneiro que quase doía de ironia.Eu zombei tanto dele naquela época.E agora?O universo decidiu que era minha vez.Minha expressão azedou ainda mais.Então, um movimento ao meu lado me fez desviar o olhar.Dellan soltou um gemido baixo, se mexendo no chão antes de abrir os olhos lentamen
Astris Os dias estavam passando.E nada.Nenhuma resposta da alcateia de Zane.Nenhuma tentativa de negociação.Nenhuma palavra de Elaris.Isso estava começando a me irritar.Eles realmente achavam que podiam me ignorar?Que podiam simplesmente se esconder e esperar que eu desistisse?Que tolos!Se não queriam se mover, então eu mesma os faria agir.***Os corredores das masmorras eram frios, úmidos e impregnados com o cheiro de decomposição e ferrugem.O som dos meus passos ecoava pelas paredes de pedra enquanto eu caminhava, acompanhada por dois guardas, um de cada lado.Em minha mão, segurava algo pequeno e afiado.Uma faca.Eu girava o cabo entre os dedos conforme avançava, sentindo a lâmina deslizar suavemente contra a minha pele.Quando cheguei diante da cela, parei e observei os dois prisioneiros.Dellan estava sentado contra a parede, de olhos fechados, como se tentasse ignorar a imundície ao seu redor.Já Davian…Ele estava sentado no chão, os braços pesados pelas correntes
Davian Deane. A dor era insuportável.A cada batida do meu coração, o buraco onde antes estava meu olho latejava como se alguém estivesse enfiando uma lâmina quente ali repetidamente, como se desejasse me torturar de uma forma contínua e irritante.Já fazia quase um dia inteiro.E nada tinha diminuído o tormento.Dellan tentou ajudar. Tentou estancar o sangue, tentou limpar o ferimento com o pouco de água suja que tínhamos, tentou até falar merda para me distrair.Mas nada funcionava.Porque, no fim das contas…Uma parte do meu corpo tinha sido arrancada.E, claro, nem mesmo um maldito remédio me deram para aliviar a dor. Nem mesmo um único segundo de anestesia, eu não conseguia adormecer e a dor não era forte o suficiente para me apagar.Era como se eu estivesse condenado a agonizar, divertir aqueles desgraçados que haviam nos capturado e jogado ali.Não que eu esperasse que eles fizessem algo para ajudar.Se eu achava que eles me deixariam confortável depois do que fizeram?Eu seri
Elena Winslow QuimbyO campo de batalha estava um caos.Espadas se chocavam, uivos ecoavam pelo ar, e o cheiro de sangue e magia pairava sobre tudo como um nevoeiro sufocante.Meus movimentos eram calculados, rápidos, cortando qualquer inimigo que ousasse cruzar meu caminho.E Zane?Ele não saía do meu lado por nada.Cada golpe meu era acompanhado por um golpe dele, como se estivéssemos em perfeita sincronia.Então…Algo mudou.Uma luz intensa explodiu no meio do campo.Brilhante.Cegante.Minha visão se preencheu por um brilho dourado ofuscante, e quando consegui piscar e me recompor, o que vi fez meu coração parar.Meus homens.Meus guerreiros.Eles estavam…Se desfazendo.Transformando-se em pó.Cada fibra do meu corpo gelou.— O que…?Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele apareceu.No meio da destruição.Caminhando tranquilamente pelo campo, como se fosse o dono do mundo.Um homem loiro, com um sorriso preguiçoso nos lábios e uma aura dourada ao seu redor.E
Elaris StinsA escuridão se dissipou ao meu redor, mas eu ainda podia senti-la, pulsando dentro de mim como uma segunda pele.Ela já não me assustava mais.Porque agora…Eu era a escuridão.Astris, ou melhor, sua alma, se contorcia dentro da redoma negra que a prendia.Ela gritava, se debatia, tentando escapar, mas era inútil.A escuridão se enroscava nela como correntes invisíveis, consumindo-a aos poucos, absorvendo tudo o que ela era.— Elaris… — sua voz estava distorcida, desesperada.Mas não havia mais volta.Não havia redenção.E eu não me importava.Minhas mãos se fecharam lentamente, e a sombra apertou sua existência como se estivesse esmagando algo frágil.E então, com um último grito de puro terror…A alma de Astris foi devorada.O corpo do meu cunhado caiu pesadamente no chão, inerte.Sem ela para possuí-lo, ele estava inconsciente.Eu respirei fundo, tentando me recompor, e então senti algo mudar no ar.Uma onda de energia se espalhou pelo campo de batalha, suave, reconfor
Elaris StinsA guerra acabou.E, pela primeira vez em minha vida…Eu me sentia livre.O castelo da minha família, que por tanto tempo foi um símbolo de medo e aprisionamento para mim, agora não passava de ruínas.A batalha foi feroz.Houve perdas.Mas nós vencemos.Astris se foi.Minha família perdeu seu domínio.Meus pais e meu cunhado foram presos, todas as pessoas próximas do castelo souberam o que minha família fez e bom, eles iriam pagar por isso, na prisão, para sempre. E, mais importante…Davian estava vivo.Assim que tudo terminou, nós voltamos para casa.Ou melhor…Para o lugar que eu finalmente podia chamar de lar.***Desde o momento em que saímos da guerra, Davian e eu simplesmente não conseguimos nos desgrudar.Ele estava sempre perto.Seja segurando minha mão, me puxando para o seu lado enquanto andávamos, ou até mesmo apenas encostando nossos ombros quando sentávamos juntos.E eu também não fazia questão de me afastar.Depois de tudo, tudo o que eu queria era sentir o
Prólogo Elaris Stins Quando eu finalmente percebi, já estava correndo há tanto tempo que as minhas pernas pareciam pedaços de madeira prestes a se partir. O ar entrava e saía em arfadas curtas, o peito doía… minhas patas mal aguentavam mais o impacto contra o chão duro e repleto de raízes. Eu estava fugindo, sem rumo, sem saber para onde ir. Só sabia que precisava continuar.Não podia parar. Não agora.Os galhos me arranham meu rosto peludo, mesmo estando em quatro patas, eu conseguia sentir o ardor. Minha loba já estava em modo automático, se movendo pela urgência de sobreviver. De tempos em tempos, eu ouvia o som deles atrás de mim: os caçadores da minha própria matilha. Não eram estranhos, não eram predadores de fora. Eram os meus. Eles me queriam morta, e… eu nem sabia o porquê.O que eu havia feito para merecer isso? Nada... nada. Tudo por causa de algo que eu não fiz, era logico. Não fazia ideia do que estava acontecendo. As acusações vieram rápidas demais, e a chance de m