Davian Deane. A dor era insuportável.A cada batida do meu coração, o buraco onde antes estava meu olho latejava como se alguém estivesse enfiando uma lâmina quente ali repetidamente, como se desejasse me torturar de uma forma contínua e irritante.Já fazia quase um dia inteiro.E nada tinha diminuído o tormento.Dellan tentou ajudar. Tentou estancar o sangue, tentou limpar o ferimento com o pouco de água suja que tínhamos, tentou até falar merda para me distrair.Mas nada funcionava.Porque, no fim das contas…Uma parte do meu corpo tinha sido arrancada.E, claro, nem mesmo um maldito remédio me deram para aliviar a dor. Nem mesmo um único segundo de anestesia, eu não conseguia adormecer e a dor não era forte o suficiente para me apagar.Era como se eu estivesse condenado a agonizar, divertir aqueles desgraçados que haviam nos capturado e jogado ali.Não que eu esperasse que eles fizessem algo para ajudar.Se eu achava que eles me deixariam confortável depois do que fizeram?Eu seri
Elena Winslow QuimbyO campo de batalha estava um caos.Espadas se chocavam, uivos ecoavam pelo ar, e o cheiro de sangue e magia pairava sobre tudo como um nevoeiro sufocante.Meus movimentos eram calculados, rápidos, cortando qualquer inimigo que ousasse cruzar meu caminho.E Zane?Ele não saía do meu lado por nada.Cada golpe meu era acompanhado por um golpe dele, como se estivéssemos em perfeita sincronia.Então…Algo mudou.Uma luz intensa explodiu no meio do campo.Brilhante.Cegante.Minha visão se preencheu por um brilho dourado ofuscante, e quando consegui piscar e me recompor, o que vi fez meu coração parar.Meus homens.Meus guerreiros.Eles estavam…Se desfazendo.Transformando-se em pó.Cada fibra do meu corpo gelou.— O que…?Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele apareceu.No meio da destruição.Caminhando tranquilamente pelo campo, como se fosse o dono do mundo.Um homem loiro, com um sorriso preguiçoso nos lábios e uma aura dourada ao seu redor.E
Elaris StinsA escuridão se dissipou ao meu redor, mas eu ainda podia senti-la, pulsando dentro de mim como uma segunda pele.Ela já não me assustava mais.Porque agora…Eu era a escuridão.Astris, ou melhor, sua alma, se contorcia dentro da redoma negra que a prendia.Ela gritava, se debatia, tentando escapar, mas era inútil.A escuridão se enroscava nela como correntes invisíveis, consumindo-a aos poucos, absorvendo tudo o que ela era.— Elaris… — sua voz estava distorcida, desesperada.Mas não havia mais volta.Não havia redenção.E eu não me importava.Minhas mãos se fecharam lentamente, e a sombra apertou sua existência como se estivesse esmagando algo frágil.E então, com um último grito de puro terror…A alma de Astris foi devorada.O corpo do meu cunhado caiu pesadamente no chão, inerte.Sem ela para possuí-lo, ele estava inconsciente.Eu respirei fundo, tentando me recompor, e então senti algo mudar no ar.Uma onda de energia se espalhou pelo campo de batalha, suave, reconfor
Elaris StinsA guerra acabou.E, pela primeira vez em minha vida…Eu me sentia livre.O castelo da minha família, que por tanto tempo foi um símbolo de medo e aprisionamento para mim, agora não passava de ruínas.A batalha foi feroz.Houve perdas.Mas nós vencemos.Astris se foi.Minha família perdeu seu domínio.Meus pais e meu cunhado foram presos, todas as pessoas próximas do castelo souberam o que minha família fez e bom, eles iriam pagar por isso, na prisão, para sempre. E, mais importante…Davian estava vivo.Assim que tudo terminou, nós voltamos para casa.Ou melhor…Para o lugar que eu finalmente podia chamar de lar.***Desde o momento em que saímos da guerra, Davian e eu simplesmente não conseguimos nos desgrudar.Ele estava sempre perto.Seja segurando minha mão, me puxando para o seu lado enquanto andávamos, ou até mesmo apenas encostando nossos ombros quando sentávamos juntos.E eu também não fazia questão de me afastar.Depois de tudo, tudo o que eu queria era sentir o
Prólogo Elaris Stins Quando eu finalmente percebi, já estava correndo há tanto tempo que as minhas pernas pareciam pedaços de madeira prestes a se partir. O ar entrava e saía em arfadas curtas, o peito doía… minhas patas mal aguentavam mais o impacto contra o chão duro e repleto de raízes. Eu estava fugindo, sem rumo, sem saber para onde ir. Só sabia que precisava continuar.Não podia parar. Não agora.Os galhos me arranham meu rosto peludo, mesmo estando em quatro patas, eu conseguia sentir o ardor. Minha loba já estava em modo automático, se movendo pela urgência de sobreviver. De tempos em tempos, eu ouvia o som deles atrás de mim: os caçadores da minha própria matilha. Não eram estranhos, não eram predadores de fora. Eram os meus. Eles me queriam morta, e… eu nem sabia o porquê.O que eu havia feito para merecer isso? Nada... nada. Tudo por causa de algo que eu não fiz, era logico. Não fazia ideia do que estava acontecendo. As acusações vieram rápidas demais, e a chance de m
Davian Deane - Sombra do Zane Meses se passaram.Após a derrota de Cassius, tudo se normalizou. Mas, algo dentro de mim, me incomodava... Eu não sabia o que era pior: ficar observando de longe Zane e Elena, tão felizes, como se nada no mundo pudesse tocá-los, ou estar preso na minha própria cabeça, tentando encontrar algo que me fizesse sentir... algo além de vazio, porque desde que a guerra acabou, parecia que todo mundo ao meu redor encontrou seu lugar, menos eu.Sei quem parece ridículo, mas bom... Não é. Enquanto penso sobre tudo isso, caminho pelo jardim do castelo do meu alfa... e por pensar nele, sentia algo estranho dente de mim. O meu alfa... Zane? Ele tinha tudo. Um filho, uma companheira incrível, e o respeito de todos. Eu, por outro lado, me sentia à sombra dele, sempre ali, presente, mas nunca brilhando. Tentava ignorar isso, tentava me concentrar em outras coisas, mas era impossível não reparar no contraste. Toda vez que eu os via, a vida deles parecia mais plena,
Davian Deane - sombra do Zane Continuei paralisado, vendo-a em sua forma humana, com aqueles cabelos prateados caindo em ondas suaves sobre os ombros, percebi que algo estava muito além do meu controle. Ela não era só uma loba comum, e eu estava prestes a descobrir isso da pior maneira possível.Ela mal teve tempo de me olhar mais uma vez antes de desmaiar, porque ela literalmente, desabou na terra fria.Eu me aproximei dela no mesmo instante, a pegando em meus braços. No momento em que senti o peso dela, fiquei congelado por alguns segundos, sem saber o que fazer. Quer dizer, o que eu deveria fazer? Abandoná-la ali não era uma opção, e claramente ela estava exausta demais para sequer falar. Sem outra escolha, a única coisa que me veio à cabeça foi levá-la para a minha casa.Dei meia volta e comecei a caminhar pelo trilho ao lado da floresta, atento, olhando para os lados enquanto caminhava. Não foi exatamente fácil. Carregar alguém desacordado sempre é complicado, e ela, apesar de
Elaris StinsMinha cabeça parecia estar cheia de névoa, e quando eu abri os olhos devagar, piscando várias vezes para tentar ajustar a visão… as coisas não pareciam melhorar muito. O que eu via à minha frente não fazia sentido de imediato. Teto de madeira, luz suave entrando pelas frestas de uma janela... tudo parecia tão estranho. Senti algo macio sob meu corpo e, quando tentei me mexer, percebi que estava deitada em uma cama. Uma cama. Como assim? Onde eu estou? Quando foi a última vez que dormi em algo assim? Por um momento, o cheiro de comida me invadiu, fazendo meu estômago roncar de imediato. O aroma era acolhedor, familiar, mas o medo ainda latejava dentro de mim. Fome ou não, eu precisava entender o que estava acontecendo.Quem havia me trazido até ali? Era uma emboscada? Respirei fundo e deixei que a mente, antes turva, começasse a processar melhor. Lembranças surgiram em flashes. A fuga. O cansaço. A sensação de estar sendo caçada pela própria alcateia, e então… ele, o