capítulo 03

Elaris Stins

Minha cabeça parecia estar cheia de névoa, e quando eu abri os olhos devagar, piscando várias vezes para tentar ajustar a visão… as coisas não pareciam melhorar muito.

O que eu via à minha frente não fazia sentido de imediato. Teto de madeira, luz suave entrando pelas frestas de uma janela... tudo parecia tão estranho. Senti algo macio sob meu corpo e, quando tentei me mexer, percebi que estava deitada em uma cama.

Uma cama. Como assim? Onde eu estou? 

Quando foi a última vez que dormi em algo assim? 

Por um momento, o cheiro de comida me invadiu, fazendo meu estômago roncar de imediato. O aroma era acolhedor, familiar, mas o medo ainda latejava dentro de mim. Fome ou não, eu precisava entender o que estava acontecendo.

Quem havia me trazido até ali? Era uma emboscada? 

Respirei fundo e deixei que a mente, antes turva, começasse a processar melhor. Lembranças surgiram em flashes. A fuga. O cansaço. A sensação de estar sendo caçada pela própria alcateia, e então… ele, o homem de cabelos negros e curtos, aquele com os olhos claros... Foi ele que me trouxe aqui? Então a ficha caiu. 

Ele me salvou, espantou os caçadores, e depois... o resto era um borrão. Não sei o que houve depois. 

O que aconteceu depois? Como vim parar aqui? 

Com certo esforço, ergui o olhar e o vi. Ele estava sentado ao lado da cama, me observando. A luz fraca iluminava suas feições de um jeito estranho, o que me fez apertar os olhos, tentando entender melhor quem ele era.

— Onde... estou? — Minha voz saiu rouca, quase inaudível, como se eu não falasse há dias. Cada palavra parecia arranhar minha garganta, mas finalmente saiu.

Apertei meus olhos, estudando o seu rosto com certo cuidado, ele era... diferente, ele parecia curioso, assim como eu. Queria saber onde estava e porque ele me ajudou. 

Ele me encarou por um segundo antes de responder. Seus olhos eram sérios, mas havia algo a mais ali. Não era ameaça, na verdade… talvez fosse preocupação e a curiosidade crescia, conseguia notar. 

— Você está na minha casa. — A voz dele era grave, mas calma. Ele parecia muito mais à vontade do que eu.

Minha cabeça deu uma leve volta com essa informação.

“Na casa dele?”

Por que diabos alguém que eu nunca tinha visto me traria para sua casa? E por que ele sequer se importaria em me ajudar? As perguntas começaram a rodopiar na minha mente, mas antes que eu pudesse abrir a boca e perguntar qualquer coisa, ele se levantou.

— Espera aí. — disse ele, dando alguns passos em direção a uma pequena mesa próxima à janela. Ele pegou um prato e voltou na minha direção com algo quente em mãos. — Aqui. — disse ele, estendendo um prato de sopa fumegante na minha direção.

Uma sopa? 

O cheiro me atingiu de imediato, e sem que eu conseguisse evitar, meus olhos brilharam com pura gratidão. Fazia tanto tempo que eu não comia algo decente. Meu corpo parecia consumir todas as minhas reservas de energia na fuga, e a fome agora vinha como um soco no estômago.

O cheiro me tentava, sentia o cheiro gostoso de carne e legumes, sentia a minha boca salivar... Humm, deve estar gostoso, acho que eu posso provar um pouco, sim? Ele não parecia ser alguém de má índole, bom, até agora eu sentia isso. 

Puxei o lençol para mais perto, me cobrindo mais e então peguei o prato com as mãos um tanto trêmulas, tentando não parecer tão desesperada. Respirei fundo, fitando seus olhos. 

— Obrigada! — sussurrei, quase como se aquelas palavras fossem difíceis de dizer. E, de certa forma, eram. Não estava acostumada com gestos de bondade, pelo menos… não mais.

Tinha alguns dias que estavam em quatro patas, fugindo da minha alcateia, até a minha própria voz estava soando estranha. 

O homem apenas assentiu, me olhando por um tempo. Desviei o olhar e encarei a sopa, estava bem cheiroso, meu estomago roncou mais. 

Levei a colher à boca, e o calor da sopa me envolveu como um abraço suave. Enquanto comia, uma parte de mim não conseguia deixar de pensar: por que ele está fazendo isso? Por que me ajudou? Eu era uma desconhecida, um problema, claramente envolvida em algo perigoso. Ele não tinha nenhuma razão para se envolver nisso.

Continuei comendo, sentindo cada colherada aquecer o meu corpo, mas minha mente estava a mil. Meus pensamentos voltavam sempre para a mesma pergunta: por que ele estava me ajudando?

Eu não sabia... e estava curiosa...

Aliás... ninguém ajudaria uma estranha, uma fugitiva para falar a verdade.

Continuei a comer a sopa, tentei não olhar pra ele enquanto sentia o calor da sopa esquentar o meu corpo, comecei a me sentir melhor. Iria ficar saciada em breve. 

As perguntas voltavam cada vez mais. 

Esse lobo, esse homem que me salvou ainda fez uma sopa pra mim...

E.. Por que ?? 

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