Capítulo 04

Davian Deane

Eu não conseguia parar de olhar para ela.

Ela estava sentada ali, à minha frente, comendo a sopa que eu preparei, e parecia… diferente. Havia algo na forma como segurava a colher, como levava cada gota à boca, que me deixava hipnotizado. Os cabelos prateados, ainda um pouco bagunçados por tudo o que aconteceu, caíam sobre os ombros dela de uma maneira quase surreal. Cada vez que a luz da janela batia nos fios, eles brilhavam como uma coisa viva, refletindo os raios de sol tímidos que invadiam a cabana.

O que tem nessa loba? Me questionei.

E aqueles olhos… Meu lobo interior deu um pulo quando ela abriu os olhos pela primeira vez e me encarou. Eles eram como um oceano profundo, intensos de um jeito que eu não sabia explicar. E agora, enquanto ela comia em silêncio, tudo o que eu conseguia pensar era: O que diabos eu vou fazer com ela?

Eu podia ser muitas coisas, mas não era irresponsável. Agora que a trouxe pra cá, a deitei na minha cama, alimentei… era como se eu tivesse me metido em um buraco do qual não tinha a menor ideia de como sair. Não podia simplesmente virar as costas pra ela e fingir que nada disso aconteceu, mas… ao mesmo tempo, quem era ela realmente? O que estava acontecendo para ela ser caçada daquele jeito?

Suspirei e me afastei um pouco, encostando na parede, de braços cruzados, a observando devorar a sopa com uma fome que eu não via há muito tempo. Por um lado, eu me sentia orgulhoso de ter ajudado, só que por outro… eu estava confuso pra caramba.

Eu sempre fui uma pessoa prática, aquele que resolvia as coisas de forma direta. Se algo precisava ser feito, eu ia lá e fazia. Não ficava perdendo tempo com drama ou dúvidas. Mas agora? Agora eu estava com uma mulher loba na minha cama, e minha cabeça girava como um redemoinho.

É uma grande merda. 

Quando ela terminou de comer, apenas peguei a tigela e disse.

— Não nos apresentamos, sou Davian e você?

Olhei pra ela por um momento, curioso em saber o seu nome.

— Sou Elaris... e bom. — começou ela, parecia curiosa. — Por que me salvou? — perguntou, olhando-me atentamente.

Eu respirei fundo, olhando pra ela e soltei as palavras, com cuidado.

— Bom, pra ser sincero não sei. Eu só agi. Não consegui não fazer nada, você estava cercada, e eles estavam na minha cidade, você estava sendo caçada por eles, estou certo? — ela apenas assentiu, balançando a cabeça.

— Bom... obrigada por isso. — ela deu um meio sorriso.

— Bom, pode descansar agora. Amanhã conversamos, você parece cansada. Se sinta à vontade aqui. — eu teria que resolver tudo amanhã, seria assim.

Ela apenas assentiu devagar.

— Tudo bem, eu... Obrigada pela sopa. — ela agradeceu, sem jeito.

Balancei a cabeça e fui até o meu quarto.

Na minha cabana tinha dois quartos, uma sala com um espaço razoável, a cozinha e uma varanda aconchegante.

Fui até o meu quarto e me joguei na cama.

Eu precisava dormir, mesmo que fosse só um pouco.

*****

Na manhã seguinte, acordei mais cedo do que de costume, o que já era raro pra mim. Eu não tinha dormido direito, preocupado com o que fazer com ela. Enquanto ela ainda dormia profundamente, levantei da cadeira onde tinha cochilado e saí de fininho da cabana, sentindo o frescor da manhã bater no rosto.

Caminhei em direção à vila próxima, os pés se movendo automaticamente, enquanto a cabeça continuava tentando processar tudo. O que diabos eu precisava fazer agora? Não tinha experiência com isso. Eu sabia cuidar de mim, sabia lidar com batalhas, mas uma mulher? Uma que claramente estava passando por algo muito maior do que parecia? Isso era território desconhecido.

Foi então que me veio à cabeça: roupas.

“É isso!” Pensei, me sentindo um pouco mais esperto por um momento. Ela precisava de roupas. Não podia continuar andando por aí com o que restava das roupas dela, que estavam basicamente em farrapos. Também lembrei do cabelo prateado, tão longo, mas todo embaraçado pela corrida e pelos acontecimentos dos últimos dias.

"Talvez eu devesse pegar alguma coisa pra ela prender o cabelo?" O pensamento surgiu do nada, e antes que eu pudesse questionar, já estava na direção da loja mais próxima. Entrei, meio perdido, e me deparei com uma senhora atrás do balcão, que me lançou um olhar curioso.

— O que você procura, rapaz? — Ela perguntou com um sorriso de canto. Ela já tinha cabelos grisalhos, mas tinha um sorriso gentil. 

Não sabia como dizer, aquilo era novo pra mim. 

Fiquei parado por alguns segundos, tentando achar as palavras certas.

— Roupas, eu... preciso de algumas roupas pra uma... amiga. — menti, a palavra saindo com uma dificuldade que provavelmente não passou despercebida.

Que merda eu estava fazendo? Por que vim aqui? 

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