Davian Deane
Eu não conseguia parar de olhar para ela. Ela estava sentada ali, à minha frente, comendo a sopa que eu preparei, e parecia… diferente. Havia algo na forma como segurava a colher, como levava cada gota à boca, que me deixava hipnotizado. Os cabelos prateados, ainda um pouco bagunçados por tudo o que aconteceu, caíam sobre os ombros dela de uma maneira quase surreal. Cada vez que a luz da janela batia nos fios, eles brilhavam como uma coisa viva, refletindo os raios de sol tímidos que invadiam a cabana.O que tem nessa loba? Me questionei. E aqueles olhos… Meu lobo interior deu um pulo quando ela abriu os olhos pela primeira vez e me encarou. Eles eram como um oceano profundo, intensos de um jeito que eu não sabia explicar. E agora, enquanto ela comia em silêncio, tudo o que eu conseguia pensar era: O que diabos eu vou fazer com ela? Eu podia ser muitas coisas, mas não era irresponsável. Agora que a trouxe pra cá, a deitei na minha cama, alimentei… era como se eu tivesse me metido em um buraco do qual não tinha a menor ideia de como sair. Não podia simplesmente virar as costas pra ela e fingir que nada disso aconteceu, mas… ao mesmo tempo, quem era ela realmente? O que estava acontecendo para ela ser caçada daquele jeito? Suspirei e me afastei um pouco, encostando na parede, de braços cruzados, a observando devorar a sopa com uma fome que eu não via há muito tempo. Por um lado, eu me sentia orgulhoso de ter ajudado, só que por outro… eu estava confuso pra caramba. Eu sempre fui uma pessoa prática, aquele que resolvia as coisas de forma direta. Se algo precisava ser feito, eu ia lá e fazia. Não ficava perdendo tempo com drama ou dúvidas. Mas agora? Agora eu estava com uma mulher loba na minha cama, e minha cabeça girava como um redemoinho.É uma grande merda.
Quando ela terminou de comer, apenas peguei a tigela e disse. — Não nos apresentamos, sou Davian e você? Olhei pra ela por um momento, curioso em saber o seu nome. — Sou Elaris... e bom. — começou ela, parecia curiosa. — Por que me salvou? — perguntou, olhando-me atentamente. Eu respirei fundo, olhando pra ela e soltei as palavras, com cuidado. — Bom, pra ser sincero não sei. Eu só agi. Não consegui não fazer nada, você estava cercada, e eles estavam na minha cidade, você estava sendo caçada por eles, estou certo? — ela apenas assentiu, balançando a cabeça. — Bom... obrigada por isso. — ela deu um meio sorriso. — Bom, pode descansar agora. Amanhã conversamos, você parece cansada. Se sinta à vontade aqui. — eu teria que resolver tudo amanhã, seria assim. Ela apenas assentiu devagar. — Tudo bem, eu... Obrigada pela sopa. — ela agradeceu, sem jeito. Balancei a cabeça e fui até o meu quarto. Na minha cabana tinha dois quartos, uma sala com um espaço razoável, a cozinha e uma varanda aconchegante. Fui até o meu quarto e me joguei na cama. Eu precisava dormir, mesmo que fosse só um pouco. ***** Na manhã seguinte, acordei mais cedo do que de costume, o que já era raro pra mim. Eu não tinha dormido direito, preocupado com o que fazer com ela. Enquanto ela ainda dormia profundamente, levantei da cadeira onde tinha cochilado e saí de fininho da cabana, sentindo o frescor da manhã bater no rosto. Caminhei em direção à vila próxima, os pés se movendo automaticamente, enquanto a cabeça continuava tentando processar tudo. O que diabos eu precisava fazer agora? Não tinha experiência com isso. Eu sabia cuidar de mim, sabia lidar com batalhas, mas uma mulher? Uma que claramente estava passando por algo muito maior do que parecia? Isso era território desconhecido. Foi então que me veio à cabeça: roupas. “É isso!” Pensei, me sentindo um pouco mais esperto por um momento. Ela precisava de roupas. Não podia continuar andando por aí com o que restava das roupas dela, que estavam basicamente em farrapos. Também lembrei do cabelo prateado, tão longo, mas todo embaraçado pela corrida e pelos acontecimentos dos últimos dias."Talvez eu devesse pegar alguma coisa pra ela prender o cabelo?" O pensamento surgiu do nada, e antes que eu pudesse questionar, já estava na direção da loja mais próxima. Entrei, meio perdido, e me deparei com uma senhora atrás do balcão, que me lançou um olhar curioso. — O que você procura, rapaz? — Ela perguntou com um sorriso de canto. Ela já tinha cabelos grisalhos, mas tinha um sorriso gentil.Não sabia como dizer, aquilo era novo pra mim.
Fiquei parado por alguns segundos, tentando achar as palavras certas. — Roupas, eu... preciso de algumas roupas pra uma... amiga. — menti, a palavra saindo com uma dificuldade que provavelmente não passou despercebida.Que merda eu estava fazendo? Por que vim aqui?Elaris Stins Acordei após escutar a porta bater, me levantei assustada e fui até a janela, foi então que vi Davian caminhando por uma estrada, ele havia saído cedo. Continuei sentada na cama, e senti um silêncio estranho tomar conta da cabana. Eu podia ouvir cada pequeno som: o vento balançando as árvores lá fora, o ranger suave da madeira, até mesmo minha respiração, que parecia pesada demais para o ambiente tranquilo. Eu não havia dormido bem a noite, ainda me sentia cansada.Ele tinha dito ontem para descansar e que eu podia ficar à vontade, mas… o que isso significava? Andar por aí, fuçar nas coisas dele? A ideia me pareceu estranha, mesmo que a curiosidade me queimasse por dentro. O que eu realmente queria fazer era explorar tudo, saber mais sobre esse homem que, por algum motivo desconhecido, decidiu me ajudar. Mas… algo me segurava. Talvez fosse o cansaço, ou talvez fosse a sensação de que essa cabana não era o meu lugar.Então, fiquei onde estava. Levantei da cama com cuidad
Davian Deane Eu fiquei ali, parado, olhando pra ela, e tudo dentro de mim parecia uma confusão sem fim. Elaris estava sentada na minha frente, mexendo distraída nos pentes que eu tinha trazido, com aquele sorriso leve no rosto. Ela parecia tão… normal agora, tão distante da imagem da loba exausta e desesperada que eu vi correndo na floresta. Mas, ao mesmo tempo, tinha algo de diferente nela, algo que eu não conseguia entender direito.E, pra ser sincero, eu também não conseguia entender por que estava ajudando tanto. Quer dizer, era o certo a fazer, não é? Alguém precisava ajudar. Mas era só isso? Só por ser o "certo"? Eu já tinha visto situações parecidas antes, gente em fuga, lobos fugindo de problemas, e na maioria das vezes… eu me mantinha longe, afinal… não era meu trabalho me meter. Porém agora, era diferente. Com Elaris, eu não consegui simplesmente ignorar. Algo nela me puxou, algo que eu ainda não sabia o que era. Eu só vi aquela loba prateada, correndo pra salvar a própria
Elaris Stins Eu sabia que a resposta dele era sincera, mas mesmo assim… parte de mim queria entender mais. Só que, no fim das contas, o que mais eu poderia esperar? Davian não me conhecia. Ele nunca tinha me visto antes, nunca soube da minha existência até me encontrar correndo pela floresta, desesperada e ferida. O fato de ele ter me ajudado sem pensar muito já era mais do que eu podia pedir.Realmente não esperava isso de um lobo desconhecido, estava no território dele, e Davian me acolheu. E isso, me deixava curiosa. Depois que ele saiu, escolhi um vestido e uma presilha.Fui aí banheiro e tomei um bom banho na banheira, me lavei e percebi que as minhas feridas estavam cicatrizando, ainda bem.Se comer bem e cuidar de mim, em breve estarei nova em folha.Após me secar e colocar o vestido, arrumei meus longos cabelos, o prendi um pouco com a presilha, os cabelos que ficavam caindo sob meu rosto tinha os prendido para trás. Meus longos cabelos prateados estavam alinhados agora, is
Prólogo Elaris Stins Quando eu finalmente percebi, já estava correndo há tanto tempo que as minhas pernas pareciam pedaços de madeira prestes a se partir. O ar entrava e saía em arfadas curtas, o peito doía… minhas patas mal aguentavam mais o impacto contra o chão duro e repleto de raízes. Eu estava fugindo, sem rumo, sem saber para onde ir. Só sabia que precisava continuar.Não podia parar. Não agora.Os galhos me arranham meu rosto peludo, mesmo estando em quatro patas, eu conseguia sentir o ardor. Minha loba já estava em modo automático, se movendo pela urgência de sobreviver. De tempos em tempos, eu ouvia o som deles atrás de mim: os caçadores da minha própria matilha. Não eram estranhos, não eram predadores de fora. Eram os meus. Eles me queriam morta, e… eu nem sabia o porquê.O que eu havia feito para merecer isso? Nada... nada. Tudo por causa de algo que eu não fiz, era logico. Não fazia ideia do que estava acontecendo. As acusações vieram rápidas demais, e a chance de m
Davian Deane - Sombra do Zane Meses se passaram.Após a derrota de Cassius, tudo se normalizou. Mas, algo dentro de mim, me incomodava... Eu não sabia o que era pior: ficar observando de longe Zane e Elena, tão felizes, como se nada no mundo pudesse tocá-los, ou estar preso na minha própria cabeça, tentando encontrar algo que me fizesse sentir... algo além de vazio, porque desde que a guerra acabou, parecia que todo mundo ao meu redor encontrou seu lugar, menos eu.Sei quem parece ridículo, mas bom... Não é. Enquanto penso sobre tudo isso, caminho pelo jardim do castelo do meu alfa... e por pensar nele, sentia algo estranho dente de mim. O meu alfa... Zane? Ele tinha tudo. Um filho, uma companheira incrível, e o respeito de todos. Eu, por outro lado, me sentia à sombra dele, sempre ali, presente, mas nunca brilhando. Tentava ignorar isso, tentava me concentrar em outras coisas, mas era impossível não reparar no contraste. Toda vez que eu os via, a vida deles parecia mais plena,
Davian Deane - sombra do Zane Continuei paralisado, vendo-a em sua forma humana, com aqueles cabelos prateados caindo em ondas suaves sobre os ombros, percebi que algo estava muito além do meu controle. Ela não era só uma loba comum, e eu estava prestes a descobrir isso da pior maneira possível.Ela mal teve tempo de me olhar mais uma vez antes de desmaiar, porque ela literalmente, desabou na terra fria.Eu me aproximei dela no mesmo instante, a pegando em meus braços. No momento em que senti o peso dela, fiquei congelado por alguns segundos, sem saber o que fazer. Quer dizer, o que eu deveria fazer? Abandoná-la ali não era uma opção, e claramente ela estava exausta demais para sequer falar. Sem outra escolha, a única coisa que me veio à cabeça foi levá-la para a minha casa.Dei meia volta e comecei a caminhar pelo trilho ao lado da floresta, atento, olhando para os lados enquanto caminhava. Não foi exatamente fácil. Carregar alguém desacordado sempre é complicado, e ela, apesar de
Elaris StinsMinha cabeça parecia estar cheia de névoa, e quando eu abri os olhos devagar, piscando várias vezes para tentar ajustar a visão… as coisas não pareciam melhorar muito. O que eu via à minha frente não fazia sentido de imediato. Teto de madeira, luz suave entrando pelas frestas de uma janela... tudo parecia tão estranho. Senti algo macio sob meu corpo e, quando tentei me mexer, percebi que estava deitada em uma cama. Uma cama. Como assim? Onde eu estou? Quando foi a última vez que dormi em algo assim? Por um momento, o cheiro de comida me invadiu, fazendo meu estômago roncar de imediato. O aroma era acolhedor, familiar, mas o medo ainda latejava dentro de mim. Fome ou não, eu precisava entender o que estava acontecendo.Quem havia me trazido até ali? Era uma emboscada? Respirei fundo e deixei que a mente, antes turva, começasse a processar melhor. Lembranças surgiram em flashes. A fuga. O cansaço. A sensação de estar sendo caçada pela própria alcateia, e então… ele, o