Davian Deane - sombra do Zane
Continuei paralisado, vendo-a em sua forma humana, com aqueles cabelos prateados caindo em ondas suaves sobre os ombros, percebi que algo estava muito além do meu controle. Ela não era só uma loba comum, e eu estava prestes a descobrir isso da pior maneira possível. Ela mal teve tempo de me olhar mais uma vez antes de desmaiar, porque ela literalmente, desabou na terra fria. Eu me aproximei dela no mesmo instante, a pegando em meus braços. No momento em que senti o peso dela, fiquei congelado por alguns segundos, sem saber o que fazer. Quer dizer, o que eu deveria fazer? Abandoná-la ali não era uma opção, e claramente ela estava exausta demais para sequer falar. Sem outra escolha, a única coisa que me veio à cabeça foi levá-la para a minha casa. Dei meia volta e comecei a caminhar pelo trilho ao lado da floresta, atento, olhando para os lados enquanto caminhava. Não foi exatamente fácil. Carregar alguém desacordado sempre é complicado, e ela, apesar de parecer leve, estava toda tensa e seus músculos estavam contraídos, como se até em sua forma humana ela mantivesse parte do instinto selvagem da loba. Mas, de alguma forma, consegui. Segurei firmemente em seus braços e pernas e prossegui, caminhando depressa. Quando finalmente cheguei à minha cabana, abri a porta rapidamente e tranquei a porta, fui até um dos quartos, liguei a lamparina e a deitei na cama. A cada movimento, os longos cabelos prateados dela se espalhavam pelo travesseiro, como se estivessem vivos, refletindo a pouca luz da lua que banhava o céu, que entrava pelas frestas da janela. A cobri e respirei fundo. Olhei para a Lua e depois para a mulher deitada na cama. Tinha algo quase etéreo nela, como se não pertencesse a este mundo. Mas ali estava, deitada no meu quarto, completamente vulnerável.Porque ela estava correndo daquele jeito? E quem era aqueles homens atrás dela? Eles tinham cheiro de lobos, então... poderia ser uma alcateia rival? Queriam a capturar? São tantas perguntas, estou ficando louco.
Sei que vou descobrir, em breve, depois que ela acordar.
Passei a mão sobre os cabelos, respirando fundo. Depois passei a mão pela nunca, tentando decidir o que fazer.
Levei a mão em meus fios, pensativo... "Comida", pensei. Ela precisaria comer quando acordasse. Então, sem perder tempo, fui até a pequena cozinha da cabana e comecei a preparar algo. Não era exatamente um chef, mas sabia o suficiente para fazer uma sopa decente. Algo leve, mas que pudesse dar a ela um pouco de força. Enquanto mexia a panela com os vegetais e um pouco de carne, meus pensamentos corriam descontrolados."Quem era ela? Por que estava fugindo? E por que diabos eu estava tão intrigado com isso tudo?" Não era como se eu tivesse tempo ou energia para lidar com mais problemas, mas, por algum motivo, não conseguia simplesmente ignorá-la. Algo nela me puxava, me atraía, e quanto mais eu tentava afastar esse sentimento, mais ele crescia. Balancei a cabeça e provei a sopa, e estava bom.Espero que ela goste e que ela se recupere, estou curioso sobre ela... nunca vi ninguém assim antes, e isso me atormenta...
Com a sopa pronta, a deixei de lado, esperando que ela acordasse. Enquanto isso, voltei para o quarto e me sentei na cadeira ao lado da cama e a observei por um momento. Seus traços eram delicados, quase frágeis, mas havia uma força ali, escondida sob a superfície. A forma como ela corria, a maneira como enfrentou o perigo… tudo indicava que ela era muito mais do que aparentava. Ela parecia apavorada... eu vi isso em seus olhos. — Quem é você, afinal? — murmurei para mim mesmo, enquanto continuava a observá-la. Quase como se estivesse me ouvindo, ela começou a se mexer. Primeiro, um pequeno movimento nos dedos, depois um suspiro suave escapou de seus lábios. Meu corpo inteiro ficou tenso, como se eu estivesse prestes a enfrentar algo que não entendia completamente, e talvez fosse isso mesmo. Seus olhos lentamente se abriram, piscando contra a luz suave da tarde que agora invadia o quarto. Ela me viu primeiro, o que era natural, já que eu estava praticamente debruçado sobre ela. Seus olhos azuis sim, como duas safiras recém lapidadas, se fixaram nos meus, e, por um segundo, fiquei sem palavras. Ela piscou mais algumas vezes, como se estivesse tentando entender onde estava e o que tinha acontecido. E então, quando finalmente tentou falar, sua voz... bom, foi como ouvir música pela primeira vez, não que eu fosse um grande apreciador de música, mas havia algo suave, quase melódico em cada palavra que ela dizia. — Onde... estou? — Sua voz era rouca, provavelmente pelo esforço de correr tanto, mas mesmo assim, havia uma suavidade que me pegou desprevenido.Elaris StinsMinha cabeça parecia estar cheia de névoa, e quando eu abri os olhos devagar, piscando várias vezes para tentar ajustar a visão… as coisas não pareciam melhorar muito. O que eu via à minha frente não fazia sentido de imediato. Teto de madeira, luz suave entrando pelas frestas de uma janela... tudo parecia tão estranho. Senti algo macio sob meu corpo e, quando tentei me mexer, percebi que estava deitada em uma cama. Uma cama. Como assim? Onde eu estou? Quando foi a última vez que dormi em algo assim? Por um momento, o cheiro de comida me invadiu, fazendo meu estômago roncar de imediato. O aroma era acolhedor, familiar, mas o medo ainda latejava dentro de mim. Fome ou não, eu precisava entender o que estava acontecendo.Quem havia me trazido até ali? Era uma emboscada? Respirei fundo e deixei que a mente, antes turva, começasse a processar melhor. Lembranças surgiram em flashes. A fuga. O cansaço. A sensação de estar sendo caçada pela própria alcateia, e então… ele, o
Davian Deane Eu não conseguia parar de olhar para ela.Ela estava sentada ali, à minha frente, comendo a sopa que eu preparei, e parecia… diferente. Havia algo na forma como segurava a colher, como levava cada gota à boca, que me deixava hipnotizado. Os cabelos prateados, ainda um pouco bagunçados por tudo o que aconteceu, caíam sobre os ombros dela de uma maneira quase surreal. Cada vez que a luz da janela batia nos fios, eles brilhavam como uma coisa viva, refletindo os raios de sol tímidos que invadiam a cabana.O que tem nessa loba? Me questionei. E aqueles olhos… Meu lobo interior deu um pulo quando ela abriu os olhos pela primeira vez e me encarou. Eles eram como um oceano profundo, intensos de um jeito que eu não sabia explicar. E agora, enquanto ela comia em silêncio, tudo o que eu conseguia pensar era: O que diabos eu vou fazer com ela?Eu podia ser muitas coisas, mas não era irresponsável. Agora que a trouxe pra cá, a deitei na minha cama, alimentei… era como se eu tivesse
Elaris Stins Acordei após escutar a porta bater, me levantei assustada e fui até a janela, foi então que vi Davian caminhando por uma estrada, ele havia saído cedo. Continuei sentada na cama, e senti um silêncio estranho tomar conta da cabana. Eu podia ouvir cada pequeno som: o vento balançando as árvores lá fora, o ranger suave da madeira, até mesmo minha respiração, que parecia pesada demais para o ambiente tranquilo. Eu não havia dormido bem a noite, ainda me sentia cansada.Ele tinha dito ontem para descansar e que eu podia ficar à vontade, mas… o que isso significava? Andar por aí, fuçar nas coisas dele? A ideia me pareceu estranha, mesmo que a curiosidade me queimasse por dentro. O que eu realmente queria fazer era explorar tudo, saber mais sobre esse homem que, por algum motivo desconhecido, decidiu me ajudar. Mas… algo me segurava. Talvez fosse o cansaço, ou talvez fosse a sensação de que essa cabana não era o meu lugar.Então, fiquei onde estava. Levantei da cama com cuidad
Davian Deane Eu fiquei ali, parado, olhando pra ela, e tudo dentro de mim parecia uma confusão sem fim. Elaris estava sentada na minha frente, mexendo distraída nos pentes que eu tinha trazido, com aquele sorriso leve no rosto. Ela parecia tão… normal agora, tão distante da imagem da loba exausta e desesperada que eu vi correndo na floresta. Mas, ao mesmo tempo, tinha algo de diferente nela, algo que eu não conseguia entender direito.E, pra ser sincero, eu também não conseguia entender por que estava ajudando tanto. Quer dizer, era o certo a fazer, não é? Alguém precisava ajudar. Mas era só isso? Só por ser o "certo"? Eu já tinha visto situações parecidas antes, gente em fuga, lobos fugindo de problemas, e na maioria das vezes… eu me mantinha longe, afinal… não era meu trabalho me meter. Porém agora, era diferente. Com Elaris, eu não consegui simplesmente ignorar. Algo nela me puxou, algo que eu ainda não sabia o que era. Eu só vi aquela loba prateada, correndo pra salvar a própria
Elaris Stins Eu sabia que a resposta dele era sincera, mas mesmo assim… parte de mim queria entender mais. Só que, no fim das contas, o que mais eu poderia esperar? Davian não me conhecia. Ele nunca tinha me visto antes, nunca soube da minha existência até me encontrar correndo pela floresta, desesperada e ferida. O fato de ele ter me ajudado sem pensar muito já era mais do que eu podia pedir.Realmente não esperava isso de um lobo desconhecido, estava no território dele, e Davian me acolheu. E isso, me deixava curiosa. Depois que ele saiu, escolhi um vestido e uma presilha.Fui aí banheiro e tomei um bom banho na banheira, me lavei e percebi que as minhas feridas estavam cicatrizando, ainda bem.Se comer bem e cuidar de mim, em breve estarei nova em folha.Após me secar e colocar o vestido, arrumei meus longos cabelos, o prendi um pouco com a presilha, os cabelos que ficavam caindo sob meu rosto tinha os prendido para trás. Meus longos cabelos prateados estavam alinhados agora, is
Prólogo Elaris Stins Quando eu finalmente percebi, já estava correndo há tanto tempo que as minhas pernas pareciam pedaços de madeira prestes a se partir. O ar entrava e saía em arfadas curtas, o peito doía… minhas patas mal aguentavam mais o impacto contra o chão duro e repleto de raízes. Eu estava fugindo, sem rumo, sem saber para onde ir. Só sabia que precisava continuar.Não podia parar. Não agora.Os galhos me arranham meu rosto peludo, mesmo estando em quatro patas, eu conseguia sentir o ardor. Minha loba já estava em modo automático, se movendo pela urgência de sobreviver. De tempos em tempos, eu ouvia o som deles atrás de mim: os caçadores da minha própria matilha. Não eram estranhos, não eram predadores de fora. Eram os meus. Eles me queriam morta, e… eu nem sabia o porquê.O que eu havia feito para merecer isso? Nada... nada. Tudo por causa de algo que eu não fiz, era logico. Não fazia ideia do que estava acontecendo. As acusações vieram rápidas demais, e a chance de m
Davian Deane - Sombra do Zane Meses se passaram.Após a derrota de Cassius, tudo se normalizou. Mas, algo dentro de mim, me incomodava... Eu não sabia o que era pior: ficar observando de longe Zane e Elena, tão felizes, como se nada no mundo pudesse tocá-los, ou estar preso na minha própria cabeça, tentando encontrar algo que me fizesse sentir... algo além de vazio, porque desde que a guerra acabou, parecia que todo mundo ao meu redor encontrou seu lugar, menos eu.Sei quem parece ridículo, mas bom... Não é. Enquanto penso sobre tudo isso, caminho pelo jardim do castelo do meu alfa... e por pensar nele, sentia algo estranho dente de mim. O meu alfa... Zane? Ele tinha tudo. Um filho, uma companheira incrível, e o respeito de todos. Eu, por outro lado, me sentia à sombra dele, sempre ali, presente, mas nunca brilhando. Tentava ignorar isso, tentava me concentrar em outras coisas, mas era impossível não reparar no contraste. Toda vez que eu os via, a vida deles parecia mais plena,