Luma
A chuva caía e se misturava com minhas lágrimas, molhava meu corpo enquanto soluçava com as mãos sobre meu ventre levemente inchado.
“— Sai da minha casa agora, sua vagabunda”
As palavras duras de meu pai rondavam minhas lembranças. Nunca imaginei que amar pudesse doer tanto.
“— Eu te amo, Gabriel.
— Também te amo, meu amor.
— E se seus pais não concordarem com nosso namoro? - pergunto insegura.
— Então nós fugiremos. Tenho algumas cabeças de gado. Eu sou jovem, mas meu pai já me ensinou muito, posso começar com o que tenho.
— Então você me ama de verdade?
— É claro que te amo. Jamais permitirei que nossa diferença de classe social nos separe.
Meu coração idiota deu um pulo de felicidade e me entreguei a ele.”
Gabriel era um rapaz bonito, tinha acabado de fazer dezoito anos e eu uma jovem imbecil e romântica de dezessete.
Acreditei que tudo o que ele queria era o meu amor.
Há dois meses, quando descobri o resultado de nossa noite de amor, ele pareceu feliz.
“— Gabriel, eu preciso te contar algo.
Estávamos no celeiro da fazendo do pai dele, onde costumávamos nos encontrar e nos amar. Mas naquele dia eu tinha algo mais para falar.
— Não vai me dizer que desistiu de fugir. Já está tudo certo, Luma.
— Não, meu amor, não é isso. Quero muito fugir com você, mas antes preciso te contar uma novidade. — Sorri nervosa para ele. Confesso que mesmo insegura me senti feliz por acreditar que havia engravidado do amor da minha vida. Que uma vida crescia dentro de mim e que isso era resultado da nossa noite de amor.
Ele se aproximou e me abraçou, passando a mão em meus cabelos loiros e lisos.
— Então me conte, meu amor.
— Eu estava me sentindo mal. Tive tonturas e enjoo, perdi a fome e comecei a ter ânsias de vômito principalmente na parte da manhã. Aí fui ao médico e descobri que estou grávida de dois meses.
Ele arregalou os olhos e eu tive medo. Mas os olhos assustados logo foram substituídos por um largo sorriso.
Gabriel me tomou em um abraço apertado, me ergueu e rodopiou comigo em seus braços fortes. Fui beijada uma dezena de vezes e então a promessa foi feita, porém, não foi cumprida.
— Não tenha medo, meu amor, vamos começar nossa família bem longe daqui. Longe das pessoas que querem nos separar. Vamos ter um filho!”
Quanta inocência a minha.
Acreditei em sua promessa e então dois dias depois fico sabendo que Gabriel viajou com os pais. Nem mesmo um recado ele deixou.
Como uma boa idiota, achei que ele voltaria. Não contei nada a meus pais, fiquei esperando Gabriel voltar para que enfim pudéssemos fugir e seguir nossa vida, criar nosso filho e construir a nossa família.
Porém, os dias se tornaram semanas e então se tornaram meses e minha barriga se tornou impossível de esconder.
Como eu era uma jovem magra, a barriga não tardou em aparecer. Meu pai perguntou à minha mãe o motivo pelo qual eu começara a usar roupas tão largas, e então ela veio falar comigo.
“— Luma, venha cá. — segui minha mãe pelo corredor estreito que nos levava ao seu quarto. Entramos no cômodo sem porta e nos sentamos em sua cama.
— O que foi, mamãe. — Perguntei já com medo da resposta da minha mãe.
— Por que tem usado roupas tão largas?
— Ah, mãe, eu só estou cansada de roupas curtas e apertadas.
Ela me olhou desconfiada.
— Luma, não me engane. Tire o vestido.
Gelei na hora.
— Mas mãe, o quarto não tem porta. João pode entrar a qualquer momento ou o papai.
— Seu pai e seu irmão foram trabalhar na roça. Não vão chegar agora, e se chegar, eles fazem muito barulho. Vamos, tire.
Sendo obrigada a fazer o que ela me pediu, retirei o vestido e então vi seus olhos arregalarem.
— Santa mãe de Deus — ouço-a e a vejo colocar as mãos sobre a boca.
Dos olhos, algumas lágrimas começaram a rolar.
— Mãe, eu...
— Cale-se, Luma. Não há outra explicação para isso que não seja o óbvio. Quem é o pai da criança?
— Mãe... — suspiro derrotada.
— É o Gabriel.— Gabriel... o filho do fazendeiro?
Balanço a cabeça sem ter coragem de colocar a resposta em palavras.
— Chame o irresponsável, pois quando seu pai chegar ele vai querer que se casem o mais rápido possível.
— Ele viajou, mãe. — As lágrimas ameaçavam a transbordar, pois eu sabia que com meu pai seria mil vezes pior.
— Ele sabe?
— Sabe.
— Então, ele não viajou. Ele fugiu.
Meus olhos estavam focados no chão, mas com suas palavras eu volto meu olhar assustado para ela.
— Mas... ele me prometeu, mãe.
Minha mãe balançou a cabeça.
— Já tem muito tempo que ele viajou?
— Dois meses — respondo, vestindo a roupa de antes.
Vejo minha mãe passar a mão pela face avermelhada.
— Então deixa de ser idiota e veja o que está bem diante de seus olhos, Luma. Você acha que se ele tivesse a intenção de cumprir seja lá qual for a promessa que te fez, ele iria sumir por dois meses?
Não consigo segurar as lágrimas, pois a verdade me toma como um soco no meio do meu estômago.”
Se com minha mãe foi ruim, eu era incapaz de imaginar como seria com meu pai. O homem que me pegou no colo, que disse inúmeras vezes que eu era seu raio de sol... bastou um erro para que tudo o que ele disse virasse poeira. Será que isso é amor de verdade? O amor de verdade se importa com o que os outros vão falar? Se importa com a vergonha de uma filha grávida antes do casamento? Começo a achar que meu pai jamais me amou.
“— Grávida do filho do porco velho? — Meu pai não gostava do homem por um motivo qualquer que nunca ficamos sabendo, mas sempre disse que o velho não prestava.
— Pai, o Gabriel viajou, mas ele vai voltar...
— Cala sua boca, Luma. — Abaixei a minha cabeça — Você só me traz vergonha.
— Me desculpe, pai. — Ele me olhou com seus olhos injetados de ódio.
— Você pode consertar isso? Hum? Não, você não pode. Então não peça desculpas.
Ele esfrega os cabelos arrepiados, o rosto ruborizado e ronda a sala. Quando ele volta a me olhar meu coração se parte.
— Pegue suas coisas.
— O quê?
— Além de puta é surda? Pegue as suas coisas, minha casa não é lugar de pouca vergonha. É casa de respeito.
— Mário, o que vai fazer? — ouço a voz trêmula de minha mãe ao compreender o que eu também já havia compreendido.
— Ele quer que eu vá embora, mãe.
Me coloco de pé e vou até meu quarto, com tanto ódio dele quanto eu podia dizer que havia amor até um segundo atrás.
Embora estivesse arrumando minhas coisas para ir embora, dentro do meu coração havia uma esperança de que ele desistisse da decisão, mas isso não aconteceu.
Ao chegar na sala com uma mochila cheia de roupa e uma bolsa com outros pertences, minha mãe estava chorando ajoelhada aos pés do meu pai, com a cabeça apoiada em seus joelhos.
— Eu te emploro, Mário, não faz isso. Ela errou, mas é nossa filha. Quem nunca errou na vida?
— Isso não é errar, Nádia, isso é safadeza.
Ele se pôs de pé e apontou para a porta da sala que estava aberta.
— Sai.
— Não tenho para onde ir — falo em um fiapo de voz.
— Não me importo com isso.
Olho para minha mãe que chorava desolada ao chão da sala, sem forças até mesmo para erguer a cabeça e me olhar.
— Sai da minha casa agora, sua vagabunda.
Com sua ordem eu me viro e atravesso a porta com a maior incerteza da minha vida. Não sabia para onde ir, não sabia o que fazer.
Segui pensativa e pensei em passar pela fazenda do Gabriel, mas me lembrei das palavras de minha mãe. Ele não foi viajar, ele fugiu. E fugiu sabendo do nosso filho e do que poderia acontecer comigo. Então, simplesmente segui sem destino. Caminhei por horas até que escureceu e eu não sabia para onde ir.
Já estava em um outro bairro, me sentei no banco observando a noite chegar e com ela todo o peso do que seria de mim e do meu filho. Como um sinal de que as coisas ainda poderiam piorar, a chuva cai molhando a mim e tudo o que eu possuía. Tudo que me resta são as lágrimas. Nada mais.
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Olá, lindas leitoras!
Gosta de histórias de CEO's? Então já salva na sua biblioteca o livro Uma noite com o CEO para ler também. Boa leitura!
LumaMeu coração dói, minha cabeça dói, tudo dói. Tremo de frio e chego a conclusão que morreremos, meu filho e eu. Sem ter onde recostar a cabeça, sem ter abrigo, acabarei doente e então morreremos. Talvez seja melhor assim.Na verdade, começo a pensar se morrer não seria uma solução. Meu pai se sentiria culpado se descobrisse que me matei logo após ter me abandonado grávida? Gabriel sofreria pelo resto da vida sentindo o peso de sua decisão covarde?Ponho-me de pé realmente considerando me enfiar na frente de um carro... carro não, um caminhão. Um caminhão, sim, poderia acabar com meus sofrimentos em poucos segundos.— Ei, você está bem? — levanto os olhos com os cílios pesados da chuva e vejo um carro parado à minha frente.Era um carro luxuoso e havia uma mulher no volante. Ela tinha o cabelo preto e curto, o batom vermelho destacava-se bastante em sua face.Não respondo a sua pergunta, apenas a encaro. Ela estende o braço e abre a porta do lado do carona.— Entra, sai dessa chuva
Gabriel— Onde estava em um dia chuvoso, como hoje, até a essa hora? — meu pai cobra.Ele havia entrado na minha sala e me esperado ali. Me sento na cadeira confortável, cruzo os braços sobre o peito e respiro fundo. Meu dia melhorou centenas de níveis depois da visita a casa de dona Nice, não permitirei que meu pai e suas cobranças intermináveis acabe com meu dia.— Relaxando.— Não ache que tem poder absoluto só porque é o tal do CEO da empresa, só ocupa esse cargo porque eu entendo mais de boi e vaca que de administração, mas posso muito bem colocar outro em seu lugar.— Então vai em frente, pai. Coloque outro aqui no meu lugar, depois não reclame — Me levanto e vou pegar um copo de uísque na estante de bebidas em minha sala — Sabe que essa época do ano é difícil para mim.— Ainda não superou a vadiazinha? — Engulo a bebida amarga em um gole só.— Jamais. Mas hoje eu conheci uma mulher que... — Retornei para a minha cadeira e me sentei novamente — O senhor sabe, há muito tempo nenh
Luma“— Passei aqui apenas com a intenção de me distrair um pouco e ir embora. Provavelmente jamais voltaria. Mas conhecer você, me deu motivos pra voltar”A fala do desgraçado do Gabriel antes de passar pela porta do quarto ronda minha mente e não consigo esquecer. Taco um travesseiro na porta no instante em que ela é aberta e quem leva a travesseirada é a Camila e não a peste do Gabriel.— Ei, o que aconteceu? — fala ela assustada. — Nice mandou subir para ver como você está. Tem mais de três horas que ele foi embora e você não desceu. Ele fez alguma coisa a você?Bufei, precisava muito falar com alguém. Nunca falei muito sobre ele, aquele canalha que destruiu minha vida.— O que ele fez não pode ser reparado, Camila.— Como não? Se ele agrediu ou a humilhou, deve ser punido.Balancei a cabeça em negação.— Ele me humilhou, me agrediu, mas não foi agora.Os olhos dela ficaram confusos.— Como assim? Você já o conhecia?— Infelizmente sim, Camila. Ele é o pai do Kayo.— O quê? — Espa
LumaKayo e Gabriel riem o tempo todo, conversando como se se conhecessem há anos. Acabo sorrindo involuntariamente, afinal, o meu desejo sempre foi ver os dois assim: brincando, sorrindo, conversando, sendo amigos. Mas em seguida me lembro que para ele meu filho é só um estranho, é uma criança qualquer e isso me entristece imediatamente.— Me dá licença, por favor — peço e me levanto sem olhar para o rosto deles.Me direciono para o toilet do restaurante italiano que trouxe meu filho e consequentemente Gabriel.Chegando no ambiente privado, não seguro as lágrimas e elas rolam sem controle.Debruço-me sobre a pia e deixo toda a dor sair em forma de choro. Depois ergo a cabeça e lavo o rosto, tento jogar bastante água fria a fim de tirar todo o inchaço. Seco com o papel toalha e retoco a maquiagem. Não posso aparecer na frente deles com essa cara de choro.Peso mais no rímeo para tentar esconder a tristeza.— Lu? Você está bem? - Escuto a voz do Gabriel me chamar na porta do banheiro.
GabrielPasso a mão por cima de todos os papéis que estavam sobre a minha mesa e jogo todos no chão. O peso de papel que estava sobre eles vai junto fazendo um baita barulho e isso chama a atenção da minha secretária que invade a minha sala.— O que está acontecendo, Gabriel? — Rosa observa as folhas espalhadas pelo chão, a minha face de derrotado e os cabelos arrepiados. Quase arrebento os botões da camisa que usava na ânsia de me livrar daquele calor que me aplacava.— Nada, Rosa, pode voltar pra sua mesa.— Como nada? Olha pra você, Gabriel... está ... derrotado!— Não estou derrotado, estou mais vivo do que estive há anos.— Não parece, não com essa... aparência. Nem quando aquela lá te...— Nem complete essa frase, Rosa, para o seu bem — rosno e ela contorce a face.— Ainda a ama, não é? Você é um idiota!— Quer ser demitida? Saia da minha sala já! — Aponto para a porta e minha secretária deixa o cômodo sem mais questionamentos. Respiro aliviado.Rosa sempre foi amiga da família,
Luma— Eu acho que ele está gostando de você — comenta Camila, sentada ao meu lado à mesa do café da manhã.Meus dedos passam pelas pétalas da rosa vermelha que ele me deu. Coloquei-a no vaso com água sobre a larga mesa, entre as outras flores. Não a levaria para o meu quarto, onde o meu filho a veria e com certeza me questionaria sobre ela.— Não, Camila, ele ama a Luma.Ela balança a cabeça e sorri.— Mas a Luma é você, sua boba.— Mas ele não sabe. Eu só sou uma mulher da vida que lembra muito a mulher que ele amou.Repentinamente perco a fome e sinto vontade de me levantar da mesa.— Me dê licença.— Nunca foi de se abalar por homem nenhum, Luma, vai deixar isso acontecer agora? — Janaína fala. Penso em suas palavras, ela tem razão.— Não, eu não vou. Mas preciso ir ver algumas coisas sobre a festa do Kayo.Subo as escadas em direção ao meu quarto. Meu filho a esta hora está na escola. Tenho ido buscá-lo e de lá vamos resolver as coisas de sua festinha de aniversário, mas hoje est
Gabriel“— Sua pele é muito gostosa... — beijo a pele de Lu — macia... — mais um beijo, subindo por seu ombro — cheirosa...Levanto os cabelos loiros e levemente ondulados dela e deixo um beijo leve em seu pescoço, cheiro o seu perfume e ela geme.— Gabriel... — ela geme meu nome e eu fico louco. Giro seu corpo e prendo-a no colchão. Beijo sua boca com fome e saudade antecipada.— Tem certeza que não quer ir comigo? Conhecerá a fazenda da minha família, é muito bonito lá. Tem as comidas maravilhosas de Dona Ana e um belo riacho para tomar banho e nos refrescar, namorar... hum? O que acha?— N... Não... Gabriel — Sinto que ela sente dificuldade em negar, um lado dela quer ir, mas outro mais forte a impede. Tentarei convencê-la.— Por que nega se eu sei que você quer tanto ir? — pergunto enquanto passeio por seu corpo com minha língua.— Eu não posso... — geme, manhosa.— Por que não pode? — Ela abre os olhos como se uma nuvem em seus olhos começasse a se formar, a mesma que eu vi antes
Luma— Ficou louco, Gabriel?— Louco eu já estou, Lu, desde o dia que te conheci. Maluco vou ficar se partir e te deixar aqui.Caminho pelo quarto, enrolando o cabelo em um coque. Gabiel apareceu cedo como tem feito desde o dia que nos conhecemos, mas sua atitude está me deixando muito confusa.— Já falei que não posso viajar, e também não posso ficar no seu apartamento. Isso é loucura!Ele continua com as chaves erguidas na minha direção. Eu não pego.— Fique aqui e quando chegar a hora vá para o meu apartamento, como se estivéssemos juntos. Pago por cada dia que for para lá, se esse for o problema.— O problema não é pagamento, é que não faz sentido eu ficar no seu apartamento. Não somos nada um do outro... e se algo quebrar? Ou se sumir... vai ficar tudo nas minhas costas.Ele se aproxima de mim, pega minha mão e a segura em concha depositando a chave ali.— Essa é a chave reserva. Pode ficar com ela e não só quando estiver viajando. Ela é sua para usar o dia que quiser.Me afasto