Luma
Kayo e Gabriel riem o tempo todo, conversando como se se conhecessem há anos. Acabo sorrindo involuntariamente, afinal, o meu desejo sempre foi ver os dois assim: brincando, sorrindo, conversando, sendo amigos. Mas em seguida me lembro que para ele meu filho é só um estranho, é uma criança qualquer e isso me entristece imediatamente.
— Me dá licença, por favor — peço e me levanto sem olhar para o rosto deles.
Me direciono para o toilet do restaurante italiano que trouxe meu filho e consequentemente Gabriel.
Chegando no ambiente privado, não seguro as lágrimas e elas rolam sem controle.
Debruço-me sobre a pia e deixo toda a dor sair em forma de choro. Depois ergo a cabeça e lavo o rosto, tento jogar bastante água fria a fim de tirar todo o inchaço. Seco com o papel toalha e retoco a maquiagem. Não posso aparecer na frente deles com essa cara de choro.
Peso mais no rímeo para tentar esconder a tristeza.
— Lu? Você está bem? - Escuto a voz do Gabriel me chamar na porta do banheiro.
Ele se preocupou com minha demora e veio atrás de mim. Mas então me lembro que ele não sabe quem eu sou, só está sendo gentil porque acha que sou a Lu, uma mulher totalmente estranha que lembra seu amor do passado. Entendi muito bem quando ele disse que meus olhos pareciam com os de alguém, tinham mesmo que se parecer, pois são os meus.
— Estou bem, Gabriel, já estou indo.
— Me desculpe vir atrás de você, mas demorou muito e até seu filho já estava me perguntando o que tinha acontecido a você. Garanti que a levaria de volta.
Olho para a porta, mas ele nem mesmo colocou o rosto, está falando do corredor, por isso sua voz está abafada.
Respiro fundo, levanto os olhos para o alto e pisco algumas vezes para afastar as lágrimas e ponho em sorriso no rosto que aprendi a encenar ao longo de todos esses anos.
Ajeito os cabelos e vou até a porta.
— Só demorei porque decidi retocar a maquiagem.
— Está ainda mais linda, e eu achei que isto seria impossível. — Sorri galante e me dá espaço para passar por ele.
Retornamos para a mesa onde terminamos nosso almoço. Estávamos de saída, de certa forma dando graças a Deus que aquele almoço havia chegando ao fim, porém, também sentia um aperto no coração pelo mesmo motivo.
Já no estacionamento, meu filho me surpreende antes de seguir cada um o seu caminho.
— Tio Gabriel, você está convidado para a minha festa de aniversário.
Ao ouvir a afirmação do menino, ele me olha e então volta seu olhar para o filho e com um sorriso responde:
— Irei com todo prazer.
— Oba! Me dá seu número pra gente conversar melhor.
Uma pedra cai em meu estômago naquele momento. Vejo os dois trocarem telefone e inúmeras coisas começam a passar por minha cabeça. As possibilidades são gigantescas. Meu filho pode descobrir a verdade e achar que eu menti e escondi seu pai; ou pode ficar triste ao entender que o pai o abandonou; pode se sentir enganado, traído, assim como eu fui... balanço a cabeça tentando afastar o inúmeros pensamentos que passam por minha mente. Começo a pensar positivo, tentar, na verdade. Talvez seja bom para ele ter contato com o pai, mesmo que ele não saiba disso.
— A gente vai se falando por mensagem. — Ele fala com Gabriel como se fossem grandes amigos.
— Claro, rapaz. — Ele bagunça o cabelo do meu filho com as mãos e se aproxima de mim.
— Tchau, Lu. - Ele segura minha mão e a leva à boca, deixando um beijo simples ali. Se aproxima e ao pé do meu ouvido completa — Nos vemos mais tarde.
Meu corpo todo se arrepia com suas palavras. Gabriel se afasta, entra em seu carro e vai embora. Não sei se tenho medo com a velocidade na qual o tempo vai passar a partir de agora ou se tenho ansiedade que aquele momento chegue logo. Definitivamente, esse reencontro com Gabriel não será bom para mim.
***
A ala da mansão destinada aos encontros com os clientes e os quartos para os programas é bem destacada do restante da casa. Essa porção do imóvel possui uma decoração diferenciada como um bar sofisticado, a grande diferença é o público que atendemos. Nossos clientes geralmente tomam conhecimento de nossas atividades a partir de outros clientes que os indicam e foi assim que Gabriel me achou aqui.
Não podia me enganar e tinha que ter em mente que ele vinha atrás de prazer e não por minha causa. Quando o homem passou pela porta, as meninas ao meu redor se afastaram e sorriram e piscaram para mim.
— Vai lá, sortuda — Disse Camila.
Gabriel se aproxima com um braço atrás das costas como se escondesse algo. E me lembrei deste gesto quando ele me deu de presente o vestido rosa que usei no dia em que dei a ele a notícia da gravidez. Ao se aproximar de mim, em minha mente as cenas se misturavam e eu lutei para conter as lágrimas.
— Tudo bem, Lu? Pra você — Gabriel retira o braço das costas, mostrando que trazia uma linda rosa vermelha.
Pego e levo ao nariz para sentir seu perfume.
— Obrigada.
Seguro em sua mão e o levo para o quarto. Subimos os degraus em silêncio e ao atravessar a porta do quarto noto que a expressão no rosto dele não é dos melhores e tive medo do que poderia significar.
— Você está bem, Gabriel? Parece... triste.
— Tive um péssimo dia, Lu. - Ele disse se sentando na cama e afrouxando a gravata.
— Não precisa me contar — pronuncio com o peito apertado, pois temo a sua resposta.
— Mas eu quero, se você não se importar, é claro.
Balanço a cabeça e me sento ao seu lado.
— É claro que pode, só disse que não precisa fazer isso.
Queria dizer que não somos um casal na qual um desabafa com o outro sobre seu dia ruim no trabalho, mas segurei a minha língua.
— Minha secretária está impossível. Sempre foi excelente, eficiente, mas ela tem agido de forma estranha nos últimos dias. Tentou me impedir de sair hoje — Deu de ombros. — Qual a possibilidade disso acontecer? Uma secretária tentar impedir que seu chefe saia para qualquer lugar que seja?
Ele me olha nos olhos e eu me remexo no lugar.
— Ela sabe para onde você veio?
— É claro que não. — Ele balança a cabeça e se vira para mim, segurando firme em meu cabelo e me puxando para um beijo forte e quente. — Vamos deixar esse assunto de lado. Passei o restante do dia contando as horas para te ver. Queria ser seu primeiro e único cliente na noite.
— Vai ficar a noite toda? — exclamo incrédula. Raros foram os casos que isso aconteceu aqui na casa. E em todas as vezes, as sortudas foram pedidas em casamento pelo cliente. Isso não pode estar acontecendo comigo e logo com o Gabriel.
— Isso prejudica você? — Seu olhar preocupado me abala profundamente.
— Não, é claro que não.
— Então posso passar uma longa noite agradável ao seu lago para aplacar o grande dia de merda que tive hoje.
Desabotoei os botões de sua camisa, deixando seu peito totalmente descoberto, admirei o corpo esculpido e forte, bem diferente do que eu acostumava acariciar quando era mais jovem.
Ele aproxima os seus lábios do meu ouvido e eu já estava me envolvendo em seu hálito quente, me derretendo em seus braços quando suas palavras me quebraram.
— Passei o dia pensando em você, Luma.
GabrielPasso a mão por cima de todos os papéis que estavam sobre a minha mesa e jogo todos no chão. O peso de papel que estava sobre eles vai junto fazendo um baita barulho e isso chama a atenção da minha secretária que invade a minha sala.— O que está acontecendo, Gabriel? — Rosa observa as folhas espalhadas pelo chão, a minha face de derrotado e os cabelos arrepiados. Quase arrebento os botões da camisa que usava na ânsia de me livrar daquele calor que me aplacava.— Nada, Rosa, pode voltar pra sua mesa.— Como nada? Olha pra você, Gabriel... está ... derrotado!— Não estou derrotado, estou mais vivo do que estive há anos.— Não parece, não com essa... aparência. Nem quando aquela lá te...— Nem complete essa frase, Rosa, para o seu bem — rosno e ela contorce a face.— Ainda a ama, não é? Você é um idiota!— Quer ser demitida? Saia da minha sala já! — Aponto para a porta e minha secretária deixa o cômodo sem mais questionamentos. Respiro aliviado.Rosa sempre foi amiga da família,
Luma— Eu acho que ele está gostando de você — comenta Camila, sentada ao meu lado à mesa do café da manhã.Meus dedos passam pelas pétalas da rosa vermelha que ele me deu. Coloquei-a no vaso com água sobre a larga mesa, entre as outras flores. Não a levaria para o meu quarto, onde o meu filho a veria e com certeza me questionaria sobre ela.— Não, Camila, ele ama a Luma.Ela balança a cabeça e sorri.— Mas a Luma é você, sua boba.— Mas ele não sabe. Eu só sou uma mulher da vida que lembra muito a mulher que ele amou.Repentinamente perco a fome e sinto vontade de me levantar da mesa.— Me dê licença.— Nunca foi de se abalar por homem nenhum, Luma, vai deixar isso acontecer agora? — Janaína fala. Penso em suas palavras, ela tem razão.— Não, eu não vou. Mas preciso ir ver algumas coisas sobre a festa do Kayo.Subo as escadas em direção ao meu quarto. Meu filho a esta hora está na escola. Tenho ido buscá-lo e de lá vamos resolver as coisas de sua festinha de aniversário, mas hoje est
Gabriel“— Sua pele é muito gostosa... — beijo a pele de Lu — macia... — mais um beijo, subindo por seu ombro — cheirosa...Levanto os cabelos loiros e levemente ondulados dela e deixo um beijo leve em seu pescoço, cheiro o seu perfume e ela geme.— Gabriel... — ela geme meu nome e eu fico louco. Giro seu corpo e prendo-a no colchão. Beijo sua boca com fome e saudade antecipada.— Tem certeza que não quer ir comigo? Conhecerá a fazenda da minha família, é muito bonito lá. Tem as comidas maravilhosas de Dona Ana e um belo riacho para tomar banho e nos refrescar, namorar... hum? O que acha?— N... Não... Gabriel — Sinto que ela sente dificuldade em negar, um lado dela quer ir, mas outro mais forte a impede. Tentarei convencê-la.— Por que nega se eu sei que você quer tanto ir? — pergunto enquanto passeio por seu corpo com minha língua.— Eu não posso... — geme, manhosa.— Por que não pode? — Ela abre os olhos como se uma nuvem em seus olhos começasse a se formar, a mesma que eu vi antes
Luma— Ficou louco, Gabriel?— Louco eu já estou, Lu, desde o dia que te conheci. Maluco vou ficar se partir e te deixar aqui.Caminho pelo quarto, enrolando o cabelo em um coque. Gabiel apareceu cedo como tem feito desde o dia que nos conhecemos, mas sua atitude está me deixando muito confusa.— Já falei que não posso viajar, e também não posso ficar no seu apartamento. Isso é loucura!Ele continua com as chaves erguidas na minha direção. Eu não pego.— Fique aqui e quando chegar a hora vá para o meu apartamento, como se estivéssemos juntos. Pago por cada dia que for para lá, se esse for o problema.— O problema não é pagamento, é que não faz sentido eu ficar no seu apartamento. Não somos nada um do outro... e se algo quebrar? Ou se sumir... vai ficar tudo nas minhas costas.Ele se aproxima de mim, pega minha mão e a segura em concha depositando a chave ali.— Essa é a chave reserva. Pode ficar com ela e não só quando estiver viajando. Ela é sua para usar o dia que quiser.Me afasto
GabrielMal cheguei na fazenda e já tinha um monte de coisas pra resolver: o veterinário chegando pra dar vacina nos animais; a vistoria sanitária das vacas leiteiras e toda papelada acumulada de meses sem vir aqui. Mas na madrugada fui despertado por um motivo nobre: a minha égua estava parindo.Ela não era um animal jovem, mas tinha muita saúde.— A Genoveva, patrão — Um peão abre a porta do meu quarto em um rompante me despertando.— O quê?— Ela tá parindo! — fala com urgência e eu pulo da cama, vestindo uma calça. Imagino que algo esteja dando errado com seu parto devido a idade elevada da égua.— Como ela está? O que está acontecendo? — falo aflito, andando com velocidade pelo corredor.— Calma, chefe, ela parece estar bem. Só vim te chamar porque sei que tem chamego com a égua. E a bolsa acabou de estourar, o potrinho deve chegar logo, logo.Acelero o passo ansioso para ver minha égua que ganhei anos antes de sumir desta fazenda. Sempre que venho aqui, tiro umas horas para pass
— A senhora não vai entrar? — questiono como uma forma de incentivar a mulher.— Mãe, ele é o único disponível no momento. Ajuda, vai. — Com o pedido do filho, a mulher abaixa a cabeça e entra no veículo, mas manteve a boca fechada e os olhos meio leitosos observando a paisagem além da janela.Ela está pálida, com uma aparência muito frágil.Ao chegarmos no hospital, foi levada para a emergência. A mulher foi medicada, ficou em repouso e somente voltei de lá quando foi liberada pelo médico com uma pilha de remédios em sua mão. A senhora era diabética e tinha que lidar com a pressão alta e não havia posto médico próximo de onde morávamos.— A senhora está melhor? — pergunto ao vê-la se acomodar no banco do carro.— Vou estar melhor quando chegar em casa — ao falar dessa maneira, recebeu um olhar duro do filho. A mulher respirou fundo e voltou a falar - Mas obrigada, Gabriel, estou melhor, sim.João me agradeceu mais algumas vezes antes de deixá-los em casa e voltar para a fazenda. Não
LumaAssim que fico sabendo por Gabriel que minha mãe tá doente, saio como uma louca. No caminho me dou conta que não vou voltar no mesmo dia e meu filho sentirá falta de mim. Mando uma mensagem pra ele.“Meu amor, mamãe precisou sair urgente, obedece a vovó Nice, tá bom. Ela vai cuidar de você. Volto logo.”Meu coração se aperta, mas sigo meu caminho. Não posso levar meu filho naquele lugar, ainda não. E nem sei se um dia poderei. Quero poupá-lo das coisas que sofri: vergonha e rejeição.A viagem é longa e sei que só vou chegar ao anoitecer. Gabriel me manda mensagens e tento respondê-lo de forma que ele não suspeite que estou na estrada.“Foi pro meu apartamento, Lu?” — Recebo sua mensagem.“Não, Gabriel, mas estou no meu quarto. Não vou descer” — respondo quando paro em um sinal.“Sabe que eu ficaria mais tranquilo se você estivesse na minha casa, não é. Por que não foi?”“Prefiro ficar na minha cama.”Guardo o aparelho quando volto a dirigir.Só o respondo novamente quando paro, j
Passamos algumas horas na clínica, mas minha mãe passou por uma bateria de exames e saímos de lá com outras consultas agendadas e já deixei todas pagas. Não poderei estar aqui, mas cuidarei de tudo para que ela não perca nenhuma consulta.Agora estávamos no quarto de hotel que eu aluguei. Havia tomado meu banho antes de minha mãe e agora arrumava a cama para que pudéssemos conversar bastante e depois dormir juntinhas, como fazíamos muitas vezes quando eu era mais jovem.— E meu neto, eu quero saber como está meu neto — falou ela ao sair do banho. — Você falou muito dele, mas eu quero ver como ele está.Minha mãe estava ansiosa para ver as fotos de Kayo. Não pude mostrar antes, pois meu celular havia descarregado e deixei carregando um pouco enquanto tomamos nosso banho e arrumamos a cama para dormirmos.— Já deve ter carga o suficiente pra mostrar as fotos do seu neto — falo me virando para a mesa de cabeceira e pegando o aparelho. — Está 25%, dá pra mostrar as fotos. — Minha mãe se s