5- Contando as horas pra te ver

Luma

Kayo e Gabriel riem o tempo todo, conversando como se se conhecessem há anos. Acabo sorrindo involuntariamente, afinal, o meu desejo sempre foi ver os dois assim: brincando, sorrindo, conversando, sendo amigos. Mas em seguida me lembro que para ele meu filho é só um estranho, é uma criança qualquer e isso me entristece imediatamente.

— Me dá licença, por favor — peço e me levanto sem olhar para o rosto deles.

Me direciono para o toilet do restaurante italiano que trouxe meu filho e consequentemente Gabriel.

Chegando no ambiente privado, não seguro as lágrimas e elas rolam sem controle.

Debruço-me sobre a pia e deixo toda a dor sair em forma de choro. Depois ergo a cabeça e lavo o rosto, tento jogar bastante água fria a fim de tirar todo o inchaço. Seco com o papel toalha e retoco a maquiagem. Não posso aparecer na frente deles com essa cara de choro.

Peso mais no rímeo para tentar esconder a tristeza.

— Lu? Você está bem? - Escuto a voz do Gabriel me chamar na porta do banheiro.

Ele se preocupou com minha demora e veio atrás de mim. Mas então me lembro que ele não sabe quem eu sou, só está sendo gentil porque acha que sou a Lu, uma mulher totalmente estranha que lembra seu amor do passado. Entendi muito bem quando ele disse que meus olhos pareciam com os de alguém, tinham mesmo que se parecer, pois são os meus.

— Estou bem, Gabriel, já estou indo.

— Me desculpe vir atrás de você, mas demorou muito e até seu filho já estava me perguntando o que tinha acontecido a você. Garanti que a levaria de volta.

Olho para a porta, mas ele nem mesmo colocou o rosto, está falando do corredor, por isso sua voz está abafada.

Respiro fundo, levanto os olhos para o alto e pisco algumas vezes para afastar as lágrimas e ponho em sorriso no rosto que aprendi a encenar ao longo de todos esses anos.

Ajeito os cabelos e vou até a porta.

— Só demorei porque decidi retocar a maquiagem.

— Está ainda mais linda, e eu achei que isto seria impossível. — Sorri galante e me dá espaço para passar por ele.

Retornamos para a mesa onde terminamos nosso almoço. Estávamos de saída, de certa forma dando graças a Deus que aquele almoço havia chegando ao fim, porém, também sentia um aperto no coração pelo mesmo motivo.

Já no estacionamento, meu filho me surpreende antes de seguir cada um o seu caminho.

— Tio Gabriel, você está convidado para a minha festa de aniversário.

Ao ouvir a afirmação do menino, ele me olha e então volta seu olhar para o filho e com um sorriso responde:

— Irei com todo prazer.

— Oba! Me dá seu número pra gente conversar melhor.

Uma pedra cai em meu estômago naquele momento. Vejo os dois trocarem telefone e inúmeras coisas começam a passar por minha cabeça. As possibilidades são gigantescas. Meu filho pode descobrir a verdade e achar que eu menti e escondi seu pai; ou pode ficar triste ao entender que o pai o abandonou; pode se sentir enganado, traído, assim como eu fui... balanço a cabeça tentando afastar o inúmeros pensamentos que passam por minha mente. Começo a pensar positivo, tentar, na verdade. Talvez seja bom para ele ter contato com o pai, mesmo que ele não saiba disso.

— A gente vai se falando por mensagem. — Ele fala com Gabriel como se fossem grandes amigos.

— Claro, rapaz. — Ele bagunça o cabelo do meu filho com as mãos e se aproxima de mim.

— Tchau, Lu. - Ele segura minha mão e a leva à boca, deixando um beijo simples ali. Se aproxima e ao pé do meu ouvido completa — Nos vemos mais tarde.

Meu corpo todo se arrepia com suas palavras. Gabriel se afasta, entra em seu carro e vai embora. Não sei se tenho medo com a velocidade na qual o tempo vai passar a partir de agora ou se tenho ansiedade que aquele momento chegue logo. Definitivamente, esse reencontro com Gabriel não será bom para mim.

***

A ala da mansão destinada aos encontros com os clientes e os quartos para os programas é bem destacada do restante da casa. Essa porção do imóvel possui uma decoração diferenciada como um bar sofisticado, a grande diferença é o público que atendemos. Nossos clientes geralmente tomam conhecimento de nossas atividades a partir de outros clientes que os indicam e foi assim que Gabriel me achou aqui.

Não podia me enganar e tinha que ter em mente que ele vinha atrás de prazer e não por minha causa. Quando o homem passou pela porta, as meninas ao meu redor se afastaram e sorriram e piscaram para mim.

— Vai lá, sortuda — Disse Camila.

Gabriel se aproxima com um braço atrás das costas como se escondesse algo. E me lembrei deste gesto quando ele me deu de presente o vestido rosa que usei no dia em que dei a ele a notícia da gravidez. Ao se aproximar de mim, em minha mente as cenas se misturavam e eu lutei para conter as lágrimas.

— Tudo bem, Lu? Pra você — Gabriel retira o braço das costas, mostrando que trazia uma linda rosa vermelha.

Pego e levo ao nariz para sentir seu perfume.

— Obrigada.

Seguro em sua mão e o levo para o quarto. Subimos os degraus em silêncio e ao atravessar a porta do quarto noto que a expressão no rosto dele não é dos melhores e tive medo do que poderia significar.

— Você está bem, Gabriel? Parece... triste.

— Tive um péssimo dia, Lu. - Ele disse se sentando na cama e afrouxando a gravata.

— Não precisa me contar — pronuncio com o peito apertado, pois temo a sua resposta.

— Mas eu quero, se você não se importar, é claro.

Balanço a cabeça e me sento ao seu lado.

— É claro que pode, só disse que não precisa fazer isso.

Queria dizer que não somos um casal na qual um desabafa com o outro sobre seu dia ruim no trabalho, mas segurei a minha língua.

— Minha secretária está impossível. Sempre foi excelente, eficiente, mas ela tem agido de forma estranha nos últimos dias. Tentou me impedir de sair hoje — Deu de ombros. — Qual a possibilidade disso acontecer? Uma secretária tentar impedir que seu chefe saia para qualquer lugar que seja?

Ele me olha nos olhos e eu me remexo no lugar.

— Ela sabe para onde você veio?

— É claro que não. — Ele balança a cabeça e se vira para mim, segurando firme em meu cabelo e me puxando para um beijo forte e quente. — Vamos deixar esse assunto de lado. Passei o restante do dia contando as horas para te ver. Queria ser seu primeiro e único cliente na noite.

— Vai ficar a noite toda? — exclamo incrédula. Raros foram os casos que isso aconteceu aqui na casa. E em todas as vezes, as sortudas foram pedidas em casamento pelo cliente. Isso não pode estar acontecendo comigo e logo com o Gabriel.

— Isso prejudica você? — Seu olhar preocupado me abala profundamente.

— Não, é claro que não.

— Então posso passar uma longa noite agradável ao seu lago para aplacar o grande dia de merda que tive hoje.

Desabotoei os botões de sua camisa, deixando seu peito totalmente descoberto, admirei o corpo esculpido e forte, bem diferente do que eu acostumava acariciar quando era mais jovem.

Ele aproxima os seus lábios do meu ouvido e eu já estava me envolvendo em seu hálito quente, me derretendo em seus braços quando suas palavras me quebraram.

— Passei o dia pensando em você, Luma.

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